Réquiem escrita por Ghanima


Capítulo 13
Palavras e Silêncios




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Cap 13 – Palavras e Silêncios

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- Boa noite.

Fala a Morte, se sentindo tranqüila como a muito tempo não conseguia.

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"A magia do primeiro amor está em ignorarmos que pode acabar um dia." (Benjamin Disraeli)

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Foi o som estridente do metal colidindo com o metal que fez com que Ino acordasse, e se visse com a cabeça deitada no colo de Hidan, estando esse ocupado demais olhando para alguma coisa do lado de fora da janela. Os olhos azuis seguem nessa mesma direção e percebem o céu escuro e estrelado de Kumogakure e as luzes da estação de trem. Ela se levanta lentamente e boceja, demonstrando que o tempo que dormira não foi suficiente.

- Finalmente, você se cansou de me fazer de travesseiro. – o Jashin estava com seu patenteado sorriso irônico e olhava para o relógio em suas mãos. – Antes que você pergunte: Já estamos em Kumogakure.

- Boa noite para você também. – a moça responde e põe-se de pé, ajeitando o seu vestido azul-marinho e usando um dos espelhos de dentro do ambiente para ver sua aparência. – “A viagem demorou bem menos do que eu pensava.”

O casal havia desembarcado do navio naquele dia e rumaram para a estação de trem assim que puseram os pés em terra. Assim que chegaram ao lugar esperado, a loira não pôde deixar de perceber os dois trens que rumariam para o mesmo lugar; tendo notado tal fato ela se viu obrigada a perguntar qual dos dois eles tomariam.

O Mefistófeles apontou para o maior e mais lento deles e ela se sentira muito feliz com aquilo, chegar à sua nova casa não lhe agradava muito. Na verdade, essa perspectiva a desesperava imensamente.

As malas dos dois seriam levadas no trem menor, uma vez que o Jashin desprezava a idéia de ficar parado e esperando a revista dos objetos: assim sendo, um empregado foi responsabilizado por levar tudo até a casa deles.

A dupla adentrou ao veículo e seguiu até um dos vagões mais fundos do mesmo. Ino percebeu que o a Morte era tão anti-social que fretou um vagão exclusivamente para eles, o que frustrava os desejos da jovem de conhecer e analisar as pessoas daquele novo lugar.

O vagão onde viajariam era bem confortável: Ao fundo estava uma porta que levaria ao vagão seguinte; as paredes estavam forradas com um papel de parede verde-escuro e algumas lanternas estavam presas ali; havia um sofá antigo e restaurado na parede esquerda e uma mesinha ao lado dessa; na parede direita estava uma cadeira e uma outra mesa. As cortinas eram brancas e não cobriam muito a janela, o que atrapalhou um pouco quando Ino quis dormir.

- Por que ainda estamos aqui? – a garota de Konoha olhava o movimento das pessoas que saiam do trem.

- Não estou a fim de me misturar. – o homem havia se levantado e acendeu um cigarro.

- Como você é antipático. – ela o olha, incrédulo.

- Isso deveria me incomodar? – mais uma vez aquele sorrisinho desagradável. – A propósito, você ainda está com sono?

- Ahn?

O papo termina com a chegada de um dos funcionários da estação, que os guiaria até a carruagem designada para eles. O casal desembarca quando – praticamente – todos os passageiros já tinham ido embora e seguem direto para o veículo, que era praticamente igual ao que o Jashin usara em Konoha. A loira não demora em desviar seus olhos para a janela, admirando a paisagem e tentando não pensar em quando chegaria a seu novo lar.

- Nunca vi alguém gostar tanto de uma janela.

Hidan estava com os olhos fechados, a mão direita estava dentro do sobretudo cinza e a esquerda segurava sua bengala, o famoso pingente estava enrolado no mesmo pulso. A perna esquerda estava dobrada e a outra esticada, os cabelos prateados caiam, displicentemente, sobre o couro marrom do assento.

- Estou curiosa. – a jovem nem olha para ele. – “Como ele reclama, pelo amor de Deus!”

