Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 18
Punição


Notas iniciais do capítulo

Hayley voltará mais cedo para casa esse final de ano.



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"O que mais me encanta em você, é a tua capacidade de me enlouquecer."

Com a neve lá fora não há outro lugar para ficarmos juntos em privacidade fazendo o que gostamos e o que é proibido. Não há escolhas além de tentar subir o muro e entrar pela janela do quarto dele.

Tyler me ajuda na escalada, segurando firme minha mão.

Quando chego ao parapeito de sua janela me sinto mais segura e jogo as pernas para dentro do quarto, girando o corpo, para tocar o chão com os meus pés. Tyler me pega nos braços. Ele é bem mais forte do que aparenta ser. Me segura facilmente como se eu fosse um bebê e ele o pai.

O contato de seus olhos penetrantes dentro dos meus fazem com que uma chama se acenda em meu peito. Como se ele pudesse me hipnotizar, ainda mais, depois de sorrir perfeitamente do jeitinho que ele sabe bem fazer todo charmoso.

Beijo-o com vontade, ainda agarrada ao seu corpo. Com um rápido movimento me endireito, para senti-lo melhor e entrelaço minhas duas pernas em sua cintura. Puxando-o para mais perto de mim.

Tyler pausa nosso beijo, olhando-me com ardor, em seguida, em menos de segundos, ele me joga sobre uma das camas. Meu coração acelera quando o sinto subindo em cima de mim, sem soltar muito o peso do corpo para não me machucar. Ele afasta meus cabelos do rosto e dos olhos e volta a me beijar calorosamente.

Está tudo muito bom, mas quando sinto que as coisas estão indo longe demais, tenho que parar ou pelo menos diminuir o ritmo para não magoa-lo. Mas sei que ele entende. Porque sabe o que eu quero e não quero pra mim. Tyler não é do tipo que força a barra.

Sentamos lado a lado com as costas encostadas na cabeceira da cama. O quarto está uma bagunça, mas pelo menos, só há nós dois pelo resto da tarde. A porta está trancada e a janela aberta. Quando falamos um com o outro a fumaça, causada pelo frio, sai de nossas bocas.

Temos uma ideia.

Tyler corre até o guarda-roupa espalhando algumas roupas pelo chão enquanto procura por algo. O maço de cigarros escondido por ali. Quando o encontra ele abre um largo sorriso me fazendo sorrir também. E volta a se sentar ao meu lado me passando um cigarro e o isqueiro.

Amy superou bem o romance de Jesse e Alexa, mas sei que algo dentro dela, ainda não consegue aceitar totalmente que é outra em seu lugar. E isso realmente me incomoda, pois me sinto culpada de certa forma por não tê-la ajudando ao ponto de fazer dá certo. Tudo que ela sempre imaginou e desejou entre ela e Jesse.

Estamos jantando aquela noite, só nos quatro: eu, Amy, Natalie e Eric em uma das mesas mais afastadas. Nath e Eric falam o tempo todo e trocam carinhos. Minha mente está distante, não escuto nada, mas também não sei no que exatamente estou pensando. Mas sei que Amy não para de olhar para a mesa de Jesse, onde ele está com Alexa, colocando comida na boca dela. O que é romântico e exagerado ao mesmo tempo.

— Não se tortura tanto. – cutuco-a com uma cotovelada. Ela sorri sem jeito, desviando o olhar e voltando-se para seu prato ainda intocável de comida. — Coma alguma coisa. Não quero que adoeça.

Amy solta um risinho.

Falei como uma mãe. Venho me surpreendendo muito ultimamente com minhas próprias atitudes. Gosto muito mais da Amy do que um dia cheguei a acreditar que gostaria. A amizade que cresceu entre nós duas faz com que eu me sinta no dever de cuidar dela como uma irmã mais velha.

— Você vai mesmo passar alguns dias lá em casa nesse final de ano?

— Vou. Claro que vou! – ela fala com o mesmo desdém que Tyler falou comigo alguns dias atrás. — E você sabe por quê.

