Domesticado escrita por Jo MH3


Capítulo 4
Caindo Aos Pedaços


Notas iniciais do capítulo

A opinião dos personagens não representa minha opinião.



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Caroline gritou de pânico, de dor, quando o monstro cravou as presas na maciez do pescoço dela. Damon ronronou contra sua pele, plantando um beijo, deixando que o sangue escorresse por seu queixo e molhasse os seios da loira.

– Deliciosa... - sussurrou ele, apertando a pele do quadril dela entre seu polegar e o indicador... Caroline sentiu seus músculos queimarem, ela se contorceu sob os dedos dele. - Me solte... fique longe de mim... - sussurrou.

– Você fala demais... - ele murmurou e então os olhos dele estavam nos dela. E Caroline só via azul, estava se afogando...

Ela queria gritar, mas a água enchia seus pulmões e não conseguia emitir nada mais do que suaves gemidos. Não eram gemidos de dor e nojo, como ela gostaria de poder expressar, mas sim de um prazer que não sentia.

Ouviu-se sussurrar o nome dele, choramingar por ele... Suas pernas envolveram o quadril do Salvatore e a loira não entendia por que seu corpo não lhe obedecia...

~*~

Caroline acordou suada, respirando pesadamente. Sua boca estava pressionada contra o travesseiro, um grito sufocado em sua garganta. Ela tornou a fechar os olhos, respirando fundo.

Fora só um pesadelo... Damon não podia machucá-la, não naquele mundo ao menos.

Sentou-se cuidadosamente, vertigem fazia o sofá parecer instável sob seu corpo. Seu braço estava dormente de dormir em uma posição desconfortável e a cabeça latejava.

Suspirou, finalmente se colocando de pé e rumando para a cozinha.

Klaus acordou com o barulho de um celular tocando. Ele rolou pela a cama, resmungando quando todo seu corpo protestou e finalmente conseguiu pegar o irritante aparelho.

Acreditava que fosse de Caroline, pois o toque era azucrinante demais, mas não tinha certeza: Sua versão humana era muito diferente dele.

Aonde você está? - uma voz masculina quase gritou atráves do telefone, fazendo Klaus franzir as sobrancelhas.

– Alô? - Sua voz estava grossa de sono.

– Mikaelson? - a voz do outro lado da linha suavizou. - Ah, desculpe... Você pode avisar a Caroline que ela está atrasada? - pediu fosse lá quem fosse.

– Atrasada para o que? - ele murmurou, tornando a fechar os olhos.

– Para o trabalho, óbvio! Os Fell vão estar aqui em dez minutos, então é melhor ela se apressar. - explicou o homem. Klaus bocejou, piscando pesadamente e concordando com um resmungo, desligando sem se dar ao trabalho de se despedir.

Desceu as escadas, sentindo-se ligeiramente envergonhado de fazer uma dama dormir no sofá... Não! Não estava envergonhado! Sentir vergonha implicava que sabia ter feito algo errado, o que não fizera.

Encontrou-a na cozinha, olhando fixamente para o fundo de seu copo de café, como se considerasse se afogar ali. Ele bateu de leve no portal que separava a sala da cozinha.

– Um cara ligou, disse que você está atrasada para o trabalho. - avisou, apático, servindo-se de um copo. Niklaus estava faminto. Não era humano há tanto tempo, que já se esquecera de como era sentir fome.

Como um vampiro, nunca sentia um oco no estômago, não podia ouvir seu corpo reclamando pela falta de comida e sua boca não ficava com um estranho gosto adocicado. Sim, ele sentia falta de sangue, sentia sede... Mas a sede era quase uma dor, como se seu esôfago estivesse em chamas e sua cabeça estivesse explodindo.

Uma coisa não podia sequer ser comparada a outra.

– Trabalho? - a voz dela estava fraca.

Caroline não tinha a menor ideia sobre com que trabalhava. Nunca soubera o que queria fazer quando era humana e, depois que se tornara vampira, simplesmente deixara de considerar isso.

Com quê sua versão humana trabalharia?

