Eu corria por uma floresta escura e enevoada, sentia meus pulmões implorarem por mais ar e minhas pernas fraquejarem, mas eu não podia, eu simplesmente não podia parar. Minha vida dependia daquilo, eu me forçava a correr cada vez mais rápido, cada vez para mais longe dele. Mas eu o ouvia, o sentia perto, ele ria, se divertia com o meu desespero, com o meu medo, ele corria sem ao menos arquejar, parecia flutuar pela noite. Eu o sentia cada vez mais perto, e estando cada vez mais lenta pelo cansaço da corrida, me senti arfar quando suas mãos geladas me seguraram pelos braços me puxando para mais perto, o rosto ligeiramente escondido pela neblina da noite, dificultando a identificação precisa do ser a minha frente, mas não pude deixar de notar os dentes, as presas escancaradas e os olhos de um vermelho sangue com veias saltando pelo rosto, os olhos sedentos. Pude sentir a aproximação dele, mesmo de olhos fechados não deixava de teme-lo, pude sentir, sentir as presas rasgando a minha pele, me perfurando...

— MELANIE! - ouvi uma voz distante me chamar. - Acorde! É apenas um pesadelo, Melanie. Acorde! - abri os olhos, assustada, o suor escorrendo, o coração acelerado. Olhei para frente e vi Jeremy já recuperado, segurando meus ombros com ambas as mãos e com um olhar preocupado. Eu não conseguia raciocinar, pareceu tão real, tão... Como se, ele... Então eu notei o animal, encarando-me com aqueles olhos cor de ônix, olhos que se mantinham arregalados, presos aos meus, ele parecia... Parecia me hipnotizar, como se soubesse de tudo. - Melanie?! - Jeremy chamou novamente, pareci finalmente "acordar" para a vida. Apenas direcionei o meu olhar para o meu primo. O mesmo continuou. - Você está bem? Estava gritando, parecia desesperada.

— Não... Quer dizer, sim. Sim, estou bem. - sorri, mas saiu mais como um esgar. - Está tudo bem, foi apenas... É, apenas um pesadelo. Já está tudo bem. - tentei tranquiliza-lo, mas no fundo, bem lá no fundo, eu sabia que não era apenas um simples pesadelo. - Pode voltar à dormir, querido. Está tudo bem. - repeti.

— Ok, qualquer coisa eu estou bem aqui do lado, literalmente. - sorriu ao dizer, depositando um beijo em minha testa, logo virando para o lado oposto e voltando a cair em um sono profundo. Mas eu não consegui pregar meus olhos nem por um segundo, aquele pesadelo não saia de minha mente, tudo tão real, tão vívido, como se não fosse um simples pesadelo, um simples sonho. Como se fosse algo a mais, como uma visão. Neguei com a cabeça, tentando espantar esse pensamento bobo de minha mente. Levantei da cama, logo saindo do quarto, passando pelo corredor e descendo as escadas, fui para a cozinha beber um pouco de água, tentar me acalmar mais um pouco talvez. Sentei no balcão e comecei a bebericar minha água recém saída da geladeira, então ouvi uma batida na porta. No mesmo segundo o meu coração acelerou, minha pupila dilatou e minha consciência praticamente soava um alerta de "perigo". Desci lentamente do balcão, deixando meu copo com água em cima do mesmo, fui andando silenciosamente até a sala. Outra batida, tive um sobressalto, quase arfando com o susto. Jamais pensei que eu pudesse ser tão estúpida e curiosa ao ponto de ao invés de sair correndo na direção contrária do perigo, ir correndo para ele como se fosse um grande amigo.

