Jully Anne nunca foi uma pessoa que gosta de compartilhar, sempre foi chata e gostava de atenção o tempo todo. Ciumenta, e carente desde o berço mesmo. E não é mentira, a ratinha tinha horas de vida quando me olhou feio pela primeira vez, ao me pegar admirando o menino do berço ao lado. CIUMENTA!

Quando a Charlice nasceu ela não lidou bem com isso nenhum pouquinho! Fazia pirraça sempre, regrediu no desenvolvimento pra tentar chamar nossa atenção, até mesmo se tornou agressiva na escola, tudo pra desviar a atenção da caçula.

Pois bem, eu havia trocado de profissão e fui me aventurar no ramo de vendas, e virei consultor de vendas. Bella vivia dizendo que eu era cara de pau, então resolvi usar isso pra ganhar dinheiro. Logo de cara me colocaram pra fazer uma viagem em nome da empresa, e lá fui eu pra Natal e deixei minhas ratinhas e minha sócio (pata! Entenderam? Sóciopata! Enfim ¬¬) em casa por uma semana e fui...

Eu havia acabado de chegar de mais um dia chato e cansativo de reuniões cheia de velhos chatos que não sabiam o que era mulher há séculos. Já viu né? Eu tava louco de saudades das minhas meninas, então assim que cheguei ao quarto do hotel, fui gastar na conta da empresa e fiz uma bela ligação a longa distância pra casa.

–Alô? - a voz da minha ratinha parecia aflita; agoniada.

–Filha?

–PAI? TÔ FERRADA, MAMÃE VAI ME MATAR!

–O que aconteceu Jully Anne?

Eu já tava rolando de rir por dentro só de imaginar as coisas que a ratinha poderia ter aprontado pra tentar enlouquecer a mãe.

–PAI, EU MATEI A CHARLICE!

Eu engasguei, tossi, quase fiquei roxo com essa afirmação. Como assim, ela tinha matado a caçula? Seu ciúme tinha chegado a tanto? Eu já tava vendo a cena horrível de Charlice roxa sem ar, dentro de um caixão branco. Meu Deus!

–Filha passa o telefone pra mamãe. - pedi tentando não demonstrar meu desespero. Ela saiu gritando por Bella, e meu coração batia cada vez mais descompassado, antevendo a triste notícia de que minha predileta tinha matado a irmã por ciúmes.

–Oi amor.

Respirei aliviado quando Bella não parecia aflita nem chorando.

–Bella como assim a Jully matou a Charlice?

Ela começou a rir do outro lado então meu medo foi indo embora.

–Amor ninguém matou ninguém! Jully inventou de querer pegá-la no colo, e depois quando foi me entregar, a unha dela raspou a cabeça de Charlice, e como bem sabemos que ela gosta Lice começou a se esgoelar. Como gosta de gritar essa garota hein! Não sei como os vizinhos não chamaram a polícia.

Depois dessa explicação, nós ainda conversamos muito. Dias depois voltei pra casa e matei a saudade das minhas branquelas.

(...)

Eu tava na minha sala quando atendi o telefone.

–PAI MATEI A CHARLICE! - Jully berrou ao telefone.

–Filha quando eu chegar a gente ver isso. Papai te ama.

Eu não ligava mais quando ela me dizia isso, afinal Charlice morreu umas dez vezes antes. Mas confesso que às vezes me dava um frio na barriga, afinal aquela garota não é muito boa das ideias não. A quem ela podia ter puxado isso? De Bella, é claro!