Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 63
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Então... É isso. O ultimo capítulo. O fim dessa longa jornada, o final merecido para essa história. Espero que se não for nada daquilo que vocês imaginavam, que seja então, ainda melhor. Agradeço a todos que chegaram até aqui comigo, mesmo aqueles que não mencionei o nome em nenhum momento. Mas agradeço ainda mais aqueles que comentaram, recomendaram e estiveram ali, me fazendo lembrar, que valia a pena continuar.
O fim é sempre necessário, apesar do aperto no coração sempre que tenho que me despedir. Mas lembrem-se: o final as vezes é apenas o começo. Foi exatamente isso que tentei passar a vocês durante toda a história de amor entre a Hayley, Brandon e o Jesse. Eles que de alguma forma serão sempre uma parte bonita de mim. Assim como todos vocês leitores que fazem disso algo real.



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"Só quem sobreviveu a uma tempestade sabe a alegria de ver o sol nascer."

Dois anos depois.

Acho que posso finalmente dizer que sou uma adulta e não mais aquela garotinha rebelde.

Estou com vinte anos e no segundo ano da faculdade, que me trouxeram tantas, mais tantas, novas experiências e aprendizados que posso dizer que agora sim, sou mais madura, tenho mais responsabilidades, mais maturidade, posso enfrente meus problemas sem chororô, encarar todos os desafios que estão por vir e aceitar certas coisas sem protestar, desde que eu esteja de acordo, se não tiver, tenho forças suficientes, até mais que antes, para bater de frente e lutar pelo o que eu quero.

Assim que cheguei a universidade fiquei assustada com o tamanho desse lugar, parecia dez vezes maior que o internato em que vivi, e realmente era mesmo maior. Depois de seis meses eu ainda não poderia dizer que já tinha conhecido ou frequentado tudo. E mesmo agora, dois anos depois, tenho certeza de que realmente, não, não conheço tudo e nem sei se alguma dia vou conhecer. O importante é que sim, conheci as partes mais interessantes, as que realmente importavam pra mim e tinham a ver com a área que eu escolhi pra mim.

Eu e o Jesse chegamos juntos no primeiro dia, aquilo parecia um sonho, olhamos um para o outro, e foi ai que eu percebi que ele estava usando uma camiseta branca de manga curta. Antes, em hipótese alguma ele usava uma blusa, camisa ou camiseta de manga curta por causa das cicatrizes no braço que ele não gostava de expor ao mundo. Mas de um tempos pra cá, ele vinha tentando superar esse fato de sua vida. Ele estava se arriscando, mesmo que pouco a pouco, e parecia perder cada vez mais o medo de mostrar aquilo que ficaria pra sempre marcado na sua pele.

— Jess a sua camiseta... As cicatrizes. - eu ainda não sabia como tocar naquele assunto. A dor dele era a minha dor também. — As pessoas... Elas vão ver.

— Não tem problema, meu amor. - ele me deu um sorrisinho lindo, apertando firme a minha mão. — Quando estou com você não tenho medo de nada.

O medo ao qual ele se referia era o mesmo que ele temia todos esses anos em que se manteve escondidos de baixo das mangas longas. O medo da rejeição, do julgamento, das pessoas comentando, fazendo piadas de mau gosto... Mas agora que estamos namorando, muito mais que antes, eu sinto uma necessidade absurda de cuidar dele e estar ao seu lado para enfrentar qualquer coisas. Não deixaria que nenhum mal lhe atingisse, eu seria capaz de qualquer coisa para protege-lo.

— Então vamos - sorri pra ele de volta, dando um passo a frente. — Eu estou com você.

O quarto que eu divido até hoje com outras meninas é imenso, eu fiquei com a beliche, durmo na parte de cima. E em todos os lugares, não importa onde você estiver, sempre vai ter aquelas garotas que você vai se identificar mais, ou aquelas que você vai detestar à primeira vista ou até mesmo aquelas que você julga sem princípios, mas depois acaba se arrependendo, e vê que não era nada daquilo que você imaginava.

Que foi o que aconteceu comigo e com a Bailey, hoje, uma das minhas grandes amigas. Eu a detestei à primeira vista, ela tem boa parte das aulas comigo, mas na primeira oportunidade que tivemos para nos conhecemos melhor, tudo mudou desde então. A garota é bem mais parecida comigo do que qualquer um pode imaginar, até no estilo – e acho que foi isso que me fez odiá-la no início – ela tem umas roupas bem parecidas com as minhas e o cabelo dela tem as pontas rosas.

