Parents Again escrita por Carol Dantas


Capítulo 3
Cap. 3 - Pregnant, Remedies, Scare and Annelise


Notas iniciais do capítulo

Sei que eu demorei, mas meu Deus.. foi muita coisa rondando minha cabeça pra esse capítulo e eu não sabia como escrevê-lo. Mas enfim, esse é o último antes do epílogo e eu quero agradecer, antes de mais nada, a Zoey e a Laah pelas duas maravilhosas recomendações. Espero que gostem, beiju *o*



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– Elizabeth – sugiro mais uma vez.

– Me lembra Piratas do Caribe – diz e eu ergo a sobrancelha – Tá, é clichê também.

Estamos mais uma vez tentando escolher um nome para nossa filha. Desde que eu soube da minha ‘’atual condição’’ venho fazendo o meu máximo para deixar toda minha família feliz. Claro que eu não contei nada a eles, até porque não acho que eles mereçam saber de algo ruim como isso e sempre me lançarem olhares de pena como se estivessem me vendo definhar... Eu estou bem, esperando uma filha de Peeta, a irmã de Nathan. Quero aproveitar minha última gravides e já basta ter que olhar para o rosto triste de Annie, todas as vezes que faço uma consulta com ela... E não foram poucas nesses últimos meses.

– Hum... Que tal Lúcia? – pergunto e suspiro cansada, pondo meus pés em cima de seu colo e deixando que ele faça uma boa massagem ali.

– Nome de velho - bato as mãos em minhas pernas ao riscar mais um nome da lista. Deixar Peeta tomar decisões é um saco – Qual é amor?! Você consegue imaginar um bebê chamado Lúcia? Ou até mesmo Tereza? Eu só imagino uma velha batendo a bengala no chão com as pelancas balançando e dizendo: Saiam já do meu gramado seus moleques estúpidos!

Ele imita a velinha e ainda levanta o braço numa tentativa falha de fazer as ‘’pelancas’’ inexistentes balançarem, encolhe os lábios como forma de parecer banguela e mesmo irritada, rio de sua performance. Como seu sorriso vai me fazer falta Peeta...

– Tudo bem – suspiro de novo – Nada de nomes anormais, feios, chatos, comuns, clichês e... De velhos – concluo e ele sorri, voltando a massagem em meus pés doloridos e inchados.

Risco mais uma série de nomes no caderninho que reside em minha mão esquerda, riscando com o lápis levemente considerando a hipótese de que ele voltasse atrás em algum deles. Apoio as costas no braço do sofá e faço um coque frouxo no cabelo, eu estava cansada, com dor e enjoada e o calor não estava ao meu favor. Depois que eu ganhei a promoção de cardiologista chefe, não tenho que trabalhar aos finais de semana, o que é super bem vindo já que trabalhar o dia inteiro, grávida, me entupindo de remédios para o coração e para dor é bem exaustivo.

– Mommy! – grita meu filho ao descer as escadas com pressa.

– Nathan Everdeen Mellark! Já falei pra não correr na escada – exaspero com medo de que ele tropece e role os degraus. Passo as mãos no cabelo quase solto com tamanha preocupação e ajeito o top lilás que segura meus seios ainda mais volumosos devido a gravides que completou seis meses.

– Desculpa - murmura e logo está a frente do sofá pedindo colo para o pai que o coloca em nosso meio com as perninhas gorduchas retas por baixo das minhas. Ele logo se agacha e dá um beijo leve em minha barriga como faz todas as manhãs. Sorrio ao ver como ele se vestiu, pondo uma bermudinha xadrez vermelha, uma camisa branca escrita sou do papai, os pezinhos descalços e o cabelo bagunçado como os de Peeta. Ah meu bebê, como está crescido.

– Peeta, você pode ligar o ar condicionado? – pergunto me abanando com o caderninho.

– Já está ligado meu amor – diz e eu bufo. É isso que dá ser uma grávida gorda com os hormônios a flor da pele, sinto calor em todos os momentos.

– Mommy, qual o nome da minha irmãzinha?

– Ainda não sei filhote, seu pai não gosta de nenhum nome que eu escolho – digo enquanto tento inutilmente dar uma ajeitada em seu cabelo escuro.

