“Acho que esse é o problema. Eu não sei o que sinto por você e você está do outro lado do mundo.”

P: Mih... não é o que você está pensando. Atende, me deixe explicar.

M: Explicar o que? Explicar toda a mentira por trás do “Eu nunca vou te esquecer, ok?” ou do “Já disse que não vamos perder contato, não importa a distância.” Ou explicar o quantas vezes você já falou “Você tem algo especial, você é especial. Não se esqueça.” Pra alguma menina?

P: Você está sendo bipolar, sabia?

M: Bipolar, como bipolar? Eu falei antes de você ir embora que eu não ia conseguir ficar sem você.

P: Mirra, Mirra... ACORDA. Há três dias eu me declarei pra você, disse pra você me esperar porque aqui, aí ou em qualquer lugar eu poderia ser só seu, era só me pedir. Eu te amo, sua louca. E depois de eu ter falado tudo isso você me deu um fora dizendo que não podia lidar com a distância e que só queria amizade. Agora você vem com essa crise monstra de ciúme? Mirra, eu não te endendo... Nem quero entender. Você sempre foi e sempre será incompreensível, essa é mais uma das coisas que eu amo em você. Mas, porra morena, você me magoou pra caralho. Fala com sinceridade, eu só te peço isso. E se mudar de novo de ideia, não me faça parecer o vilão de história.

M: Eu preciso resolver uma crise interna, MEU moreno – pra qualquer loira que possivelmente possa estar olhando essa conversa, escrevo até na língua dela, Moreno (Peter) is MINE! –juro que assim que terminar por aqui eu falo com você. Nos falamos em alguns dias... Se sentir saudade lembre-se do nosso primeiro beijo, acredite ou não ele vai passar várias vezes pela minha cabeça.

P: Lembro-me dele o tempo todo! Até daqui a alguns dias. Te amo.

Fechei o computador e fiquei pensando o que mais aquela vadia que se diz minha irmã pode ter feito pra bagunçar a minha vida e o que eu vou fazer com relação ao Pedro e quem pode ser aquela garota no quarto dele e chamando-o por apelidos carinhosos.

Fiquei alguns dias investigando o que mais Esmeralda pode ter causado. Vi que pelo menos nas notas ela fez algo de útil. Fez alguns amigos novos porque algumas pessoas vinham conversar comigo aleatóriamente. Percebi que não recebia mais os sermões matinais e que algumas pessoas me encaravam as vezes enquanto passava nos corredores.

Mais quatro meses... Era isso, quatro meses para as férias de inverno e eu poderia tentar um acordo pra mudar do inferno, quatro meses que seriam torturantes.

Tomei minha decisão quanto a “proposta” de Pedro uma semana depois de termos nos falado e decidi tentar falar com ele. Chegando em casa abri o computador. Fiquei ansiosa quando vi a imagem dele carregando e me decepcionei quando enfim abriu.

A menina loira que estava com ele outro dia apareceu na tela. Ela usava apenas uma camiseta... Dele. Ela sorriu e me surpreendeu ainda mais quando encarou a webcam com aquelas pupilas brancas e começou a falar:

–Oi Mirra, como vai?

–Onde está o Pedro? E desde quando fala português?

–Digamos que nós duas temos as mesmas aptidões. Pedro está no banho... Acho que me esperando. – A raiva era notável em minha face. – Ele não é tão difícil quanto parece. Quando recebi as ordens pra “Cuidar” desse marrentinho gostoso pensei que fosse mais difícil conquistar o gato, mas a sua troca com a Esmeralda exatamente no momento em que ele se declarou tornou tudo bem mais fácil. Ele ficou chateado com o toco lindo que Esmeralda armou e começou a sair comigo... não só sair. Pensei que ele realmente gostasse de você! – Meus olhos começaram a lacrimejar. – Agora é o seguinte: Ele não vai saber que eu entendo vocês, ele não vai saber o que nós somos, ele não vai saber que tivemos essa conversa, daqui a três dias ele também vai parar de ter notícias suas, ele é meu agora, ele não vai saber que não era você naquela conversa em que ele levou um fora, ele não vai ter um “fica comigo” como resposta a declaração, ele não vai mais saber de você pela sua boca depois do prazo. Senão... Apesar dele ser gostoso e completamente gato, eu estou com uma proximidade um pouco perigosa se é que me entende 32 e eu tenho uma missão que deve ser cumprida com louvor, certo?

– Dear, could you take me a towel, please? - “Querida, você poderia pegar uma toalha para mim, por favor?”

Ouvi a voz de Pedro e começei a chorar.

–Sure, my Love. –“Claro, meu amor.”

Ela disse me olhando com ar de superioridade, como se tivesse o dever de me provar que eles estão realmente juntos.

–Bom, 32, o recado está dado. – E desligou.

Eu estava com raiva, raiva de tudo: De mim mesma por ser tão estúpida ao ponto de acreditar que ele me amava, dele por ter mentido e me trocado, dela por ser tão sínica, da Esmeralda por ter feito isso acontecer, daquela merda de grupo que estava causando tudo isso e do mundo por ter juntado todos esses fatores em uma só pessoa.

No dia seguinte, depois de organizar meus pensamentos, liguei para Pedro que atendeu na hora, sem a vadia no campo de visão e com um sorriso de quebrar as pernas:

–Estava com saudades de você, Mih. – Como ele pode ser tão lindo e tão idiota?

–Por que, Pedro? – Foi a primeira coisa que me veio a cabeça.

–Porque quando se gosta de alguém que está longe a gente sente falta.

–Não se faça de sonso. Por que você comeu aquela vadia?

–Ela... Eu não comi ela, Mirra, ela é só minha amiga.

–Não mente pra mim, Pedro, pra mim não. Porra, eu te amo. Você falou coisas pra mim que eu nunca esperava ouvir de ninguém. Aí foi só ouvir uma resposta um pouco diferente do que queria ouvir e aproveitou o mole que a garota perfeita estava te dando. – Segurei as lágrimas.

–Morena... – Mordi os lábios pra não chorar. – Você tem razão, eu não devia ter feito isso com você, mas quando eu olhava nos olhos dela, eu estava olhando nos seus olhos; quando eu beijava ela , eu estava te beijando; quando eu a chamava, chamava o seu nome; quando eu a abraçava e sentia o cheiro dela, era o seu cheiro; quando...

–Para, por favor, para – uma lágrima fugitiva correu pelo meu rosto. – Isso não é desculpa.

–Eu sei que não, mas quando você me disse não as nossas lembranças foram ficando mais e mais presentes na minha memória e eu precisava de mais, de mais tempo com você. Sei lá, ela pareceu uma passagem pra perto de você.

–Você dormiu com ela!

–Eu sei, eu sei. Eu estava lá. Não fica jogando na minha cara.

–Eu estou com ódio sabia? Mas não de você, de mim por um dia ter acreditado no que você me dizia.

–Princesa... Eu te amo, um dia eu ainda vou te provar isso.

–Se me amasse de verdade, não teria feito isso. Mas se um dia amar realmente espero que consiga provar. Até lá, não fale mais comigo.

–Não faça isso, amor. É tortura.

–Nós nos conhecemos há muito tempo, P. E eu te amo, mas tem coisas que eu não consigo suportar- como te perder.