Além de tudo somos do mesmo dormitório. Assim que ela pôde, depois que nos tornamos super amigas, ela trocou com a garota com que eu dividia o beliche, e desde então, dormimos no mesmo beliche.

Mas ainda assim, a Amy, sem dúvidas, continua sendo a minha melhor amiga de todos os tempos. Mesmo ela estando longe, muito longe, e eu aqui, cercada de gente e coisas novas, ainda mantemos contanto sempre que podemos e pouca coisa mudou entre nós. Ela ainda namora o meu irmão, que está se dando muito bem na faculdade, algumas vezes com a ajudinha dela. Mas afinal, o que seria dele sem ela?

Lembram-se da Natalie? Ela também entrou para a faculdade. Ela cursa Moda em uma universidade não muito distante da casa dela. Tentamos manter contanto, mas nem sempre foi fácil, e fomos nos distanciando pouco a pouco. Passei mais de meses sem saber qualquer coisa a seu respeito. Desde que ela e o Eric terminara de maneira trágica – porque realmente não deu certo – ela tem feitos coisas novas, preferido a pessoas novas, fazer coisas que não lembrem o Eric. Soube até, sem muita certeza, que ela conheceu um novo cara.

Sempre que eu posso tenho ido visitar os meus pais ou eles vem me visitar. Estamos sempre conversando, contanto novidades, falando sobre os últimos acontecimentos. Da última vez em que nos falamos estava tudo perfeitamente bem em casa e entre eles, no momento em que telefonei, a mamãe estava cuidando do pequeno Brian, o filhinho da tia Jenna com Alexander que hoje está com quase dois anos. Ela engravidou um pouco depois de eu entrar na faculdade. Ela não poderia desperdiçar a chance, já que a idade estava começando a avançar. Mas mesmo próxima de completar quarenta anos, eles tentaram, e conseguiram. O que foi a maior alegria do casal. Tudo que eu Alec sempre mais quis foi ter um filho.

E eu e o Jesse, para a infelicidade daqueles que não acreditaram que chegaríamos tão longe, ainda estamos juntos. E nunca chegamos a nos separar mesmo com as brigas, as crises, os atritos. Que já se tornaram normais e comuns entre a gente. Afinal, nem todo casal vive só de amor, as vezes é mesmo necessário, alguma coisa pra esquentar, pra prevalecer, pra nos fazer lembrar o quanto somos fortes juntos e podemos superar qualquer coisa desde que estejamos dispostos a isso.

Ele ainda está fazendo Música e eu Artes Plásticas. Não temos aulas juntos, mas, nos vemos muito mais do que eu esperava. Quase todo o tempo pelos corredores. Quando se há tempo livre namoramos em qualquer lugar desde que esteja disponível. Como eu mesma disse que a universidade é grande, o que não falta são lugares.

No primeiro ano, nos primeiros meses, apesar de dele estar comigo, fiquei com muito medo de algo nos tirar um do outro. Eram muitas festinhas, comemorações, coisas novas a se conhecer, amizades a se fazer. Praticamente a descoberta de um novo mundo. E temi por noites que o Jesse começasse a se interessar por essas coisas mais do que a mim.

Pensei que ele não teria mais tempo para nós dois e acabaríamos nos distanciando pouco a pouco. Eu sofri muito com isso. Só que essas coisas nem chegarem perto de acontecer. Pelo contrário, ficamos ainda mais unidos, próximos, juntos e andávamos pra cima e pra baixo de mãos dadas, mostrando a qualquer um que passasse por nós, que pertencíamos um ao outro e que não havia espaço para mais nada.

Claro que nem sempre as coisas foram todo o tempo perfeitas, e eu nem esperava que fossem. Em épocas de provas, entregas de trabalhos, sinais de semestres, quando o tempo livre era pouco, ficamos sim um pouco afastados. Mais por necessidade do que por qualquer outra coisa. Nem por um momento deixamos de exercer nossas funções como universitários e isso é o que, até hoje, mais me admira em nós. Sabemos o momento certo para tudo.

