Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 20
Dinner


Notas iniciais do capítulo

Então, gastei um tiquinho de tempo, mas consegui sair dessa porcaria de bloqueio mini ,q Enfim, espero que gostem :3



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~Flashback On

Fiz como meu pai me mandou. No dia do jantar dele, acordei cedo e arrumei meu cabelo, pintei as unhas e passei maquiagem. Todas coisas que eu normalmente jamais faria.

Minha mãe tinha o cabelo preso num coque bem feito, a comida já pronta no fogão, com seu vestido verde na altura dos joelhos, preso apenas em um ombro.

Apesar de não estar um dia frio, usei um vestido de mangas compridas, escondendo as cicatrizes. O vestido ia até a metade minhas coxas, apertado, o que ainda deixava uma cicatriz visível. Mas podia inventar uma desculpa pra essa.

Os saltos altos não eram tão altos assim, no máximo uns cinco centímetros. Coloquei uma correntinha que Derek me dera no meu aniversário uma vez.

Quando o primeiro convidado chegou, fiquei de pé, esperando o homem entrar na sala. Ele entrou, seguido de um menino realmente da minha idade.

Eles usavam terno, os dois, sorrindo. A mulher logo atrás usava um vestido salmão e saltos pretos. Bonita. Meu pai parecia outra pessoa, cumprimentando-os.

– Bem, Elijah, sinta-se em casa. Amor, Kate chegou. – Minha mãe sorriu, cumprimentando a mulher. – Claire...

– É um prazer. Elijah, Kate e... – Meu pai não tinha dito o nome do garoto, mas dei um sorriso.

– Oh, querida, William é todo seu hoje. – Kate segurou o braço do filho. O garoto sorriu, as bochechas um pouco rosadas.

Ele parecia um desses modelos de videoclipes, o cabelo moreno bem cortado, a barba por fazer, os olhos azuis e queixo bem marcado.

– Claire, por que não o mostra seu quarto, enquanto sua mãe termina o jantar? – Apesar de muito escondido, ainda podia ouvir o tom de ordem na frase. Concordei prontamente, chamando o garoto com a cabeça.

– Não quero ser invasivo. – Ele disse, parado na porta. Podia ouvir a risada de meu pai vinda da sala.

– Tudo bem, não há nada demais aqui. – Pelo menos não a vista. Eu guardava tudo em caixas debaixo da cama.

– Com licença. – Ele pediu antes de entrar no quarto, as mãos no bolso do terno.

– Então, William... – Não conseguia pensar em nada. Me sentei na cama, esperando um assunto surgir magicamente.

– Belo quarto. – Ele olhava a pintura na parede, ao lado da porta. – Você pintou?

– Oh, não. Ganhei de uma amiga. – Era uma imagem de uma garota olhando a lua cheia pela janela. Imagino que a menina era eu, mas Kramisha nunca confirmou, só disse que achou minha cara.

– É muito bonito. – Ele respirou fundo, abaixando o olhar enquanto se virava para mim. – O que é isso?

Vi que ele encarava a cicatriz na perna, o cenho franzido. Pus a mão por cima, meu cérebro a mil.

– Parece idiota, mas cai de uma escada uma vez, carregando uma faca. – A marca podia ser atribuída à uma faca, considerando o tamanho. – Estava com pressa.

– Devia ser mais cuidadosa. – Ele disse, dando uma risada fraca. – Você lê muito, sim?

– É como passo o tempo. – Falei, encarando a pilha de livros. – Quando estou em casa à toa.

– Gosto disso também. – Ficamos naquela conversinha fiada até que Elijah bateu de leve na porta.

– Com licença. – Ele disse, abrindo uma fresta da porta que eu nem percebi ter fechado. Acho que era costume. – O jantar...

– Já vamos. – Respondi, ficando de pé. – Vamos?

– Sim. – Ele me seguiu até a sala de volta. Encostei a porta do quarto, só por hábito.

Nos sentamos ao redor da mesa, meu pai numa ponta, Elijah na outra. Fiquei de frente para minha mãe, ao lado de William. Kate encheu a taça de vinho, sorrindo para mim.

– Então, Claire, já pensou em qual carreira seguir? – Ela perguntou, ainda sorridente.

– Ah, nunca pensei muito nisso, na verdade. Vivo na dúvida. – Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, também por costume.

– Dúvida entre o que?

– Na verdade, eu sempre... – Olhei meu pai, engolindo em seco. Imaginei que ele não fosse fazer nada na frente de visitas, mas e depois? – Eu sempre quis ser escritora.

– Então gosta de escrever? Isso é muito bom.

– E lê muito também, sim? – William comentou com a mãe, comendo um pedaço de carne assada.

– Ora, melhor ainda. – Kate disse, sorrindo. – Sabe, trabalho com adolescentes da sua idade, trabalho numa escola como auxiliar. Vejo esse tipo de indecisão o tempo todo. Então, sugestão profissional, eu sugiro que busque alguma outra coisa que goste de fazer para ser sua profissão, mas que se esforce o máximo que puder num livro, ou qualquer que seja seu projeto.

– Bem, é, não sei o que fazer como segurança. – Dei de ombros, sorrindo de leve.

– Acredite, quando o trabalho é bem feito, não há porque esperar erros. – Ela mudou de assunto, comentando do sucesso profissional do marido.

A única vez que desviei o olhar do prato de fato, foi para ver minha mãe com uma expressão amargurada de quem implora ajuda. Acho que ela percebeu que eu não estava muito melhor.

– Ora, então ela é só um ano mais nova que nosso William aqui. – Elijah disse, chamando minha atenção. Então William tinha dezessete.

– Seria o casamento dos meus sonhos, Elijah. – Meu pai me encarou, o sorriso fixo em seu rosto não alcançando seus olhos. Engoli em seco. – Mas, infelizmente, não depende só de nós.

