Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

E a bolha espoca.
Respinga pra todo mundo.



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– Se alimenta, Lena. Pelo menos umas 10 colheradas. Vai, por mim.

O conteúdo líquido meio pastoso de uma sopa no prato fumega fraco pelo tempo que está na minha frente, na mesa. Sabia que Flávia tinha feito especialmente para mim, sabendo que gosto de comida leve pelo jantar. Ainda assim me parece pesado e não faço mais que mexer nela com a colher, indo e voltando, fazendo ondinhas engraçadas que deixava o macarrão de escanteio na borda.

Flávia me olha de longe, da bancada da cozinha, enquanto arruma algumas coisas com a irmã que estava ajeitando tudo para a viagem que ia fazer no dia seguinte com o marido. Eu tentava não dar muito trabalho, nem atrapalhar ninguém, então aceitei sentar na cadeira da copa para comer algo. Só que só sentei mesmo. Estava mais apresentável depois de um banho.

Dado um tempo o cunhado de Flávia, Pedro, chegou. Me cumprimentou e acenei leve de volta. Ouvi quando perguntou a minha amiga se alguém tinha morrido e a mulher dele o repreendeu. De costas para eles, até que ri, minimamente. Pedro é o tipo do professor descolado, sempre de bom humor. Tão bom humor que ele diz às pessoas que seu nome é Pierre, não Pedro, por causa dessa sua paixão pela língua francesa. Ele se apresentou como Pierre quando o conheci, e fiquei achando que era por quase um mês, quando Flávia me esclareceu e perdeu uma aposta entre eles. Até hoje ela não me disse qual tinha sido essa aposta.

Foi ele quem voltou da cozinha, sentou-se a minha frente e disse algo que não entendi. Ele queria pra eu passar?

– “Tout passe” quer dizer “tudo passa”.

– Eu sei um pouco de inglês, isso ajuda?

Dei de ombros, era uma piadinha sem-graça. Que ele riu. Mas ficou sério e pediu-me pelas 10 colheradas.

– Anda vai, você não quer ficar fraca, quer?

Pausa.

– O quê, que foi?

– “Déjà-vu”. Ou diria “already seen it” (já visto) já que não sou boa de francês?

– Diria que você agora tem uma boa razão para tomar as colheradas que pedi.

Ele não desiste. Sabia que estava tentando me animar. Para não lhe atrapalhar em nada, resolvi levar essas colheradas à boca para que pudesse liberá-lo de ficar ali insistindo. A mulher dele tinha o chamado duas vezes do quarto perguntando sobre as malas e ele não ia enquanto eu não cedesse. Tive que ceder, eu não queria incomodar ninguém, fico desconfortável nessas situações.

Agradeço-o mentalmente após se levantar por ter persistido, pois mesmo não sentindo vontade de comer, meu estômago pediu mais depois das colheradas. Eu sei, estranho. É como se meu estômago não conseguisse se comunicar com meu cérebro, porque ele tinha meio que parado, concentrado em outras coisas.

O meu “déjà-vu” – ou “already seen it” em inglês e “já visto” em português – meio que me golpeou, foi isso. Só que invertido. Eu que estava com a colher na mão dessa vez, enquanto que da outra eu que havia falado (e insistido) em fazer Vinícius se alimentar, quando a primeira bomba de família dele estourou. É isso mesmo, vamos ficar toda hora trocando de papéis?

– Ainda bem que comeu. Eu disse que ia esquentar melhor aí dentro, você precisava. Mas está tão calada.

Nem vi quando Flávia sentou-se à mesa com seu prato. Ela tem bem mais vontade de comer do que eu. Seus pais pareciam que não iam chegar tão cedo, o que estava me favorecendo muito. Mesmo tendo encontrado sua irmã e cunhado, ter mais gente me observando era bem incômodo. E eles iam perguntar que eu sei, como esses dois perguntaram pra Flávia.

– Porque eu não sei o que dizer. É como começar uma pergunta... e ficar sem dar continuidade a ela, porque as palavras me fogem sem ter chance de pedir uma explicação.

– Tenta me explicar primeiro. Ou você não quer?

– Acho que da mesma forma que não consigo formular a pergunta certa, não consigo descrever bem o que é essa situação. É tudo tão... confuso.

– Vinícius fez uma merda grande, foi? Nem o imagino fazendo algo assim, não depois de tudo que vocês passaram.

– Pois é, fico muito indignada com isso. O negócio é que quem fez a merda foi o Murilo... e o Vini... bom, são cúmplices. Lembra do Eric?

– Eric? Eric, Eric...

