Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 2
Capítulo 2 Sutura




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/42194/chapter/2

Enquanto segurava Jasper, monitorava a mente de todos, esperando outro possível ataque. A cabeça deles estava em grande confusão, no entanto ninguém se descontrolou como Jasper.


 


            Podia ouvir a respiração acelerada de Bella e o seu coração batendo de forma descontrolada atrás de mim.


 


            A primeira voz que ouvi foi a do meu pai, calmo e sério ao mesmo tempo:


 


            - Emmett, Rose, levem Jasper para fora.


 


            Edward – Carlisle “falava” para mim –, passe Jasper em segurança para Emmett, permita que ele e Roseli levem seu irmão daqui. As coisas ainda podem acabar bem, não faça nada de que possa se arrepender. Bella está bem, veja você mesmo. Ele olhou para ela, pude ver o rosto dela em pânico, pálido, branco como eu.


 


            Estava dividido entre a fúria e o amor por meu irmão. Mas o que pesou mesmo foi que eu não queria deixar Bella ainda mais assustada, eu não seria digno dela se voltasse a matar. Jamais me perdoaria se machucasse Jasper; perderia o amor de Alice, acabaria com nossa família.


           


            Edward, vou me aproximar. Só irei pegar Jasper e lavá-lo para fora. Não vou chegar perto da Bella, confie em mim. Olhei, então, para Emmett e balancei ligeiramente a cabeça, concordando.


 


            - Vamos, Jasper – falou Emmett.


 


            Jasper lutou com Emmett e Roseli enquanto era arrastado para fora. Gritava em sua cabeça:


 


             Eu a quero, quero o seu sangue! Porém, uma outra parte de sua mente tentava recuperar o controle. Pensava em Alice e em mim, estava envergonhado pela sua falta de controle.


 


            Obrigada. Foi tudo o que Alice conseguiu pensar em seu estado de choque.


 


            Eu me agachei em frente a Bella. Só o que importava era defendê-la de todos, não iria permitir que nada acontecesse com ela. Eu jamais deveria ter tido a ilusão de que isso era certo; levar Bella a uma casa onde moravam sete vampiros foi muita irresponsabilidade de minha parte.


 


            - Eu sinto muito, Bella. – Esme estava consternada, prendia a respiração e tampava a boca enquanto saia para acalmar Jasper.


 


            - Deixe que eu me aproxime, Edward – disse Carlisle. Não se preocupe, filho, não farei nenhum mal a Bella. Estou sob controle, só preciso examiná-la para ver a extensão de seus ferimentos. Isso me distraiu. É claro que Carlisle não a machucaria. Ele nunca perdeu o controle em seus trezentos anos; jamais sentira o gosto do sangue humano. Consegui relaxar um pouco e permiti que Carlisle se aproximasse.


 


            Quando olhei para ela, jogada no chão cheia de cacos de vidro, toda ensangüentada, entrei em choque. O que eu havia feito a ela? Na tentativa de protegê-la, atirei-a contra a mesa que estava cheia de pratos e vasos de cristais; ela caiu e levou tudo para o chão consigo, havia um grande corte em seu braço. Sentia-me terrivelmente culpado.


 


            O olhar em pânico que Bella me dirigia era assustador. Ela tentava manter a acalmar; eu não suportava isso. O natural seria ela estar em pânico, fugir aos gritos, afastar-se de nós. No entanto, permanecia sentada, permitindo que um vampiro a examinasse enquanto ela sangrava. Era bizarro demais.


 


            Era tudo minha culpa. Isso não tinha que acontecer, eu nunca deveria ter voltado de Denali. Jamais a colocaria em risco novamente. Agora não era hora de pensar nisso, minha prioridade no momento era cuidar de Bella; ela estava sofrendo, ela estava com dor.


 


            - Tome, Carlisle. – Alice, estendia uma toalha de banho para que ele estancasse o sangramento no braço da Bella. Alice se sentia quase tão culpada quanto eu, dividida entre ficar ali e ajudar a cuidar de Bella ou correr atrás de Jasper. Não era sua culpa, não foi ela que trouxe Bella para tão próximo do perigo. Bella estava aqui por mim.


 


            - Há vidro demais no ferimento. – Carlisle rasgou uma tira da toalha de mesa e amarrou acima do ferimento no braço de Bella.