– Na verdade, a sua mãe que não escolhe nenhum nome bom – diz e eu ergo a sobrancelha o confrontando, vendo que logo em seguida ele ergue a sua, como se um quisesse que o outro assumisse a culpa.

– Eu quero que se chame Lise – Nathan diz e eu e Peeta voltamos nossa atenção para ele, demorando um pouco para processar o que nosso pequeno disse.

Lise... Lise. Não é ruim.

– Esse pode ser o apelido dela – diz Peeta pensativo.

– E qual seria o nome completo, Sr. Todos Os Nomes Que Você Escolhe São Péssimos Pra Mim? – pergunto esnobe, colocando o caderninho já sem função em cima da mesinha de centro.

Ele me lança um olhar duro e pensa por um tempo, enquanto Nathan está alheio a tudo, apenas passando suas mãozinhas suaves pela minha perna.

– Que tal... Annelise? – sugere e eu paro. Abro a boca para insultar o nome que ele escolheu, mas nada sai dela. Annelise é um ótimo nome, ainda mais se for parecida com o Peeta. Olho para o Nat e percebo que ele olha pra mim.

– O que você acha meu amor?

– Eu gosto mommy, mas eu quero chamar de Lise – protesta e eu sorrio da forma como ele defende seu ponto de vista.

– Você pode chamar da forma que quiser, meu bebê – digo acariciando sua bochecha.

~*~*~*~*~*~

Mais semanas foram se passando e eu fui completando cinco, seis, sete meses e durante todo esse tempo eu era acompanhada por médicos que se resumiam a Annie, que sempre chorava quando me via, e a Finnick, seu marido, que tinha conseguido um emprego no hospital e como ele também é cardiologista acabou trabalhando em um consultório ao lado de meu e a pedido de sua esposa, ele está cuidando do meu ‘’caso’’ e isso me irrita porque minha melhor amiga estava sempre de olho em mim e me forçava a ir fazer exames de pressão no mínimo duas vezes por semana.

Finnick me passou alguns remédios a umas consultas atrás e desde então tenho me sentido um pouco mais disposta, de modo que eu estou sempre controlando as doses e tomando na hora certa, mas teve um lado negativo, no qual Peeta me pegou tomando um dos remédios umas três vezes e eu sempre dava a mesma desculpa de que eu estava com dor de cabeça. Eu não gosto de mentir pra ele, mas eu precisava.

Eu ainda estava cumprindo aquele meu pensamento de deixá-lo participar mais da gravidez e eu percebi que isso o deixou feliz, então eu acabei deixando o nome da nossa filha de Annelise mesmo e sempre que eu tinha um desejo ele realizava. Seja por comida ou por qualquer outra coisa do tipo... Sexo. Eu não podia vê-lo sem camisa depois do banho que minha vontade de agarrá-lo surpreendia até a mim mesma, não que ele reclamasse, mas Jesus! O fogo que me subia parecia me deixar em chamas, literalmente.

– Amor? – chamou Peeta entrando no quarto.

– Oi.

– Já deixei o Nat no quarto, ele está dormindo feito uma pedra.

– Uhum – concordei enquanto ajeitava a alça da camisola.

Já passavam das onze da noite e eu estava exausta, deixei Peeta cuidando de Nathan enquanto eu tomava banho depois do jantar, meus pés continuavam doloridos e essa tortura parecia não ter fim, sem contar que minha barriga já grande, já não me permitia ver meus pés, mas eu sabia que eles estavam gordos, não de gordura, mas de inchaço.

Peeta saiu do banheiro de novo sem camisa, eu sabia que ele gostava de provocar, mas não tanto assim. Ele aumentou a potência do ar condicionado e se deitou ao meu lado, enquanto eu afundava a cabeça no travesseiro escutando sua risadinha baixa.

– Não vai me agarrar hoje, não é? – pergunto e mesmo que eu não visse, sabia que ele estava erguendo uma de suas perfeitas sobrancelhas.

– Peeta eu estou cansada, meus pés estão me matando, eu não consigo subir um lance de escada sem ter que parar para respirar porque eu estou gorda e sem contar que a sua filha não para de girar e me chutar – exclamei passando as mãos pelo rosto.

– Ahh, agora ela é minha filha? – exclamou e eu sabia que ele estava de sacanagem com a minha cara, mas com os hormônios de uma grávida não se brinca. Peguei o travesseiro que eu estava usando para apoiar a cabeça e joguei nele com toda a força que eu tinha.