Acabei me tornando uma pessoa que eu jamais imaginei ser, me surpreendendo ainda mais que antes. Claro que sem me esquecer da minha essência. Mas ainda assim, motivos de orgulho para a minha família, meus amigos e principalmente meu namorado. Ganhei muitos prêmios como melhor aluna, ou por ter entregado o melhor trabalho ou pela nota mais alta da classe em determinada avaliação. Estava dando tudo de mim, suando, correndo atrás, lutando contra todo o resto. Passei noites em claro para terminar um trabalho ou estudando para um prova. Fiquei dias sem ver o Jesse para fazer coisas pelos meus professores que eles mesmos haviam pedido pra mim. E com isso, fui me tornando cada vez mais exigente comigo mesma, mais caprichosa, mais perfeccionista, detalhista, determinada, até mais sábia.

O Jesse também não ficou pra trás. Algumas vezes, admito, ele teve mais sorte que eu por estar com seus velhos amigos. Todos o os meninos da banda foram aprovados também na universidade. Eles ainda são os melhores amigos e eu tenho ficado cada vez mais íntima de todos eles, especialmente do Andrew, não só porque já ficamos, mas porque ele é muito especial e nos ajudou muito quando mais precisamos dele na hora das brigas.

Não tenho do que me queixar. O que estou vivendo mais parece um sonho e tenho medo de acordar. Por falar em sonho, ainda tenho sonhado com o meu Brandon. E ele sempre aparece quando preciso de uma direção, de uma luz, de um sábio conselho. Ele é como um anjo que só existe na minha cabeça. Ainda sinto sua falta todos os dias, mas tenho superado melhor a sua morte. E sobre os sonhos... O Jesse não tem nenhum pouco de ciúmes. Quando não é algo muito íntimo, só meu ou meu e do Brandon, eu acabo contanto tudo pra ele. Não porque ele pergunte. Mas me vejo na vontade para contar, me vejo na obrigação que ele saiba, para não pensar que nem por um minuto deixo de ama-lo menos por ainda lembrar do outro e ele sempre se mostra muito compreensível, interessado. Pois ele sabe, se não fosse pelo Brandon, talvez hoje, nem estivéssemos juntos.

Tanto o Jesse quanto eu, há dois anos atrás, não temos tido nenhuma notícias sobre a Alexa. Não sei qual foi o final da história daquela trágica garota que pôs tudo a perder por causa das drogas. E eu ainda me arrependo muito por algum dia ter me envolvidos com essas coisas também, tenho até vergonha de contar isso aos meus novos amigos. Eu só espero que ela, a Alexa, tenha se tratado e retornado a vida, e que ela como todos nós, tenha um final feliz também.

Sobre o Tyler, de tempos em tempos, ele me liga, só pra saber como andam as coisas, ou para contar como vão as coisas com ele. Ele ainda diz gostar muito de mim, eu até acredito, mas não posso fazer muito por ele, já que deixei bem claro que eu amo o Jesse. Só espero que algum dia ele possa entender isso. Sei que o Tyler não entrou em nenhuma faculdade, ele ainda vive as custas dos pais que julga serem injusto, mas que mesmo assim, pagam viagens pelo mundo a fora pra ele se divertir.

Como eu mesma desejei após ter saído do internato, eu nunca mais vi ou ouvi falar da Alana. E espero que seja sempre assim. Não quero vê-la, não quero encontra-la, não quero nem ouvir falar sobre ela. Não que eu ainda guarda rancor, não é isso, hoje sou adulta o suficiente para ter superado aquela antiga história entre nós.

Mamãe e papai ainda são aquele daqueles casais que têm tempos difíceis e outros nem tanto. Mas acima de tudo estão sempre juntos. Papai ainda é um dos principais motorista de entrega para a Confeitaria da mamãe que está crescendo a cada dia. Eles vêm nos visitar sempre que possível, e assim vice-versa. Tia Jenna e tio Alec vivem em uma eterna lua-de-mel, eles ligam sempre que possível, para saber de mim, do Jesse, basicamente, para saber de nós e saber quando vamos poder voltar para visita-los e conhecer o pequeno Brian.

Elisabeth ainda está casada com Joseph e mora longe. Lucy e Peter crescem cada vez mais rápido, algumas vezes, gostaria de poder estar por perto para acompanhar essa etapa deles, mesmo não sendo tão boa quanto o Jesse com crianças. Mas eu amo meus sobrinhos. Meu relacionamento com Beth ainda é mesmo, tentamos não lembrar das brigas e dos desentendimentos. Eu, ela e Oliver temos tentado ser normais como irmãos que se gostam apesar de tudo.