 


            Tudo o que eu conseguia pensar era: Minha culpa, minha culpa...


 


            - Bella, quer que eu leve você para o hospital ou prefere que eu cuide de você aqui? – Carlisle perguntou.


 


            - Aqui, por favor – sua voz saiu em um sussurro baixo e tremido.


 


            Alice rapidamente subiu a escada para pegar a maleta de Carlisle, que estava no gabinete.


 


            - Carlisle, é grave? Não é melhor levá-la para o hospital e fazer radiografias, eu a empurrei forte demais... - não consegui terminar de falar. Só Carlisle me ouvia.


 


            Fique tranquilo, filho, é só um corte. Vou sutura-lá e isso logo será esquecido. Não se culpe por nada, foi uma fatalidade. Você agiu certo, como sempre.


 


            O respeito e admiração que Carlisle demonstrava por mim naquele momento me deixavam enjoado. Eu não era a pessoa que ele imaginava, eu não merecia seu respeito, não merecia Bella, não merecia nada. E ele estava enganado, aquilo não seria esquecido; eu nunca poderia me esquecer ou não teria forças para fazer o que é certo.


 


            - Vamos levá-la para a mesa da cozinha – Carlisle me tirou de meus pensamentos.


            Enquanto eu levava o delicado e quente corpo de Bella para a cozinha, meu pai pressionava o braço dela acima do ferimento para que o sangramento estancasse.


 


            - Como esta se sentindo, Bella?


 


            - Estou bem - ela mentiu para Carlisle.


 


            Como poderia estar bem? Em menos de um ano ela já fora atacada por dois vampiros diferentes. Sem mencionar as milhares de vezes em que tive de me afastar dela para que eu mesmo não a matasse. Aquilo iria parar já.


 


            Alice chegou com a maleta, trazendo-a para perto da mesa.


 


            Por favor, Edward, não tome nenhuma atitude antes de conversar comigo. Acalme-se, as coisas podem se resolver de outra maneira. Sei das suas intenções e das suas consequências no futuro de todos, principalmente no seu, meu irmão. Eu também amo Bella, não me obrigue a ficar longe dela também.


 


            Ignorei Alice.


 


            - Pode ir, Edward. – O quê? Bella é completa e absolutamente insana, como eu poderia me afastar dela e deixa-la sofrendo, com dor?


 


            - Eu posso lidar com isso. – Agora eu acabei com o meu estoque de ar, se tivesse de falar novamente iria ter de respirar. Isso não era nada bom. Já estava muito difícil só ver o seu sangue e sentir o seu gosto em minha boca. Se tivesse que respirar, o meu controle teria de ser muito maior.


 


            - Não precisa ser um herói, Carlisle pode cuidar de mim sem sua ajuda. Vá tomar um ar fresco.


 


            Tive que travar todos os meus músculos e me concentrar muito enquanto me preparava para respirar. O ar entrou com uma potência inimaginável, minha garganta estava em chamas. Debatia-me entre o desejo por seu doce sangue, tão próximo, e o desespero de manter viva a razão da minha existência. O gosto do veneno em minha boca era intenso.


 


            - Vou ficar. – Usava frases curtas para poupar o ar e não ter de respirar novamente.


 


            - Por que é tão masoquista? – Ela estava preocupada comigo, isso me deixava louco de raiva.


 


            - Edward, você poderia aproveitar e encontrar Jasper antes que ela vá longe demais. Tenho certeza de que está aborrecido consigo mesmo, e duvido que agora vá ouvir alguém que não seja você. – Carlisle sentia o meu sofrimento, minha luta. Queria me livrar daquele desconforto.


 


            - É – Bella concordou. – Vá falar com Jasper.


 


            - Você podia fazer algo útil – pediu-me Alice enquanto me mostrava como estava o meu semblante. E acrescentou: Não deixe que Bella te veja assim, você vai assustá-la.


 


             Pude ver que Alice também queria que eu fosse atrás de Jasper, ela estava em pânico com a possibilidade de Jasper não querer voltar mais. Ele era muito orgulhoso e estava se sentindo humilhado pelo fracasso. Alice também sabia como era difícil para mim ficar ali. A ligação que tinha com ela era muito forte, ela me conhecia quase tão bem como Carlisle. Por isso mencionou o medo que Bella poderia vir a sentir se me visse assim. Nada era mais importante para mim do que Bella. Alice manipulava como ninguém.


