Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 8
Devil May Cry


Notas iniciais do capítulo

Música do Michael é essa : http://www.youtube.com/watch?v=PNGMWZ1XJvI
Mais voltado pra ele esse, apesar de ter outras aparições :v
Boa leitura :3



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POV Derek

~Flashback On

Claire acabara de me ligar. Estava chorando no telefone, com a voz trêmula e baixa. Não consegui entender direito a razão, só que ela queria que eu fosse até a casa dela.

Eu estava sozinho na minha casa, então escrevi um bilhete para minha mãe e deixei pregado na geladeira, com um imã de coração. Tirei a mecha rosa dos meus olhos e abri a porta, deixando a casa.

A mãe dela atendeu a porta na segunda vez que toquei a campainha. A sra. Cooper não disse nada, simplesmente me deixou entrar, se afastando do vão da porta e encarando o chão.

Claire estava em seu quarto, com o rosto vermelho. Ela respirava pela boca, o nariz entupido, as lágrimas rolando devagar por seu rosto, como se ela já estivesse daquele jeito por muito tempo.

Estava sentada no chão, a mão direita fortemente fechada ao redor de algo, a mão esquerda passando pelo braço direito. Suas unhas se enterravam na carne em pequenos intervalos, deixando marcas vermelhas por todo o braço, desde o ombro até o cotovelo.

— Claire. – Me agachei ao lado dela, tirando uma lágrima de sua bochecha com o polegar. Ela inclinou a cabeça sobre a palma da minha mão, como um gato se esfrega nas pernas do dono.

— Ele a matou, Derek, a matou a sangue frio. Eu sei que foi ele, eu sei que foi. – Ela tinha voltado a soluçar, soltando o próprio braço e o passando ao meu redor.

— Matou quem, Claire? Quem matou quem? – Retribuí o abraço, brincando com o cabelo dela. Isso pareceu acalmá-la um pouco.

— A gata dela. – A mãe dela apareceu no vão da porta do quarto, com duas xícaras numa bandeja. Era surpreendente como ela ainda conseguia sentir algo. – Ela viu Nicholas carregando a gata para o terreiro.

— Ele realmente...? – Não consegui terminar a frase. Joan não me respondeu. Ela se abaixou, deixando a bandeja com as xícaras aos meus pés, e saiu do quarto. Por um momento me pareceu que Joan gostava da filha, ao menos um pouco.

— Vai ficar tudo bem. – Peguei uma das xícaras e segurei a mão direita dela. Ela não queria pegar a xícara. – Toma, vai ser melhor pra você.

Ela se encolheu quando abri a mão dela. Peguei a pequena coleira que ela segurava e coloquei a xícara em seu lugar. Ela tentou pegar a coleira rosa de volta, mas a coloquei no meu bolso.

— Só se me prometer que vai tomar o chá. E de que não vai fazer nada de errado.

— O que eu poderia fazer? Ele provavelmente me mataria também. – Ela tomou um gole do chá, tremendo. Tive que segurar a xícara para ela. – Obrigada. Posso...Posso dormir na sua casa hoje? Não quero ter que ficar impassível na frente dele.

— Sabe que tudo bem por mim. Peça sua mãe. – Ela me entregou a xícara e se levantou, meio trôpega. Suspirei. Me levantei também, entregando a coleira para ela.

— Obrigada. – Ela me deu um beijo na bochecha e saiu do quarto, indo atrás da mãe. Fui atrás dela.

~Flashback Off

POV Michael

O abrigo estava como sempre: cheio de crianças gritando e adolescentes metidos a rebeldes. Todos eles me davam dor de cabeça. A dona do abrigo me deu um aceno, sorrindo de forma bondosa. Fui até ela, sentada em sua poltrona, fazendo crochê.

— Olá, tia Patti. – Patricia Smith não era minha tia de verdade, ela era a dona do orfanato, ou abrigo, como ela dizia. Sempre vivi ali, desde os 5 anos de idade, quando meu pai morreu. Desde então a chamo de tia Patti.

— Como vai, meu bem? – Me ajoelhei ao lado da poltrona. Ela passou a mão enrugada sobre minha cabeça.

— Não muito bem, tia. Uma amiga se matou hoje. – Sua expressão continuava suave, deslizando a mão sobre minha cabeça.

— E sente muito por ela, não é? – Ela deu um sorriso leve, me confortando. – Sabe, meu bem, que não é bom segurar lágrimas.

— Sou um demônio sem coração, tia. – Ela sorriu quando falei de mim mesmo como eu já tinha ouvido vários dos adolescentes me chamando. – Não choro.

— O demônio pode chorar ao fim da noite. – Ela me deu um sorriso e parou de mexer nos meus cabelos. Encarei o chão. Devil May Cry, a música que Claire tinha me mostrado.

E naquele momento, ali abaixado perto de tia Patti, olhando o chão, até fazia um pouco de sentido. A letra parecia se encaixar naquele dia.

