Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 62
Futuro


Notas iniciais do capítulo

O capítulo final antes do Epílogo. Dedico esse capítulo inteiramente a...
LillianBarreto por estar sempre comigo em todas as minhas histórias.
Liliseries pela recomendação linda que você fez. Obrigada!
thelorde pelo comentário enorme que fez meu coração dar pulinhos.



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"Afinal, aquilo que amamos sempre será parte de nós."

Antes de sair, apenas avisei a Amy, caso meus pais acordassem e perguntassem por mim. Ela ficaria com a função de inventar qualquer desculpa. Percebi que meu irmão também estava bem animadinho aquela noite, imaginei se ele não acabaria convencendo a Amy que aquele era o momento certo para eles darem um passo a mais na relação.

Entrei no quarto do Jesse e não o vi. Acabei ouvindo o barulho do chuveiro ligado no seu banheiro. Apenas tirei a roupa e fui me encontrar com ele, pois sabia que ali era o lugar certo para encontra-lo.

— Eu só estava te esperando. – ele me puxou pela cintura quando eu me aproximei do boxe transparente do banheiro.

Naquela madrugada, aproveitando a casa só para nós sem que ninguém soubesse disso, fizemos algumas loucuras amorosas. Coisas que nem eu, muitos menos ele, tínhamos feito até então. Acabei me divertindo muito, demos muita risada, mas acabou que deu muito certo. E quanto deitei finalmente na cama ao lado dele, acabei dormindo na mesma hora.

Só quando acordei, com a luz do dia entrando pela janela aberta, foi que me lembrei que hoje completaríamos dois meses de namoro. Mas a essa altura do dia, eu já estava sozinha naquela imensa cama, e me senti muito pequena. O cheirinho de café da manhã me levou até o andar debaixo, onde o Jesse preparava algo para nós.

— Feliz dois meses de namoro! – ele me beijou, mesmo sem camiseta e só de bermuda, com um avental branco em volta da cintura.

Não havia presente melhor no mundo do que me sentir em casa.

Quando voltei para a minha verdadeira casa, temi o que eu já imaginava que me esperava, meus pais. Entrei, falei com eles e eles falaram comigo de volta. Mas não fizeram perguntas e nem disseram nada, apenas sorriram. Suspeitei se eles sabiam onde estive a noite inteira e com quem estive. Com certezas eles sabiam, mas resolveram não dizer nada.

No domingo meu irmão e a minha melhor amiga iriam viajar para outro estado, uma nova vida e uma começo de uma longa jornada. Ao menos, estavam juntos e poderiam contar um com o outro. No aeroporto, em meio ao chororô, fiz questão do meu irmão prometer que cuidaria da Amy e ela dele. Eles prometeram. E isso me deixava um pouquinho mais feliz. Afinal, eu não saberia dizer quando os veria novamente.

Pelo menos eu ainda tinha o Jesse, só não saberia dizer por quanto tenho. O tempo estava cada vez mais curto para nós dois também. A mamãe, no dia anterior foi com o meu pai no internato buscar meus últimos papeis e quando voltaram, ela ligou para a universidade que tinha me aceitado e conversou com eles pra saber de mais detalhes. Minhas aulas começariam no dia quatro de Setembro.

As folhas já douradas ou em tons amarronzadas começaram a cair do alto das árvores com a chegada do outono.

— Você nem parece feliz pra quem está prestes a ingressar na faculdade. E melhor, fazendo o que você gosta! – o Jesse ainda tentava me fazer sentir melhor. Mas nem ele, nem sempre, conseguia.

Isso dependeria só de mim, só que eu não conseguia, apesar de todos meus esforços.

— Como eu posso ficar feliz? Meu irmão e minha única e melhor amiga a uma hora dessas já estão a quilômetros de distância daqui, e eu nem sei quando vou poder vê-lo outra vez. Meus pais não sabem se estão tristes ou felizes por nós, logo agora que somos uma família de verdade. E eu, vou entrar em uma nova etapa da minha vida, da qual você não vai fazer parte. Jesse, eu estou desolada!

Ele me abraçou, todo carinhoso, o que só aumentou ainda mais a minha vontade de chorar.

— Não diga isso! Ainda não é certeza de nada. Veja as coisas pelo lado positivo: não importa a distância, sempre pertenceremos um ao outro de alguma forma. Lembra? Ficamos tanto tempo separados, quase um ano, e superamos isso. Olha só pra gente agora... Estamos juntos. E ninguém vai nos separar! Acredite em mim.