- A curiosidade matou o gato.– ele não iria desistir de perturbar. – “E pode fazer o mesmo com você.”

- Sorte minha por não ser um. – Ino resiste à tentação de agredi-lo com aquela bengala.

- E isso te impede de morrer? – ele a olha, finalmente.

- De curiosidade, sim! – a jovem se vira para o homem e se lembra de algo. – Por que você quis saber se eu ainda estava com sono?

- E está?

- Eu perguntei primeiro. – a esposa cruza os braços. – “Que mania chata! Responder uma pergunta com outra.”

- Na verdade, não. – ele brinca com a bengala. – Eu perguntei.

- Que seja! – é, ele tinha razão. – Não, não estou com sono.

- Não ainda. – a voz dele carregava alguma sugestão. – Mas estará daqui a pouco.

- Não duvido nada. – por alguma razão, a Jashin não tinha percebido o que ele queria dizer. – Especialmente se demorarmos a chegar.

- Pode ter certeza que, quando chegarmos em casa, você ficará exausta.

Ela o olha e percebe aquele mesmo brilho lascivo que lhe foi apresentado no navio, aquele mesmo brilho que a fez relembrar dos momentos tórridos dentro do camarote. A moça sente suas bochechas corarem, lembrando dos momentos que se seguiram ao sexo.

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OoOoOoOoOoOoOo Flashback oOoOoOoOoOoOoO

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Ela se sentia moída e totalmente fraca, seu corpo estava dolorido e parecia absurdamente pesado. Apenas o olho direito se abre e é consolado pela escuridão que as cortinas proporcionavam, esse orbe se move pelo cômodo e logo é acompanhado pelo olho esquerdo. A jovem se nota sobre a cama e coberta, mas também nota um peso curioso sobre sua cintura e um braço – cuja mão estava ameaçadoramente perto de seu seio – circundando seu tronco nu.

Sua mente recebe uma enxurrada de lembranças. A briga no jantar, os toques e carícias, gemidos que ecoaram pelo cômodo. Tudo veio à tona em questão de segundos. A loira leva a mão direita à boca, suprimindo sua voz, ela não conseguia crer que aquilo tivesse acontecido mesmo. Ela não sabe quantos minutos o choque da descoberta dura, mas só toma conhecimento de seu fim ao sentir aqueles braços puxando-a contra um tórax forte e quente.

- Achei que você fosse dormir mais. – a voz dele, rouca e lenta, ecoa em seus ouvidos.

- O que aconteceu? – óbvio que ela sabia, mas se pôr em negação era inevitável.

- Precisa explicar? – a boca dele percorre um caminho perigoso, do ombro até o pescoço feminino. – Ou prefere que eu faça mímica?

Antes de pensar em sair correndo dali, os braços que a prendiam se tornam firmes como pedra.

- Se você quer uma prova do que eu digo.

Ele a faz cair de costas na cama, os olhos violeta encaram os azuis por alguns minutos, como se nada mais existisse. Ino se sente caindo dentro de um abismo ao fitar aqueles olhos, como se estivesse sendo arrastada para o vazio; um arrepio involuntário percorre o corpo dela. As mãos masculinas correm, secretamente, por baixo dos lençóis e tocam a junção entre as pernas da jovem, fazendo-a esbugalhar os olhos e gemer.

- Então dê uma olhada. – Hidan mostra o sangue em seus dedos. – Quer prova maior do que essa?

- Não precisa. – a resposta foi praticamente imediata e causa risos na Morte, que vê a loira tentando se cobrir e ocultar o corpo.

- Caso você não tenha reparado. – ele se deita novamente, na mesma posição em que estava. – Não tem nada aí que eu não tenha visto.

- Era pra eu me sentir melhor com isso? – ela se põe de costas para ele.

- Não mesmo. – os braços dele se colocam da mesma forma em que estavam antes de acordar. – E vê se me deixa dormir, alguém me cansou essa noite.

Ino se vira, mas antes que pudesse responder à altura, é beijada vorazmente pelo Mefistófeles. Ele não se acanha e coloca a perna esquerda dela em sua cintura, além de apertar seus braços em volta do corpo quente e macio da loira.