A vida está corrida. Nós mal temos tempo para respirar. O tempo parece cada vez mais curto. Mas sempre que temos um tempo livre, além de ficarmos juntos sozinhos ou com os nossos amigos, damos um jeito de voltar pra casa, onde sempre será o nosso lar, onde vamos sempre ser bem-vindos, onde sempre vão nos fazer sentir em casa. E matamos a saudade da nossa família, que agora e sempre, será uma só.

Hoje é um dia muito importante. Eu e o Jesse completamos dois anos de namoro. Só estou esperando o tempo da última aula terminar para pegar o carro e sair em direção a ele para encontra-lo depois de dois meses inteiros sem vê-lo, apenas nos comunicando por telefone e internet.

Sim, agora eu tenho um carro. Não é só meu. É meu carro e dele. Eu o Jesse compramos juntos, estamos pagando juntos as tantas parcelas. É um carro simples, porém grande o suficiente para caber os equipamentos de música dele quando ele precisa carrega-lo de um lado para o outro. Tiramos a carta de motorista no ano passado.

Além do carro, meu novo emprego é uma das nova novidade. Estou a sete meses trabalhando em uma galeria perto da universidade pelo turno da tarde até o comecinho da noite. É o lugar mais incrível que já conheci, cheios de quadros de pintores famosos, esculturas, obras-de-arte, exposições importantes. Eu, por enquanto, sou apenas uma espécie guia aos visitantes. A minha função é falar sobre a história, a parte teórica. Mas, não vejo a hora de pode finalmente vender meus próprios quadros e tudo aquilo que eu venho fazendo com tanto amor. Muitas professores admiram o meu talento, tenho também ainda mantido contato com a professora Elisa do internato e conversado sobre essas coisas, Alexander tem me dado conselhos, dicas e sugestões. Com a ajuda de tanto gente sinto que estou cada vez mais próxima do meu grande sonho: ser mais uma das tantas grandes artista que se houve falar por ai.

Mas porque dois meses sem vê-los? É bem simples. Desde que o Jesse e os meninos da banda ingressaram para a faculdade e se especializaram, aprenderam coisas novas e aprimoraram as que já sabiam, eles simplesmente, de uma hora pra outra, começaram a bombar com a banda dentro da faculdade e ainda mais do lado de fora. Todos acreditam no trabalho deles, ainda mais os professores e os colegas de classe. Foi preciso muita divulgação, trabalho pesado, negociação com contratos milionários com gravadoras e empresários.

E de repente eles tiveram que dar um tempinho nos estudos para sair pra tocar cidades a fora na primeira turnê deles. Que não é grande coisa, mas um ótimo começo. Eu sem dúvidas alguma fui a primeira a chorar com eles e apoiar. Tenho desejado muita sorte para eles e vibrado mesmo à distância. Agora eu sou a namorada de um astro musical. Se o Jesse já era bom antes, agora na faculdade humilhava qualquer um com seu talento que já nasceu com ele, herdado dos pais falecidos também músicos. O Jesse ainda sente muita falta deles e seu coração continua ferido. Tenho tentando preencher esse vazio com o meu amor.

O sinal do termino da aula tocou, recolhi minhas coisas sobre a mesa, me despedi da Bailey, ela me desejou sorte, no caminho até o estacionamento liguei para casa dizendo a eles que o Jesse estava chegando, liguei o carro e saí em disparada ao aeroporto.

Acho que nunca senti tanta saudade de alguém. Eu estava louca para vê-lo. Tão ansiosa que meu peito saltitava de euforia. Sentia falta de cada detalhe do seu rosto, da sensação prazerosa do seu toque ou do seu abraço, o calor dos seus olhos cintilantes e a alegria do sorriso contagiante.

Cheguei um pouco atrasada no aeroporto, um pouco mais do que eu imaginava, peguei transito pelo caminho. Esperei ansiosamente pelo Jesse na sala de desembarque, mexendo freneticamente a perna e mãos. Desde que começamos a namorar, dois meses foi o tempo máximo que ficamos sem nos ver por tanto tempo. E cada dia que eu acordava pela manhã e lembrava que não o iria vê-lo, senti pelo resto do dia como se faltasse uma parte muito importante da minha vida. E faltava. Ele.