 


            Quando saí de casa, ignorei os pensamentos deles, passei por Esme, Emmett e Roseli correndo. Segui o rastro de Jasper pela floresta. Ele havia ido para o norte. Quando o encontrei, ele estava perto de um grande rochedo, próximo ao precipício. Enquanto me aproximava, pude ouvir os seus pensamentos. Ele estava muito envergonhado por sua fraqueza. Também se sentia arrependido e culpado, indigno de nossa família.


 


            Comecei a falar muito rápido, tinha pouco tempo. Precisava voltar logo e levar Bella de volta para a segurança de sua casa, para longe de todos, em especial longe de mim:


 


            - Jasper, volte para casa. Você simplesmente agiu conforme a nossa natureza, não se culpe por nada. Tudo isso é responsabilidade minha, jamais devia ter me aproximado tanto da Bella. Ela não pertence ao nosso mundo. Vou corrigir isso.


 


            - O quê? Você não pode fazer isso. Ela já faz parte de você, de nós. Como pode pensar assim? As coisas podem ser resolvidas de outra maneira.


 


            - Não existe outra maneira.


 


            - Claro que existe. Eu vou me afastar. Vou me manter longe, Alice vai comigo. Faremos uma longa viagem, ficaremos alguns anos fora. Mas, por favor, não abandone Bella.


 


            - Já me decidi. E eu nunca permitiria isso. Magoaria demais Esme dividir sua família dessa maneira.


 


            - Edward, eu não quero ter isso em minha consciência. Separar vocês dois desse jeito, como vou poder conviver comigo mesmo depois disso?


 


            - Entenda, Jasper. Eu não o culpo por nada. Sempre soube que o meu tempo com Bella seria muito curto. Desde o momento que me rendi ao amor que sinto por ela venho me preparando para deixá-la. E agora chegou o momento. Então, não se aflija por algo que eu sempre soube que iria acontecer. Eu preciso voltar, tenho que cuidar de Bella, levá-la para casa. Aviso a Alice que você vai voltar logo. Por favor, não demore, preciso conversar com todos o mais rápido possível.


 


            Dei as costas para Jasper e corri o mais rápido que pude de volta para casa. Quando cheguei, Alice me esperava.


 


            Obrigada, sei que foi muito difícil para você não machucar Jasper. Entretanto, as coisas não precisão ser assim. Se eu, que amo Bella como a uma irmã, não consigo me imaginar ficando longe dela, como você acha que poderá conseguir? Isso não tem a mínima chance de dar certo. Ela já faz parte de você e você já faz parte dela. Se você a deixar, ambos irão morrer...


 


            - Já está decidido. Falarei com ela, vou me certificar de que ela não cometa nenhuma imprudência. Fique tranquila. – Alice bufou.


 


            - O que está decidido, Edward? - Perguntava Esme. - Você não vai embora novamente, vai? Não há necessidade disso, filho. Nada aconteceu. – Ela veio me abraçar.


 


            - Não se preocupe, mãe, nós vamos ficar juntos. Eu não vou me afastar de você.


 


            - Então o que significa isso? O que você decidiu?


 


            - Vamos conversar isso daqui a pouco, Carlisle já esta acabando de cuidar de Bella. Tenho de levá-la de volta para a sua casa. Volto rápido, não pretendo passar a noite com Bella hoje. Então iremos conversar.


 


            Passei por Emmett, que me um soco no braço. Força, garoto.


 


            Isso até que demorou a acontecer. Nunca escutam a minha opinião, não me levam a sério. Agora por causa dessa garota idiota nossa família corre o risco de ficar dividida.


 


            - Não se preocupe, Roseli, não permitirei que nossa família seja dividida. Eu nunca escuto suas opiniões, pois elas sempre são baseadas no que você considera o melhor para si mesma. Então, não perca o seu tempo fingindo se preocupar tanto com essa família assim.


 


            - Basta! Não quero mais brigas. – Disse Esme, duramente.


           


            Entrei pela porta, a sala estava escura; esperei enquanto meu pai contava para Bella como havia me tornado um vampiro. Eu me lembrava da agonia da transformação.