Eu queria muito acreditar. Mas agora, infelizmente, as coisas eram diferentes. Eu suportei sim, por quase um ano, o fato de não podermos ficar juntos o quanto queríamos por muitos motivos. Só que ao menos naquele tempo, que parece a uma década atrás, eu e ele estudávamos no mesmo colégio, morávamos de baixo do mesmo teto e convivíamos juntos vinte e quatro horas por dia. Mas como seria dali em diante? Com ele aqui, ou sabe-se lá onde, e eu lá, a duas horas e meia de distância, cercada de gente nova por todos os lados e muitos outros desafios. No mínimo, quando precisasse dele, poderia ligar. Mas não poderia abraça-lo, toca-lo ou senti-lo, ele estaria distante de mim tanto quanto o Brandon está.

Será que seriamos mesmo capazes de superar isso?

Nos últimos dias, não desgrudei dele nem por um momento, só mesmo pra ir ao banheiro, o resto fazíamos tudo juntos: dormir, comer, sair, assistir a tevê, eu ficava olhando pra ele tocar pra mim, conversar com as outras pessoas, até mesmo falar ao telefone com a Amy e meu irmão sobre como era a universidade deles, a nova rotina, os colegas de classe, os dormitórios ou as festinhas de fraternidades. Eu só queria aproveitar ao máximo esses poucos dias que ainda tínhamos para ficar juntos.

— Você não acha que está exagerando um pouquinho? – tia Jenna mal chegou da viagem de lua-de-mel e já estava fazendo a mudança para a casa de Alexander. Que agora já não estava mais sozinho e eu ele poderíamos nos considerar “amigos.” — Lembra da história que te contei? Passaram tantos anos, tivemos tantos desencontros, despedidas, outros relacionamentos e por fim, nos encontramos, casamos e agora estamos finalmente juntos como eu sempre desejei desde o início. Uma boa história de amor precisa dessas coisas para sobreviver. É uma questão de aprendizado. Você não ter que conviver com a ideia de que vai ser pra sempre e que vai durar a vida inteira! Vocês só têm dezoito anos Hayley, pense só quanto tempo ainda tem pela frente até vocês descobrirem o que realmente querem pra vida de vocês.

— Você não entende! Você não sabe de nada! – fiquei muito furiosa, por ela estar me dizendo tudo aquilo justamente agora que eu não estava nada bem. — As coisas pra gente não tem que acontecer necessariamente como aconteceu entre você e Alexander! O nosso sentimento é pra sempre. Temos certeza do que queremos. E o que queremos é viver juntos pelo resto da vida! Não importa quanto o tempo passe, ou o que ainda vai vir ou o que nos espera. Sempre estaremos juntos! Sempre!

Saí chorando, me trancando no meu próprio quarto e desejando muito que a Amy ainda estivesse por perto para me ajudar com esses meus conflitos internos. Mas agora tudo parecia tarde demais para qualquer coisa que eu quisesse ou tivesse em mente.

Por um momento desejei jogar tudo pro alto e desistir de tudo.

— Hayley, querida. Abra a porta! Precisamos conversar. – era minha tia de novo. Agora com outro tom de voz. Parecia mais calma, algo na voz dela fez com que eu tivesse coragem de ir até a porta para abrir para ela entrar. — Posso mesmo entrar?

Fiz que sim. Ela entrou e se sentou comigo.

— Desculpe pelo que eu disse. Você tem razão! Não precisa acontecer com vocês da mesma forma. – ela surpreendente me abraçou. — Me perdoe, eu acabei falando por falar. Achei que você entenderia. Mas é que eu acho lindo, sabe? Esse amor de vocês! É tão jovem, cheio de vida, altos e baixos, e vocês têm sempre forças para lutar pelo que querem, e eu meio que, senti inveja de vocês por isso. Sei que vocês nem sempre deram certo desde o início... E que agora que estão juntos são capazes de qualquer coisa para preservar esse amor. Eu entendo. Como entendo! Mas saiba, que o que parece ser o fim pra você, pode ser apenas o início. Com a força que o amor de vocês tem, serão capazes de chegar a qualquer lugar, desde que desejem isso juntos. Sei que foram feitos um para o outro, sei que foram feitos para durar.

Dessa vez, eu quem a abracei com toda a minha força.

— Não se preocupe tanto. – ela disse por fim, dando um beijo na minha testa e me deixando sozinha no quarto.

Lutando contra o meu próprio choro, por não ter certeza de que as coisas realmente dariam certo algum dia, tive que fazer as malas para a minha mudança. Papai me levaria no seu carro amanhã de manhã.