Quando ele finalmente apareceu com os meninos da banda um pouco mais atrás cheios de malas e carregando alguns instrumentos, notei que muito fotógrafos se aproximaram para tirar fotos daquele momento, e nós teríamos que nos acostumar com aquele assedio que só tende a crescer com a aproximação do reconhecimento do trabalho deles.

Cada vez que o Jesse se aproximava, como se o resto do mundo tivesse sido apagado a nossa volta, eu notei que ele estava mais forte, os ombros mais largos, o cabelo cortado, mas o sorriso ainda era o mesmo e isso nunca iria mudar. Eu quis corri em direção e abraça-lo no meio de todas aquelas pessoas. Mas me contive, assustada, quando ele parou pelo caminho com os meninos segurando um violão e começaram a tocar e cantar pra mim. Nossa música. A nova música que ele compôs pra mim e pra banda há pouco tempo e que mandou por anexo enquanto esteve fora.

Eu bem que tentei segurar o choro, mas foi impossível me conter.

Quando achei que não tinha mais forças para continuar chorando e precisava de um apoio, o Jesse deixou tudo pra trás e venho andando na minha direção com um buquê de flores que ele escondeu todo o tempo atrás do corpo. Eram Astromélias brancas. A nossa flor.

— Feliz dois anos de namoro! – ele me entregou o buquê. Depois me abraçou, tomando cuidado para não amassar as flores tão perfumadas.

O Andrew se aproximou com os outros depois que nos afastamos. Notei que todos eles estavam um tanto mudados. Ele estava segurando uma caixa branca razoavelmente grande com muito cuidado, que o Jesse pegou, ao perceber, e me estendeu.

— Mais presentes? – peguei a caixa sorrindo, sentindo que era pesadinha e também se movimentava muito. Parecia um presente vivo.

— Abra agora. Seu presente tem data de validade.

Ele me ajudou com a tampa da caixa, retirando a vagarosamente, quando dei por mim, saltou de dentro da caixa a criaturinha mais linda que eu já vi. Um cachorrinho tão pequeno e peludinho que eu imediatamente quis abraça-lo e aperta-lo bem forte em meus braços.

É fêmea, da raça Bichon Frisé de origem francesa, muito parecido com um Poodle.

— Jess, é linda! Mas – enquanto segurava a cachorrinha no colo e ela lambia entre meus dedos já se familiarizando comigo, lembrei de algo muito importante que na mesma hora me deixou triste. — não podemos ficar com ela na universidade... Eles não aceitam animais.

Essa é uma das regras básicas de convivência. A Bailey, minha amiga, até hoje desde que a conheci, se queixa por não poder ter trazido pra morar com ela, a sua velha tartaruga, Lucinda.

— Eu sei. Mas você não queria ter um filho comigo? O fruto do nosso amor? Então, pensei em adotarmos enquanto ainda não podemos ter. Mas o nosso próprio apartamento eu já providenciei.

Demorei alguns segundos para processar aquela nova informação. O que ele queria dizer com aquilo? Como se tivesse lendo meus pensamentos e entendido minha expressão de confusão, o Jesse segurou minhas mãos, passando o dedo no nosso cachorrinho, e sorriu pra mim.

— Hayley, vamos morar juntos finalmente. Eu me lembro como se tivesse sido ontem todas as vezes em que conversamos sobre isso. Não era o que você queria? Era o que eu queria também! Só temos mais dois anos pela frente na faculdade, e eu achei que agora que finalmente estou ganhando dinheiro suficiente por nós dois, achei que estava mais que na hora de comprar o nosso próprio lar. Você não gostou?

Eu não só gostei como comecei a amar a ideia de morar com o meu namorado finalmente na nossa própria casa. Sentia que estávamos cada mais perto de tornar todos os sonhos em realidade. Por enquanto íamos com calma, devagarzinho, fazendo planos, esperando. Morar juntos era praticamente um salto na nossa relação, o que faltaria muito pouco para logo nos casarmos e termos filhos de verdade. Além da nossa cachorrinha, que com a ajuda do Jesse, foi batizada de Doris.