- Algo me diz que o nosso casamento vai ser bem mais divertido do que eu pensei.

Ele disse isso depois do beijo e ainda gargalhou, vendo a esposa colocar-se de bruços e cobrir a cabeça com o travesseiro.

O resto da viagem foi tranqüilo, na medida do possível, dado o casal a que nos referimos. A tensão sexual estivera sempre ali, espreitando e se deixando manifestar em todos os momentos em que fosse o mais inapropriado possível. Da parte da Morte, tudo corria perfeitamente bem, o que impediu que algumas pessoas fossem “agraciadas” com sua visita.

Já Ino estava mais dividida do que nunca, seu coração ainda pedia por Shikamaru, mas seu corpo, imprevisível e traiçoeiro, estava mais inclinado aos toques de Hidan. Freqüentemente, seus momentos de solidão se dedicavam à reflexão e lembranças, nenhumas delas lhe trazendo nada senão desespero.

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OoOoOoOoOoOoOo Fim do Flashback oOoOoOoOoOoOoO

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~ Em Konoha… ~

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Os sons na porta sequer o impeliam a perguntar quem ou o quê era o causador, apenas o silêncio lhe interessava agora. O jovem Nara estava deitado em sua cama, olhando a lua e imóvel, parecido com uma estátua ou cadáver. A palidez naquela face e os olhos fundos indicavam o tormento em que ele se encontrava. Uma gota de suor passeia pelo rosto impassível de Shikamaru, sem extrair nenhuma reação do mesmo.

Desde que vira Ino se despedir, o moreno não conseguia reagir a nada. Ele nem se lembrava direito de como chegou em casa, só sabe que antes de cair no sono, ouviu o nome Uchiha sendo pronunciado, mas nem se deu ao trabalho de prestar atenção. Tudo que ele queria era ir para algum lugar onde a dor da partida da loira não o alcançasse.

Por várias vezes, seus pais tentaram fazê-lo interagir com o mundo exterior, mas sem sucesso. O filho tinha se enfiado dentro de uma casca e não parecia disposto a sair dela, nem a compartilhar o nada. Tentaram o auxílio dos amigos, mas nada adiantou. A única reação foi quando o pai fez escorregar, para dentro do quarto, uma carta da Yamanaka, que fora entregue por Satsuki.

Assim que começou a ler aquelas linhas, toda a dor parecia ter tomado corpo e se ocupado de arrancar cada fibra do coração dele. Os olhos castanhos podiam ver as marcas onde a tinta tinha se misturado às lágrimas da loira, e que logo ganharam a companhia das dele. Shikamaru realmente queria morrer, mas não tinha forças nem para acabar com a própria vida, teria que esperar alguma coisa fazer isso. O papel com as palavras da jovem estava firme nas mãos dele. O jovem só se movimenta para trazer o papel até próximo de seu ângulo de visão, queria se torturar mais um pouco.

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Querido...não, Amado Shika....

Estranho, eu sinto que tenho que escrever para você, mas nem sei como começar. Bem ridículo isso, não? Nessas horas eu queria ter o seu cérebro, essa cabeça genial. Bom, acho que essas são as últimas linhas que eu escrevo para você, especialmente porque eu não sei como será minha vida daqui para frente.

Sabe aquele nosso almoço, em que eu levei aquela papelada para você olhar? Pois bem, o Jashin nos viu e apressou a data da minha morte! Ou casamento, sei lá! Ele nos viu, Shika. Por isso que eu nem vou poder te ver antes de ir embora, tenho medo do que ele possa fazer se te ver.

Pena, não é? Se tivéssemos mais tempo, poderíamos pensar em alguma saída, só que Deus me odeia e preferiu que tudo acabasse desse jeito horrível. Alguma coisa me diz que eu já estarei longe quando você ler isso, e só tal coisa já é suficiente para me fazer querer morrer. E o que é pior é não poder falar isso olhando para você, coisa que eu adoro fazer.