Sim, eu sei. Porque ela me contou na noite passada enquanto estávamos de bobeira sem conseguir dormir enquanto Nath falava ao telefone com Eric, debruçada sobre a janela, mesmo praticamente morando de baixo do mesmo teto que ele.

Amy não conhece o pai. E nem quer conhecer. Tem por ele uma apatia enorme. A mãe pirou desde que o marido se foi. A mãe de Amy tem crises, na maior parte do tempo, problemas psicológicos. Ela não se sente bem, sente-se inferior, como se nunca fosse o suficiente para nada e nem para ninguém. E isso prejudicou em muito o relacionamento dela com a própria e única filha. Amy sente muito pela mãe, mas não é forte o suficiente para atura-la se torturando sempre que tem suas crises. Com isso, ela é sempre internada. Mas não consegue se tratar.

— Não tem problema, tem? – ela perguntou, olhando pra mim.

— Claro que não! Só não espere encontrar uma família perfeitinha igual as dos comerciais da tevê. Na minha casa não é nada disso. Vai se preparando. Não tenho uma boa relação com meus pais.

Limito-me a falar mais sobre isso. Quero que ela veja com os próprios olhos para não achar que eu estou exagerando. Porque digo a verdade.

Jogo o capuz sobre a cabeça, tentando esconder meu cabelo desalinhado que não foi penteado essa manhã antes de entrar na aula e minha cara de sono de quem não pregou os olhos a madrugada inteira com medo de ter pesadelos que vêm, geralmente, sem avisar.

Acabo de fazer uma prova e por isso saí mais cedo da sala com a autorização do professor para não atrapalhar os demais. Sei que não fui completamente bem, mas dei meu jeito. Apesar de ter sido a primeira a entregar e sair da sala.

Como acordei atrasada aquela manhã, vou aproveitar esse tempo livre antes da próxima aula começar para comer alguma coisa na cantina, qualquer coisinha para tapar o buraco no estomago. Mas quando as coisas querem dá errado, elas fazem o favor de complicar ainda mais a situação.

Alana esbarra em mim me fazendo perder o equilíbrio. Sei que foi de proposito. E ela vai me pagar por isso. Pois há muito tempo, desde que beijei Andrew na cara dela, venho fingindo que não me importo com sua existência. Mas agora, ela reativou meu ódio por ela. Não tem como ignorar algo assim quando a outra pessoa faz de proposito, só para te contrariar. Ela realmente quer me ver fora de mim e ela conseguiu.

Sem dizer nada, após ganhar o equilíbrio outra vez, apenas a empurro com toda minha força contra a parede do corredor. Não há sinal de mais ninguém além de nós duas. O que me favorece. Estou tão irritada que seria capaz de arrancar todos seus dentes agora mesmo.

Vendo a fúria em meus olhos ela realmente parece assustada.

— Não ouse a tocar mim outra vez. – grito alto.

Para a minha surpresa, ela riu monstruosamente como quem não acredita no que digo. Mas deveria acreditar.

— Nem chegue perto de mim outra vez!

Ainda a segurando com uma das mãos, com a outra, seguro forte seu pescoço, espremendo-o como se fosse uma laranja. Deixando-a se ar, sufocada. Deixando as marcas dos meus dedos em sua pele bronzeada, como no dia em que fiz o mesmo com Jesse.

— Vadia! Me solta. – é tudo que ela consegue dizer com a voz falha.

Em um movimento muito rápido ela consegue se desvencilhar de mim, mas não consegue me prender como eu a prendi agora a pouco. E caímos as duas no chão, agarradas uma a outra, feito duas selvagens. É a primeira vez que estamos nos atacando pra valer.

— Não toca no meu cabelo! – ela berra, vermelha feito um pimentão enquanto puxo com vontade mechas dos seus cabelos louros tingidos.

Estou prestes a mata-la. Que apareça alguém para salva-la, antes que seja tarde demais para ela. Bato em seu rosto, puxo seus cabelos e dou joelhadas em suas pernas e costelas. Ela é mais alto que eu, mais corpuda e parece mais forte. Mas a raiva que sinto dela me faz maior a cada segundo que a esfolo.

