ADAM

Enquanto andávamos para fora da escola - que estava cheia com os pais dos alunos agitados, além de uma van da emissora de TV local - perguntei a mim mesmo como faria se estivesse na situação de Alastor e Gump. Eles mesmos teriam de revelar a uma garota de 15 anos que toda vida dela foi uma farsa. Que os deuses existem, e que ela não era totalmente humana.

- Lucy. - Chamei-a, enquanto caminhávamos lado a lado em direção a saída. - Como é viver com seu pai e sua madrasta?

- Quando nasci meu pai já era casado com outra mulher. Ele me disse que minha mãe me deixou sob os cuidados deles e depois foi embora.

Olhei para Gump. Já estávamos atravessando a rua e o sátiro caminhava com um olhar pensativo. É claro que Lucy só podia ser filha de...

- Íris! - Disse de repente, com um brilho nos olhos. - Meu pai me disse que o nome dela era Íris. Eu não costumo passar o tempo pensando muito nela. Aliás, ela me abandonou, sabe?

- Ela deve ter tido os motivos dela. - Respondeu Alastor.

Gump retirou as chaves do bolso e abriu o carro. Ele entrou no banco de motorista, enquanto Alastor sentou-se no banco do passageiro.

Lucy, Lua, Dianna e eu fomos para o banco de trás. Lua olhou pela janela, admirando a escola.

- Sem estrelinha de bom comportamento?

Já era pôr do sol quando acordei. Ainda estávamos no carro. Lucy dormia desconfortavelmente no meio do banco, deixando vez ou outra sua cabeça cair sobre o ombro de uma Dianna estressada, que jogava-a para o meu lado.

Gump já havia tirado suas pernas falsas e dirigia em uma estrada deserta. A nossa direita, havia uma mata fechada que se estendia por quilômetros, e do outro lado, eu apenas avistava a cidade se afastando cada vez mais.

- Há quanto tempo saímos da Califórnia? - Perguntei, ainda sonolento.

- Faz algumas horas. - Disse Alastor, olhando para trás. - Ela está babando?

Dianna e eu olhamos para o lado. Lua estava dormindo com a cabeça repousada na janela do carro, e uma baba brilhante escorria sobre seus lábios cor-de-rosa.

- Muito elegante para uma filha de Afrodite.

Não pude evitar rir. Eu não conhecia outros semideuses filhos de Afrodite, mas sabia bastante sobre a deusa para lembrar que ela representava o amor e a beleza. E Lua realmente estava bonita, por mais que babasse.

- Certo, para onde estamos indo? - Perguntei. O sol já estava indo embora, dando ao céu uma linda coloração laranja.

- Las Vegas. - Respondeu Gump.

- Por que?

- Eu não sei. - Disse ele, sem confiança. - Mas sinto que devemos ir para lá.

Não questionei. Las Vegas era o lugar mais magnífico de Nevada. Apenas fechei meus olhos e voltei a dormir. Mas foi a pior coisa que já tinha feito, pois tive um pesadelo horrível.

Eu estava em uma rua que nunca vira antes, luzes brilhavam em todos os lugares. Não conseguia parar de olha-las, era muita informação para uma pessoa só e eu podia jurar que ficaria observando todos os detalhes do lugar se não tivesse ouvido gritos assustadores vindo detrás de mim. Olhei para trás e vi uma garota correndo em minha direção, seus cabelos loiros tapavam-lhe a visão enquanto ela corria, tentei fazer com que ela parasse de correr, mas a garota me deu um empurrão e eu cambaleei um pouco. Não conseguia desgrudar a atenção da garota até que ao olhar para trás ela tropeçou em uma pedra e caiu. Eu queria correr em sua direção, mas não conseguia me mover, não conseguia gritar ou falar. Um desespero tomou conta de mim. Olhei para a direção em que a garota olhava e automaticamente recuei, pois logo atrás vinha um enorme monstro: corpo de homem e cabeça de touro, com grandes chifres. Virei-me para a garota e a vi se levantar, desesperada para se livrar do minotauro. Corri em sua direção, mas por algum motivo não consegui alcança-la, quando entrou em um lugar chamado Hotel & Cassino Lótus.

Quando acordei, já não estávamos na mesma estrada. Gump dirigia por uma estrada movimentada, cheios de carros de luxo em volta, deixando nosso corcel humilhado. Haviam placas e hotéis aos lados, todos coloridos e com cores neon.

Lucy e Lua já estavam acordadas. O cabelo da filha de Íris mudava de cor conforme passávamos por uma placa colorida: azul, rosa, roxo, verde. Cada vez que a coloração mudava, meus olhos ardiam, apenas por admirar aquilo.

E então, o carro foi perdendo a velocidade. Víramos a direita, e estacionamos em frente a um hotel. Quando finalmente Gump desligou o motor, descemos do carro e eu tomei um susto.

Estávamos em frente ao Hotel & Cassino Lótus.