Acordei em eu lugar estranho, com paredes brancas e piso de mármore. Janelas grandes, macas... Devo estar na enfermaria, pensei. Depois fui percebendo formas: um menino com olhos no corpo todo – Argos estava ali também!-, e um centauro branco, Quíron. Também vi duas garotas loiras, um garoto moreno e um de cabelos castanhos de olhos verdes, sentado ao meu outro lado.

-Percy?-Disse meio confusa.

-E Annie, Emma, Leo e Quíron.

-Mas... e Piper?- Como ela não estava ali, comigo desse jeito? Amiga da onça...

-Jason chegou no Acampamento ontem à noite. Eles estão no lago ou no bosque. - Explicou Annie.

-Ah, bem, nesse caso eu até perdôo ela. -Disse e rimos em conjunto. Até mesmo muito mal, eu tinha senso de humor!- Por quanto tempo eu apaguei?

-Só por dois dias. - Revelou Leo.

-O que? Já é domingo?- Reclamei desapontada. Eu perdera o fim de semana todo?- Bem, pelo menos ganhamos a caça da bandeira?

-Ganhamos, mas você não pensou direito nessa defesa! Podia ter morrido. Se arriscar por uma bandeira?- Perguntou Emma, preocupada.

-Ok, ok, eu me arrisquei muito, mas era minha primeira noite liderando a caça! Queria ganhar.

-E morrer?- Perguntaram Annie e Emma juntas.

-Ela não teve culpa. Foi impulso, seu defeito mortal. Fazer as coisas por impulso. Assim como o seu, Annie, é o orgulho. O de Nico de Ângelo é guardar rancor. - Explicou Quíron. Levei um susto quando falou de repente.

-E eu sei disso por experiência própria. - Percy esclareceu.

-O que houve comigo? Foi só um corte. E acredito que Clarisse não usaria uma lança envenenada contra mim! Usaria?- Perguntei. Por um breve momento, achei que Clarisse podia SIM usar uma lança envenenada e me matar.

-Não, usar armas letais nos campistas é proibido. - Disse Quíron. Ufa! Clarisse não queria me matar ou matar qualquer outra pessoa. - Clarisse cortou uma veia e duas artérias. O seu corte foi muito profundo e grande. Tem sorte de estar viva, Will é um ótimo curandeiro.

-Will me salvou? Lembrem-me de agradecê-lo!

Então, Piper entrou esbaforida na enfermaria com Jason. Os dois estavam molhados e com cheiro de... aquilo era peixe?

-Meus Deuses, o que aconteceu com vocês?

-Nós...arf,arf... caímos da canoa e demos de cara... com um tubarão! Nadamos correndo até o bosque e o dragão que guarda o Velocino... ai meus deuses, eu vou morrer. Quíron, será que eu poderia...- Disse Piper apontando para uma das camas ao meu lado.

-Claro, você merece.

-Ah que bom.- Comemorou ela se jogando na cama ao meu lado. Imediatamente ela cochilou.

-Eu e Piper estávamos no rio de Long Island em uma canoa, mas então batemos em alguma coisa e a canoa virou. Quando nos demos conta, era um tubarão branco, que queria nos almoçar! Nadamos feito loucos e quando chegamos em terra firme, Piper saiu correndo pelo bosque, com medo do tubarão. Em plena TERRA! Corri atrás dela e demos de cara com o Velocino e, conseqüentemente, o dragão que eu apelidei carinhosamente de Pepeu. Saímos correndo de novo, quer dizer, voando até que chegamos aqui no telhado. Descemos e viemos dar uma passada para ver como está a Isa.

-Resumão, hein? Bom te ver de novo, Jason.- Saudei-o.

-Está melhor?- Perguntou ele.- Soube que foi bem feio. Cheguei ontem e estava apagada, e eram só cinco da tarde! Estava cansado e apaguei também. Só acordei às dez.

-Sim, estou bem melhor. Will é muito bom no que faz.

-Vamos deixar a Isabela se recuperar e Piper descansar em paz. – Decretou Quíron. Eu estava apagada há dois dias! Queria falar, conversar, cantar, gastar energias. Mas admito, assim que foram embora, dormi. E sonhei.

Eu estava em meu chalé, com meu tablet, olhando preços de passagem para cruzeiros no Caribe com Percy abraçando minha cintura. Cruzeiro no Caribe? Percy? Ok, eu queria mesmo fazer um Cruzeiro no Caribe de 20 dias com meu futuro namorado. Mas PERCY? Eu sou um dos campistas que não fica o ano inteiro, na maioria das vezes, e nesse tempo entre agosto e dezembro, eu viajava para o Brasil para ver minha família e ir às praias maravilhosas do Rio! Mas esse ano, ou quando eu tivesse um lindo companheiro, eu iria passar 20 dias no Caribe em um Cruzeiro de luxo baratinho, tipo, com tudo incluso, até passagem para duas pessoas, refeições, acomodações e extras no máximo em volta de $2000,00 ou $3000,00. Parece que achei, comemorei, beijei o Percy e compramos. Se fosse um presságio, faltavam seis meses para eu ir a um Cruzeiro no Caribe com o Percy. Não, com certeza era um desejo íntimo.

Acordei com Piper me chamando.

-Isa, eu dormi aqui?

-Sim, Piper. Você chegou e dormiu.

-Que horas são... Ah meus deuses! Oito horas!! Perdi o jantar...

-Ei, falando nisso, e minha comida? Não me lembro de ter comido nos últimos dois dias! Estou morrendo de fome.

Foi só eu falar isso que duas enfermeiras chegaram com nossa janta. Duas não. Eu considero duas, pois são duas cabeças em um único corpo.