Faces in the crowd, the faces in the crowd will smile again,

And the devil may cry, the devil may cry at the end of the night.

Me levantei e fui até meu quarto. Joguei minha mochila sobre a minha cama, passando pelas outras duas beliches. Dois dos garotos que dividiam o quarto comigo estavam lá, cada um em sua cama, um lendo e o outro jogando videogame.

— Ei, Jehra. – Leonard era o que jogava videogame, me cumprimentou sem nem tirar os olhos do jogo. – O que foi?

— O que foi o que? – Peguei uma garrafa d’água no frigobar do nosso quarto e tomei um gole.

— Você já chegou cantarolando. Aposto que quer escrever uma das suas cartas sem destinatário. – Ele finalmente ergueu os olhos do jogo, colocando o videogame ao seu lado na cama.

— Elas têm destinatário, eles só não leem o que escrevo. – Fechei a garrafa e me joguei na cama. – E o que cantarolar tem a ver com isso?

— Não sei, sempre que você quer escrever você cantarola. - Ele deu de ombros. – E que história é essa de Devil May Cry?

— Não é o jogo. – Revirei os olhos. – E você tem razão, quero escrever cartas, só não sei pra quem.

— Manda pra sua garota, ela adora suas cartas. – Ele me deu um sorriso torto, me provocando. Suspirei.

— Ela não vai ler mais nada. Ela se matou hoje. – Leonard parecia prender a respiração. – É, aparentemente quem gosta de mim se mata. Fica de olho, Leo.

— Isso não é piada, cara. – Ele se sentou na cama, pálido. – Com nenhum deles.

— Nem me lembro direito do rosto do meu pai antes dele tomar aqueles comprimidos até ter uma overdose. – Dei de ombros. – Não me sinto tão mal por ele,não podia fazer nada.

— E podia fazer algo por ela?

— Talvez. – Suspirei de novo. – Volta pro seu joguinho, Leo. Sério, me deixa aqui, me corroendo por dentro.

— Chora logo, Jehra. Sua voz está embargando. – Ele tinha razão, minha voz estava embargada. Eu sentia um nó se formando em minha garganta, mas nenhuma lágrima.

— Só ao fim da noite. – Ele me olhou com o cenho franzido, mas não me incomodei em explicar. Peguei meu caderno e uma caneta e abri numa folha em branco.

POV Claire

~Flashback On

Michael estava na sala de aula, com seu caderno aberto. Com certeza ele não estava copiando a matéria no quadro. Me aproximei devagar, tirando um dos fones de ouvido.

Ele ergueu os olhos do caderno, virando-o para baixo, me impedindo de ver o que estava escrevendo. Me sentei na carteira a sua frente, apoiando meu queixo na minha mão, segurando meu cotovelo com a outra.

— Oi. – Ele disse, colocando a caneta de lado.

— Não vai me dizer pra quem é? – Arrisquei, sorrindo de leve.

— Pro meu pai. – Ele deu de ombros. – Cadê o Derek?

— Não sei, ele disse que tinha que fazer alguma coisa hoje e faltou. – Cocei o nariz. – Seu pai, ele lê essas cartas?

— Não. Eu as deixo no túmulo dele. – Abaixei a mão, endireitando a coluna.

— O que aconteceu com ele? – Perguntei. Michael não parecia nem um pouco desconfortável com aquilo.

— Suicídio por overdose. Acredita que ele só precisou de um frasco do remédio? – Ele deu um riso fraco, sem humor. – Mas não importa muito, eu só tinha 5 anos.

— Por isso vive com sua tia?

— Tia Patti? Ela não é minha tia, ela é dona do orfanato onde moro, do abrigo.

— Ah. Bem, sinto muito. – Me levantei. – Vou te deixar terminar.

— Não precisa, não sei o que mais escrever. – Ele colocou o caderno e a caneta dentro da mochila, me seguindo. – O que está ouvindo?

— Devil May Cry. – Ele franziu o cenho. – Não é do jogo. – Peguei o fone que eu tinha tirado e o estendi para Michael. Ele o colocou no ouvido, colando sua cabeça à minha para não puxar o fio.

— Meio triste. Bonita. – Ele disse, me devolvendo o fone.

— Eu sei. Os rostos na multidão vão voltar a sorrir, o demônio pode chorar ao fim da noite. – Sorri. – Me faz pensar porque os rostos não estão sorrindo.

— Talvez eles estejam sem saída, sofrendo. – Ele passou os braços ao redor dos meus ombros. – Vem, ainda dá tempo de lanchar.

O acompanhei pelo corredor, cantarolando a música. Ele acabou cantarolando também, seguindo meu ritmo. Sorri. Era bom não ficar mais sozinha nos dias que Derek faltava.

~ Flashback Off


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Feliz Ano Novo para todos, a propósito o/ Tudo de bom sempre :3



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