– Cala boca, não quero ouvir sua voz! – falei ríspida e ele continuou a rir descontroladamente. Quando me virei para dar um soco em sua bela face de modelo de sungas, minha filha me impediu, chutando a parte das minhas costelas tão forte que parecia que um de seus pezinhos havia ficado preso ali. Solte um gruído e quando fui tentar me consertar na cama, só fiz piorar a dor.

– Katniss, o que foi? – perguntou Peeta preocupado, tirando os fios de cabelo do meu rosto.

– Annelise... Chutou minhas... Ah... Costelas! – exclamei pondo minha mão direita sobre o local e senti Peeta ficar agachado por cima de mim, com sua mão por cima da minha e massageando devagar enquanto eu colocava o braço esquerdo por cima do rosto, tentando não prestar atenção na dor e sim no carinho que ele fazia ali.

– Oh Lise, eu sei que o papai está chateando a mamãe com as brincadeiras bobas, mas não precisa me punir a machucando, tudo bem? Papai jura que vai parar de fazer isso, hum? – ele continuou conversando com minha barriga e a dor foi se esvaindo aos poucos e logo depois pude relaxar.

~*~*~*~*~*~

– Nathan, você precisa comer o resto das cenouras! – exclamei irritada. Qual o problema que ele tem com elas? Já estou a quase uma hora tentando fazê-lo comer essa porcaria.

– Mommy, porque eu tenho que comer isso? – disse chateado enquanto batia a mãozinha na mesa de vidro. Lancei-lhe um olhar fulminante porque se ele quebrasse o vidro daquela mesa... Era melhor ele correr.

– Porque sim. É bom pra sua saúde – falei e sequei as mãos no pano de prato, sentando na cadeira a sua frente depois.

– Mas mommy, eu não sou coelho pra comer cenouras! – falou como se tivesse razão. Ahh essa criança.

– Nathan, você já viu um coelho? – perguntei e ele afirmou com a cabeça – Já viu como os dentes dele são brancos? – ele assentiu de novo – Então se você quer ter dentes brancos, vai ter que comer cenoura.

– Não seria escovar os dentes, mommy? – perguntou confuso e eu me amaldiçoei por ter criado uma desculpa tão esfarrapada como essa.

– Só coma as cenouras, Nat – pedi quase desistindo.

Ainda com muita relutância ele começou a comer os pequenos pedaços que estavam em seu prato. Ajeitei a barra do vestido rosa claro que eu usava e percebi que uma parte dele estava extremamente molhada, passei pelo nariz e tinha um cheiro diferente, não parecia ser água. Comecei a sentir uma dor fraquinha na parte do apêndice e eu sabia... Aquilo era uma contração. Cacete, minha filha vai nascer.

– Nathan, chama o seu pai! – pedi apertando a quina da mesa quando a dor começou a ficar mais forte.

– Por quê? – perguntou.

– Filho... Só chama o seu pai, por favor... – fechei os olhos e respirei fundo.

Ele saiu correndo escada a cima e não me importei caso ele caísse, minha dor parecia muito mais importante agora, mesmo que eu não quisesse.

– Katniss! Meu amor, o que foi? – perguntou agachando ao meu lado e pegando minhas mãos na sua.

– Me dê o seu celular – pedi e ele me deu, digitei rapidamente o número de alguém que pode me ajudar.

– Alo?

– Annie, é a Katniss, eu só queria te avisar que minha filha vai nascer agora. Se você puder ir ao hospital...

Não se preocupe, eu estou de plantão hoje, pode vir sem estresse, deixa que eu ligo para os seus pais e os de Peeta. Não se preocupe com nada, apenas venha.

– Obrigada.

– Minha filha o que? – disse Peeta assustado.

– Peeta, se controla. Sou eu que estou em trabalho de parto e é você que tem que me ajudar, pega a bolsa da Lise e vamos logo.

Minutos depois...

A dor era sufocante, eu não conseguia respirar e parecia que meus pulmões e costelas estavam sendo esmagados por uma maldita força que não estava ao meu favor. Peeta falava próximo ao meu ouvido, mas eu não conseguia escutar, me forçava a entender o que ele dizia, mas eu só tinha controle sobre minhas mãos que apertavam com força as barras de ferro da cama hospitalar,obrigando a mim mesma a não quebrar os ossos das mãos do meu marido que agora teimava em retirar os fios de cabelo que grudavam em minha testa devido o suor.