Ela inclina a cabeça e repete o nome dele várias vezes pra captar uma lembrança dele, dando ordem ao cérebro pra maquinar. Quando entrecerrou os olhos, eu ia lhe dar a dica, porém, ela se lembrou. Ficou claro quando ela parou de vez a colherada que ia levar à boca e seu conteúdo ficou pingando no prato.

– Esse mesmo. Meu ex do ensino médio. Sabe o que o Murilo fez? Brigaram e feio. Foi nessa briga que ele se machucou do braço/ombro.

– Hã? Como ele...? Por quê?

– É o que tenho que descobrir, apesar de desconfiar do que seja. O fato é como descobri isso. Vini foi numa loja de manutenção de notebooks agora de tarde no Center e eu fui à farmácia para colocar crédito no meu celular. Encontrei a mãe de Eric lá, ela estava tão preocupada... e, Flávia, o Eric... cara, ele meio que caiu numa escada depois da briga, machucou o pé. Perdeu o teste dele que há tempos se preparava... Ele foi meio rude comigo quando o encontrei, sentado num banco com as muletas ao lado. Muletas, Flávia! Não entendendo o comportamento dele, ele mencionou Murilo e umas coisas mais... aí as coisas fizeram sentido.

– Eita... E aí?

– Fiquei louca, saí correndo pelo Center e Vinícius me viu. Falei para ele dessa loucura de Murilo e ele... o defendeu! Desse jeito, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Aí entendi de novo... Que ele sabia! E confessou na cara dura pra mim.

– Pelo menos ele confessou logo.

– Fiquei fora de mim, discutimos no corredor e depois saí de perto dele. Fugi mesmo, tanto que uns carros quase me pegaram quando eu atravessei a avenida.

– Milena! Tu queria te matar, é, sua louca?

– Sabe que tem coisas que eu só faço, eu não tenho uns discernimentos bons quanto a perigos na hora.

– Ainda assim... Por isso ele estava tão maluco! Ele ainda me disse que você tinha corrido dele e sumido pela avenida, não disse nada de carros.

– Ele bem que tentou me alcançar, porém, não se jogou aos carros como eu. Isso foi meu tempo para fugir.

– Cara, para de fazer essas coisas. Eu já fiquei transtornada de saber por telefone, imagina só. Nem acreditei quando o Gui me falou antes de me passar o celular.

– Bom, a situação também não estava muito favorável. Eu só fui perceber o Gui quando ele se sentou ao meu lado no sofá. Vocês estavam fazendo compras, era?

– Er... era. Coisas minhas e que minha irmã tinha me pedido. Encontrei com ele na fila do caixa, acredita? Aí quando meu celular tocou, eu pedi que atendesse quando vi que era o Vini ligando, tava ocupada com as compras. Ele foi de muita ajuda.

– Foi.

– O que você pensa em fazer?

– Isso que eu quero saber. Porque eu vou ter que voltar pra casa e topar com aqueles dois. Vai ter bate-boca, eu vou gritar, eles vão revidar, eu não vou concordar...

– Você disse que desconfia do por quê. O que acha que é?

– É meio que uma longa história de uns anos atrás. De resumo, eu namorei com Eric por quase um ano e... quando terminamos, foi uma fase bem difícil porque tivemos muitos problemas. Desde daí Murilo pegou uma aversão dele. Já no último ano de ensino médio, eu e Eric nos reaproximamos. O que já era ruim de minha relação com Murilo, piorou. No dia da formatura, quis brigar com Eric e tudo, eu quase o expulsei da festa, só não o fiz por causa de meus pais. Nossa relação decaiu exponencialmente... Só que aí veio os problemas com minha avó, coisas de saúde e foi assim que meio que voltamos a nos falar, porque antes disso éramos dois estranhos dentro de uma casa.

– Uma vez você me falou que nem sempre tinha sido assim como hoje é com seu irmão, mas nunca entrou em detalhes. Eu nem consigo imaginar, acho... porque, sério, num bate com vocês.

– Acredite, eu escuto isso toda vez que me refiro a essa época. É como falar de outra Milena e Murilo, eu sei.

– Você quer dizer que Murilo ainda tem raiva do Eric, é isso? Mas não foi há tempos atrás? Vocês estavam tão bem...

– Pois é! E esses últimos meses estavam sendo os melhores, apesar das frescuras dele. Vê o golpe que ele me deu com isso? Acho que ele soube que encontrei Eric no outro dia, porque só pode ter sido isso. Eric mencionou que ele o ameaçou se não se afastasse de mim. E nem próximo ele estava! O que não vem ao caso. Mesmo se tivesse, Murilo não tinha esse direito.

