Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 14
Freaking Out


Notas iniciais do capítulo

Depois de algum tempo sem aparecer aqui, um capítulo cheio de memórias :3 Boa leitura :D



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POV Claire

~Flashback On

Aquela foi a primeira vez que surtei. Depois que tomei consciência do que eu tinha feito, corri para casa feito um coelhinho se escondendo na toca.

Me tranquei no meu quarto, como se fugisse de todo o mundo. Peguei um caderno qualquer, puxando uma folha de papel e pegando a caneta, com a mão trêmula.

Consegui me lembrar do que tinha feito, enquanto me sentava no chão, com o caderno sobre as coxas, servindo de suporte para que eu conseguisse escrever.

Nunca gostei de Mark. Sinceramente, não era por nenhuma razão específica. Eu só não consegui ter nenhuma simpatia por ele. Principalmente depois que ele saiu exibindo por toda a escola que tinha dormido com Ashley.

Derek simplesmente o ignorava. Era o que eu fazia também. O que eu devia ter feito dessa vez. Mark se aproximou de mim enquanto eu saia do banheiro, esperando por Derek, que tinha ido guardar suas coisas no armário.

– Ei, esquisita. – Olhei de soslaio para ele, tentando fingir que não sabia com quem ele falava. – É você mesmo.

Ele parou na minha frente, com metade de um biscoito para fora de sua boca. Me senti ainda menor perto dos seus um metro e noventa de altura. Sinceramente, aquela proximidade me incomodava.

– Oi? – Ergui a cabeça, só o suficiente para encará-lo. – O que foi?

– Você já pensou em sorrir pra alguém além do seu amiguinho?

– O que? – Mark me desconcertava. Talvez porque eu sempre esperasse que ele fizesse algo para justificar minha antipatia por ele.

– Me dê um sorriso. Vamos. – O jeito que ele me sorriu me desconcertou ainda mais. Tinha algo errado. Era óbvio que tinha. Mark não tinha razão alguma para me tratar daquele jeito.

– Por que eu deveria sorrir? Você acabou de me chamar de esquisita. Não é um elogio. – Tentei contorná-lo, me afastando da porta do banheiro, mas ele me segurou pelo braço, me colocando entre a parede e seu corpo.

– Olha, eu não sei por que você fica tão na defensiva, ok? Eu não sou seus pais. Relaxa um pouco. – Aquilo me deixou ainda mais nervosa. Eu deveria defender meus pais, mas como poderia? Ele só dissera a verdade.

– Meus pais não tem nada a ver com isso. – Procurei por Derek, mas ele parecia demorar o dobro do normal. – E você também não tem nada a ver comigo.

– Olha aqui, eu só quero te deixar um pouco feliz. Só um pouco. – Um sorriso debochado iluminou seu rosto de modelo.

– Como pretende fazer isso?

– Ah, relaxa. Aposto que não é nada que seu pai já não tenha feito com você. – Ele sussurrava no meu ouvido agora. O empurrei para longe, com raiva. Nunca deixei meu pai chegar tão perto de mim.

– Sai daqui, seu nojento. – Ele voltou a me puxar pelo braço, me prendendo colada com ele. Todos na escola sumiram do nada. – Qual é a sua? Cansou de ficar com as outras garotas?

– Na verdade, cansei sim. Elas são chatas. E além do mais, já fiquei com todas elas. – Ele sorriu de novo.

As peças se juntaram todas de uma vez, formando a imagem. Vi dois amigos de Mark sentados mais distantes, fingindo que não nos viam ali. Fingindo. Era uma daquelas apostas idiotas de garotos.

– Fala logo o que você quer e me larga em paz, Mark. Que merda! – Ele parecia surpreso pelo meu jeito de falar e me soltou.

– Ok, ok. – Ele ergueu as mãos, se rendendo. – Só mais uma pergunta então. Quem você acha que te odeia mais? Seu pai ou sua mãe?

Encarei-o, enquanto ele ria. Os dois amigos também riam, apontando para mim. Percebi que tinha começado a chorar, logo que Derek surgiu no meio do pátio.