Logo se foi como veio a contração e eu pude, finalmente, soltar o ar que eu havia prendido e não percebi. Deixei que minha circulação voltasse a funcionar e vi a ponta dos meus dedos, antes brancas devido a força exercida sobre elas, ficarem em uma coloração rosada de novo. Eu queria chorar e mesmo que eu tenha me preparado para esse momento, nada estava se saindo da forma como planejada.

Ofegante, virei meu olhar para Peeta e deixei que ele soltasse levemente uma lufada de ar sobre meu rosto, fechando meus olhos para apreciar este pequeno momento de calmaria. Depois encarei seus orbes azuis límpidos que agora tinham um toque de preocupação e... Pena? Não quero olhares de pena, eu não posso mudar essa situação!

– Ei - toquei seu rosto devagar - Está tudo bem, nossa pequena vai nascer logo, não se preocupe.

– Eu só... Queria pegar essa dor que você sente e trazer pra mim - ele disse calmo e eu toquei seu nariz fazendo com que ele abrisse um leve sorriso no canto dos lábios.

– Mas você não pode e vai ter que conviver com isso.

Mesmo que ele não tivesse entendido, acabou franzindo as sobrancelhas e eu tratei de passar os dedos ali, amaciando o local e fazendo com que ele parasse de me lançar aquele olhar de que eu estava lhe mandando uma mensagem com duplo sentido. De fato eu estava, mas eu não queria e não podia falar disso com ele.

– Peeta, você pode chamar a Annie?

– Posso - ele fala, mas antes de levantar, ele chega perto da minha barriga e a acaricia - Lise, você está machucando muito a mamãe, será que você não pode segurar as pontas só um pouquinho enquanto eu vou buscar ajuda?

Sorrio e ele dá um beijinho ali, passando pela porta segundos depois.

~*~*~*~*~*~

Bato a cabeça no travesseiro mais uma vez, recuperando o ritmo da respiração. As contrações estavam cada vez mais dolorosas e acontecendo em um curto espaço de tempo. Annie havia entrado no quarto torturantes minutos atrás, havia dito que eu já estava com oito centímetros de dilatação e... Ela estava normal, sem olhos vermelhos e inchados, o que indicaria seu choro, mas sua expressão só indicava preocupação e talvez um pouco de medo. Annie estava sendo forte e eu agradecia internamente por isso. Toda a calma agora é essencial ainda mais porque Peeta está aqui e não sabe do pequeno/grande detalhe.

– Eu não aguento mais - falo em um pequeno sussurro mais pra mim do que para qualquer um dos dois que estavam mais.

– Sim você aguenta - disse Annie uma oitava mais alta do que o normal - Você não vai desistir agora, você vai conseguir sair dessa bem. Você e Annelise. Falta pouco, só precisa de confiança em si mesma e eu sei que tenha muita força escondida dentro de você. Eu concordei com essa sua loucura e me arrependo a cada segundo que passa, não podemos mais esconder algo assim do Peeta e da sua família e... Droga, eu não sei como te ajudar, Katniss.

Annie fala e começa a andar pelo quarto de hospital com as mãos ora no rosto ora no jaleco branco. Lancei meu olhar para Peeta e ele olhava pra mim assustado.

– Katniss? - perguntou enquanto deixava os olhos arregalados, como se estivesse perto de uma verdade desconhecida pra ele.

– Peeta, me desculpa... E-eu não queria te fazer passar por isso, mas eu não podi... - não pude completar, porque outra contração me atingiu e toda a queimação havia voltado. Ouvi uma porta bater enquanto agarrava as barras da cama, ou vi Peeta murmurar um está tudo bem, e tentei me agarrar a sua voz, tentando concentrar-me nela e não na dor.

Logo a porta se abriu de novo ao mesmo tempo em que eu relaxava o corpo. Entre as pessoas que entraram percebi Annie, duas enfermeiras e um... Anestesista?

– Katniss, a gente vai ter que aplicar a peridural – disse Annie e eu arregalei os olhos.

Peridural é uma anestesia que sensibiliza o meu corpo da cintura para baixo, diminuindo minha dor, mas o problema é que ao mesmo tempo, regulariza a pressão arterial e eu não posso brincar com o coração agora, não quando minha filha ainda está dentro de mim.

