Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 9
Sunlight


Notas iniciais do capítulo

Então, demorei um tiquinho, mas gostei desse caítulo



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POV Derek

Minha mãe continuava dizendo que eu não precisava voltar imediatamente às aulas, mas eu queria. Quanto mais rápido eu me visse livre das cartas, talvez mais rápido eu pudesse me perdoar por não ter a impedido.

A escola ainda comentava sobre o suicídio, mas mais ninguém parecia chocado. Fui direto para minha sala, evitando os comentários maldosos de algumas pessoas.

Fui para meu lugar, deixando a mochila sobre a mesa. Me sentei e tirei a caixa com as cartas de dentro da minha mochila. Olhei ao redor, procurando por algum rosto conhecido e donos daqueles envelopes.

Parei de passar as cartas quando parei no envelope com o nome Carlotta Heath escrito na letra delicada de Claire. Olhei pela sala, mais uma vez, procurando o rosto da menina.

O que Claire podia ter escrito para Carlotta? Que ela a odiava, que a culpa de sua briga com Keane fora dela, que a garota tinha sido culpada pelo suicídio? Nenhuma das alternativas me parecia algo que ela diria. Até ai, patrocídio também não estava na lista.

Me levantei e deixei o envelope sobre a mesa de Keane, do outro lado da sala. Eu poderia ter deixado a carta sobre a mesa de Carlotta, mas várias garotas estavam lá, provavelmente esperando a amiga chegar.

Voltei para meu lugar, coçando meu queixo. Até Carlotta recebera uma carta, provavelmente maior que a minha. Será que eu não merecia mais do que aquilo?

— Ei, Derek. – Olhei para o lado, saindo do meu devaneio. Kramisha acabava de se sentar ao meu lado. Não era o lugar dela, mas ela não parecia ligar. O garoto que se sentava ao meu lado estava no lugar dela.

— Kramisha. – Tentei dar um sorriso, mas simplesmente não consegui. Eu não tinha razões para sorrir. E tinha certeza de que ela também não. – Como você está?

Ela me encarou, com os olhos vermelhos e cansados, inchados, como se ela tivesse passado a noite toda chorando. Olheiras escuras marcavam seus olhos e pude perceber que suas unhas estavam roídas quase até a base, todas elas.

— Acho que você sabe bem, Derek. – Ela deu de ombros. Não foi uma resposta maldosa, mas ainda assim me atingira como um soco no estômago. Eu realmente sabia como ela estava: cansada, desmotivada e, o pior de tudo, triste.

— Eu...Eu acho que você deve estar um pouco melhor que eu. – Respondi, desviando o olhar do rosto dela. Ela, no entanto, continuava me encarando.

— É, eu ouvi que você a viu quando... – Ela ergueu os dedos, como se formasse uma arma com eles, e os ergueu levemente até a cabeça, como se fosse uma ação qualquer.

— E não consegui pará-la. – Minha garganta se fechou. Meus olhos ardiam, mas não chorei.

— Não conseguiria, Derek. – Kramisha ergueu os olhos claros, me forçando a encará-los. – Ninguém conseguiria. Porque ela já estava morta. A alma dela já tinha se partido.

Não pude evitar dar uma risada pelo nariz, com um sorriso fraco. Me lembrei das vezes em que Claire me contava dos sonhos de Kramisha e de seus quadros, até mesmo do dom da amiga.

— Foi com isso que sonhou noite passada? – Apoiei meus cotovelos na mesa, entrelaçando minhas mãos e a encarando, ainda sorrindo.

— Foi. – Kramisha respondeu, dando um sorriso fraco. Mesmo com as olheiras e o cansaço no rosto, ela ficou linda com aquele sorriso.

POV Kramisha

Eu disse que tinha sido meu sonho, mas menti. Muitas pessoas diriam que provavelmente era uma loucura minha, um delírio. De fato, um sonho.

Mas o que me importava era deixar Derek saber que Claire não tinha salvação. Não se salva uma pessoa se a alma dela já se foi. Ele não podia se culpar para sempre.