– E só uma pessoa poderia ter falado a ele...

– Justamente. Vinícius. Engraçado que ontem mesmo meio que falamos sobre isso, eu lhe perguntei se tinha falado ao meu irmão de ter visto Eric... Ele não respondeu. Quer dizer, respondeu com perguntas e me distraiu com elas. Pediu que eu confiasse nele.

– É, a coisa não tá bonita. Você sabe que é bem-vinda aqui, mas vai ter que voltar. E aí? Melhor começar a pensar nisso. De uma maneira ou de outra, vocês têm que se resolver... Não quer ficar nessa esses tempos, né?

– Queria ter um tempo melhor, sabe? Um tempo pra pensar, ou não pensar.

– E se... nam, tsc, deixa pra lá.

– Não, fala.

– Besteira.

– Sério, fala.

– É que me veio na cabeça que...


~;~


Eu tenho um plano. Só me falta perspectiva para saber se vai dar certo.

Firmeza, Milena, firmeza.

– Você tá legal?

– Tô.

– Quer mesmo entrar?

– Pode deixar, podem seguir para o aeroporto. Vocês podem chegar atrasados.

Digo para Pierre que estava meio incerto de me deixar na porta da minha casa depois que tentei fingir que estava tudo bem quando na verdade estava bem desconfortável ao ver que o carro de Vini estava estacionado na calçada. Pedro é bem cuidadoso. A irmã da Flávia deu uma sorte... Enquanto que a minha continua brincando com minha cara.

É isso, ter que enfrentar aos dois de uma vez só. E ser firme. Ver o carro do Vinícius só me alarmou mais quanto à relação que eles partilham. Eles são amigos demais. Tem hora que isso representa um problema... como agora. Ainda devem estar os dois mancomunados, planejando o próximo passo, o que seja.

Preciso ser convincente. Preciso segurar essa barra. E acima de tudo, não deixar que pisem no campo errado. Ou seja, evitar qualquer menção sobre aquela história de Denise e no que isso tudo pode implicar, pois mesmo estando bem próximo disso, nenhum dos dois desconfia do caso. Na verdade, ninguém, já que quem sabe dessa parte sou eu, Eric e a perturbada da minha prima... É isso, é mais seguro. Senão desencadeia a quinta guerra mundial no Natal e aí eu estrago a comemoração de todo mundo. Nam. Um tempo seria muito bom para poder contornar bem isso.

Pego a chave de casa e abro a porta da frente. Pedro dá partida no carro quando faço que vou entrar. Eu podia voltar, porém, não volto. Por passos lentos caminho pelo terraço à porta da sala. São 15h de uma terça-feira e já me imagino nas 15h da quarta, tão longe daqui. Porque eu precisava ficar longe, o mais rápido possível, por isso decidi adiantar a viagem. Bom, foi essa a ideia que Flávia me deu.

Podia ser só mais um dia que eu chego em casa e adentro na normalidade, sem anseio algum senão de minha cama. O que me acomete, no entanto, é um nervosismo que tento por máximo engolir só de pensar no que eles vão falar ou fazer. E isso sabe repercutir bem – ou diria mal? – no meu estômago, que se comprime todo só de saber que tenho de tomar o controle. Missão quase impossível essa, mas é o que tenho que tentar.

Entro. Engulo uma lufada de ar imediata. Murilo está de pé, de braços cruzados, e de expressões de múltiplas interpretações, perto da televisão desligada, enquanto que Vinícius está sentado no sofá, de costas para mim que acabo de pisar na sala. Ambos me olham no mesmo segundo, os dois ainda em roupas formais do trabalho. Quer dizer, sapatos, camisa e calça social. Se eu pudesse passar calada entre eles e chegar ao meu quarto sem precisar falar nada, se pudesse deixar tudo escrito numa plaquinha ou cartaz, eu teria me dado o trabalho de fazer sem muito reclamar.

De imediato, Murilo se move para me abraçar, o que é impactante quando ele me toma em seus braços num aperto silencioso que deixa a dúvida no ar. Também não digo nada, tampouco retribuo, porque qualquer movimento aqui pode ser mal interpretado, e vindo deles, sempre o é, com o que quer que seja. E foi isso, longos sete segundos que contei mentalmente e logo ele abriu a boca. Mal me solta e já reviro os olhos pra ele. Tô nem aí se eles estavam preocupados ou transtornados.

– Você ficou louca ou o quê?

– “Ou o quê”.

