Eu não consigo.

Foi meu primeiro pensamento coerente na manhã seguinte, graças a minha noite, incrível porem mal dormida, eu estava com olheiras arroxeadas embaixo dos olhos, e o fato de ter que ficar dando voltas em uma sala com seis livros sobre a cabeça e salto alto, não melhorava muito as coisas.

Passei exatamente uma hora e quarenta tendo que ficar fazendo isso, meu objetivo era conseguir dar mil passos com os livros, só que toda vez que os derrubava lyanna me fazia recomeçar do zero.

Já estava suada e vermelha quando finalmente tive a permissão de descansar.

- você é deprimente de se ver – lyanna se sentou a minha frente – como planeja andar ao lado do rei com a dignidade de uma esposa, de uma rainha se não possui equilíbrio?

- desculpe lyanna mas acho que nicolae gosta de mim exatamente como eu sou – me defendi.

- se ele gostasse querida – ela sorriu de modo afetado – não me pediria para te dar essas aulas.

O que? Ele pediu?

Me lembrei da noite passada em que aquele assessor me ofendeu e nicolae simplesmente o mandou ir embora, sem me defender. Será que ele acha que não me comporto direito na frente da sociedade? Parece que não.

Senti um pequeno aperto no peito.

- bom dia mamãe – uma voz harmônica veio de trás da porta – bom dia senhorita.

Me virei para encarar a menina com aparência de uma modelo que estava parada no batente.  Seus cabelos eram negros como ébano e chegavam ate a cintura, era tão branca que realmente duvidei se alguma vez na vida ela pegara algum sol, ela piscou varias vezes, exibindo os olhos azuis turquesa.

- minha Liz você finalmente chegou – lady lyanna segurou as duas mãos da recém chegada.

- foi realmente uma longa viajem – ela sorriu com carinho – me apresente sua convidada.

- quem? – ela me olhou – ah sim, filha essa é Amanda st’clarer, Amanda, essa é Elizabeth, minha filha.

Sorri para a recém chegada.

- é um prazer Elizabeth.

- oh, por favor me chame da Liz – ela me deu um abraço  de leve – eu ouvi tanto falar de você.

- ouviu? –comecei a pensar o que lyanna deveria ter dito sobre mim.

- não bobinha – Liz deve ter notado minha confusão – estou me referindo a vitorio.

- vitorio? – levei um soco no estomago – esta se referindo a nicolae.

- para mim sempre foi vitorio, desculpe.

Me lembrei de quando nicolae havia ma dito que com as outras havia sido apenas físico e me perguntei  qual seria a relação deles.

- então – mudei de assunto rapidamente  - de onde esta vindo?

- eu estava visitando uma cidade próxima daqui, ajudando e medicando crianças e doentes – ela deu de ombros – eu trabalho como voluntária.

Voluntária?

Acho que era o se esperava de mim.

- Amanda querida – lyanna chamou – seu tempo acabou.

-claro – sorri – eu tenho que ir, vou um prazer Liz.

- o prazer foi meu – ela se curvou elegantemente.

-minha filha – lyanna a abraçou com orgulho – ainda não esqueceu minhas lições?

- nunca mamãe – ela sorriu.

Sai me sentindo enjoada, era tão estranho ter alguma coisa em que eu não me sentia capas de alcançar, por que eu tinha tanta dificuldade em aprender. Seis meses e eu praticamente continuava com as mesmas duvidas, estava me sentindo inútil.

Meu bip começou a piscar fortemente, emitindo uma luz vermelha. Problemas.

Comecei a correr em direção para o laboratório, Vincent estava na frente de um dos meus tubos e mexia nos botões loucamente.

- o que ouve? – perguntei quase sem fôlego.

- o potro esta doente – ele disse sem se virar.

- doente? – me espantei – o que ouve?

- eu não sei, tem alguma coisa errada na circulação do sangue – ele pareceu preocupado – chama o doutor aqui.

Chamei John pelo comunicador, acho que minha voz estava bastante desesperada pois ele prometeu que estaria ali rapidamente e realmente não demorou muito para chegar, fiquei assustada ao notar que meu bebe talvez pudesse morrer.

John nesses últimos meses estava muito ocupada, entre o hospital e o laboratório e ele ainda estava entrando numa faculdade de medicina veterinária, ele queria ser o primeiro medico de animais em mais ou menos 200 anos.

- o que ele tem John?

- Amanda vai ter que me dar um tempo para descobrir.

Tinha que admitir a contragosto que John evoluirá bastante nesses últimos tempos, ele agora estava deixando a barba por fazer, ele dizia que não tinha tanto tempo para ficar fazendo a barba, mas eu achei muito charmoso.

-Vincent – tentei mudar de assunto – concertaram a rachadura?

- sim boneca, já disse para não se preocupar.

- tudo bem - concordei.

- sabe, ainda bem que te vi hoje –  ele abriu a maleta e tirou um papel de La  -  precisamos de mais organelas para construir o painel de proteção mais rápido, ou camada de ozônio, chame como quiser, mas enfim precisamos da assinatura do rei, e quem melhor para adiantar o assunto do que a noiva dele.

- que coisa feia – sorri com a idéia de ver nicolae hoje de novo -  me usando.

- cada um ajuda como pode.