Se eu tinha visto Claire no meu quarto, parada, olhando para aquele quadro em especial, talvez ela quisesse que eu desse a mensagem para ele.

Eu não tinha dormido na noite passada, mas não estava com sono. Cansada, sim. Cansada dos comentários pela escola, do vazio que apertava meu peito, da realidade de que Claire nunca mais entraria pela porta azul escuro da sala e daria um sorriso simpático como cumprimento.

Cansada da minha tristeza. E eu sabia que Derek também se sentia assim. Por isso queria ajudá-lo. Pedi ao garoto que sentava ao lado dele para trocar de lugar comigo, só por uns dias.

Um envelope, parecido com o que eu tinha recebido no dia anterior, foi colocado sobre minha mesa. Por cima do envelope havia uma palheta verde escura, de acrílico. O nome Lily Wilhelm estava escrito de um jeito delicado no envelope.

— Pode entregar essa para mim? – Derek apontou para o envelope, colocando a mecha rosa de seu cabelo para trás. – Não conheço Lily muito bem.

— Tudo bem. – Concordei, pegando o envelope e a palheta. – Quer ajuda com mais alguma?

— Por enquanto, não. – Ele coçou a cabeça, olhando para a caixa com as cartas. – Obrigado. Te falo se precisar de ajuda.

Concordei com a cabeça e coloquei o envelope sobre minha mesa novamente. Lily não demoraria muito a chegar.

POV Keane

Carly parou ao meu lado, encarando o envelope sobre minha mesa. Ela reconhecia aquela letra. A mesma da carta que eu recebera no dia anterior: a letra de Claire.

— O que é isso? – Ela perguntou para algum dos alunos ao redor, como se fosse alguma brincadeira. Ela me olhou depois de ficar sem resposta.

— É, é dela. – Dei de ombros. Eu não conseguia pensar em nada que Claire poderia ter escrito de bom sobre Carly, mas não disse nada.

— Bem, acho que eu mereço isso. – Ela soltou minha mão e pegou o envelope. Me surpreendi com a resposta dela. Carly reconhecia que tinha sido um pouco cruel com Claire, como eu mesmo tinha sido?

— Espera. – Segurei a mão dela antes que ela abrisse o envelope. O olhar confuso dela encontrou meu rosto. – Acho melhor deixar para mais tarde. Ou ao menos, não lê-la aqui, agora.

— Tudo bem. – Ela concordou. – Na quadra, depois das aulas.Me encontra lá? – Concordei com a cabeça. Só de pensar em ler outra carta suicida de Claire deixava minha boca seca, mas eu não queria deixar Carly sozinha.

Eu estava curioso sobre o conteúdo da carta, mas decidi não me precipitar. Me sentei, deixando Carly ir para o lugar dela com a carta. Suspirei, colocando minhas coisas sobre a mesa.

Acho que eu nunca tive tanto medo de palavras.

POV Carlotta

Eu, sinceramente, não sabia o que esperar. Uma carta ofensiva, em que Claire me xingava por tudo que eu já tinha feito? Uma carta se fazendo de vítima, me deixando mal?

Reconheço que cheguei a ser cruel com Claire. Eu não concordava com ela em muitos aspectos, mas sempre exagerei nos xingamentos. Convenci Keane a brigar com a garota.

Dizer que me arrependia não resolveria nada. A carta já tinha sido escrita e entregue, o gatilho já tinha sido puxado, o funeral já estava sendo preparado, não sei por quem...

Passei cada minuto da aula observando o envelope sob meu caderno, com apenas uma ponta à mostra. Keane percebia minha ansiedade e tentava sorrir para me acalmar. Não teve muito sucesso.

Quando as aulas terminaram, desci para a quadra quase correndo. Minha mochila batia contra minhas costas levemente enquanto eu corria. A carta parecia ter um peso muito maior.

Abri o envelope, me sentando no chão, num canto da quadra, deixando minha mochila servir de almofada para minhas costas. Vi Keane se aproximando enquanto eu puxava a carta e a desdobrava.