– Você tem alguma ideia de qual é meu trabalho? -questionou. Um balançar de cabeça negando. Suspirou e colocou o copo na pia. - Okay, vou descobrir. - murmurou, retirando-se da cozinha.

Niklaus atacou a geladeira com a ferocidade de um leão, tão logo ela saiu. Ele não sabia o que queria, só sabia que estava faminto e odiava essa sensação. Cravou os dentes na maciez de um pêssego, o sumo escorrendo por seus lábios e seu queixo.

Suas mãos envolveram sem cerimonia uma jarra de leite, que ele bebeu com tanta rapidez que sua cabeça girou pela falta de ar. E então pão, seguido pelo iogurte. Niklaus sorriu quando visualizou o que desejava com tanta intensidade.

Parou repentinamente o que estava fazendo ao ouvir uma expressão surpresa. Ele se virou lentamente, os dedos ainda ao redor do pedaço de bife cru e uma expressão culpada.

– O que você está fazendo? - ela questionou aos sussurros, parecendo chocada demais para falar algo. O homem baixou a comida que esmagava ansiosamente entre os dedos, pensando em como deveria parecer nojento aos olhos dela.

Seu rosto estava lambuzado de sumo, leite e sangue e, ele percebeu surpreso, suas mãos tremiam. - Klaus, o que você está fazendo? - Caroline questionou, mais firme, andando até ele.

Tinha trocado de roupa, estava cheirosa e ostentava uma expressão compreensiva que ele não gostava. Não precisava de sua pena, de sua falsa compreensão.

– Estou faminto. - respondeu simplesmente, dando-lhe as costas e tornando a mexer dentro do refrigerador, mesmo que já não estivesse com tanta fome quanto antes. Na realidade, todo seu apetite desaparecera.

Sentiu uma mão em seu ombro e parou pouco antes de agarrar a caixinha de comida chinesa, escondida logo ali atrás do queijo. - Klaus... - a voz de sua noiva era suave, assustada quase. - Klaus, pare. - pediu, puxando-o gentilmente para longe da geladeira e colocando-o sentado à mesa.

Ele assistiu com as sobrancelhas franzidas enquanto ela umedecia um pano e começava a limpar, calmamente, toda aquela sujeira que estava em seu rosto.

Niklaus olhou firmemente nos olhos azuis dela, caçando pelo motivo dela estar fazendo isso. Pena? Medo?
– Por que está fazendo isso? - questionou, sua voz saindo rouca e quebradiça. Odiava a fraqueza que a humanidade lhe proporcionava.

– Shh... - ela murmurou automaticamente, limpando com delicadeza o sangue e a gordura que escorrera para o pescoço dele. Era como cuidar de uma criança. - Você não pode fazer isso, Klaus. - orientou, esquecendo-se completamente que era com seu inimigo que falava.

Tudo o que Caroline via era um homem assustado com uma situação nova. Ela se via: assustada, perdida com sua nova natureza vampiresca... agarrando-se a Stefan como uma criança, querendo saber como sobreviveria se nem mesmo sabia o que era.

Exceto que, nesse caso, Klaus era humano. Ela suspirou, correndo com delicadeza o polegar pela bochecha dele. Queria dizer-lhe que ser humano não era tão assustador como parecia... Mas não podia.

Não somente por que ele a odiava. Não somente por isso, mas também por que seria uma mentira. Ser humano era assustador, tinha que ser. Durante mil anos ele fora invencível, intocável, imortal e agora ele estava preso a um corpo humano frágil e suscetível a todo o tipo de sensações e doenças.

Deveria ser terrível sentir todas aquelas emoções, após um milênio sem sentir nenhuma. E fome, miséria, fora somente a primeira.

As mãos dele envolveram a dela, afastando-a. - Eu não preciso de sua pena, Caroline. - ele falou, olhando-a firmemente. Ela congelou, lembrando-se de com quem estava lidando.

– Então não seja digno dela. - a loira rosnou, soltando-se e dando-lhe as costas.