– Claire, vem. – Ele olhava ao redor, tentando entender a situação. Ignorei seu chamado e parti para cima de Mark.

O garoto podia até ser mais forte, mas fiquei com a vantagem do ataque surpresa. Cravei minhas unhas no seu pescoço, puxando até a parede. Fiz com que ele batesse com a cabeça na janela, abrindo um corte na sua testa.

– Você é quem eu mais odeio, seu filho da puta! – Continuei chorando. Derek me fitava, surpreso. Passei por ele, correndo.

Eu machucara alguém. Por mais que alguns dissessem que foi justo, a ideia de machucar uma pessoa nunca me passou pela cabeça. E eu acabara de fazer exatamente isso.

Entrei em casa, indo direto pro meu quarto. Minha mãe ignorou meu rosto manchado. Respirei fundo, passando a escrever na folha de caderno.

O QUE FOI QUE EU FIZ?

Sempre achei que Mark fosse horrível, mas ele é pior do que eu imaginava. Todo aquele joguinho estúpido para me atingir com suas palavras logo em seguida.

Afinal, quem me odeia mais? Não, eu não devia estar pensando nisso. Mas estou. Porque eles realmente me odeiam. Se eu realmente tivesse que dar uma resposta, seria meu pai. Ele nunca ligou. Nunca fingiu que ligou.

Mesmo que muito raramente, já consegui ver compaixão em um ou outro olhar da minha mãe. Ele não. Ele simplesmente me batia, me deixava no chão, chorando. Ia se deitar.

Acho que Derek está um pouco chocado. Ele deve me ligar daqui alguns instantes. Ou vir até aqui. Como posso fazer isso com aquele garoto? Colocá-lo no meio de toda essa desgraça, se sentir responsável por mim.

Eu sempre soube que Derek só começou a conversar comigo por pena. Por não acreditar que o roxo no meu braço tinha sido resultado de um escorregão no banheiro.

Que tipo de criança aparece pro primeiro dia de aula com um roxo enorme no braço? Derek estava desesperado para ir embora. Eu só queria mais um minuto que fosse dentro daquela sala.

Eu só quero ver quando ligarem para cá, contarem para meus pais o que eu fiz. Mark se machucou. Eu morreria, ou chegaria perto disso. Espero que Derek ligue ou apareça aqui. Vou ligar para Jehra mais tarde.

Preciso vê-lo nesse domingo. Falar para ele o que eu achava que Derek não entenderia, ou o prejudicaria. Agora, me resta me preparar para a surra de mais tarde.

~FlashbackOff

POV Derek

~Flashback On

Nunca vi Claire tão...abalada. Ela passou correndo por mim, enquanto Mark passava a mão pelo corte na testa. Tudo bem que foi merecido, mas Claire nunca foi de atacar ninguém desse jeito.

Dei alguns minutos pra ela se acalmar e fui atrás dela. A praça parecia mais quieta quando passei por ela, seguindo o rastro de Claire. Toquei a campainha, esperando que a mãe dela abrisse a porta.

Fui direto pro quarto. Claire estava sentada no chão, com todos os seus livros ao redor. Provavelmente, estava organizando-os em ordem alfabética.

– Ei, Claire. – Me sentei ao seu lado, colocando alguns dos livros no colo. – O que foi que aquele idiota te fez?

– Ele queria me pegar. – Ergui as sobrancelhas, surpreso demais para falar. – E ainda falou que só faltava eu na lista dele. Idiota.

– Foi alguma aposta, não foi? Vi os amiguinhos dele.

– Deve ter sido. – Ela não parava de olhar os livros. – E ele ainda me perguntou quem me odiava mais. Meu pai ou minha mãe?

– E agora você tá pensando na resposta, não é?

– Não preciso mais. Meu pai. Com certeza. – Ela finalmente parou de mexer nos livros, erguendo o rosto.

– Claire, precisa parar de se torturar assim. – Tentei abraçá-la, mas ela só me encarou e me perguntou.