— Hayley, não! Para! – finalmente alguém aparece. Pro meu azar, já que estava tão pertinho de acabar com a vida daquela garota, exatamente como ela tentou fazer comigo na piscina. Disso nunca esquecerei.

Não vou parar, mesmo que me peçam. Estou levando a melhor e só saio de cima dela quando a vaca loura estiver inconsciente.

Jesse me puxa pelo braço. É ele, o tempo todo tentando atrapalhar meu plano de mata-la. Porque ele apareceu justamente agora? Isso me deixa ainda mais irritada e tendo me soltar dele. Quando sou pega em cheio por um chute no rosto. Sinto-me tonta, além de desafiada.

— Me solta, Jesse! Me solta! Vou mata-la.

A gritaria entre nós é tão alta que logo aparece outras pessoas, muitas delas apreciando o espetáculo de pertinho. Não demora muito para alguns inspetores ajudarem o Jesse a nos conter.

— Porque você faz isso? – ele me puxa pra longe dali. Antes que eu seja arrastada até a direção do internato. Mas não há nada que ele possa fazer, pois uma hora ou outra irão atrás de mim para me punir.

— Ah, por favor, para com isso. – grito mais alto que ele, com as veias saltitando pelo pescoço e pelos braços. — Me solta! Me deixa em paz.

— Hayley, para você! – ele grita ainda mais alto, como se fosse meu pai. Ainda me puxando para cada vez mais longe. — Você não precisar ser assim. Não vê que prejudica a si mesma tentando parecer valente...

Paro no mesmo instante, me virando pra ele, percebendo que há arranhões em seu rosto. Provavelmente fui eu ou aquela vaca loura enquanto ele tentava nos separar.

— Não estou tentando parecer valente. E qual é o problema de querer ser eu mesma? – fuzilei-o com os olhos. — Estava mais que na hora daquela vaca loura aprender uma lição!

— Hayley – ele revirou os olhos. — não estou me metendo para o seu mal. Estou me metendo para o seu bem! Não é certo uma menina atacar a outra e sair rolando pelo chão dessa forma...

— Você está sendo ridículo! – odiei o fato de ele estar sendo machista. Logo o Jesse. Isso eu não esperava. — Ridículo!

Gritei a ultima frase, como se estivesse cuspindo no rosto dele e sai batendo o pé, antes que a minha raiva fosse descontada nele e sua estupides.

Amy me encontrou rapidamente e estava prestes a chorar – o que foi muito exagerado da parte dela – quando viu meu rosto todo marcado e vermelho. Sem me escutar, ela me arrastou até a enfermaria e praticamente fez um escândalo para que cuidasse de mim o quanto antes. Como se eu estivesse prestes a morrer.

— Porque você fez isso, Hayley? – ela estava cuidando de mim como se eu tivesse acabado de sair de um ringue. Derrotada, caindo aos pedaços. Mas eu nunca me senti tão forte.

— Não vem com essa, Amy. Não você. Basta o Jesse metendo o nariz onde não é chamado.

Joguei-me em minha cama não sentindo dor alguma, apesar de além de ter batido, também ter apanhado. Foi uma luta justa. Amy saiu do quarto preocupada, disse que ia pegar algo pra eu beber e me acalmar.

— Você foi demais! – Tyler entrou no meu quarto como uma bomba, todo saltitante e sorrindo de orelha a orelha como se eu fosse um filho por quem ele se orgulhava. — acabou com ela.

— Não exagere. Mas eu cheguei perto disso.

Tyler começou um falatório do quanto eu era demais, corajosa, forte, valente e impiedosa. Cheio de elogios sem fim. Ele relatou também o estado de Alana que foi amparada pelas amiguinhas. Não senti um pingo de dó, como ela não sentiria de mim.

— Srta. Collins? – a mulher baixinha de cabelos vermelhos entrou no quarto e imediatamente abriu a boca, surpresa. Certamente ela estava ali para me convocar até a direção, mas acabou se deparando com Tyler no meu quarto, o que é proibido. — Sr. Willis, posso saber o que faz aqui?

Fiquei um bom tempo aguardando ser chamada, enquanto a estupida da vaca loura já estava lá dentro, falando com a diretora. Provavelmente mentindo sobre como tudo aconteceu. Jogando a culpa toda sobre mim como se não tivesse sido ela começado a briga.