O nosso apartamento, que o Jesse comprou, mas que eu jurei a ele que iria ajudar com as prestação, pois fazia questão; ficava muito mais perto da faculdade do que eu imaginava. Teríamos garagem também para o nosso carrinho. Assim que coloquei meus pés dentro do apartamento vi de cara que deveria ter custado uma fortuna. É praticamente uma cobertura, com vista privilegiada de toda a cidade, dá até pra ver a universidade a alguns metros e o céu também, bem a nossa frente. Além de ser todo imobilizado, com sacada, quartos suficientes, cozinha e sala de estar separados por uma bancada, banheiros com banheira... O Jesse pensou em tudo, até no pequeno estúdio improvisado para a banda ou para quando ele quisesse ensaiar alguma coisa, criar. Pensou também na nossa cachorrinha que tinha espaço suficiente para correr de um lado para o outro entre os cômodos bem arejados e espaçosos.

Enquanto ele mostrava o resto do apartamento para os meninos da banda, fui até a sacada com a Doris, o nome da nossa cachorrinha, peguei o celular na bolsa e resolvi ligar para a mamãe e contar tudo. Ela quase teve um treco do coração, gritou muito eufórica do outro lado da linha e me fez contar pra todo mundo a mesma novidade pelo viva-voz.

As primeiras estrelas começaram a surgir no céu quando o Jesse se aproximou de mim e me abraçou por trás colando seu rosto no meu.

— Cadê os meninos? – perguntei, ouvindo que agora tudo estava muito silencioso. A Doris estava deitada em meus pés tirando um cochilo.

Nos mudaríamos para o novo apartamento nos próximos dias, enquanto isso, ela ficaria aqui sozinha, com comida e água.

— Eles já foram. Mandaram um beijo. – ele disse após me dar um beijinho no pescoço. — Está com frio? Está toda arrepiada.

— Um pouquinho. – confessei sorridente. Motivos para sorrir eram o que eu mais tinha nos últimos anos. — Mas também é você. Eu fico assim sempre que você está pertinho demais de mim.

Sinto-o sorrir, depois ele se afasta, tira o paletó e coloca sobre meus ombros para me proteger do vento noturno.

— Está bom assim? – ele volta a me abraçar. Fico ainda mais contente por poder sentir o perfume dele em sua roupa.

— Não consigo imaginar algo melhor. – viro-me de frente para ele para poder olhar dentro do seus olhos.

Jesse afasta o meu cabelo azul, já em um tom mais escuro que antes, e também maior, perto da cintura; ele fica me olhando por alguns segundos que poderiam durar toda a vida, sorri pra mim e sorrio de volta pra ele, logo depois, já estamos nos beijando romanticamente.

— Quero passar minha vida toda com você. – ele sussurrou entre um beijo e outro. Pausou o beijo e voltou a me aninhar em seus braços.

Eu não sei o que a vida espera da gente. Quando digo a gente se reviro a nós dois. Eu não sei se algum dia ainda vamos nos separar de uma vez por todas ou se o futuro nos reserva outra pessoa. Tenho tentando não pensar nessas coisas. Tenho medo só de pensar que algum dia estarei com outro e não com ele. Não consigo nem me imaginar vivendo uma vida diferente da qual idealizei para nós dois. Eu amo o Jesse, sempre soube disso, sempre quis viver só com ele, mas eu sei, que independentemente do aconteça, estaremos pra sempre marcados um no outro, pois a nossa história é preciosa demais, como uma joia, para ser esquecida rapidamente ou deixar se perder no tempo. Mas que acima de tudo eu devo estar preparada para o que der e vier, pois a vida tem seus altos e baixos, é como uma montanha-russa.

Todos nós merecemos uma segunda chance, uma terceira ou até uma quarta, como o Brandon me disse em sonhos. Quantas vezes forem necessárias até que a gente aprenda o significado da vida, que é tentar ser melhor em cada coisa que fazemos, nem que pra isso seja necessário uma motivação. Assim como o Jesse é pra mim. Mas que acima de tudo, antes de mais nada, devemos gostar de nós mesmo, do jeito que somos, e não só nos arrepender com os erros, mas sim tentar aprender com eles e tentar fazer melhor da próxima vez.

E que quando é amor de verdade vale muito a pena tentar ser o melhor para essa pessoa. Vale a pena cada sacrífico, luta, choro, desespero, esforço, vencer medos, superar os desafios, dar a cara a tapa, fazer coisas que você nunca se imaginou fazendo, deixar os medos para trás e tentar, tentar todo o tempo, até conseguir aquilo que deseja. E se por fim, depois de todo esse esforço, você acabar não conseguindo o que queria... Você vai perceber, uma hora ou outra, que talvez o melhor pra você não seja aquilo que você sempre quis, mas sim, aquilo que você nunca se imaginou querendo. No final, vale a pena se surpreender consigo mesmo.