– Você também não gosta de mim, certo? – Congelei. Por que ela achava aquilo? – Ninguém gosta. Você só anda comigo por pena.

– Sabe que não sou de ter pena de ninguém, Claire. Muito menos de você. – Ela levantou o rosto de novo. – Acha que se eu tivesse dó de você deixaria você papagaiar meu cabelo?

Ela riu, com os olhos cheios d’água. Dei um abraço nela, sentindo o cheiro de xampu do cabelo dela.

– Você precisa parar de cuidar de mim. – Ela murmurou. – Poderia muito bem estar fazendo alguma outra coisa.

– Faço outras coisas, obrigado. Posso me virar fazendo os dois.

O telefone tocou. Claire ficou tensa sob meus braços, erguendo a cabeça para a porta. Sua mãe passou, com o telefone entre as mãos. Devia ser a direção da escola, informando o acontecido.

Os minutos que se passaram mais pareceram horas. Claire tinha um leve tremor nas mãos, mas não disse nada. Até que sua mãe desligou e apareceu na porta.

– Derek, acho melhor você ir agora. – Ela falou, do jeito mais seco que já ouvi. – Claire, acabe de arrumar seu quarto.

Se tinha uma coisa que eu aprendi sendo amigo de Claire, era que a mãe dela geralmente sabia como fugir da fúria do marido. Se ela me dizia que eu devia ir, é porque eu realmente devia. Se ficasse, poderia acabar piorando as coisas.

– Tudo bem. – Soltei Claire, pegando minha mochila. – Se cuida.

– Vai logo. Te vejo amanhã. – Me levantei, sabendo que alguma coisa muito ruim aconteceria e eu não poderia evitar.

Deixei a casa, com os fones tão fundos nos meus ouvidos que até doía. Até que eu merecia aquela dorzinha incômoda. Não era nada comparada à dor de Claire.

~Flashback Off

POV Claire

~Flashback On

Não tive tempo nem de sair do quarto direito. Assim que cheguei na sala, ouvindo meu pai me chamando aos berros, senti a dor ardente do cinto na minha bochecha.

– VOCÊ GOSTA DE CHAMAR ATENÇÃO, NÃO GOSTA? – Ele me bateu de novo e de novo com o cinto. No terceiro golpe eu cai, cobrindo minha cabeça. – GOSTA, SUA PUTINHA?

Minha mãe olhava a cena da porta da cozinha, fitando o chão. Ele me acertava nas costas agora, me fazendo choramingar com cada golpe do cinto.

– OLHA PARA MIM! – Eu tremia, mas tirei os braços da frente do rosto. – Por culpa sua, sua vagabunda, eu vou ter que ir até a escola. É isso que você queria? Minha atenção?

– Ele tentou me agarrar. – Choraminguei a resposta. A reação dele foi me colocar de pé, me puxando pelo cabelo.

– Faça-me rir. – Odiava ele não gritar mais. Sempre que seu tom de voz diminuía, a ameaça era pior. – Nunca ninguém vai querer esse corpinho sem graça e essa sua cara de retardada. E para de chorar.

Ele me jogou no chão de novo. Cai deitada, tomando um daqueles chutes no estômago. Minha cabeça latejava e minhas costas ardiam. Ele se abaixou do meu lado, jogando o cinto de lado.

– É bom eu nunca mais ter que pisar naquela sua escola de novo, entendeu? Sua peste. – Concordei com a cabeça, sem conseguir parar de chorar. – Eu vou tomar meu banho.

Minha mãe voltou pra cozinha, enquanto ele me pulava e ia até o banheiro. Fiquei choramingando no chão por pelo menos uns 10 minutos, sem conseguir me mexer.

Antes que o chuveiro desligasse me levantei e fui até meu quarto, me trancando lá. Peguei meu celular e fiz a única coisa que consegui pensar na hora.

Chamou duas vezes antes de ouvir sua voz rouca respondendo.

– Me encontra no lugar de sempre. Eu sei que está tarde, mas...

~Flashback Off

POV Michael

~Flashback On

– Me encontra no lugar de sempre. Eu sei que está tarde, mas...