            Quando ouvi Carlisle se oferecendo para levar Bella, entrei na cozinha.


 


            - Eu faço isso. – Minha voz saiu séria, sem nenhuma emoção, revelando a pedra que era.


 


            - Carlisle pode me levar – disse Bella. Será que ela está com medo de ficar sozinha comigo? Isso nunca aconteceu antes. Chequei sua pulsação, procurando algo de novo. Não encontrei nada.


 


            Eu não me incomodo em levá-la, filho. Acho que você precisa se acalmar e pensar um pouco. Não quer aproveitar e conversar com todos? Sei que Alice e Esme estão muito preocupadas. Pode lhe fazer bem ouvir o que elas têm a dizer.


 


            - Eu estou bem – respondi para os dois. Então olhei para a roupa de Bella, estava toda ensanguentada. Não podia devolvê-la para Charlie naquele estado. –Vai precisar se trocar. Charlie teria um infarto se a visse deste jeito. Vou pedir a Alice para lhe arrumar alguma roupa.


 


            Saí para chamar Alice pela porta dos fundos; pude ouvir Bella interrogando Carlisle sobre minha tensão...


 


            Esme limpava a bagunça na sala.


 


            Bella e Carlisle andavam conversando e rindo descontraidamente. Aquilo era tão surreal, considerando tudo o que acontecera...


 


            - Alice – chamei.


 


            Já sei, vamos.


 


            Voltamos para a sala juntos. Alice levou Bella para cima para procurar uma roupa limpa. As duas conversavam aos sussurros no quarto de Esme. Não me incomodei muito em prestar atenção ao que diziam.


 


            Edward, cuidado, filho. Não tome nenhuma atitude com a cabeça quente. Vamos conversa antes, sim? As coisas não precisam tomar esse rumo. Alice já me contou o que pretende fazer. Por favor, tenha calma. Por mim... – Esme, sempre tão doce... Era imperdoável de minha parte negar qualquer coisa à minha mãe.


 


            - Não posso manter Bella tão próxima do perigo assim. Volto logo, poderemos conversar daqui a pouco. Esperem-me.


 


            Fui para a porta, eles entenderam que eu ainda não estava pronto para conversar.  Em vez de ouvir a preocupação de todos por mim, pensava em como seria melhor para Bella se tivesse se apaixonado por Mike Newton. Ela agora poderia estar em uma festa animada, o pequeno e bobo corte em seu dedo não teria colocado sua vida em risco. Ela estaria segura, feliz.


 


            Bella desceu a escada seguida por Alice. Usava uma blusa quase do mesmo tom de azul que a outra.


            - Leve suas coisas! – Alice pegou os presentes de Bella e colocou em sua mão boa. – Pode me agradecer depois. – Ela sabia muito bem que não veria Bella nunca mais. Eu já havia me decidido. No entanto, Alice ainda tinha esperança de me convencer a mudar de idéia. Debatia-se em seu cérebro procurando uma saída.


 


            Abri a porta, para que ela saísse da casa. Andamos em direção ao carro. Bella andava muito rápido para o seu padrão, devia estar querendo sair logo dali, assim como eu. Abri a porta do carona, ela entrou rapidamente, corri e me joguei na picape. Pude ver que todos me olhavam: estavam preocupados.


 


            Seguimos em silêncio dentro da cabine. Existia uma enorme e diferente tensão, Bella estava tão nervosa quanto eu. Ela falou primeiro:


 


            - Diga alguma coisa. – Sua voz estava tão baixa e irregular, parecia que qualquer coisa podia fazer com que ela desmoronasse de vez.


 


            - O que quer que eu diga? – Como eu podia explicar para ela, se não havia palavras no mundo que pudessem expressar como eu me sentia horrivelmente culpado por essa noite, como eu lamentava profundamente por fazê-la passar por tal situação?


 


            - Diga que me perdoa. – “O quê?” Agora Bella se superou. Perdoá-la pelo quê? Ela era a vitima, ela devia me odiar e não se sentir culpada. Realmente tem algo muito errado com o cérebro dela.


 


            - Perdoar você? Pelo quê?


 


            - Se eu tivesse sido mais cuidadosa, nada teria acontecido.


 


            - Bella, você se cortou com papel, isso não é motivo para pena de morte.


 


            - Ainda é minha culpa.