~*~

Ela precisou de mais uma hora pra finalmente chegar ao trabalho, mas, graças a tecnologia de seu GPS, estava lá.

– Porra Caroline! - uma voz masculina imediatamente a fez gelar. Não esperava uma recepção dessas. A loira ergueu os olhos para encontrar um homem, fitando-a irritado. - Eu estava indo te buscar, de tanto tempo que levou. - ele resmungou, agarrando-a pela a mão e puxando-a para dentro do prédio.

Era um lugar bonito, com porcelanatos de tom champanhe no chão e paredes de um delicado tom de rosa-pastel. Haviam fotos de noivas nas paredes, de pessoas sorrindo e de casais apaixonados.

Ela foi praticamente jogada sentada em uma cadeira de estofado creme e um livro foi colocado em suas mãos. - Melhor começar a escolher logo. Os Fell vão nos matar. - falou o homem desconhecido.

Caroline ergueu as sobrancelhas. Não sabia o que fazer.

~*~

Jeremy Gilbert esperou enquanto Klaus entrava no carro, batucando animadamente contra o volante.

Klaus tinha acabado de sair do banho, após se esfregar com tanta força que deixara vergões vermelho, quando o Gilbert ligara, perguntando se ele queria uma carona.

Obviamente o Mikaelson concordara, isso ao menos pouparia-lhe o trabalho de descobrir onde e com que trabalhava.

– Então? - falou o rapaz, erguendo as sobrancelhas, após dez minutos de silêncio. Klaus franziu o cenho. - Então o quê?

– O que há com vocês, cara? Kol voltou todo estranho, você e Caroline nem se olham... Eu passo duas semanas fora e é isso que acontece? - o jovem parecia consternado.

Klaus nunca falara com o Jeremy Gilbert.

– Não aconteceu nada. - garantiu. Jeremy diminuiu o volume da música. - Okay, que seja. - murmurou, revirando os olhos.

Niklaus suspirou, cruzando os braços. Achara que convencera todos, mas estava ficando claro que não fora bem assim... Não gostava disso. Não gostava de deixar pontas por amarrar, não gostava de as coisas fossem menos do que perfeitas.

O jovem Gilbert parou o carro diante de um sobrado preto, com janelas jateadas. Havia um grande letreiro escrito "Original Art".

– Uow... - murmurou Klaus para si mesmo. Sempre soubera que tinha um dom se tratando de desenhos e afins, mas nunca se imaginara como um verdadeiro artista. Era apenas um hobby, afinal.

Não nesse mundo.

– Te vejo mais tarde. - murmurou Jeremy, trancando o carro e entrando na casa. Klaus o seguiu.

– Bom dia, Jer. - uma jovem murmurou, sorrindo para o rapaz. Nik ergueu as sobrancelhas: ela era linda.

Cabelos ondulados e claros, olhos de um verde intenso e um par de pernas longas e torneadas que faziam seu pobre coração humano bater mais rápido.

– Bom dia Jules. - respondeu Jeremy, lançando um sorriso torto a jovem e continuando seu caminho sem lançar-lhe um segundo andar.

– Bom dia Klaus. - ela sorriu para o homem e ele perdeu o fôlego. Não esperava essa reação de seu corpo e rapidamente tratou de se recompor. - Bom dia Jules. - respondeu-lhe, saindo o mais depressa possível de suas vistas.

Entrou em sua sala e respirou fundo.

Não lhe era estranha a sensação de desejo, de luxúria.
Contudo, nunca sentira-a quando humano. Era jovem quando morrera e o pouco contato feminino que tivera fora com Tatia, que despertara-lhe a paixão, mas nunca a luxúria.

Sentira desejo por Caroline, mas como vampiro. E as emoções vampiras, embora fossem mais fortes do que as humanas, podiam ser controladas com facilidade. Ele desligara a humanidade e conseguia controlar-se perto da loira sem esforços.

Não sabia ser humano.

~*~

Caroline afundou o rosto entre as mãos, lutando com uma dor de cabeça.