— Hayley Collins, entre.

A voz veio de dentro da sala com a porta deixada aberta pela vaca loura que ao sair me encarou feio como se me desse medo.

— Sente-se e se justifique.

Passei meia hora relatando como tudo aconteceu, desde o principio, a minha raiva pela vaca loura e a dela por mim. Simplesmente não nos batemos e não nos damos bem. Não é algo que eu consiga explicar. É algo que simplesmente aconteceu desde a primeira vez que nos cruzamos pelos corredores. Minha apatia por ela foi instantânea antes mesmo dela fazer qualquer coisa contra mim e ainda mais depois.

— Como punição, você voltará pra casa mais cedo que os outros.

Meu queixo caiu.

— Seus pais já estão a caminho daqui. Arrume suas coisas.

— Está querendo dizer que estou sendo expulsa? Mas e a vaca loura ficará impune? – levantei-me, alterando o tom de voz. — Quero dizer, desculpe Sra. Beaufort...

— Não piore ainda mais a situação, Hayley. – o olhar dela é duro e ela é fria. Completamente impiedosa. Mas eu não precisava da piedade dela e nem de sua solidariedade. — Eu só disse que você vai voltar pra casa mais cedo esse fim de ano.

Enquanto arrumo minhas coisas com mau-humor, socando tudo dentro da mala, ouço Amy em vão, me fazendo centenas de perguntas.

— Não, Amy. Eu vou voltar. Não se preocupe. Nos veremos em breve. Só vou pra casa mais cedo. Infelizmente, vou ter que aturar meus pais por mais tempo que eu gostaria.

Ela ia me ajudar com a mala que contém grande parte das minhas coisas ou as que eu realmente precisaria. Mas fomos pegas de surpresa na porta do quarto quando Oliver apareceu nos cobrindo como uma sombra.

— Deixa, eu pego isso.

Não sei se ele estava tentando impressionar a Amy, mas estava sendo gentil e normalmente ele não é. Com ninguém.

— Vou deixar vocês a sós. – Amy disse assim que chegamos à sala de espera. Ainda vazia. — Tchau, Hayley. Se cuide. – ela me abraçou. Tive que abraça-la de volta. — E, por favor, não dê trabalho aos seus pais antes que eu chegue lá para colocar um pouco de juízo nessa sua cabeça – nós rimos. Nós duas. — Até a próxima semana.

E ela se foi, deixando-me sozinha com Oliver.

— Ela vai lá pra casa no feriado? – ele arqueou uma das sobrancelhas pretas e bem delineadas. Sobrancelhas de dar inveja em qualquer garota. Inclusive em mim.

— Vai sim, por quê?

— Nada. – ele colocou minha mala no chão, aos meus pés. Mostrando indiferença. — Eu vou voltar, antes que eles cheguem e mamãe queira me abraçar. Tchau, até mais.

Sentei-me em um dos largos sofás escuro. Esperando meus pais para me levarem para casa. Há um bom tempo eu não os vejo, mas certamente, nada mudou.

— Então, esse é o seu castigo?

Tentei não olhar pra ele.

— Sai daqui, otário.

— Hayley... Eu...

— Sai daqui.

Jesse pareceu realmente aborrecido por minha grosseria. Tanto que não ousou a dizer mais nada, mas valeu a tentativa dele tentar concertar as coisas antes de eu ir embora. Levantou-se e se foi sem olhar pra trás.

— Ainda bem que cheguei a tempo! – Tyler correu em minha direção, ajoelhando-se aos meus pés e me puxando para um abraço.

— Calma, Tyler. – eu ri. — Isso não é um adeus.

— É como se fosse. – ele riu também. — Já não consigo mais me imaginar sem você, Hayley. Sério!

— Não me faça chorar. – ironizei. Mas então, percebi que ele não gostou da “piadinha.” — Ah, desculpe. Eu não quis...

— Tudo bem. – ele sorriu, mas não igual às outras vezes. — Tchau, Hayley. Até algum dia qualquer. Eu vou aparecer.