Fiquei apreensiva e senti meu corpo reprimir, não de dor e sim de nervosismo.

– Você precisa confiar. Se formos esperar até completar os dez centímetros necessários, você pode não conseguir – disse Annie.

Apenas respirei fundo, e com a ajuda de Peeta, que estava extremamente calado, me sentei no pé da cama com ele a minha frente. Pus a testa em seu peito e os braços ao redor da sua cintura enquanto ele acariciava meus ombros e retirava meu cabelo da nuca, o prendendo em um coque improvisado e soprando nenhum ponto específico das minhas costas que pingavam de suor. Aquela tortura estava demorando demais a acabar e eu já não sabia mais como tudo aquilo iria terminar, eu só queria minha menina fora de mim e viva.

No meio da aplicação, senti outra contração um pouco mais suave dessa vez, já que uma parte da anestesia já estava circulando em meu corpo, mas mesmo assim tive que fechar os punhos ao redor de Peeta e cravar os dentes em meu lábio inferior, sentindo rapidamente o gosto de sal e ferrugem do sangue.

– Calma, meu amor – sussurrou Peeta – já está acabando. Tá tudo bem.

Minutos depois, me deixaram a sós com ele, eu continuei naquela posição mesmo não sendo tão favorável para que minha dilatação aumentasse, mas eu estava confortável pela primeira vez e eu queria desfrutar da sensação de não sentir dor como foi até agora. Peeta voltou a se sentar na cadeira a minha frente, fazendo com que eu apoiasse minha cabeça em seu ombro e o dele no meu. Ficamos em silêncio, apenas deixando o momento falar por si só. Minhas mãos jogadas em suas costas como se eu estivesse mole e sem forças, enquanto as suas me confortavam e circundavam meu quadril indo e voltando levemente e aquilo era ótimo.

~*~*~*~*~*~

– Ahhh! – gritei enquanto Peeta e algumas enfermeiras seguravam minhas pernas. Com a peridural, minha dor diminuiu bastante, mas o medo, o nervosismo e o desespero fizeram com que tudo viesse com cinco vezes mais força. O monitor cardíaco apitava cada vez mais rápido e eu sabia que aquilo era perigoso.

– Vamos Katniss! A cabeça já está saindo.

Annie falou e vi seu olhar vacilar depois de ver como meus batimentos estavam mais rápidos. Eu tinha que ser rápida, tudo podia piorar... Mas eu não conseguia mais empurrar, parecia que toda minha força estava se esvaindo e eu estava mole sem ter como continuar. Minha visão já estava embaçada e eu jurava que aquele seria meu fim, mas não sem antes garantir segurança para a minha filha e com esse pensamento consegui algo muito mais importante do que força. Vontade.

– Vamos meu amor. Estamos quase lá – disse Peeta calmo, ainda forçando minhas pernas para continuarem no ar, porque até nisso eu precisava de ajuda.

Então eu empurrei, com toda a força que, impressionantemente, ainda existia em mim. Eu sabia que aquela era minha última tentativa e por isso eu não me importei comigo, com a minha vida e sim com a minha Annelise, com a minha filha, porque ela poderia ser um refúgio para Peeta e Nathan, uma alegria para aqueles que iriam precisar.

– Ahh!

Soltei um último grito e escutei um choro fino, o choro da minha filha e soltei meu corpo violentamente contra a cama. Eu tinha salvado sua vida graças a Deus, ela não havia ficado sufocada. Eu podia ir e eu sabia que não demoraria muito, pois percebi que da mesma forma que havia subido, minha pressão baixou. Meu coração já não aguentava mais bater e minha visão com pontos pretos me confirmavam isso. Eu não podia ver mais, eu não conseguia confirma o sorriso que se apoderava do rosto de Peeta ao olhar a filha mais nova. Eu sabia que ele estava tão encantado com aquela nova vida que ainda não havia reparado em mim e era até melhor. Não queria que ele visse a mulher amada morrer. Já era duro demais saber que eu não podia me despedir de ninguém.

Dei uma última e lenta piscada, escutando ao longe uma voz feminina me chamar, mas eu já não podia reconhecer quem era. Vi minhas forças se esvaindo e as manchas pretas ficarem mais fortes e aquele foi meu fim.