– Quantos anos o senhor tem, meu pai? Não se arranja mais casamentos. – William parecia tão sem graça quanto eu. Ele deu uma risada fraca, encarando o pai.

– Não precisa ficar assim, garoto. Vai fazê-la achar que não é bonita o suficiente. – Eijah deu um tapa no ombro dos filhos, rindo. Kate ria também, falando com minha mãe.

– Oh, não, eu não... – Tentei dizer que não ligava, mas não consegui.

– Por que não voltam par ao quarto, tentam conversar mais um pouco? – Minha mãe sugeriu, falando uma frase inteira pela primeira vez desde o início da refeição. – Vou ajeitar a sobremesa.

– Claro. – Fiquei de pé, seguida por William de volta até o quarto. – Meu Deus.

– Desculpe pelo meu pai. Ele nos pôs numa situação...

– Não se preocupe. – Dei um suspiro, me sentando na cama. Ele se sentou também, respirando fundo.

– Você é linda, a propósito. – Não soube reagir ao garoto envergonhado ao meu lado. Murmurei um obrigada e fiquei encarando a cicatriz na coxa. – Conseguiu mesmo numa escada?

– Eu era mais nova, e meio sem noção. – Ele riu, um pouco mais tranquilo.

– Escrever. Devia falar disso. – Ele disse, apontando a marca.

– Seria um pouco bizarro, considerando o tanto de sangue e choro na cena.

– Imagino. – Ele ficou calado, olhando tudo que estava em seu campo de visão. Inclusive eu mesma.

– William, como nossos pais viraram amigos? – Perguntei, a voz um pouco mais baixa.

– Eles trabalham juntos, e seu pai é um cara legal. Quero dizer, sabe tudo de futebol, é um bom empregado, sabe de cerveja e de carros. Tudo que meu pai gosta.

– Oh. – Franzi de leve o cenho, tentando imaginar meu pai fazendo amizades daquele jeito.

– Bem, sua mãe já deve ter servido a sobremesa. – Ele ficou de pé, estendendo-me uma mão. – Vamos?

Fiquei de pé, segurando sua mão. Meu celular vibrou sobre a cama no momento que ia fechar a porta. Pensei em ir atender, mas William me encarava do corredor. Fechei a porta e fui atrás dele.

~Flashback Off

POV Michael

~Flashback On

Ela não era de não atender. A não ser que estivesse muito ocupada. Ou muito encrencada. E ainda assim, ela costumava atender e falar bem rápido que retornaria.

Mas dessa vez nada. Ela nem sequer atendeu e disse o “Te ligo depois.” E já era a terceira vez que ligava. Suspirei, frustrado. Queria tanto falar com ela, pedir para sairmos no dia seguinte.

Deixei o celular de lado, me deitando de novo. Eu não tinha feito muito mais que aquilo o dia todo. Tia Patty abriu a porta devagar, colocando a cabeça para dentro do quarto.

– Vai ficar ai o dia todo, Jehra? – Ela disse, a voz rouca. – Faça como seus amigos e saia daqui.

– Não tenho para onde ir, tia. Estou quebrado. E com preguiça. – Falei, me espreguiçando.

– Ora, deve haver algo que você consegue fazer. Mas saia dessa cama.

Fiz como ela “sugeriu” e fiquei de pé, coçando ao redor da minha cicatriz. Ela deu uma risada, se sentando na cama.

– É aquela garota, não é?

– Que garota, tia?

– A que você trouxe aqui para me conhecer, Claire.

– Por que qualquer coisa seria ela?

– A coisa no caso, é paixão.

– Ah, tia, pelo amor de Deus. – Parei, encarando a senhora, o cenho franzido. Ela riu, cruzando os braços.

– Pare com isso, garoto, eu te conheço. Ela é muito bonita.

– Valeu. – Deixei meus ombros caírem, coçando o nariz sem graça. Ela riu de novo.

– Bem, se não vai sair, venha ajudar na cozinha. – Suspirei, seguindo-a.

Fiquei cortando cebola, os olhos ardendo tanto que pareciam derreter. Meu celular no bolso parecia tocar a cada instante, mas sabia que era coisa da minha cabeça. Ao menos, foi na maioria das vezes.

– Jehra, filho, o celular. – Tia Patty apontava com a faca para o bolso da calça. Lavei a mão correndo e atendi, vendo que era Claire no visor.

– Desculpe não atender antes, estávamos com visitas. – Sai da cozinha.

– Só estranhei você não atender, nem para me dispensar. – Ela deu uma risada fraca.

– Eles acabaram de ir embora, então quando vi que era você, decidi retornar.

– Eles?

– Um amigo do meu pai, a mulher e o filho.

– Filho? – Cocei ao redor da cicatriz, ansioso.

– É, William. Ele tem sua idade. – Ela falou, sem perceber meu murmuro de resposta. Não negava que eu estava era com ciúme mesmo e pronto.

– Deve ter sido legal, passar tempo com alguém além de Derek. Ou as meninas. Ou eu.

– Preferiria vinte vezes que fosse um de vocês. – Ela riu, mas logo deu um suspiro cansado. – Você não tem ideia de como é difícil esconder quem meu pai realmente é.

– Posso imaginar. – Falei, esquecendo totalmente da crise inexplicável de ciúmes. – Olha, mas mudando de assunto, preciso falar com você amanhã. Vai à missa?

– Como em todo domingo. – Ela respondeu. – Olha, preciso desligar. Até mais.

– Tchau. – Desligou, mas ainda fiquei ansioso. Voltei para a cozinha, os olhos ainda ardidos.

~Flashback Off


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Notas finais do capítulo

Até mais, amolecos , 3



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