Shikamaru, eu te amo. Eu realmente te amo! Você pode não acreditar, mas é a verdade. Essa garota frívola é capaz de amar, e ela ama você, louca e desesperadamente. Eu nem sei quando isso começou, só sei que desde aquele beijo na última reunião do Arlequim, eu só tive certeza. Eu fiquei surpresa, sabe? Eu passei tanto anos querendo o Sasuke que demorei pra notar que o homem da minha vida esteve sempre do meu lado. E era um preguiçoso! Um preguiçoso que conseguiu, pouco a pouco, se fixar em mim de tal jeito que me faz até ter medo.

Você me ama, Shika? Nem que seja só um pouquinho? Te pergunto na carta por ter medo da resposta e por saber que eu não te verei mais. Mesmo se não me amar, saiba que eu te amo. Tanto que me pego perguntando a razão de você ter me rejeitado quando estávamos naquela árvore. Eu teria me entregado para você ali, talvez isso tivesse impedido esse casamento horroroso em que meus pais me prenderam. Ah, Shika...Você não faz nem idéia do quanto eu queria que você tivesse aceitado.

Mas eu não me arrependo de nada que eu fiz, nem do tempo que passamos juntos. Só te peço uma coisa: Não me esqueça, ok? Não esqueça dessa Ino barulhenta e mandona que você conhecesse desde criança, não tire da sua memória essa Ino que te ama. Pedido estranho? Nem tanto. É que eu tenho certeza que eu vou me tornar outra pessoa quando me casar com o tal Hidan.

Então saiba: A Ino Yamanaka, a garota que você conheceu em Konoha, é só sua. Já que nem mesmo eu sei como será a nova Ino, aquela que carregará o nome Jashin e que viverá em Kumogakure. E te desejo toda a felicidade do mundo. Se case e tenha filhos, seja feliz e viva e ame por mim, Shikamaru. Só pra terminar, vou colocar aqui uma música(1) que eu acho que combina com a situação

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Strange, dear, but true, dear,

(Estranho, querido. Mas verdadeiro, querido)
When I'm close to you dear,

(Quando eu estou perto de você, querido)
The stars fill the sky,

(O céu se enche de estrelas)
So in love with you am I.

(Tão apaixonada por você, eu estou)

Even without you

(Mesmo sem você)
My arms fold about you.

(Meus braços circudam você)
You know, darling, why,

(Você sabe, querido, por quê)
So in love with you am I.
(Tão apaixonada por você eu estou)

In love with the night mysterious

(Apaixonada pela noite misteriosa)
The night when you first were there

(A noite em que eu te vi pela primeira vez)
In love with my joy delirious

(Apaixonada pela minha alegria, delirante)
When I knew that you could care.

(Quando soube que você se importava)

So taunt me and hurt me,

(Então me insulte e me machuque)
Deceive me, desert me,

(Me traia, me abandone)
I'm yours until I die,

(Eu sou sua até morrer)
So in love,

(Tão apaixonada)
So in love

(Tão apaixonada)
So in love with you, my love, am I.

(Tão apaixonada por você, meu amor, eu estou)

Eu te deixo o meu coração, tá, Shika? Cuida bem dele.

Ino.

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Ele já não tinha mais forças nem para chorar. Por isso, dormiu, sendo embalado pela voz dela. Ouvindo aquele “Eu te amo” dito antes de ele perdê-la.

- Ino...

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- Sua mente está onde?

A voz de Hidan arranca a jovem de suas contemplações, todas revolvendo acerca da pontada súbita de dor que sentira há pouco e da impressão que a loira tivera de ter ouvido uma voz sussurrando o seu nome. Tal fenômeno acabou com a pouquíssima paz de espírito que a Jashin tinha no momento. O som das rodas batendo contra as pedrinhas no chão era a única coisa que rompia o silêncio daquela estrada, cercada por árvores imponentes e dotada duma névoa espessa e que – estranhamente – pareciam tocar a pele fria de seu rosto.