           


            Não pude me controlar e despejei para fora uma pequena parte de meus pensamentos desta noite.


 


            - Sua culpa? Se você tivesse se cortado na casa de Mike Newton, com Jéssica, Angela e seus outros amigos normais, qual seria a pior coisa que poderia acontecer? Talvez eles não achassem curativos? Se você tivesse tropeçado e caído sozinha em uma pilha de pratos de vidro... sem que ninguém a atirasse nela... mesmo assim qual seria a pior consequência? Você teria sangrado no banco do carro enquanto eles a levavam para o pronto-socorro? Mike Newton poderia ter segurado sua mão enquanto eles a suturavam... E ele não teria reprimido o impulso de matá-la enquanto estivesse por lá. Não tente assumir responsabilidade por nada disso, Bella. Só me deixará mais revoltado comigo mesmo.


 


            - Como é que Mike Newton veio parar nesta conversa?


 


            - Mike Newton parou nesta conversa porque Mike Newton seria uma companhia muito mais saudável para você. – Só de pensar nisso ficava louco de ciúmes. Entretanto, era a realidade. Se eu a amasse de verdade, tinha de deixá-la. Assim, alguém mais saudável para ela ocuparia o meu lugar. Meu peito doía só de imaginar isso; era tão forte a agonia que um humano morreria se a sentisse.


 


            - Eu prefiro morrer a ficar com Mike Newton. Prefiro morrer a ficar com alguém que não seja você.


 


            Ao imaginá-la morta fiquei mais gelado do que nunca. Tive medo que Alice estivesse certa. Uma parte de mim ficou feliz; se aquilo fosse verdade então nunca poderia deixá-la. Mas Bella era humana. Quantas garotas da idade dela não terminam os seus relacionamentos, ficam tristes no começo e depois seguem com a sua vida normalmente? É da natureza dos humanos se curarem quando terminam com namorados. Muito diferente de minha espécie. Quando um vampiro se apaixona, da maneira como eu me apaixonei por Bella, é para sempre. Nunca mais sentiria por ninguém o que sentia por ela. Seria muito mais difícil para mim do que para ela, encontrei consolo nisso.


 


            - Por favor, não seja tão melodramática – disse, por fim.


 


            - Então não seja ridículo.


 


            Ficamos em silêncio o resto do caminho. Quando chegamos à sua casa, as luzes estavam acessas. Charlie ainda estava vendo o jogo. Eu não sabia o que fazer, precisava ir embora; entretanto, queria desesperadamente ficar perto dela.


 


             Terminar com isso de uma vez ou falar com a minha família primeiro? Desliguei o motor do carro sem perceber.


 


            - Vai passar a noite aqui? – Odeio negar qualquer coisa a ela, mas prometi para eles que voltaria logo. Tinha que começar a me separar da Bella, para o seu próprio bem.


 


            - Tenho que ir para casa – como doía negar isso a ela.


 


            - Por meu aniversário. – Esperta!


 


            - Não pode ter as duas coisas... Ou quer que as pessoas ignorem seu aniversário ou não. Ou uma ou outra.


 


            - Tudo bem. Decidi que não quero que você ignore meu aniversário. Vejo você lá em cima. – Alice avisaria a eles que eu iria demorar um pouco para chegar. Talvez fosse melhor assim, todos teriam tempo de se acalmar um pouco. E eu teria a chance de me despedir de Bella melhor.


 


            Bella desceu do carro e pegou os seus presentes com o braço que não estava machucado.


 


            - Não precisa levar isso – falei, sério. Ela nunca me deixava ser cavalheiro; eu sabia que só estava levando os presentes para fingir entusiasmo com o seu aniversário; fazia isso para que eu entrasse. Não precisava daquela cena toda, eu iria entrar de qualquer maneira.


            - Eu quero. – Teimosa.


 


            - Não quer não. Carlisle e Esme gastaram dinheiro com você.


 


            - Vou sobreviver a isso. – Quase caindo e derrubando todos os presentes, Bella desceu do carro; tentava equilibrar tudo no braço bom.


 


            - Pelo menos me deixe levar. Estarei em seu quarto – “pela última vez”, acrescentei mentalmente.


 


            Ela sorriu para mim, com aqueles lindos lábios que eu tanto amava.