-Senhorita McLean. Sua janta foi feita especialmente para seus gostos culinários: alface, tomate, molho Ceaser e azeite. Senhorita Rocha, a sua janta é uma canja de galinha. - Disse Josie, a cabeça da direita.

-Ambas terão que fazer DUAS oferendas amanhã, já que não fizeram hoje. –Disse Losie, outra enfermeira, a cabeça da esquerda.

-Obrigada Josie, obrigada Losie. –Agradeci.

-Não há de quê! A Senhorita já poderá sair assim que terminar a janta. - Disseram em uníssono logo em seguida saindo do quarto. Ok, isso me deu medo.

-Que bom! Eu estou louca para sair dessa maca.

-Hum! Essa salada está maravilhosa!- Elogiou Piper.

-Em compensação, minha canja está melequenta! Eca, eu nunca vou comer isso. Ou seja, já posso ir embora.

Levantei-me e percebi que estava usando aquelas camisolas de hospital: aberta atrás.

-Piper, será que você pode ir ao meu chalé e pegar minhas roupas?

-Claro, só me deixa terminar minha salada que eu vou e volto em um minuto.

Mas só para terminar sua salada demorou meia hora. Para ir e voltar uma!

-Que demora foi essa criatura de Afrodite! Demora tanto para ir a um chalé a 15m daqui, pegar uma calcinha, um short e uma blusa e voltar? Demora?

-Desculpa, é que no caminho eu vi Jason contando as histórias do acampamento romano na fogueira e parei para ouvir, mas só depois de 45min me lembrei de você, saí correndo para o seu chalé e peguei essa roupa. –Esclareceu ela me mostrando uma blusa azul e um jeans preto. Vesti correndo e saí daquela enfermaria. A primeira coisa que fiz foi pegar meu violão, correr para a praia e compor bastante.

“Eu sei, que você, só quer o bem pra mim

Mas, não é, tão simples assim.

Só dá, pra ser, se uma coisa se reparar

É só, se você, se afastar.”

Depois de quatro músicas, uma voz surgiu atrás de mim.

-Annie me disse que compõe quando está triste.

Levei um susto! Virei-me para trás tão rápido que até ele se assustou. Demos uma risada juntos e, enfim, falei:

-Aquela dedo-duro...

-Não importa. Eu gosto de música. Pode cantar uma para mim?

Escolhi uma que compus na sexta à tarde. Toquei meu violão e cantamos juntos, eu olhando a cifra e ele, a letra. Depois de mais umas dez músicas, os peixinhos que encontrei quando me enrolei na rede de um barco naufragado na sexta-feira estavam na margem me olhando.

-Agora não, eu não posso. Podem esperar cinco minutinhos?

-Com quem está falando?-Perguntou Percy.

-Com os peixinhos. Eles querem me observar o tempo todo, mas não entendem que estou ocupada e que não gosto de ficar no mar por mais de duas horas...

-Duas horas? Você fica submergida por DUAS horas?

-Ah, é uma longa história... Parece que eu consigo respirar embaixo d’agua, sei lá por que.

-Sério? Duvido.

-Quer apostar? Então vamos!

Saímos correndo e pulamos dentro do rio. Fomos tão fundo que a pressão normalmente teria matado alguém, mas Percy era filho do deus do mar e eu... era eu: uma aberração! Como era bom ser uma aberração.

-Nossa! Você não estava brincando, né?- Reagiu Percy.

-Não. Isso lá é coisa para brincar?- E rimos juntos, nadamos, brincamos e depois Percy perguntou.

-Por que estava compondo? O que a deixa triste?

-Ai, Percy... Temos mesmo que falar sobre isso? Está tão legal, estamos nos divertindo... -Ainda bem que estávamos embaixo d’agua, porque comecei a chorar. Mas ele deve ter percebido, pois veio nadando em minha direção e “limpou” minhas lágrimas. Uau! Elas estavam perceptíveis. Ah! Água salgada não se mistura com doce, então dava para ver minhas lágrimas.

-Eu quero te ajudar. Sou seu cunhado, quero o melhor para você.

-Eu... sou sozinha. Uma aberração que vai morrer sozinha. E eu não quero isso. - De repente veio uma corrente fria e eu tremi toda. - Que f-frio!

-Ora, vamos subir.

-Não! Lá deve estar mais frio ainda.

-Ah, eu te abraço. –Disse ele que logo depois se surpreendeu consigo mesmo. Achei que só eu fazia as coisas por impulso, pensei. - Vamos.

Emergimos da água e ele me abraçou. Observamos a Lua por uns 20min e então eu percebi. Meu sonho, de três dias antes estava se concretizando.  Então meu coração começou a bater forte, e mais e mais. Acho que ele percebeu, pois me olhou com uma cara de Está com medo?. Então nos entreolhamos, nariz com nariz. E então meu corpo esquentou, não sentia mais frio. Estava suando de nervoso. Se controla, se controla... disse a mim mesma. Mas ele não se controlou. Me beijou com vontade e nos deitamos na areia. Então, paramos.

-Percy... o que eu fiz?- Comecei a me preocupar. O que eu fiz? Eu beijei um cara comprometido! Com minha irmã!

-Ei, shhhh. - Disse ele botando um dedo em minha boca. Imediatamente eu me senti hipnotizada. Aquele rosto era lindo, aqueles olhos verdes penetrantes... - Que tal um lugar mais reservado?

-Sim... Arrã... Com certeza... - Parecia uma marionete. Tudo o que ele dizia eu concordava.

Então fomos escondidos para o seu chalé. E ali ficamos a noite toda. A melhor noite da minha vida.