#Travis

Travis acordou mais cedo do que o esperado. Era sexta-feira e então naquele dia fazia uma semana que ele e Miranda estavam namorando, mas não era por esse motivo que ele acordou, embora esta tenha sido sua primeira lembrança. Um barulho irritante estava incomodando ele.

Alguém estava esmurrando a porta da frente.

Ele mal pensou ao pular da cama. Será que alguém estava tentando arrombar a casa? Sua mãe não estava, ela saia muito cedo para trabalhar e o namorado dela só dormia ali raramente e mesmo que ele estivesse ali já teria saído. Será que era ele na porta?

Quando ele chegou no primeiro andar, através do vidro da porta ele percebeu uma silhueta, uma silhueta feminina... Seu coração disparou ao pensar que poderia ser Katherine. Ele correu até a porta e abriu.

Ele sorriu ao ver um par de olhos castanhos familiares, mas logo após ele não viu mais nada pois um punho lhe acertou bem no olho esquerdo, fazendo seu corpo cambalear com o impacto.

– Seu cretino! – Perséfone gritou, puxando-o pelo braço. Travis tropeçou para fora ainda meio tonto por causa do soco. – Eu disse a você para você ficar longe da minha irmã, eu disse, mas você não me ouviu, não é mesmo?

Ela veio para cima dele novamente e lhe desferiu um tapa na cabeça fazendo-o tombar. Ela até podia ser uma mulher mas batia com uma força extremamente admirável. Ele a teria parabenizado se não fosse ele o alvo.

– Pare, do que você está falando? – ele gritou dando alguns passos para trás.

– Você estava saindo com uma das minhas irmãs, com a Katie e hoje Miranda me conta que ela é sua namorada? Você ficou louco? As duas? – Perséfone berrou tão alto que ele podia apostar que toda a vizinhança estava acordada.

– Eu não estava saindo com a Katie, eu disse isso a você! – ele gritou de volta. De repente ele não se importava mais com os vizinhos, ele só queria que ela parasse de causar confusão.

Mas as palavras dele pareciam não te-la convencido. Perséfone berrou e correu na direção dele, os braços esticados para quem sabe, ele pensou horrorizado, apertar o pescoço dele até suas cordas vocais darem um nó.

Travis tentou fugir mas foi empurrado para o lado, cambaleando ao atingir o chão de costas. Ele olhou para cima e olhou surpreso para a figura de Katie parada aonde ele estivera a poucos segundos, segurando o pulso erguido da irmã mais velha.

– Por que diabos você está gritando antes das oito da manhã no meio do quintal dos outros? – Katie indagou irritada. Ele percebeu que ela ainda estava de pijama, um short curto com estampa de folhas e uma blusa de alça do mesmo tom de verde do short. Ele sentiu um arrepio em baixo do abdômen quando percebeu que ela não estava de sutiã.

– O Stoll está namorando com nossa irmã, você sabia disso Katie? Ele está te traindo! – Perséfone exclamou, com um sorriso perverso.

Katie olhou para ele e Travis nem sabia ao certo o porque mas queria que ela sorrisse e ajudasse ele a se levantar. Mas tudo o que a garota fez foi dar de ombros e desviar o olhar em seguida.

– Não há nenhuma chance de ter ocorrido uma traição – a mais nova começou, cruzando os braços e dando um sorriso confiante – quando não se há uma relação. Ele não é nada meu, Pers. Deixe ele pra lá e não esqueça de trazer a sua reputação com você, eu estou vendo ela caída bem aos seus pés.

Perséfone bufou de raiva mas afinal não fez mais que isso. Ela rogou mais algumas palavras feias para ele e saiu batendo pés para sua casa.

– Katherine! – ele chamou, o nome escapando por seus lábios sem que ele percebesse.

Sua vizinha virou seu rosto para ele e Travis percebeu que seu sorriso não estava mais ali, agora ela apenas parecia um pouco desligada. Ele percebeu que ela estava tremendo, porque embora eles estivessem no final de outubro o frio já estava se aproximando.

Como se estivesse hipnotizado, ele se sentiu assim naquele momento, ele se levantou e tirou sua jaqueta jeans. Travis estendeu a peça de roupa para ela e sorriu.

– Obrigado por ter me defendido da sua irmã – ele pediu, suspirando. – Está frio, não acha? Fique com meu casaco.

Ela franziu a sobrancelha e ergueu a mão. Travis sentiu aquele arrepio novamente, dessa vez correndo até sua espinha, e se alastrando pelos seus dedos. Mas os dedos dela timidamente empurraram a mão dele para longe.

– Eu já tenho um casaco.

Travis não conseguiu impedi-la de sair pelo seu portão. Ele não sabia ao certo, mas o rastro que os dedos dela deixaram em sua mão pareciam queimar como brasa.

Loucura, completamente loucura! Ele não podia estar se sentindo assim... por Katherine Garder. Talvez fosse por que eles estavam afastados por muito tempo? Talvez fosse por que ela lembrava Miranda?

Ou os olhos verdes dela? Ou... Ou... Ele não conseguia pensar.

Com raiva ele jogou o seu casaco no chão. Sinto sua falta, Katie, ele pensou abaixando o rosto. Mas não sei o que devo concertar para ter você de novo... se é que algum dia você foi minha.

Ele marcou um encontro com Miranda naquele mesmo dia, as três da tarde no Painel. Quando ele chegou lá, ela já tinha chegado e seu olhar estava cauteloso.

Ela não era burra, sabia o que estava por acontecer ele achava. Garotos quando marcam para tomar café com suas namoradas em um horário tão normal quanto três da tarde querem definitivamente algo além de trocar uma ideia.

Katherine havia dito aquilo uma vez e ele havia concordado. Quando os garotos queriam algo mais eles sempre marcavam encontros depois das cinco da tarde, a noite lhes inspirava paixão. Qualquer horário antes disso era reservado para fazer uma social com os amigos ou qualquer outra coisa assim, sem interesse.

– Perséfone me disse que ela quase te matou hoje – ela murmurou, quando ele se sentou de frente para ela. Travis assentiu. – Eu pensei que você fosse afim de mim. Todas aquelas vezes que você me passava alguma cantada engraçadinha, os olhares durante a aula... Decidi dar uma chance porque pensei que funcionaria.

– Ela quase me matou mesmo – ele confirmou e Miranda revirou os olhos. – Me desculpe se não estou afim de discutir uma coisa que não temos.

Miranda largou seu copo de café e o fuzilou com os olhos. Ele não sentiu medo, apenas um desconforto por não pedir um café. Mas depois ele se auto perdoou quando lembrou que não gostava de café e só estava ali porque fora o primeiro lugar que passou por sua cabeça.

– Então você quer dizer que nós não tínhamos um relacionamento? – ela gritou.

– Nunca pedi você em namoro! – ele gritou de volta. Dessa vez ele não estava se importando muito se as pessoas iriam olhar ou não. – Na verdade, estamos juntos por quanto tempo? Uma semana? Isso nem é um temp...

Mas antes que ele pudesse completar a frase, sentiu a palma da mão dela tão macia atingir seu rosto com um estalo doloroso. Provavelmente aquilo iria deixar uma marca feia em sua bochecha, mas ele não ligava muito.

– Você é um idiota! – Miranda gritou, pegando o copo de vidro da mesa de trás e arremessando em direção ele. Ainda tonto pelo tapa ele não teve nem um segundo para se defender e o copo se quebrou na testa dele.

Travis caiu de costas no chão se sentindo zonzo e pontos pretos balançavam em sua visão. As irmãs Gardner realmente sabiam como detonar alguém.