Senti que nesse meu último dia em casa, apesar do esforço que estava fazendo para não chorar diante dos meus pais, o Jesse quase não apareceu em minha casa. Acho que ele estava evitando olhar pra mim, ou evitando ver meu sofrimento. Ou até mesmo, evitando se despedir.

— Porque você não veio até agora? – perguntei quando ele finalmente atendeu a porcaria do celular.

— Não se preocupe. Eu vou amanhã com seu pai e com você no carro. Agora estou ocupado com umas coisas. Desculpe.

Que outras coisas eram mais importantes que a nossa despedida?

Mal consegui pregar os olhos aquela última noite, olhando em volta, observando cada detalhe e tentando armazenar na minha memória. Outra vez, também chorei bastante, quase me sentindo esgotada. Me perguntava de onde saia tanta água. Aquele sofrimento todo realmente valeria a pena no futuro? Eu estava completamente decepcionada com a vida por ela me enganar tanto, sendo tão boa por pouco tempo, e depois, sendo tão cruel por mais tempo ainda. As coisas não eram em nada como eu queria.

O grande dia – ou nem tanto – finalmente chegou. Estava exausta, nem havia conseguido dormir. Com a ajuda do meu pai coloquei todas as minhas coisas no carro. Tentei aproveitar ao máximo as últimas horinhas com a minha família, mas não conseguia tirar alguém especifico da cabeça: o Jesse. Qualquer um saberia se me conhecesse.

— Cadê ele? – Papai perguntou. Eu já estava dentro do carro após me despedir da minha mãe, da minha tia, que ficaram chorando para trás, e de Alexander que parecia realmente verdadeiramente feliz com sua nova vida. Pelo menos alguém deveria estar feliz. — Dessa jeito vamos atrasar.

Segundos depois após ter mencionado o nome dele, lá vinha o Jesse, da casa de Alexander, correndo em direção ao carro com alguns bagagens em mãos. Apesar de achar bem estranho aquela cena, saí imediatamente de dentro do carro, pronta para mata-lo, pelo menos assim, depois, me sentiria no mínimo realizada por ter feito o que achei ser certo.

— Onde você se meteu? Porque não apareceu antes? E pra onde você vai com essas coisas?

Eram bolsas. Poucas. Mas eram dele, logo identifiquei.

— O que você acha? – ele me olhou com aquele sorriso deslumbrante que mandou minha raiva embora rapidamente e os olhos âmbar dos quais eu jamais esqueceria. — Estou indo com você.

— Sim. Eu sei. - olhei pra ele confusa passando a mão pelo cabelo que deveria estar um caco. — Mas você não precisa...

— Sim. Eu preciso. – ele me interrompeu. — Pensou mesmo que iria se livrar de mim facilmente? – não estava entendo. — Vai ter que me aturar por mais quatro anos! – ele abriu a porta de trás do carro, jogando lá atrás suas poucas coisas. Apenas observei atordoada. — Preparada? Porque eu estou! Mal posso esperar para chegar na universidade e...

— Calma aí. – interrompi-o. Sentindo as lágrimas outra vez tomarem contas dos meus olhos. Ultimamente eu chorava demais, estava mesmo muito sensível com essa coisa de amor. — O que você está falando?

— Minha carta de aprovação chegou um pouco depois da sua. Atrasada, mas chegou. Também fui aprovado! Vamos ingressar juntos na mesma universidade de Artes. Vou fazer música. Pensou mesmo que eu ia desistir do meu sonho de ficar perto de você e fazer o que eu gosto?

Não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu já estava começando a sentir que iria cair dura no chão que nem pedra a qualquer momento se não me segurassem a tempo. Minhas pernas estavam bambas e meu corpo todo suando frio. Como se tivesse acabado de ver um fantasma.

— Eu te amo! Esqueceu? Eu não posso mais viver em um mundo do qual você não faça parte. – ele me beijou rapidamente só pra me despertar do meu estado de choque.

Dei um último aceno para a minha família que ficou para trás, prometi que ligaria assim que pudesse. Entrei no carro, meu pai já estava esperando, olhei para o banco de trás me certificando de que o Jesse estava mesmo indo com nós, mais especificamente, comigo. E que aquilo não era só um sonho. Era mesmo real.

E lá fomos nós. Rumo a universidade, rumo ao nossos sonhos, rumo a uma nova jornada de nossas vidas, rumo aos primeiros passos para o futuro, que juntos construiríamos, tijolinho sobre tijolinho, até finalmente temos o nosso próprio palácio e vivermos felizes para sempre.


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Notas finais do capítulo

Foi com o coração apertado que eu escrevi esse capítulo... Vejo vocês na grande final ♥



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