Ino olha rapidamente para o acompanhante que brincava com o pingente, enrolado no pulso. O brilho da lua, que estivera escondida pelas nuvens até aquele momento, colidindo com a prata polida cega os olhos cerúleos por alguns instantes. Uma das mãos femininas vai até o modesto decote do vestido e tira dali um colar, idêntico ao que possuía o homem.

- Lugar nenhum. – ela responde e não consegue conter a curiosidade. – Qual é a desse colar?

Hidan a olha e vê o pingente brilhando sobre o tecido azul.

- O do seu, eu não sei. – sem perceber, ele começa a estalar os dedos. – Se quer saber do meu, é de família. – a Morte fita o objeto, em seguida colocando o mesmo no bolso do sobretudo. – “Estava demorando pra começarem as perguntas!”

- Entendi. – a loira ainda não estava satisfeita. – E o que significa?

- Eu pareço com uma enciclopédia, por um acaso? – sim, o Jashin detestava ser inquirido, sobre o que quer que fosse.

- Nem um pouco, é claro. – aquilo estava ficando interessante. – Enciclopédias são agradáveis, o mesmo não pode ser dito de você, querido.

A ênfase dada na última palavra evidenciava a ironia, respondida com uma risada.

- Ou você é muito corajosa. – ele se aproxima da moça. – Ou extremamente burra em querer me tirar do sério.

- Pretende fazer o quê sobre isso? – a loira queria brigar, e não sabia o por quê. – “Vamos ver até onde sua paciência chega.”

- Não queira saber.

Os olhos masculinos ficam negros por um segundo, que foi mais do que suficiente para atiçar a curiosidade da mulher e – ao mesmo tempo – acender uma centelha de medo. Aquilo só podia ter sido uma ilusão, olhos não mudam de cor! Essa reação é logo percebida por Hidan, que não entende o motivo daquilo.

- O que foi? Já se cansou?

- Seus olhos ficaram negros por um instante. – a jovem fala sem rodeios. – Isso não é normal.

A Morte percebe que a conversa já estava tomando um rumo perigoso, ainda não era a hora de Ino saber o que ele era, isso arruinaria toda a diversão que ele planejara por nove anos. Qualquer deslize ou comentário dito poderia instigar a jovem a ir fundo na assunto, talvez descobrindo por conta própria a identidade do marido.

- “Tenho que tomar muito cuidado com essa pirralha.” – o Jashin não muda sua expressão. – Concordo, não é normal e nem aconteceu. – infelizmente, o tom evasivo da resposta não ajudava em transformar aquilo em verdade. – Será que eu posso ficar em paz o resto da viagem?

- Pode esquecer. – a loira estava determinada a extrair as informações que desejava. – Não vou te deixar em paz enquanto não souber.

- Se arrependimento matasse.

Por mais irracional que aquilo soasse, o comentário se referia a idéia de tomar a ex-Yamanaka como esposa, e foi feito sem pensar e acendeu uma esperança dentro da mulher.

- O divórcio existe.

- Nem em sonho. – a sugestão feminina foi percebida no ato. – Paguei caro demais para jogar nove anos de investimento fora.

- Nove anos?

A exclamação repentina faz com que a Morte se arrependa de ter dito alguma coisa.

- “Inferno!” – só isso podia ser pensado pelo homem.

- Os problemas financeiros dos meus pais não são tão antigos assim. – os papéis que Deidara lhe mostrara diziam isso. – Como você pode falar de “nove anos”?

Mesmo surpresa, Ino percebeu uma coisa muito interessante sobre o Mefistófeles: Pressioná-lo era a melhor maneira de fazê-lo abrir a boca, e o melhor, de falar coisas interessantes. Como não havia nada e ser feito durante o caminho, aquele era o momento certo de se informar.

- Cale a boca, garota. – a voz dele se altera e assusta os cavalos e o condutor da carruagem, Ino nota isso e fica mais confusa. – Essa sua voz está me deixando com dor de cabeça!

- “Quem é você realmente, Hidan Jashin?” – não havia necessidade de falar isso, mas o papo estava deveras informativo para que fosse interrompido. – Alguém está com medo...