Segurando firme à altura do peitoral a alça da minha bolsa que passa por meu corpo, grito a mim mesma para me manter firme como a mesma mão que se aperta envolta da alça. Um passo para desviar de Murilo não me bastou, pois ele de certo me bloqueia. Meu desdém foi só para reforçar minha atitude indiferente para com ele, só que isso o atiçou de tal forma que ele começa a apelar para os argumentos baixos.

– Você não pode falar assim comigo, eu sou seu irmão, mais velho.

– Sei. Aham.

– Onde você pensa que vai? Tem muita coisa pra explicar, tá me ouvindo?

– Até demais.

– Eu exijo respeito.

Há! Respeito. Ele quer mesmo falar sobre? Pelamor, e a grande merda que ele fez? Cadê respeito nisso? E o que é um deboche meu diante disso? Queria eu segurar a língua, mas essa foi demais. Viro-me para ele e, bem segura de meu argumento, contra-ataco o peitando:

– Pois se DÊ ao respeito antes de vir falar de respeito. E começa a baixar essa voz, pois só porque você tem plateia não quer dizer que pode gritar comigo pra dizer que tem moral. Moral... tsc.

– Eu não estou gritando. Ainda.

Resmunga quase num rosnado conclusivo. Eu, o mesmo, ainda que mais indiferente.

– Pois é, eu também.

Sinto os dois querendo me decifrar, cravando em mim olhos perscrutadores que incomodam pela profundeza com que trabalham. Se eu dissesse que estava tudo ótimo, eles parariam? Não, não parariam. Talvez olhassem mais.

Era difícil não sair logo acusando. Se assim o fizesse, eu correria mais riscos de falar o que devo guardar, estaria muito suscetível a essa vulnerabilidade que quer me pegar. Tenho só que saber lidar com o que eles têm a falar e só responder ao que levantam, sem deixar suspeitas.

– Hey, hey, gente, vamos com calma.

Vinícius se materializa entre nós querendo ser o pacífico. É muito ruim ser aquela que sempre tenta apaziguar e agora querer jogar tudo para o alto e sair vomitando todos os podres que ficam a remexer dentro da barriga. E é tão difícil mesmo que não seguro minha língua novamente e disparo para ele também, em tom zombador tanto quanto gélido:

– É, muita calma nessa hora. Porque da última vez que vocês inventaram de ter calma, deu no que deu, né? Além do mais, vocês que estão exaltados aqui.

– Ah, quer dizer que agora você deu para se jogar em cima de carros e não quer que eu fale nada?

Murilo retoma a pose de juiz, cruza os braços novamente ante ao peito e se firma bem nos pé separados. Como se isso pudesse me assustar, como se isso fosse me impedir de alguma coisa. Há. Vinícius fica sem ação, só nos afasta com as mãos. Deve não querer se queimar com o “parceiro” dele.

– Ah, e quer dizer que você deu para bater em meus amigos, esconder de mim, e ainda quer sair impune, de herói, e não quer que EU fale NADA?

É, eu estava começando a me alterar também. Sinto minha respiração mais acelerada, uma raiva contida se debatendo dentro de mim para sair de vez. Putz, quem tem o direito aqui de ficar revoltada sou eu, oras! Caramba!

Ele se mantém calado. Vejo quando engole em seco. Ele sabe bem que está errado e não quer dar o braço a torcer. Sabe que fez besteira e, se for preciso, vai defender seu ato “bravo e corajoso” como o errado-certo até o fim que eu sei. E sabe bem o que eu acho sobre o caso, por isso lutou em me esconder. O que me dá só mais raiva e vontade de falar tudo, tudo de uma vez. Mas que porra.

– Você sabe ao perigo a que se prestou? Por nada?

– Deixa eu te denunciar pra polícia pra ver se eles se referem à agressão como esse que você fala “nada”.

Consigo sair do bloqueio dos dois e chego à cozinha, onde busco um pouco de água na geladeira. Ouço seus passos me seguindo, barrando então a saída de lá. Eles não iam desistir fácil. Pois eu também não, mesmo nesse estado de querer explodir e atirar para todo lado. Mal tomo um gole de água, deixo o copo na mesa para não virar uma arma. Sabe-se lá como vamos reagir daqui pra frente.

– Ah, pra isso você quer chamar a polícia, né? Da outra vez, me fez parecer o criminoso.

– E você continua sendo. Porque não tem outra qualificação àquele que comete o erro de bater no outro que nada fez para merecer. Eu já te disse mil e umas vezes, e te digo quanto mais for até que isso entre na sua cabeça, o que seria muito bom se entrasse logo. O Eric é passado, nunca me machucou e é você que só o faz comigo insistindo nisso. Você sim é o culpado. Não tinha NADA que se meter com ele.