–*-*-*-*-*-*-

Minha filha nasceu e, mesmo que a camada de sangue que a cobria fosse nojenta, ela era linda, mas eu não podia pegá-la ainda, tinham que ver se ela estava bem.

– Katniss? – gritou Annie ao meu lado e só então virei minha atenção a mão dos meus filhos, mas o sorriso que estampava meu rosto se desfez ao ver Katniss imóvel na cama e eu me desesperei. Toquei seu corpo ainda quente e ensopado de suor, mas ela não demonstrou reação.

Uma correria começou no quarto com a entrada e saída de mais dois médicos que começaram a ligar novos aparelhos à Katniss, mas eu não fiquei ali, pois fui empurrado pela porta ainda sem entender nada do que estava acontecendo. Eu estava em choque e não sabia o porquê. Annie saiu comigo e só fui perceber depois de ouvir seus soluços altos e ver que ela escorregava pela parede azul e branca do hospital.

– Annie, o q...que es...está acontecendo? – perguntei travado.

– Peeta me des...desculpa – ela chorava e passava as mãos pelo cabelo desesperada.

– Annie?

– Peeta, a Katniss está...

Ela não precisava continuar, eu já sabia.

Katniss estava morta. Não, isso não pode ser verdade. Não! Ela não tinha motivos pra morrer, estava tudo certo, indo bem, não tinha nada de errado.

Vejo tudo acontecendo em câmera lenta, a partir do momento que passo as mãos trêmulas pelo rosto e sinto a aliança em minha mão esquerda pesar. Vejo Finnick, o marido de Annie, correr por entre os corredores, afobado, colocando a mulher entre os braços, passando a mão por entre seus cabelos e murmurando palavras doces que eu não podia ouvir, mas sabia que elas estavam lá.

Percebo um outro pessoal atravessar o corredor com sorrisos nos rostos, mas logo o desfazerem ao notar o péssimo clima aqui. Reconheço o Sr. E a Sra. Everdeen, seu irmão Gale, meus pais, meu irmão Cato e sua esposa Clove, madrinha de Nathan que carrega meu filho no colo. Quando lágrimas incontroladas descem por meu rosto, seu corpinho de criança se choca contra minhas pernas e ele se balança ali, tentando chamar minha atenção, mas eu estou preso numa bolha de pavor e medo que não consigo controlar, mas finalmente escuto a voz de Annie e me assusto.

– Aconteceu Finnick, aconteceu – fala entre soluços enquanto escuto Nathan me chamar descontroladamente, o pego no colo e sinto seus dedos limparem meu rosto molhado.

– O que aconteceu? – pergunto bruto e o meu tom de voz assusta os que ainda estavam calmos.

– Ela não te contou? – pergunta Finnick assustado.

– O que ela não contou? O que ela tinha pra contar? – pergunto trêmulo.

– Peeta, a Katniss tem um sério problema no coração chamado insuficiência cardíaca que, provavelmente, se agravou de alguns anos praça e... – ele para a explicação e como estou absorto ao que ele fala, Gale pergunta por mim:

– E o que?

– E... Ela provavelmente teve uma parada cardíaca no parto.

Paro. Katniss escondeu algo grave de mim, eu podia ter ajudado de alguma maneira, ter dado apoio e cuidado dela, eu não sei. Eu podia ter ajudado.

Todos que estava ali comigo no corredor, naquele corredor apertado se abraçaram a quem puderam, ainda tentando processar aquela informação e ganhando aos poucos conhecimento de que Katniss estava morta. Aos poucos fui escutando choros e me prendi ao mais próximo de mim. Meu filho mais velho que, mesmo sendo novinho, entendeu o que Finnick falou, se agarrou ao meu pescoço e chorou baixinho, passei uma de minhas mãos por seu cabelo escuro como o da mãe e minha outra mão esfreguei por suas costas, fechando meus olhos e pedindo a Deus que isso fosse apenas um pesadelo.

– Os parentes de Katniss Mellark – chama um médico até então desconhecido por mim.

– Somos nós – aviso, tomando sua atenção para mim e para todos que estão parados as minhas costas.

– Bom, acho que você é o Sr. Mellark, estou certo? – pergunta e eu assinto – Sua filha está bem, fizemos todos os exames e nada foi detectado, está tudo cem por cento com ela que já está no quarto. Já sua esposa...