Ela fala cantarola de uma forma insolente e abusada, sem a mínima noção de com quem estava lidando e aproveitando (com alguma razão) aqueles pequenos momentos de superioridade que lhe estavam sendo dados. Como tudo o que é bom dura pouco, uma dor toma o pescoço da mulher quando o mesmo e agarrado por uma mão forte como chumbo e sua cabeça é empurrada contra a lateral da carruagem.

- E te digo que não sou eu. – a mão da Morte estava a ponto de sufocar Ino, mas o medo logo é suplantado pela determinação. – Não abusa da sorte, eu não gastei dinheiro com você pra acabar com tudo tão rápido.

- Ameaças não são o suficiente para me fazer desistir. – a resposta continha uma força que instigou outra coisa em Hidan, além da fúria esperada. – Por isso, nem perca o seu tempo.

- Não pretendia mesmo.

Ele tira a mão opressora do lugar onde estava apenas para levá-la até o colar, que decorava o pescoço da loira. Sem medir a força usada, a Morte dá um puxão excessivamente forte no objeto, fazendo com que o corpo da Jashin caísse sem cuidado sobre as pernas masculinas. Sem perder tempo, o Mefistófeles toma os lábios da jovem com uma voracidade tamanha que feria a pele sensível e trazendo sangue à superfície dos mesmos. A separação entre as bocas só ocorre quando o ar some dos pulmões de Hidan, mas ele mantém o corpo de Ino em seu colo.

- Por que fez isso? – ela leva um dos dedos aos lábios, tocando-os suavemente. – “Contenha-se, Ino. O beijo não foi tão bom assim!”

Mentira, e das piores.

- Queria que você calasse a boca. – a língua dele passa delicadamente sobre as feridas nos lábios da mulher.

- Não vai adiantar!

Para irritação da moça, aquele sorrisinho desagradável aparece outra vez.

- Se quer tanto outro beijo. – ele leva a mão que tocava os lábios ao queixo feminino. – Só precisa pedir.

- Dispenso. – a loira enrosca a corrente no pescoço de Hidan, vendo o metal pressionando e marcando a pele branca. – Só quero que você responda!

- “Não tem jeito, ela não vai sossegar.” – essa resolução era bem óbvia, mas o homem resistiu a ela. – O que, inferno?!

- O que significa esse pingente? – a moça repete e olha o objeto.

- Não faço idéia. – tamanho era o seu talento pra mentir que Ino se convenceu ao olhar nos olhos do Mefistófeles. – Já falei, herança de família.

- E como é que eu tenho um igual? – a loira se segura na porta da carruagem quando o caminho se torna mais pedregoso.

- Cacete! – a exclamação mal educada já demonstrava que a paciência dele tinha ido para as cucuias. – E sou eu quem tem que saber de onde vêm o seu maldito colar? – a Morte fecha os olhos por um momento, tentando se acalmar. – “Não sei por quanto tempo vou agüentar essa peste!”

Nesse tempo, Ino se ocupou em olhar para o lado de fora e se viu passando em cima de uma ponte de madeira velha. Atentando-se mais ao ambiente, viu ao longe uma construção imponente que ficava um pouco acima do lugar onde estavam. Por um momento, os cavalos pararam e ela aproveitou para sair de dentro do veículo. Abraçando o próprio corpo, a jovem viu que a ponte pairava acima de um rio caudaloso e barulhento, as únicas luzes naquele lugar vinham das lamparinas pequenas, penduradas na carruagem.

Todo aquele caminho era acompanhado por uma densa floresta, muito parecida com aquelas dos contos de terror que tanto eram mencionados em sua infância. Dando mais alguns passos para longe da carruagem, a loira forçou seus olhos turquesas a enxergarem um pouco mais além do que as árvores lhe permitiam ver. A névoa apavorante estava mais fraca, mas o frio aumentou e até mesmo os animais noturnos pareciam ter sumido.