Mamãe e papai chegaram quinze minutos depois. Mamãe veio pra me abraçar. E por mais estranho à sensação que aquele abraço me transmitia, eu simplesmente abracei-a de volta para não feri-la. Papai apenas me cumprimentou, pegou minha mala e saiu.

— Filha, seu pai está aborrecido com você. – mamãe pegou minha mão para segurar. Não recuei.

Porque ela estava tentando ser legal?

— Porque fez isso? – ela tocou no assunto. Foi como tocar em uma ferida aberta. — Há tanto tempo você não se metia em confusão...

— Mãe, chega. Não vamos falar sobre isso, ta? – chegamos ao estacionamento recoberto pela neve. Papai já nos esperava dentro do carro. — Pense pelo lado positivo: vou voltar pra casa mais cedo.

Forcei um sorriso antes de entrar no carro. Papai deu partido ainda muito calado – o que é um incômodo – e ficamos o caminho inteiro, uma hora e meia, em silêncio. Por sorte, pelo menos, o rádio estava ligado.

Ainda moramos no mesmo lugar desde que me entendo por gente, na mesma rua, no mesmo bairro, na mesma cidade e na mesma casa.

A rua é um tanto vazia, ainda mais quando se está nevando e fazendo muito frio. As casas são todas muito antigas e parecidas uma com as outras. Alinhadas lado a lado com distancia de mais ou menos quatro a cinco metros uma da outra. Os telhados em um formato triangular, as cores claras e janelas e portas brancas de madeira e vidro. Normalmente sobrados com belos jardins, porém agora, tudo coberto pelo gelo. Mas ainda assim bonitos a sua própria maneira.

O interior da minha casa é inteiramente rústico, tudo em madeira e tons neutros. O assoalho também em madeira recoberto por carpetes escuros. Há muitos objetos antigos espalhados por todos os cômodos, coisas que geralmente passaram de geração por geração pela minha família. O papel de parede já está gasto. As cortinas são claras, bem mais discretas. Tudo que lembra muito uma casa no campo. Desde a última vez que estive aqui, parece que nada mudou e nem saiu do lugar.

Peguei minha única mala e arrastei até o segundo pavimento, em direção ao meu quarto, no final do largo corredor. Ao abrir a porta do meu quarto, vi que ali também, nada havia mudado. Estava tudo igual, da mesma forma que o deixei, porém, levemente organizado, em ordem.

Minha cama fica no centro do quarto com suas cobertas brancas de poucos detalhes limpas cheirando a sabão. Na única janela há uma cortina vinho e a sua volta um pisca-pisca colorido daqueles típicos de natal. Em uma das paredes estão todos meus postes de bandas e artistas preferidos. Nessa mesma parede, no centro, há uma televisão média ligada ao meu vídeo game. Na outra parede, onde está minha escrivaninha, meu computador e o rádio, há um varal no alto onde eu penduro fotos minhas de momentos importantes. Do outro lado, perto da porta do banheiro está meu guarda-roupa de madeira escura. Em uma das suas portas há um espelho enorme e largo. Tenho também uma prateleira de discos e coisas importantes que eu costumo guardar, como papeis, objetos, enfeites, essas coisas. No chão há um carpete aveludado e pufes escuros combinando com toda a decoração do ambiente que eu mesma decorei.

Não há ursinhos, bonecas, borboletas, ou coisas meigas e bonitas que geralmente as meninas gostam. Nada cor-de-rosa. Nada que me faça lembrar-se de Brandon assim que bater meus olhos. Tudo o que um dia nos pertenceu está guardado, onde ninguém nunca vai encontrar – em um baú de baixo da cama e em algumas gavetas do guarda-roupa – assim evito a tristeza da sua falta e as perguntas que normalmente as pessoas fariam ao entrarem no meu quarto.

Joguei-me sobre a minha cama. Exausta. Como se tivesse passado mais de cinco horas ou dias viajando até aqui.

E pela primeira vez, dentro do meu próprio mundinho, estava internamente agradecida por estar ali outra vez, longe de tudo e todos. Isolando-me e fugindo dos problemas. À vontade comigo mesma.


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Notas finais do capítulo

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