– Isso é o que VOCÊ diz. Não diz também que vê coisas? Que diz saber discernir bem? Pois EU VI o que vi, e o JEITO que esse moleque te deixou, eu não ia permitir que fizesse de novo. Porque se ele fez uma vez, ele faria de novo. Ele brinca com você e eu que quero te proteger que saio de errado na história.

– Pois viu errado. Sempre vê errado... e faz errado. Dessa vez você se superou, viu. Essa foi o cúmulo de uma maldita proteção... porque não foi ele, ok? Não foi. Além do mais, eu não o via desde a minha formatura. E só o vi naquele dia que saí com meus amigos e ontem, quando estive na farmácia. Você não tem ideia do que fez, tem?

– Tanto tenho que sei que faria de novo se o tivesse de fazer. Ele mereceu por tudo o que nos fez passar, aquele desgraçado. Não me importei de esperar anos, quando tive a chance, eu peguei. Pode ficar com raiva de mim, eu sei que fiz o certo.

– Porra, Murilo, você tá se ouvindo? Melhor, você tá me ouvindo? Nunca que foi o certo, porque ele foi tão vítima quanto eu. Ele não teve nada a ver. Mas do que adianta falar isso, se você não acredita? Pode estar certo que estou com raiva sim.

Começava a doer. As coisas reviravam dentro de mim, e eu não as podia “vomitar” sem ter que falar demais. Me prometi ser forte e não chorar, não me rebaixar... Contudo, estava sendo mais difícil do que eu havia cogitado fazer. Sentia que meu plano estava desmoronando e não estava tendo como correr de acordo como meu corpo se expressava em nervosismo e exaspero.

Devem ter percebido o que isso faz comigo, porque quando fecho os olhos para que não me vejam chorando ante deles, ouço Vinícius tentar tomar partido e afastar meu irmão. Ouço quando diz para pegar leve e baixinho eles discutem. Busco ar e pisco rapidamente para controlar melhor as emoções, apoiando-me na bancada da pia. Não era teatro algum.

– Tá. Se você diz que não foi ele, quem foi então? Vai me dizer que outro na parada também, é? Olha, Milena, ficar acobertando esse cara é demais até pra você mesma. Tem algo muito errado nisso.

Eu não aguento ninguém duvidando de mim quando sei e provo que sou a mais digna. Pelo que mais prezei, o que mais tentei esconder, vou ter que começar a soltar, porque não tem jeito praticamente. Resta saber se ele vai aceitar a verdade, porque a mentira é só o que ele vê.

– Eu não acredito que vou falar isso, mas se você quer tanto saber, eu digo... Foi a Denise, ok? Ela foi a maldita da história. E sim, eu tenho provas. Mas isso você nunca viu, né? Bom, não vai ser agora.

Passo batido no meio dos dois que se encontram com a mesma face estupefata, paralisados. É, meus amigos, essa é a face da verdade te pegando.

Não dura muito. Quando tiro a bolsa e a deixo em cima da mesa da sala, Murilo volta a discutir. Agora que lhe dei uma “nova informação”, não vai me deixar em paz.

Me canso rápido disso. Por que eu tinha que abrir a boca mesmo?

Merda, devia ter aguentado mais um pouco.

– Como assim “foi a Denise”? Ela foi sua amiga, uma das que mais te apoiou... Você quer me confundir, é isso. Quer tirar minha razão.

– Como se você tivesse muita, né? Pois deixa, eu sabia que você não ia acreditar. Eu nem devia ter tentado mesmo.

– Eu não entendo porque até hoje você o defende. Menos ainda como quis voltar com ele. Como você se deixa manipular tão fácil, hein...

Eu devia era meter a mão na cara dele, devia era caçar o maldito diário no meu guarda-roupa e mostrá-lo tudo, devia, devia... e não o faço por orgulho. E por preservação, eu ainda tenho chances de salvar meu plano.

No corredor, viro para ele e me preparo, com um suspiro em busca de alívio, para o ataque final. Com tanta merda feita, estava mais que na hora de colocar meu plano em prática.

– Só para constar, Murilo, essa... e-essa tá difícil de perdoar. Você mais que passou dos limites, arque com as consequências. Agora se os dois policiais me dão licença, eu tenho malas a fazer.

– Malas?


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Notas finais do capítulo

O.O
Tenso. Mto tenso. Murilo não tá nas melhores morais mesmo.
Algm chuta o plano?



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