 


            - Obrigada. – Bella estava realmente agradecida por passar mais uma noite acompanhada de um mostro. Não resisti ao impulso e lhe desejei “feliz aniversário”, enquanto dava um suave beijo em seus lábios.


 


            Fui para o seu quarto, ela se dirigiu para a porta da frente da casa. Pude ouvi-la conversando com o seu pai, mas estava tão absorto em meus pensamentos que não dei muita atenção ao que falavam.


 


            Com muita dor no coração, comecei a olhar o seu quarto pela última vez, queria me lembrar de cada detalhe. Não que pudesse algum dia esquecer, tinha memória fotográfica, entretanto fui dominado pela nostalgia. Era um quarto muito simples, pequeno, não era em nada parecido com os quartos que tinha com minha família. No entanto, ali eu fui o homem mais feliz que existiu no mundo. Esse era o meu paraíso na terra, aqui tudo de ruim ficava do lado de fora, sabia que quando eu morresse não iria para um lugar bom, não existe céu para vampiros. Mas se pudesse escolher um lugar para ir depois da morte, sem a menor sombra de dúvida, seria aquele quarto.


 


            Ela já estava no banheiro, fazendo coisas de humanos, como ela mesma dizia. Fiquei ouvindo as batidas do seu coração.


 


            - Oi - eu disse quando ela entrou no quarto. Ela estava espetacular com um simples pijama de algodão. Como ela conseguia isso, ficar absolutamente deslumbrante com algo tão sem graça?


 


            - Oi. – Ela veio e se sentou em meu colo. Estava tão quente... Não pude evitar, senti-me completo, o simples toque de sua pele na minha aliviava a dor que sentia. Bella era o meu antídoto contra a agonia – Posso abrir meus presentes agora?


 


            - De onde veio esse entusiasmo todo? – Ela estava tentando me distrair. Não imaginava que não precisava nem falar para conseguir isso. Se ela simplesmente me tocasse, já bastaria...


 


            - Você me deixou curiosa.


           


            Ela pegou o presente que Carlisle e Esme compraram para ela, uma caixa retangular encapada com um papel prateado.


 


            - Permita-me. - Peguei o presente e rasguei o papel. Não queria mais acidentes.


            - Tem certeza de que consigo levantar a tampa? – Estava sendo sarcástica.


 


            Ela tentava fazer graça de uma situação terrível, tentava me fazer relaxar. Será que já imaginava o que ia acontecer? Qual seria a reação dela? Tinha receio de pensar nisso; se ela começasse a chorar, não sei se conseguiria.


 


            - Nós vamos a Jacksonville – ela viu as passagens aéreas.


 


            - A idéia é essa. – Uma idéia que nunca se realizaria. Não estaria com ela. Porém, ela podia ir; fiquei feliz com a idéia. Jacksonville era ensolarada, Bella sentia falta do sol, adorava a mãe; quem sabe não voltaria a viver com ela? Sentia-se culpada por ter de ficar longe de Renée. Só fica aqui em Forks por minha causa. Se eu não estivesse mais aqui, ela voltaria para a mãe.


 


            - Nem acredito, Renée vai ficar louca! Mas você não se importa, não é? É ensolarado, você terá de ficar entre quatro paredes o dia inteiro.


 


            - Acho que posso lidar com isso. – Se pudesse, iria ao inferno com ela, e seria um homem intensamente feliz. Contudo, eu não estaria com ela, não teríamos tempo de viajar juntos. Então, mudei de assunto, não me agradava mentir para Bella. – Se eu fizesse alguma idéia de que você ia reagir de modo assim tão adequado a um presente, eu a teria feito abrir na frente de Carlisle e Esme. Pensei que você fosse reclamar.


 


            - É claro que é demais. Mas vou levar você comigo. – O modo como ela me considerava era ridículo. Só pude rir.


 


            - Agora, eu queria ter gasto dinheiro com o seu presente; não sabia que você podia ser razoável.


 


            Ela colocou de lado as passagens e se inclinou para pegar o meu presente. Eu peguei de suas mãos e novamente abri o pacote, devolvendo-o para ela em seguida.


 


            - O que é? - Ela olhava para o CD sem entender, não tinha capa nem nome de banda.


 


            Eu peguei o CD player na mesinha de cabeceira e coloquei o cd para tocar. Imediatamente a melodia que havia feito para ela, a sua canção de ninar, tomou o quarto.