– Claire, o que houve? – Me sentei na cama, enquanto os outros garotos do quarto me encaravam. Ignorei-os.

– Me encontra lá e eu te digo. – A voz embargada dela me preocupava, mas decidi concordar.

– Tudo bem. Te espero lá. – Ela agradeceu e desligou. Peguei minha camisa e a vesti, tentando arrumar meus cabelos.

– Ih, parece que alguém vai dar uma fugidinha hoje. – Todo mundo riu. Me virei para Leonard, revirando os olhos.

– É sério isso, cara. – Ele deu uma daquelas risadas debochadas dele. – A menina tava chorando, você acha mesmo que eu to indo pegar alguém?

– Mas que você é afim, você é. – Ele falou, apontando pra mim. Concordei, dando de ombros. Ouvi os outros dois rindo junto.

– Já sabem, se tia Patti perguntar...

– Vai logo, Jehra. A gente já sabe o que dizer. – Deixei o quarto, saindo da casa quase correndo.

Não gastei nem 15 minutos pra chegar até a igreja. Já estava escuro àquela hora, mas me sentei em uma das raízes, esperando Claire. Ela logo apareceu sob a luz de um dos postes mais próximos. Me levantei.

– Claire, o que houve? – Senti minha boca se abrir quando percebi o risco na bochecha dela. – O que é isso?

– Ligaram lá em casa hoje. – Ela se sentou na raiz, me puxando pro seu lado. – Bati em Mark.

– Mark, Mark bonitão? – Ela concordou.

– Eu tentei só ignorá-lo, mas ele começou a me provocar. Acabei machucando-o.

– Ok, mas... – Passei meu polegar pelo risco, fazendo-a se afastar um pouco. – Seu pai te bateu?

– Ele disse que só fiz isso por atenção. – Ela olhava o poste. – Que eu nunca chamaria a atenção de ninguém.

– Seu pai te chamou de feia? – Ela concordou, sem me olhar.

– Não que ele não esteja certo, mas...

– Ah, ele não está! – Vê-la naquele estado estava me irritando. – Claire, você é a menina mais bonita que eu conheço. Muita gente pagaria para ser ruiva, com esse cabelo maravilhoso, e ter seus olhos cinzentos.

Ela deu um sorriso fraco, se abraçando. Passei a mão pelos cabelos dela e pelas bochechas. Ela simplesmente fechou os olhos, como se eu fosse dizer que era mentira.

– E você tem um sorriso maravilhoso. – Minha mão parou em seu ombro. – E não me venha com aquela história de ter um corpo esquisito. Sério, você não é nem gorda nem magra. Só normal.

– Hoje em dia, normal não serve. – Ela deu de ombros. Franzi o cenho.

– E precisa servir pra quem? Você tá afim de alguém que não te quer, é isso?

– Ai, Jehra, claro que não. – Ela respirou fundo. – Quer saber? Esquece isso.

– Ei, Claire, é sério. – Tirei o cabelo dela dos olhos, fazendo-a me olhar.

– Não sou afim de ninguém. Quer dizer...

Uma sensação estranha tomou conta de mim. Esperei ela dizer que gostava de Derek, mas aquilo me incomodou.

– Gosta de Derek? – Ela riu.

– Desse jeito, não. Ele gosta da Kram. – Fiquei surpreso de novo. Ela pareceu desesperada. – Não conta pra ninguém.

– Não falo. Mas...

– Preciso ir. Mesmo. – Ela se levantou, me fazendo soltar seu cabelo. – Vai ter que pensar mais um pouco se eu gosto ou não de alguém.

– Você é má. – Falei, coçando o nariz. Ela deu um sorriso e me deu um beijo na bochecha. – Te vejo amanhã?

– Claro. – Ela sorriu de novo. – Vou ficar bem. Se cuida.

Fiquei observando-a, até que ela chegou na avenida. Me levantei, voltando para o abrigo.

~Flashback Off


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? Tiveram problemas com a letra no último capítulo? .q



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