Passara o dia escolhendo flores, falando com negociantes irados e correndo de um lugar para o outro. Não achava que ser uma organizadora de eventos pudesse ser tão difícil.

A loira suspirou, fechando os olhos.

Embora tivesse tido um dia exaustivo, não estava ansiosa para voltar para casa. Para encará-lo.

– Caroline, nós estamos fechando. - avisou a recepcionista. A jovem concordou, levantando-se e vestindo o casaco. Desceu até o estacionamento em silêncio, pensando em como faria para fingir mais um dia.

Nunca fora uma boa mentirosa. Aprendera a mentir após se tornar uma vampira e sempre detestara isso, fazia com que ela se sentisse um verdadeiro monstro. Queria poder dizer a verdade, queria ser aceita por quem realmente era.

Isso jamais ocorreria.

Entrou em seu carro e ligou o GPS, seria outra luta descobrir o caminho de volta para casa.

Não é minha casa, nunca vai ser...

Casa. Uma palavra tão vazia para ela quanto qualquer outra. Liz não quisera ter filhos, Bill era um moleque quando ela nascera. Elizabeth uma menina assustada.

E, muito obviamente, nenhum dos dois conseguira criá-la. Bill desistira de ter uma filha quando ela ainda estava na primeira infância, desistira de um casamento. Liz nunca tentara. Ela fazia o melhor, mas nunca quisera ser mãe... E nunca fizera daquela casa amarela um lar.

Caroline lembrava-se, aquilo fazia sua cabeça girar, de quando ia à casa de Elena. E o quanto doía ver Miranda e Richard, ver Jenna e Jeremy.

Ver um lar.

A rua girou diante de seus olhos e pisou no freio, apoiando a cabeça no volante. Não estava em condições de dirigir, seus nervos estavam a flor da pele. Tateou o bolso atrás do celular, respirando pela boca e tentando controlar seus batimentos cardíacos.

Apertou o botão de discagem e agradeceu que o aparelho estivesse conectado ao som de seu carro. O som de chamada encheu o pequeno automóvel, fazendo com que sua cabeça palpitasse ainda mais.

Um pigarro. - Caroline?

Entre todas as pessoas para quem podia ter ligado, entre todas suas amigas... Ligara logo para essa.
– Damon?

– Barbie, o que foi?

– Eu... Eu... - o que diria-lhe? Que tivera um colapso emocional por que fora arrastada de sua Mistic Falls vampiresca para um mundo de conto de fadas? Que não sabia voltar para casa? Que não queria ver o homem com quem se casaria em um futuro não tão distante?

– Care, onde você está? - a voz dele estava preocupada. Podia imaginá-lo: Seu rosto ridiculamente perfeito estaria franzido em uma careta, as sobrancelhas grossas se encontrando, os olhos cristalinos estariam mais escuros... A familiar cara de "Preocupado com Elena".

– Eu não sei... Ia para cas...Não sei...

– Seu GPS está ligado? - interrompeu-lhe, pensando rápido como sempre. Era uma das poucas coisas que Caroline gostava sobre Damon Salvatore. Ele sempre pensava rápido.

– Está... Eu liguei de manhã...

– Certo, não se mexa, estou chegando. - desligou.

Ela deixou a cabeça cair no encosto, fechando os olhos com força. Não sabia como saíra de uma vampira madura, bonita... Uma vampira única, para uma humana que tinha que ser recolhida por um ex-namorado. Não fora feita para ser humana, afinal de contas.

Nascera para ser uma vampira. Fora mais feliz com as presas e, embora tivessem um peso, se tornara uma pessoa melhor. Uma pessoa profunda, não mais uma piscina infantil. Daria qualquer coisa para poder voltar a ser o que era, o que se tornara.

~*~

Klaus tamborilou os dedos contra a mesa de sua cozinha, espiando o relógio na parede. Estava tarde, ela já deveria ter chegado... Ou ligado.
E se algo houvesse acontecido? Teria fugido dele? Pior, teria algo relacionado ao outro mundo ocorrido? Vampiros, lobisomens, bruxas...