Hidan também aproveitou a súbita parada para relaxar, uma vez que sua acompanhante estivera imensamente empenhada em agir feito um demônio! Por vários instantes, ele se manteve imóvel no banco, só alterando esse estado quando sentiu o peso do corpo feminino abandonando o seu. Tendo noção de que ela não iria muito longe, o Jashin manteve-se quieto, curtindo o silêncio. Já satisfeito, ele pegou uma garrafa de bebida e seguiu até a frente do veículo, vendo o condutor acertando a ferradura de um dos cavalos, que relinchava altamente com presença dele ali.

Ino se vira e assiste à cena, vendo o descontrole do animal diante do marido, que parecia indiferente aos movimentos e sons do quadrúpede. Ela vai até a carruagem e pega um das lamparinas, antes se certificando de que estava em boa condição; a jovem caminha até a ponte e se põe a admirar o rio que lhe trazia lembranças agradáveis dos seus últimos instantes em Konoha. No entanto, a lembrança do último momento no solo natal foi a que mais pesou; a expressão no rosto de um rapaz em especial.

- “Será que você já leu a minha carta, Shika?” – ela respira pausadamente, efetivamente contendo as lágrimas. Ao lembrar-se da voz que ouvira mais cedo, a loira percebe que fora Shikamaru que chamou seu nome, em meio a agonia que ele deveria estar sentido. – Ele leu...

O sussurro dela sai quase inaudível, até mesmo para aquela que o emitiu.

A Morte ficou mais algum tempo vendo o condutor tratando do cavalo, mas se cansou tão rápido quanto se interessou. Os olhos cor de ametista se prendem à figura da moça que olhava tudo, e vai andando até a mesma, que havia parado na ponte e apoiava seu rosto nas mãos, os cotovelos escorados na madeira velha. A expressão relaxada dela ganha tons de melancolia, que o deixam potencialmente incomodado.

- Paramos por causa dos cavalos. – o homem pára do lado dela e abre a garrafa, sorvendo uma generosa porção do seu conteúdo. – Acho que sairemos desse buraco logo.

- Me dê um pouco. – ela estende a mão na direção do companheiro e pega a garrafa, bebendo também. – Onde estamos?

- Floresta Yugakure.(2) – o Jashin se senta sobre a madeira olha para o nada.

- AHH!

O grito feminino faz com que a atenção de todos se volte para ela, que ficara abissalmente pálida e tremia, os orbes azuis fixados na floresta do outro lado da ponte. Hidan olha na mesma direção – ao mesmo tempo em que toma a jovem em seus braços – e vê uma chama azulada pairando sobre a mata e vindo na direção deles. Ele ri alto e deixa a mulher mais confusa.

- “Inacreditável.” – o Mefistófeles pega a garrafa. – Foi isso que te apavorou?

- Claro! – a loira se aninha mais no corpo masculino. – “Deus, acho que eu vou enfartar antes dos 20 anos.”

- É só fogo-fátuo.(3)

Ela percebe sua tolice, mas não se sente menos incomodada.

- Isso não me deixa mais aliviada. – logo a chama desaparece. – Isso prova que há muitas mortes nessa floresta.

- Nisso você está certa. – o olhar inquisitivo da moça em seus braços faz com que ele continue. – Essa floresta tem um histórico de mortes.

O condutor acena para o casal que volta ao veículo. A conversa reinicia pelo percurso, desta vez, por iniciativa do próprio Hidan, que não via problema algum em falar para o jovem sobre o lugar. Afinal, ela teria que morar ali até o final da vida. A jovem estava mais tranqüila e sentou-se no banco de maneira a suas costas estarem apoiadas na parede do veículo e suas pernas cruzadas sobre o banco.

- Esse terreno foi uma vila um dia. – o homem bebe mais um pouco e deixa alguns goles para a sua esposa. – Só que os moradores acharam que seria melhor se Yugakure se unisse a Kumogakure.

- Deixe-me adivinhar: Alguém não gostou. – a moça bebe o que lhe foi dado e se encolhe mais no banco, procurando se aquecer.

- Exato, um grupo de moradores de Yugakure se revoltou e dizimou a maior parte dos habitantes. – a Morte pega o relógio no bolso do sobretudo. – Essa floresta foi plantada em tributo aos mortos.