 


            Enquanto observava sua reação, esperando um sorriso, seus olhos foram se enchendo de lágrimas, até que ela rapidamente as secou na esperança de eu não ter notado. Apavorei-me, ela devia estar sofrendo muito. Como sou insensível, esqueci-me completamente de seu ferimento! O braço dela devia estar latejando...


 


            - Seu braço esta doendo?


 


            - Não, não é o meu braço. É lindo, Edward. Não poderia ter me dado nada que eu amasse mais. Eu nem acredito. – Ela ficou em silêncio saboreando a música. Enquanto isso, meu peito parecia querer estourar, tamanha era a felicidade que senti por ter feito algo de bom para ela naquele dia, por deixá-la feliz, nem que fosse só um pouco. Mesmo que aquela felicidade pudesse ser passageira, queria guardar em minha memória sua fisionomia assim, perfeita, feliz. Nunca tinha visto Bella chorar de alegria. Teria de agradecer a Alice por isso, a idéia foi dela.


 


            - Não achei que me deixaria comprar um piano para eu tocar para você aqui. – Uma idéia que já havia tido; perguntei para Alice se Bella ia gostar; é claro que ela acharia desnecessário.


           


            -E tem razão. – Bingo.


 


            - Como está o seu braço?


 


            - Está bem. – Ela mente tão mal, que nem entendo por que se dá ao trabalho de tentar.


 


            - Vou pegar um tylenol para você.


 


            - Não preciso de nada. – Teimosa. Afastei-a gentilmente, levantei-me e dirigi-me para a porta do quarto.


 


            - Charlie. – Ela sussurrou em pânico.


 


            - Ele não vai me pegar. – Bella parecia se esquecer de como eu posso ser invisível quando quero. Desci a escada, peguei o frasco de comprimidos dentro do armário amarelo da cozinha, corri para o banheiro, peguei um copo que estava na pia, lavei e enchi com água. Voltei ao quarto antes que a porta terminasse de se fechar. Vasculhei a mente de Charlei durante todo o trajeto. Ele estava entretido demais no jogo, então não notou nada de estranho.


 


            Entreguei o copo com água e um comprimido para Bella, que o tomou sem reclamar, para minha total surpresa. Olhei para o relógio, estava ficando tarde; tinha que fazer Bella dormir antes de voltar para a reunião com minha família. Bem, não seria exatamente uma reunião, estava mais para o comunicado de uma decisão, pois nada que eles falassem me faria mudar de idéia.


 


            - Está ficando tarde - murmurei enquanto pegava Bella no colo para arrumar sua cama. Depois, deitei-a delicadamente e enrolei seu cobertor em volta de seu corpo, para evitar que ela sentisse frio, já que eu deitaria ao seu lado.


 


            Assim que deitei na cama, puxei Bella para perto de mim, ela deitou sua cabeça em meu ombro.


 


            - Obrigada de novo.


 


            - Não há de quê. – Ela realmente ficou feliz com algo tão simples. Tinha achado a idéia de Alice tão boba que relutei um pouco em fazer, mas valeu a pena.


 


            Fiquei perdido em meus pensamentos, minha decisão mudaria a vida de todos. Roseli não ia gostar.


 


            - No que está pensando? – Ela me pegou de surpresa com a sua pergunta. O quanto devia contar para ela? Sabia que não podia dizer a verdade, teria de arranjar uma maneira de fazer aquilo da melhor forma possível para ela. Achei melhor falar a verdade de forma sutil.


 


            - Estava pensando no certo e no errado.


 


            - Lembra que eu disse que você não deveria ignorar meu aniversario? – Ela estava tentando me distrair, tinha de ser cauteloso.


 


            - Sim.


 


            - Bom, eu estava pensando, uma vez que ainda é meu aniversário, que eu gostaria que me beijasse de novo. – Era a isso que ela queria chegar, ela não sabia o poder que tinha sobre mim, se ela me agarrasse com vontade eu nunca conseguiria resistir. Era bom que Bella não soubesse disso, ela nunca foi muito prudente. Só respeitava os limites que coloquei em nosso contato físico, pois acreditava que a proximidade me causava uma enorme dor. E isso era verdade; minha garganta queimava muito, mas o prazer compensava qualquer dor que eu pudesse sentir.