Seu celular tocou, alto demais, assustando-lhe. - Alô? - tentou fazer com que sua voz não soasse muito ansiosa, muito preocupada, mas era ridículo. As emoções dominavam esse corpo frágil.

– Mikaelson... Eu estou com Caroline e ela não está bem. - a voz de Damon Salvatore respondeu-lhe. O coração humano, tão traidor, disparou; suas mãos suaram.

– Caroline... Como assim?

– Ela me ligou, parecia muito nervosa... Fui buscá-la e estava quase desmaiada. Trouxe-lhe para o hospital, mas é melhor você arrastar essa sua bunda para cá agora. - era uma ordem. Niklaus odiava ser mandado.

– Salvatore...

– Não comece. - um rosnado. - Não comece, Klaus. Venha para o Hospital agora. - desligou. O original... ex-original, bateu com o punho na mesa, respirando fundo. Sentia raiva por estar sendo mandado, por ter perdido qualquer respeito ou autoridade que passara anos conquistando... E sentia raiva por ser Damon Salvatore que estava ao lado de Caroline. Raiva por ela ter ligado para aquele homem, aquele serzinho desprezível, invés dele.

Não tinha opção senão levantar-se e ir para o Hospital. Era o noivo dela, não?

Mistic Falls era minúscula demais para ter mais do que um hospital. Pediu informações sobre Caroline Forbes, tão logo percebeu que sua super-audição já não era mais tão super. Estava no consultório do Doutor Salvatore. Niklaus decidiu-se naquele momento que já ouvira de tudo... Damon, um médico? Era a mesma coisa que pedir para um pedófilo ser babá de seu filho.

~*~

Caroline deve ter adormecido. Sim, deve ter adormecido enquanto Damon ajudava-lhe a sair do carro... A voz de Klaus a acordou. Manteve os olhos fechados, talvez ele não percebesse que estava fingindo dormir e fosse embora.

O mais velho Salvatore parecia consternado, irritado. Sua voz estava perigosamente baixa, ao contrário dos quase gritos de Klaus. - Você está sendo ridículo, mais do que sempre foi. - dissera. Caroline sentiu uma pequena vitória pessoal. Estranho que Damon estivesse fazendo-lhe favores, mas era a verdade.

Você está sendo ridículo! - acusou Klaus, como uma criança. Para um homem que vivera mil anos, ele podia ser muito infantil. - Ela não pode... Isso é impossível!

Abriu os olhos, curiosa. O que ela não podia? O que era impossível?
Damon sacudia um papel diante do nariz de Niklaus, seu rosto estava duro e furioso. - Impossível? Quer que eu te ensine novamente como bebês são concebidos? Então, quando...

– Eu sei como! - Klaus empurrou-lhe pelo peito. - Mas ela... Isso é irresponsável e imaturo. Completamente impossível! Eu jamais seria tão descuidado e Caroline nunca deixaria que algo como uma gravidez estragasse sua vida!

– Gravidez?

Ambos os homens viraram-se para olhá-la. Parada, pálida, boquiaberta. Klaus estava tremendo, parecia ser feito de cera. Um esgar pintou seus lábios e ele arrancou o papel dos dedos frouxos de Damon.

– Sim. Pode me explicar? De acordo com Damon você está grávida, o que é uma total loucura por que vam... - sua voz sumiu. Ele largara o documento aos pés dela. - Caroline? Caroline! Fale comigo!

Não sabia o que dizer-lhe, não sabia sequer o que pensar. Aquilo não podia estar acontecendo, Klaus estava certo, vampiros não podiam procriar... Um corpo morto não podia conter uma vida, aquela era a lei básica...
Eu não sou vampira.

– Que papel é esse? - foi a única coisa que conseguiu resmungar, atônita. Damon respondeu-lhe:

– Pedi um exame de sangue enquanto estava inconsciente. - explicou-se.

– Isso não é ilegal? Você não precisa da minha permissão ou algo assim?