- Que horror!

- Por que você se apavorou tanto com o fogo? – percebendo o frio que a jovem sentia, o homem tira o sobretudo e o coloca sobre ela.

- Obrigada. – a loira se enrosca no tecido. – É que fogo-fátuo sempre foi visto em Konoha como um presságio de morte.

Outra vez ele ri.

- Ainda vou entender essa mania dos humanos de tentar prever quando a Morte vai chegar. – o Mefistófeles se vira para a jovem, apoiando uma de suas pernas no banco e colocando suas costas contra a lateral do veículo. – “Acredite, vocês nunca acertam.”

- E o que tem de errado nisso? – ela soou indignada.

- Nada, só acho interessante esse fascínio que vocês tem com a Morte.

- Fascínio não é o termo. – a jovem pega o relógio no bolso do sobretudo. – Diria que é preocupação. – ela olha o objeto. – Nossa, já são 23:45.

- Tem hora marcada para alguma coisa? – Hidan pega o relógio da mão dela e coloca no bolso da calça.

- Não que eu saiba. – Ino fecha os olhos.

- Então esqueça da hora.

O casal se silencia e apenas os sons externos existem: o som das rodas, dos cavalos correndo, os ruídos da floresta. Hidan se imerge em pensamentos e conjecturas, a jovem encontra o sono ao ser embalada pelo balanço da carruagem e pela sinfonia do ambiente. Quando o relógio marca pontualmente 0:00, o veículo chega no Solar Jashin, de tijolos vermelhos e teto recém-restaurado. A Morte salta do meio de transporte já com a loira nos braços, adormecida. Por todo caminho, ele é cumprimentado pelos empregados.

Quando em seu quarto, deposita o corpo da esposa na cama e vai até o banheiro, perdendo longos 30 minutos com seu banho. Sentindo-se limpo, o rico veste um pijama cinza e tem uma idéia. Ele vai até o armário sob a pia e pega uma bacia, enchendo a mesma com água quente; finalizado isso, o Jashin pega uma toalha (que foi jogada sobre os ombros), um sabonete (arremessado dentro da bacia) e vai até o quarto. Ele coloca os objetos sobre o criado-mudo e despe Ino.

Seria tolice negar o efeito que aquele corpo arrebatador e indefeso exercia sobre si, mas o lado “profissional” obriga que Hidan cumpra o que se dispôs a fazer. Com o maior cuidado possível, ele limpa o corpo da loira e o veste com uma camisola roxa que deixava a desejar no quesito “vestir”. Apenas às 1:00 é que o homem se deita ao lado da esposa, caindo no sono e aproveitando a familiaridade do ambiente.

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Continua


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Notas finais do capítulo

(1) A música que a Ino pôs na carta é: So In Love, de Cole Porter. Tem um vídeo no meu profile com essa música, mas sendo cantada no filme De-Lovely. Há um link dela no meu profile, pra quem quiser ver.

(2)Yugakure ou Yugakure no Sato: De acordo com a Narutopédia, é a vila de origem do Hidan. Um dia, esse lugar foi um vilarejo ninja, mas desistiu desse cargo e se tornou uma próspera vila. No entanto, o nosso caro genocida matou os seus conterrâneos antes de partir.

(3)Fogo-fátuo: Do latim ignis fatuus, é uma luz azulada que pode ser avistada em cemitérios, pântanos, brejos, etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente. Quando um corpo orgânico começa a entrar em putrefação, ocorre a emissão do gás fósfina (PH3) . Os fogos-fátuos são produtos da combustão da [fosfina] gerados pela decomposição de substâncias orgânicas, ou a fosforescência natural dos sais de cálcio presentes nos ossos que avistam o fenômeno tendem a evacuar o local rapidamente, o que, devido ao deslocamento do ar, faz com que o fogo fátuo mova-se na mesma direção da pessoa. Tal fato leva muitos a acreditar que o fenômeno se trata de um evento sobrenatural, tais como espíritos, fantasmas, dentre outros.



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