 


            - Está gananciosa esta noite.


 


            - Sim, estou... Mas, por favor, não faça nada que não queira. – Como ela podia imaginar aquilo? Eu, não querer beijá-la? Tudo o que mais desejava no mundo era não desgrudar dela. Sempre que estava próximo de Bella era um enorme problema; por maior que fosse a proximidade entre nossos corpos, eu sempre queria mais. Quando estava perto, queria segurar suas mãos; quando segurava suas mãos queria abraçá-la; quando estava abraçado a ela, queria beijá-la e quando a beijava queria coisas que não podia ter com Bella, não sem que isso a matasse. Então tentava refrear meus desejos, evitando beijá-la. Sabia que, se me descontrolasse, me arrependeria eternamente.


 


            - Deus me livre de fazer algo que não queira.


 


            Segurei seu rosto delicadamente, sentido a sua frágil pele sob minha mão de pedra, muito concentrado e consciente de sua fragilidade; inclinei minha cabeça para que meus lábios encontrassem os dela e com a mais leve pressão comecei a beijá-la.


 


            Com o passar dos segundos me lembrei que esse seria o nosso último beijo. Esse pensamento me fez perder totalmente o controle, deixei-me levar apenas pelo amor desesperado que sentia por ela. Comecei a acariciar o seu rosto com minhas mãos, ele era tão macio, tão perfeito; passei as mãos para os seus cabelos, mexia em sua nuca, sentia que ela estava toda arrepiada; seu cabelo era tão suave que parecia feito de plumas. O gosto dela em minha boca era doce; nenhum sangue no mundo se comparava a esse sabor. Podia sentir o seu corpo perfeito se pressionando contra o meu através do cobertor. Cada pedaço do meu corpo gritava chamando por ela, estava desesperado para sentir cada parte dela em meu corpo. Eu queria tanto ter Bella para mim por completo... Queria me entregar inteiro a esse amor, mas sabia que era errado, não podia fazê-lo.


 


            Tentei parar. Embora não conseguisse me afastar dela, eu queria que nosso beijo não terminasse nunca. Sabia que nunca mais teria Bella daquela maneira novamente. Lutando com todas as minhas forças contra a minha vontade, negando a mim mesmo o que eu queria enlouquecidamente, afastei Bella gentilmente de perto de mim.


 


            Ela caiu ofegante em seu travesseiro, estava corada. Procurei algum sinal de machucado em sua pele, em seus lábios, não encontrei nada.


 


            Estranhamente, também estava ofegante. Eu sei que não posso me sentir tonto, mas parecia que podia.


 


            - Desculpe – suspirei. – Isso não estava nos planos.


 


            - Eu não me importo. - Ela mal conseguia falar.


 


            Claro que ela não se importava, Bella parecia adorar me provocar, ela dançava na frente do perigo.


 


            - Procure dormir, Bella.


 


            - Não, quero que me beije de novo. – Eu também meu amor, eu também...


 


            - Está subestimando o meu autocontrole. – Queria ser irresponsável às vezes, mas em se tratando de Bella não podia cometer esse erro.


 


            - O que é mais tentador para você, o meu sangue ou o meu corpo? – Ela realmente gosta de ultrapassar limites, se eu me deixasse levar por ela, a coisa não ia dar certo. Ou, quem sabe, poderia ser maravilhoso deixar que Bella guiasse a situação. Eu sabia exatamente onde tudo iria acabar; se pudesse ter certeza de que não a machucaria, eu poderia arriscar...


 


            - Dá empate. Agora, por que não para de abusar da sorte e vai dormir?


 


            Eu realmente lutava contra o destino, e ela parece querer correr de braços abertos para sua sina. Tenho que lutar duplamente, Bella parece não entender como é difícil para mim me manter longe dela.


 


            - Tudo bem. – Ela concordou; no entanto, colou o seu corpo o mais próximo possível do meu. – Hã, como queria poder ficar...


 


            Olhava para Bella vendo os seus sonhos chegarem. Ela deu uma leve estremecida e logo em seguida começou a relaxar. Então não pude perguntar o que era, ela dormiu rápido, deixando-me curioso e sozinho com meus pensamentos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixem suas opiniões, quero saber se estão gostando.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Black Hole" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.