Nessa hora mais uma lágrima rola por meu rosto. Minha filha estava bem, mas a Katniss...

– Sua esposa teve uma parada cardíaca e isso acorreu devido a uma doença que não permitiu que o coração batesse a quantidade de vezes necessárias, mas nossa equipe foi rápida e chegou à ala que ela estava a tempo para tentar usar o desfibrilador e ver se os batimentos voltavam e rapaz, sua mulher é forte e tem força de vontade. Muitos não conseguem e não aceitam bem, ‘’reviver’’ assim – diz o médico e ninguém pisca ou se mexe.

– Ou seja... – incentivo.

– Sua mulher está bem Sr. Mellark, caso ainda reste dúvidas, ela está viva, no quarto com a filha. Vocês podem visita-la a partir de amanhã, exceto o Sr. Mellark e a Sra. Odair, vocês podem ir ainda hoje já que é cardiologista, Sr. Odair, pode ir tirar a pressão dela ainda hoje.

O médico diz e sai, levando consigo todo o clima tendo embora. Ela está bem. Elas estão bem.

~*~*~*~*~*~

Eu estava parado em frente à porta do quarto da Katniss, como Finnick é cardiologista, foi o primeiro a entrar no quarto para fazer os exames e, segundo ele, sua pressão estava normalizada e ela havia acabado de dar de mamar para nossa filha que dormia serena junto de Katniss, que de qualquer forma, há poucos minutos atrás estava em trabalho de parto, então acabou dormindo junto de Lise. Já Nathan, continuava em meu colo, com a cabeça na curvatura de meu pescoço, quietinho como eu havia pedido, querendo ver a “mommy” e a irmã, então pus a mão na maçaneta prata da porta e a girei, entrando em um quartinho simples em tons de rosa, creme e lilás da maternidade. Observei as mulheres da minha vida dormindo como anjos, Katniss estava deitada em uma espécie de maca que puseram ali, ao seu lado estava a nossa mais nova integrante da família Mellark, ao vivo e em cores, deitadinha em um berço bem próximo a sua mãe que por incrível que pareça estendia a mão por cima do véu “mata-mosquito” e com um dos dedos segurava uma das mãozinhas de nossa filha.

Coloquei Nat perto da barriga de Katniss e ele acariciou o braço da mãe e a chamou de leve, como um sussurro.

Rodei em volta da maca e encostei-me a ela, próximo a sua nuca, passei a mão por seus cabelos e a chamei:

– Amor...

– Peeta? – ela disse virando seu rosto lentamente em minha direção. Passando seu olhar por Nat e chamando-o para um abraço.

– Sabe... É bom ver a cor dos seus olhos de novo – falei pondo a ponta de meus dedos sobre sua bochecha.

– Peeta... Me desculpa não ter te...

– Shhh, não precisa se desculpar, eu não sei o que eu teria feito se soubesse, mas vamos esquecer isso, hum? Já passou, e mesmo que tenha sido apenas breves minutos, foi ruim demais pra termos que lembrar e agora nós estamos aqui, todos juntos e bem – falei e vi que ela sorriu, me dando um breve selinho.

– Mommy, olha, a Lise está acordando – avisa.

Dirijo meu olhar para minha princesa e noto que ela se contorce desajeitadamente enquanto balança seus bracinhos pelo rosto e suas perninhas no ar.

– Ela é igual a você Peeta – avisa Kat.

Quando minha pequena vai começar a chorar, eu já estou ao seu lado, lhe oferecendo meus braços como fortaleza.

– Oi princesa – sussurro e como num passe de mágica seus olhos azuis se direcionam a mim, como se me reconhecesse. Sento-me de novo na maca, dessa vez com as pernas esticadas e ao meu lado Nathan está entre eu e Katniss. Ponho Annelise em seus braços de criança e eu passo o meu por ele até a cintura da minha esposa e esses somos nós, uma família nada típica, enfrentando seus problemas e aproveitando suas vitórias. Nós somos perfeitos assim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e não esqueçam de me dar opiniões sobre:
— As partes do Nathan e da Katniss
— O desenvolvimento do parto

NÃO FOCALIZEM SÓ NA MORTE DA KATNISS! TEM TODA UMA HISTÓRIA POR CIMA!

Beijos e recomendem, mandem reviews!