Me recostei no sofá e adormeci com a luz do sol nascendo pela pequena janela no aposento.

– Ei, temos que ir. Meu turno acabou – disse Thomas sussurrando ao me acordar.

Levantei do sofá bem mais fraca, mas já entendia que era por causa do sol. Calcei um sapato tamanho 40 de um cara, eu esperava que aquelas roupas não fossem de algum morto, mas por fim decidi que não importava, já que meu próprio corpo era de uma morta.

– Voltaremos hoje aqui para falar com o próximo guia. Ele deve saber alguma coisa sobre você. Mas primeiro temos que fazer uma coisa importante.

Entramos no carro de Thomas, uma caminhonete preta e reluzente, era algo realmente caro e enorme. Do tipo de carro que você vê naqueles sequestros elaborados por máfia.

Ele dirigiu por muito tempo, que pra mim pareceu ser uma eternidade, e chegamos a uma mansão de estilo gótico em uma estrada deserta. A mansão parecia mal assombrada pela aparência exótica, mas a quantidade de pessoas que transitava por lá a deixava cheia de vida.

Nós entramos pelas portas principais e Thomas me levou direito a um escritório. Lá havia uma mulher de postura firme e sorriso de uma simpatia exagerada. Após explicar minha pequena história a ela, Thomas me indicou para sentar em um sofá de couro e sentou-se ao meu lado ficando mudo. A mulher sorriu para mim, algo que eu achei que ela já estava fazendo. – Sou Abigail, diretora deste lugar e responsáveis pelo registro de novas “pessoas”. Nesta instituição somos dedicados a ajudar os novos semi-humanos a se adaptar ao novo mundo. Como você não tem nome lhe entregarei este dicionário de nomes. Tem mais de dez mil e com significados incríveis. Apenas escolha uma letra e procure. Thomas poderá lhe ajudar, eu vou pegar uma muda de roupa para você.

Peguei o enorme livro e olhei para Thomas pedindo ajuda.

– Ta bem. Vamos dar uma olhada – ele pegou os livros de minhas mãos e começou a folhear aleatoriamente – O que você acha de Anastácia?

Disse que não com a cabeça.

– Hum... Ester?

–Não

– E que tal Alicia?

Acenei que sim, era um nome diferente e logo Thomas me contou que significava “a verdadeira” o que era bem apropriado para a minha situação de perdida do mundo, a verdade sobre minha antiga vida era um mistério.

– Ótimo, Alicia Maier, Maier é austríaco e acho que você lembra muito o povo europeu.

Apenas sorri para Thomas, a partir daquele momento me tornei alguém. Abigail fez meu registro e pela primeira vez assinei como Alicia Maier. Ela me entregou um vestido simples azul marinho e sapatilhas pretas, era o padrão daquele lugar.

Quando voltei para o escritório, já vestida, eles discutiam minha idade.

– Se ela for menor tem que fica aqui até completar dezoito anos. Você sabe disso Thomas – dizia Abigail.

– Mas se ela for maior não há necessidade, ela pode ir comigo.

– Ela poderá ficar com você durante o dia e a noite quando for mais... Complicado poderá ficar aqui estudando. O que você acha Alicia?

Concordei. Abigail suspirou de alívio e Thomas sorriu para mim.

Thomas deveria ter uns trinta e tantos anos, era de pele morena, alto e com ombros largos como um armário.

Nós saímos com meus novos documentos, Abigail forjou um parentesco entre eu e Thomas. Ele era meu tio, casado com uma tia de sangue já falecida.