— Quer que eu leia em voz alta de uma vez? – Perguntei, olhando diretamente para Keane. Era como se eu estivesse prestes a aprender uma fórmula mágica secreta e proibida.

— Pode ler antes se quiser, em silêncio. – Ele deu de ombros, jogando a mochila no chão e se sentando ao meu lado.

— Ok. É, tudo bem. – Respirei fundo e finalmente baixei meus olhos para a carta.

Carlotta,

Essa é a carta mais estranha que já escrevi. Tanto pelo destinatário, quanto pelo conteúdo.

Quando peguei o papel e a caneta para escrever isso, pensei em tudo que eu poderia te culpar e te xingar por ter feito. Mas afinal, a culpa foi realmente sua?

Se você convenceu Keane, é porque tinha alguma razão, uma certeza, por mais cruel que ela parecesse. E se você me xingou, talvez eu tenha te dado alguma razão. Me perdoa por isso?

Sabe, Carlotta, eu não tinha mais razão para continuar com isso. Claro que eu tinha meus amigos. Mas eu não sou cega. No fim eu não seria nada além de um estorvo, como eu era para meus pais.

Eu não podia impedi-los de viver. Eles precisam ver que não precisam de mim, sem se preocupar tanto comigo. Eu era como uma bomba-relógio perto deles. Eu podia acabar com todos eles se não acabasse comigo mesma antes.

Voltando ao assunto principal, quero te pedir um favor. Se você gosta mesmo de Keane, não deve ser tão difícil assim.

Ele é um garoto maravilhoso. Talvez tenha parecido um pouco fria e dura com ele na carta que eu o mandei, mas foi por raiva de mim mesma. Eu já o fizera sofrer demais.

Só peço para você fazê-lo feliz. Não deixe que ele se esqueça de mim, mas não deixe-o se lembrar das coisas horríveis que eu fiz. Mas, principalmente, não o deixe perder o rumo, o foco, a força dele.

E o diga que eu o amei como eu podia. Como uma amiga fraca e frágil podia. Sendo uma insegurança segura.

E não se culpe por mim. Ninguém no mundo é inocente, ninguém é culpado. Obrigada por ler até o fim.

Claire.

— Carly? – Keane pôs uma mão no meu ombro. Minhas mãos tremiam segurando a carta. Percebi que minha boca estava aberta, como se eu quisesse dizer algo.

Comecei a chorar, soluçando. Keane me puxou para perto, passando um braço ao meu redor. Com a outra mão ele pegou a carta, agora caída no chão.

Fiquei chorando por alguns minutos, enquanto ele lia a carta da amiga. Ele apoiou o queixo no alto da minha cabeça, deixando a mão que segurava a carta cair depois que terminou a leitura.

— Carly. – A voz dele parecia um choro, entrecortado por um sorriso. – Carly, pare de chorar.

Ergui meu rosto, limpando as lágrimas com minha mão. Ele realmente sorria, enquanto dois trilhos de lágrimas marcavam suas bochechas rosadas.

— O que foi, Keane?

— Ela nunca me odiou. Ela nunca TE odiou. – Ele deu uma risada. – Acho que nunca me senti tão leve em toda minha vida.

Respirei fundo, sentindo meu nariz entupido. Ele tinha razão. Aquela carta provou que Claire não me odiava. Ela confiava em mim para cuidar de Keane. Ela até pediu perdão, sem o menor motivo.

Sorri também, voltando a me aconchegar contra Keane. Todo o ódio que eu achei que sentia por ela, toda a aversão, se provou sendo apenas preocupação e simpatia.

Meu sorriso se alargou. Minhas lágrimas secaram sob o feixe de sol que agora iluminava Keane e eu. Claire nos observava. Se ela realmente acreditava que era um estorvo, então agora ela devia estar radiante, como o sol.

Porque agora ela podia nos vigiar, cuidar de todos nós, seja lá de onde ela estiver.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da carta da Carlotta? Concordam com o que a Claire disse? Bjs :*