Kuro Contos escrita por Tai Bluerose


Capítulo 3
O Conto da Carruagem Negra


Notas iniciais do capítulo

Sei que prometi uma história baseada no Pluto, mas terminei essa primeiro.
Espero que gostem ^w^

Boa leitura o/



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O Conto da Carruagem Negra

Sentia uma fome avassaladora.

Guiava minha carruagem pela trilha solitária próxima à floresta. Gritava para os cavalos irem mais rápido. Era uma tarde fria e, para meu contentamento, o crepúsculo chegara mais cedo. O som dos cascos dos cavalos trotando fazia coro ao som das rodas da minha carruagem. Estava sozinho na trilha. Até que o avistei logo mais adiante.

Era um menino de no máximo catorze anos. Estava parado ao lado de uma carruagem pequena e sem cavalo. Parecia nervoso e ficou mais ainda ao ver-me parar.

– O que aconteceu, jovem? – perguntei, admirando seus olhos azuis. Era um garoto muito belo.

– A carruagem quebrou a roda. Meu cocheiro foi com o cavalo buscar ajuda. Mas até agora não voltou.

– Que irresponsabilidade deixá-lo aqui sozinho. Poderia passar algum malfeitor, e a noite já se avizinha. Porque tu não foste com ele no cavalo?

– Tenho medo de cavalo, Senhor.

Ele falou relutante, ficando corado. Graciosamente corado.

– Não me chame de senhor. Sou Sebastian. Qual a sua graça?

– Ciel Phantomhive, senh... Sebastian.

Ele parecia constrangido ou desconfortável com minha presença. Continuava grudado à porta de sua carruagem como se esta fosse sair correndo sozinha sem cavalo nenhum.

– Estou indo para a cidade. Não queres que eu o leve até lá?

– Não é necessário. Esperarei meu cocheiro.

– E se ele se demorar? Venha comigo. Se encontrarmos seu cocheiro no caminho, você poderá seguir com ele. Mas com certeza não pode esperar aqui, não sabe os boatos que contam sobre estas paragens?

– Sobre os assassinatos misteriosos? Sim eu sei. Dizem que a própria morte anda por essas terras em uma carruagem negra como a noite e quem a encontra perde a vida.

Sorri ao ver que ele estava bem informado e percebendo porque ele parecia nervoso com meu estranho interesse.

– Mais uma razão para não ficar aqui sozinho, não acha? Venha, eu o levo.

– Por que você não tem cocheiro?

– Gosto de guiar eu mesmo. Então?

– Sua carruagem é preta...

Eu ri.

– A sua também é. Todas as carruagens são. Não acredita nessa lenda boba, acredita?

– Por favor, moço; siga seu caminho. Eu esperarei meu cocheiro, garanto que ficarei bem.

– Com certeza há salteadores assassinos atrás de afortunados como percebo que tu és. Esses tipos, sim, são bem reais. Certamente não vais querer esperar encontrá-los. Não vai dizer que tens medo de mim.

– Claro que não.

Ele falou um tanto irritado e decidiu ir comigo. Ele se recusou a ir dentro da carruagem, preferindo ir ao meu lado, no banco do cocheiro. Provavelmente temia que eu o trancasse lá dentro. Tinha uma boa postura e falava como adulto. Devia ser filho de algum nobre. Ele ficou em silencio por um bom tempo. E eu olhava para seu rosto vez ou outra. Tinha uma pele muito clara e lisa e feições perfeitas. Que desleixo deixar um anjo assim perdido ao relento. Se um rapaz assim fosse meu parente, eu mandaria matar o cocheiro. Mas certamente o pobre diabo receberá seu castigo depois. Ah, se vai.

Ciel tinha também um perfume agradável; e nem me importei de parecer impertinente ao observá-lo tão abertamente. Nunca tão pequena e desconhecida criatura me chamou tanta atenção.

Tentei distraí-lo com conversa fiada, mas ele só me respondia com monossílabas. Achei sua timidez ainda mais interessante. Toquei as mãos dele e perguntei se ele estava com frio. O garoto pareceu petrificar ao meu toque e empalidecer mais ainda.

– Não. Estou bem.