VAMOS MESMO IGNORAR O VERDADEIRO PROBLEMA AQUI?! - a voz de Niklaus estava histérica, desafinada. Ele estava certo, novamente. Caroline estava ficando farta de seu rival estar correto. Levantou-se, usando a cadeira para se firmar. Amassou o papel entre os dedos e caminhou para fora da sala.

Não podia discutir agora, não tinha cabeça para isso. Não conseguiria raciocinar com Klaus gritando ou Damon falando... Simplesmente não. Quero ir para casa.
Aquilo era demais: Mudança de mundo, ser humana, ser noiva, ter vinte e quatro anos e agora ser mãe?! Era demais para que qualquer um aguentasse, que dirá uma adolescente (Tenho dezoito anos, sou muito nova, sou muito nova...) ainda em transição.

O pátio do lado de fora do hospital estava gelado, ventava. Se encolheu, abraçando-se. Nunca estivera tão assustada, nem mesmo quando fora sufocada até a morte. Quantas pessoas podiam dizer que tinham morrido? Que se lembravam da sensação? Isso é pior...

Caiu sentada no banco da calçada e afundou o rosto entre as mãos, chorando.

Sentiu uma mão em seu ombro e ergueu os olhos úmidos, o rímel borrado, esperando encontrar Damon. O Damon carinhoso daquele mundo, aquele que ela já considerava um amigo. Os olhos de Klaus estavam toldados, não de lágrimas, mas de uma emoção que ela nem mesmo conhecia. Algo entre o pânico, a descrença, o horror e até a raiva.

– Klaus...

– Não Caroline, só... Não. - ele afastou-se dela. - Está tudo errado.

– Eu sei...

– Nós somos vampiros e vampiros não procriam. - sua voz estava ficando acelerada, cada vez mais emocional. - Como vamos voltar agora? Como?

– Você vai voltar. - ela o interrompeu, agarrando sua mão.

– O quê?

– Você vai voltar. Não há motivos para ficar aqui...

– Como? Nem sabemos se podemos voltar...

– Se pudermos, você vai.

Houve um momento de silêncio. A mão dela entre a dele, ligados pelo horror absoluto da situação em que se encontravam. Klaus correu um polegar pela fina pele da palma da mão dela. Seus olhos se arregalaram e ele respirou fundo.

– Você não vai voltar. - compreendeu. Caroline lançou-lhe um olhar cético.

– Caso não tenha percebido, estou meio presa aqui. - a mão livre indicou o próprio corpo.

– Aborte. - a sugestão escapou de seus lábios antes que ele tivesse consciência. Viu os olhos azuis dela se arregalarem.
– Não. - soltou suas mãos. - Não. Não quis ser assassina lá, não serei uma aqui, agora que sou humana.

– Abortar não te torna uma assassina. - disse Niklaus, indignado. Já vira mais do mundo, conhecera outras culturas... Via a vida de um modo diferente do dela, talvez não tão ingênuo. Talvez não tão limitado.

– Não me importa. Não vou abortar, Klaus... Vamos dar um jeito e você irá embora para Mistic Falls. A Mistic Falls de verdade. - sua voz tornou a tremer. - E vamos ficar bem, vai dar tudo certo. - garantiu, mentiu.

Ele riu seco. Caroline não mentia para ele, teria que ser muito melhor para isso, mas sim para si mesma... Ela estava tão acostumada a acreditar que tudo daria certo. As vezes as coisas simplesmente não davam.
– Não, Caroline. Nada vai dar certo. - ele corrigiu gentilmente, tomando suas mãos novamente.

Os olhos dela marejaram. - Tudo bem. - levantou-se, livrando-se da gentileza dele com um safanão. - Você quer continuar com seu pessimismo? Eternamente negando qualquer conforto, qualquer esperança? Vá em frente! Mas você não vai me arrastar junto! Estou presa aqui e não pretendo me martirizar por isso... Não sou uma donzela que precisa ser salva. Nunca fui, não vou ser agora. - Ela respirou fundo. - Não sou mais a doce e boba Caroline de antes... Eu posso sair dessa sozinha.

Foi embora. Estava na hora de ir para casa, de achar uma casa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Comentários são sempre apreciados!



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