Claro, claro. Ainda estava com o coração meio dolorido, então resolvi ir ver nicolae logo. Passei por todas as secretarias e como de costume elas me ignoraram, toda vez que vinha aqui me tratavam como um fantasma, peguei o elevador, batucando meus dedos na folha em minhas mãos .

Amber estava La, atrás de sua mesa de vidro, exibindo as  pernas por detrás do belo vestido vermelho de veludo, eu ainda não conseguira arrumar um jeito de me vingar pelo vestido, já que parecia que ela adoraria usar alguns pedaços de pano rasgados. A cumprimentei com a cabeça e continuei andando, passando pelos guardas do corredor que eu já conhecia, abri a porta sorrindo e deixei meu sorriso morrer, nicolae estava em pé, de frente a sua mesa de mogno, abraçando uma mulher.

Respire Amanda, apenas respire.

- toc-toc – me anunciei.

Os dois se separaram e finalmente pude ver o rosto da mulher, era Liz ela estava com lagrimas nos olhos, como se estivesse emocionada, ela olhou para mim e sorriu com doçura, limpando os olhos num lencinho branco.

- Amanda deixe-me apresentar...

- já nos conhecemos – interrompi.

- é mesmo? – ele sorriu nos olhando de modo intercalado – que ótimo, li é uma velha amiga que adora fazer ajuda humanitária, eu não a vejo a o que? 5 anos?

- e seis meses e dois dias – ela confirmou.

- não esta trabalhando ? – me aproximei de nicolae e tentei mudar o foco do assunto.

- na verdade eu estava – ela abraçou minha cintura – mas pedi a eles que saíssem,queria matar a saudade de li.

Li? Vitorio?

- entendo – murmurei – mas preciso que me de atenção por dois minutos ok?!

- tudo bem – nicolae se sentou na cadeira – li pode esperar alguns minutos? Tem tanta coisa que quero te dizer, e tanta que quero ouvir.

-claro – ela se sentou num pequeno sofá que havia ali – vou esperar.

- fale Amanda – ele se virou para mim - o que precisa?

- estamos precisando conseguir mais algumas organelas reprodutivas, para adiantar o trabalho dos micro organismos, só que para isso precisamos da permissão do rei, pois elas também podem ser usadas como arma.

- entendi – nicolae colocou a mão no queixo – acho que eu preciso de algumas garantias Amanda.

- não estamos construindo armas nicolae – me ofendi.

-você garante então que vai supervisionar a construção e a colocação dessas organelas no  céu  - ele levantou os olhos para mim – preciso de garantias.

- mande seus homens supervisionar diariamente se preciso – propus – não é assim tão difícil.

Nicolae ficou encarando a folha por alguns minutos antes de finalmente assinar, ele estendeu a folha para mim mas quando fui pega-la ele a puxou de volta.

- vou estar de olho – ele me entregou – então acabamos?

- parece que sim – murmurei.

- vou te levar ate o elevador.

-ate mais Amanda – Liz acenou do sofá.

Não que eu não confiasse no meu noivo, é só que eu tinha um problema em deixar as mulheres se aproximarem dele, o que realmente não era uma boa coisa já que ele sempre estava cercado por elas, e algo me dizia que Liz não chegou agora por um acaso, ela viera busca o que fora dela a anos atrás. Só havia um obstáculo a frente. Ele é meu.

Apertei o botão do elevador.

- vai chegar tarde hoje? – perguntei.

- talvez pequena, eu queria passar um tempo com a li, não nos vemos a muito tempo – me pegou pela cintura – quer vir conosco?

Não me pareceu um convite bem-vindo, e eu sinceramente achava que não ia querer presenciar os dois falando sobre coisas que eu não conhecia, de um tempo que eu não estava presente, sobre lembranças que eu não ia querer ouvir.

- não tudo bem – sorri amarelo – não me deixe esperando muito.

 Nicolae me beijou.

- não me espere.

Encolhi uma bola de tênis e concordei, não acreditava que ele acabara de me dizer algo assim. Me virei e entrei no elevador sem dizer mais nada, mesmo eu duvidando se conseguiria falar algo com aquela sensação na garganta, fui em direção ao laboratório com o papel assinado tremendo em minhas mãos, se eu não fosse ate La, duvidara que ele me dissesse o motivo pelo qual havia se atrasado.

- seu papel – entreguei a Vincent.

- valeu – ele sorrio – você esta bem boneca? Esta meia verde.

- sim, eu estou bem – sorri – acho que só preciso me deitar.

- cuidado em?! – ele me olhou serio – não vai engravidar antes do tempo.

Engravidar? Grávida?

- vira essa boca para La – ralhei – já tenho meus filhos.

Ele só poderia estar maluco, me lembre que tinha que supervisionar como estaria os trabalhadores da camada de ozônio, então fui em direção ao meu quarto pegar minhas roupas, achei graça enquanto me vestia o fato de nicolae ter me chamado para meio que morar com ele, basicamente dormíamos na mesma cama mais, no contesto geral, morávamos juntos.

Enquanto me aproximava, notei uma figura parada em frente a porta, reconheci a pessoa a distancia, só pela cor dos cabelos. Minha mãe.

- Vicentine – cumprimentei.

-senhorita – ela se curvou.

- o que esta fazendo? – franzi a testa.

- me apresentando – ela levantou a cabeça para me encarar – sou sua sombra a partir de agora.