Algumas vezes, enquanto tento dormir, fico pensando em como será o rostinho dos nossos filhos e quero que eles sejam parecidos com o Jesse. Gosto de imaginar ele segurando nosso bebê no colo tentando acalma-lo ou fazê-lo dormir, gosto de imaginar ele sendo o melhor pai do mundo ao jogar bola com o nosso filho no quintal da nossa casa, gosto de imaginar ele todo cuidadoso tentando pentear o cabelinho da nossa filha. São esses pensamentos que me fazem querer que o tempo passe depressa e chegue logo nessas partes. Como avançar no controle em um filme. Mas de repente, percebo que está bom assim por enquanto, devagarzinho, vivendo um dia de cada vez como se não esperasse nada do futuro além de poder estar com ele. Vivendo e degustando cada momento como se fosse único.

— Quer jantar comigo essa noite? – ele fez o pedido. E eu aceitei.

Fechamos a porta do nosso apartamento tendo que deixar Doris para trás com o coração apertado. Mas ela precisava confiar em nós, pois voltaríamos nos próximos dias com a mudança, seria ali ao lado dela, que passaríamos os próximos anos tentando ser uma família feliz.

Conversamos animadoramente seguindo a pé até o restaurante não muito longe dali. O Jesse me contanto cada detalhe da viagem dele com os meninos e os shows que eles fizeram para tantas pessoas, provavelmente o maior público para quem eles já tocaram. Não tinha como não me empolgar junto com ele ou ficar animada com a ideia de que dali em diante a nossa vida seria assim. Tentando a todo tempo conciliar nossas carreiras, nossas diferenças, escolhas, nossos ideais em nome do amor.

Antes de entrar naquele luxuoso restaurante que o Jesse garantiu que eu como sua princesa merecia só o melhor, eu vi uma espécie de miragem, uma sombra, algo que pensei ser só da minha imaginação, precisei piscar duas vezes para poder acreditar no que via mais à frente.

O Brandon, todo sorridente, olhando para mim, olhando para nós.

— Ei, o que foi? – o Jesse perguntou ao sentir meu corpo se enrijecer. — Não quer entrar nesse restaurante? Quer escolher outro?

— Não é isso. – não conseguiria tirar os olhos do Brandon que mesmo sem o som sair de sua boca estava tentando me dizer algo que eu entendi ser: Não tenha medo do futuro. Eu estarei sempre com você. — É que eu estou vendo o Brandon.

Sei que qualquer outro namorado teria ficado com ciúmes daquilo ou irritado, ou até mesmo não acreditado em mim. Mas para o meu alivio, o Jesse é a melhor pessoa que já conheci depois do Brandon.

— Eu sei. – ele disse me fazendo olhar pra ele. — Ele está aqui por você, por nós. Está aqui pra te proteger, pra te guiar. E eu só tenho a agradecer a ele por cuidar de você quando eu não puder estar por perto.

Faço dele as minhas palavras, ouço a voz do Brandon agora na minha cabeça.

A minha história não termina aqui.

Ela só começou a partir do momento em que a outra chegou ao fim mesmo de maneira trágica. O que eu aprendi com isso? É que mesmo na dor, somos capaz de amar outra vez. Basta acreditar. Há sempre um alguém capaz de preencher o vazio em nossos corações. O meu alguém é o Jesse. Mas também não posso me esquecer que esse alguém, um dia, já foi o meu Brandon.


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Notas finais do capítulo

Bom, então é isso. Novamente agradeço a todos e digo que realmente valeu a pena cada segundo. Alguns de vocês vão parar por aqui, já outros - talvez - vão querer continuar. Para aqueles que vão parar por aqui: Tchauzinho. Um beijão do fundo do meu coração. Valeu por tudo. E para aqueles que vão continuar: Vamos em frente. Se você gostou e tiver interesse, eu vou continuar escrevendo - já que é tudo que eu mais sei fazer e mais gosto de fazer - dá uma olhadinha na minha próxima história (Quando Tudo Aconteceu ) quem sabe até você se interesse. Beijão a todos! FIM.