Caminhei lentamente até a porta, me escorando na mesma para que conseguisse ouvir algo do outro lado caso realmente tivesse algo ou alguém ali. Outra batida, dessa vez mais forte, me perguntava como ninguém havia acordado com essas batidas, ou se era mais um de meus pesadelos e eu não tinha notado que havia dormido. Olhei através do olho mágico, e nada. Não tinha absolutamente nada ali. Não pude resistir, peguei as chaves e destranquei a porta, abrindo a mesma lentamente, pus a cabeça para fora, nada, absolutamente nada além da brisa gelada da madrugada. Sai totalmente pela porta, sentindo o vento frio me arrepiar a pele, me sentia tão estúpida quanto as garotas dos filmes de terror que eu tanto xingava por olhar o que não deviam. Ouvi um "psiu", e por instinto me encolhi, andei um pouco mais a frente, em busca de algo, que eu realmente, e com toda a sinceridade, esperava não encontrar. Neste momento um vulto negro passou diante de mim, sumindo pela escuridão da noite, exatamente onde começava a floresta. Me estremeci, fiquei paralisada, não pude desviar os meus olhos do ponto exato onde o vulto desapareceu, e neste mesmo ponto surgiu uma silhueta masculina. E foi aí que tomei consciência da merda que eu estava fazendo ali fora, no mesmo segundo entrei correndo, mas no exato momento em que eu ia fechar a porta, pude ver iris azuis. E então ouvi uma leve risada acompanhada de um "pobre criança". Bati a porta com força, me virando e dando de cara com uma Elena desconfiada.

— O que estava fazendo lá fora há essa hora da madrugada? - questionou, com a sobrancelha arqueada. - Está louca, Melanie?

— Não é da sua conta. - respondi brusca e sai esbarrando nela, subindo as escadas correndo e quase tropeçando. Entrei no quarto de Jeremy com certa força, fazendo com que a porta batesse, mas nem por isso o garoto acordou, com isso cheguei a conclusão que com o meu pesadelo eu realmente devia estar gritando bem alto, para ter acordado aquele garoto do sono de pedra. Respirei fundo, notando que o animal me encarava de forma acusatória. Ignorei e voltei a deitar ao lado de meu primo, tentando ignorar os fatos estranhos que tinham ocorrido naquela longa madrugada, para que finalmente eu pudesse cair em um sono profundo com sonhos que envolvessem unicórnios e não seres querendo me matar.
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Naquela manhã acordei meio pesada, parecia que todos os meus instintos estavam tentando me avisar de algo, algo que eu não conseguia ao certo distinguir o que era, mas que eu associava há madrugada passada. Levantei e notei que Jeremy não estava mais na cama, agradeci mentalmente por isso, pois assim não precisaria relembrar o meu sonho para dar explicações ao meu primo. Peguei uma muda de roupa acompanhada de uma calcinha e sai do quarto andando calmamente para o banheiro, que graças a Deus estava vazio, deixando claro que Elena já tinha ido para a escola ou já estava lá em baixo tomando seu café da manhã. Entrei no mesmo e tomei um banho relaxante, assim que acabei desci indo para a cozinha, dando de cara com o loiro aparentemente bonito que eu tinha visto ontem com minha querida priminha, mas este "aparentemente" eu já posso tirar de meu vocabulário direcionado à ele, pois agora eu tenho certeza.

— Bom dia, queridos. - disse tentando não soar irônica, o que não deu muito certo.

— Bom dia, querida. - respondeu tia Jenna com o seu sorriso acolhedor de sempre. - Dormiu bem?

— Pode-se dizer que sim. - respondi com um breve e falso sorriso.

— Ela estava lá fora está madrugada, gostaria de saber o porquê. - Elena, sempre tão irritante.

— Já disse que não é da sua conta. - sorri falsamente. - Olá, você seria? - falei me direcionando ao loiro, que me encarava de forma estranha.

— Oh, me desculpe a falta de educação. - respondeu, cordial - Me chamo Stefan, Stefan Salvatore. Sou o namorado da Elena. - estendeu a mão para que eu a apertasse, e foi o que fiz. E com essa resposta ele tirou minhas dúvidas de "o que ele é da minha priminha querida?"

— Ah sim, sou Melanie Gilbert. Prima da adorável Elena. Prazer. - transbordei ironia.

— O prazer é todo meu. - sorriu enquanto soltava a minha mão.

— Mas então, o que fazia lá fora de madrugada? - perguntou tia Jenna, com um olhar que transmitia preocupação.

— Nada, Jenna. Apenas precisava de um pouco de ar. - respondi, breve. - Mas onde está Jeremy? - quis saber.

— Ele já saiu. - se meteu Elena.

— Vou sair também então. - disse, pegando uma maçã e me retirando daquele ambiente repleto de questionamentos sobre a noite passada.
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Resolvi ir até a cidade para procurar um emprego, talvez naquele Grill onde o garoto Matt trabalha. Afinal, não posso simplesmente ficar as custas de minha adorável tia.