Mas sua pele estava gelada, não sei se pelo frio ou pelo medo. Acho que fui excessivamente atrevido. Queria deixá-lo mais relaxado, mas consegui apenas deixá-lo mais perturbado. Acho que não sou tão habilidoso em esconder meu interesse quando fico realmente interessado.

Ele fitava as árvores que passavam por nós e evitava olhar para mim. Devia estar arrependido de subir na minha carruagem, mas agora era tarde, eu não pararia até chegarmos ao nosso destino. Incomodou-me o silencio que se instalou, ouvíamos apenas o farfalhar das folhas, a roda da carruagem e o galopar dos cavalos. Mas ele não me agraciava com sua voz.

– Não me diga que ainda está com medo de uma carruagem amaldiçoada – eu brinquei.

– Talvez não seja a carruagem o perigo e sim quem vem nela. Você deveria ter mais cuidado. Andando sozinho por aí...

– Mas eu não preciso.

Divertia-me com o temor inocente dele, sua companhia era muito agradável aos olhos. Mas, apesar de querer prolongar essa companhia, eu estava com muita fome e frio, não podia demorar muito. Afrouxei as rédeas dos cavalos e os fiz ir mais rápido, desviei do caminho principal e tomei outra direção.

– Por que saímos do caminho? – Ciel perguntou inquieto.

– Acalme-se, só estou pegando um atalho. Verá como chegaremos muito mais rápido...

Mas ele não me deixou terminar. Assustado, Ciel saltou da carruagem em movimento. O vi cair e se levantar cambaleando e fugir para a floresta. Parei os meus cavalos e corri atrás dele, não queria perdê-lo de vista. Eu o chamava pedindo para que não corresse que eu não iria machucá-lo. Mas ele se recusava a me atender.

– Vá embora! Por favor, me deixe. Vá embora, por favor!

Tão assustado estava o pobrezinho que não percebia que estava adentrando cada vez mais no coração da floresta, afastando-se da trilha, onde era fácil se perder.

Por fim, ele tropeçou nos próprios pés e caiu rolando sobre a terra e as folhas secas. Antes que ele conseguisse escapar, agarrei-o pelos braços. Ele se debateu, pedindo que eu o deixasse ir; tentei acalmar seu coração com palavras gentis. Pedi desculpas por minha brincadeira estupida, pois não imaginava que ele fosse se assustar tanto. Aos poucos ele foi se aquietando.

Ele era tão pequeno e indefeso.

Abracei-o para mostrar que não precisava ter medo de mim. Ah, mas seu cheiro era tão bom e sua pele era tão macia que não resisti a tentação de tocá-la. A beleza pueril é tão sedutora. Ele retribuiu meu abraço e, empertigando mais o corpo, ficou nas pontas dos pés e encaixou sua cabeça na curva do meu pescoço. Tão extasiado fiquei com tão íntimo gesto que esqueci-me completamente da razão.

Pegando-me de surpresa, ele encravou os dentes em meu pescoço, perfurando minha pele. Senti o líquido quente escorrer e molhar minha camisa. Minhas pernas fraquejaram. Meus joelhos tocaram o chão. Eu continuei preso aos braços dele. Não me movia; não conseguia. Uma força incompreensível me subjugava por completo. Estremeci quando ele lambeu o sangue da minha clavícula e voltou a me sugar avidamente. Suas mãos apertavam minha roupa com força. Sentia o calor de sua respiração entrecortada. Meu coração batia acelerado, como se fosse sair do peito.

Enquanto ele se alimentava de mim, eu nada fazia. Era como se estivesse enfeitiçado. Chegava a sentir prazer naquela sensação perigosa de morte iminente. Aos poucos minha visão foi ficando turva. Ele soltou meu corpo e caí sobre a grama e o musgo. Ele caiu sobre os joelhos com a boca manchada de sangue.

– Eu o mandei ir embora. Por que não me ouviu?

Ele secou os olhos com a manga da camisa. Fui morrendo lentamente, até restar apenas a escuridão da morte, negra como a carruagem em que ele estava. A última coisa que ouvi foi ele dizer “sinto muito”.

Como fui tolo. Jamais esperaria a morte de face tão gentil.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e desculpe qualquer erro.
Comentários, sugestões e críticas são bem vindas
Beijos, Tai *______________________*



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