People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 39
Bônus


Notas iniciais do capítulo

ACABOU CHORAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA ): gente eu vou responder os reviews depois eu prometo, e aqui está o pov do perry e espero mesmo que gostem



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Algumas pessoas tem música. Outras tem arte. Eu tenho poesia. Acho que foi por causa da minha mãe, que começou desde cedo a manisfestar o amor dela por poetas como E. E Cummings, ou Sylvia Plath, ou Frank O'hara. Quando eu era menor, ela costumava escrever pequenos trechos dos poemas na minha agenda da escolinha, pra todas as professores responsáveis lerem. Geralmente, isso me rendia algumas estrelas douradas a mais e lanches mais gostosos, mas quando eu cresci, parou de fazer importância para os professores e começou a fazer importância para mim. Poesia é uma coisa sagrada, quase divina, e possui aquele mistério de tentar compreender o que tal pessoa quis dizer juntando tais palavras e formando tal obra. Lindo. É completamente maravilhoso, e o universo parece tão maior quando você tem poemas para desvendar e você se sente tão inteligente.

O que foi por água abaixo quando eu levei a primeira garota para minha casa, para dormir comigo. Eu costumava ter uma desculpa muito boa para quando o sexo acabava e eu me sentia muito culpado por estar fazendo isso, quando eu me permitia pensar novamente. A desculpa muito boa vinha de um cara chamado Charles Bukowski, que dizia que sexo era meter porrada na morte enquanto você canta.

O que fazia todo o sentido e me tirava um pouco a culpa, mesmo que eu soubesse que era uma desculpa esfarrapada. Era uma forma de meter porrada na morte da minha mãe. Um grande "vá se foder" para o destino.

Admito que a frase de Bukowski não é uma das mais inteligentes dele, e nem uma das mais louváveis, mas era a qual eu recorria quando me sentia perdido demais e sem saber explicar porque diabos eu dormia com tantas garotas.

A maioria eram da escola. Eu seduzia elas tempo o suficiente e elas caiam direitinho.

Não me orgulho muito dessa parte também.

O que me leva ao porquê levar tantos livros para uma "reabilitação ao natural" tão longe de casa. Depois que meu pai descobriu -e a descoberta não foi tão bonita- e me avisou da minha partida, e perguntou porque eu estava levando uma mala de livros, eu expliquei que era porque me lembrava a mamãe (isso foi antes de eu mandar ele pro inferno em voz alta, o que eu também não me orgulho). E era verdade. Eu precisava, necessitava me reconectar com o Perry que eu era antes dela morrer, e a única forma de fazer isso era lendo todos aqueles poemas. Freneticamente. Porque eu sentia tanto a falta dela. Tanto que eu não conseguia respirar.

E eu respirava quando lia.

Ele me levou para St. Mara - a "reabilitação" - e eu passei as primeiras semanas chorando que nem um bebê (o que, novidade, não me orgulho também).

Dá para perceber que eu não me orgulho de muitas coisas que fiz, e a lista só aumento quando Emerson chegou.

Ela geralmente deixava meu lado revoltado-emo-depressivo-assassino-maníaco em exposição, e eu geralmente queria bater-matar-xingar-dormir com ela por causa disso.

Graças a Deus as coisas mudam. Graças a Deus eu me apaixonei por ela. Não sei dizer exatamente em que segundo isso aconteceu, mas ficou evidente depois de ela lançar E. E. Cummings em uma conversa, normalmente, sem querer aparecer, chamar minha atenção, ou me levar pra cama (infelizmente). Eu simplesmente soube. E eu podia passar a vida recitando os poemas da minha mente para descrever como é a sensação de saber que a pessoa na sua frente é a pessoa do pra sempre.

Talvez isso esteja gay.

Talvez eu não ligue, porque é verdade. Naquele momento, eu queria chorar. Porque ali estava uma garota linda, recitando E. E. Cummings, sem medo de me xingar e arruinar sua reputação ou com medo de que eu fosse mandar ela embora depois que ela fosse para a minha cama. E minha mãe ficaria orgulhosa. Acho que ela está orgulhosa. Não fiz muitas coisas boas no mundo, mas Emerson entra na lista.

Eu queria saber escrever um poema para resumir tudo isso em algumas palavras, e mostrar para Emerson, mostrar para a irmã dela, mostrar pra todo mundo, mas enquanto não possuo essa habilidade, me contento em mostrar o quanto eu aprecio sua companhia, o quanto eu a desejo, o quanto eu a amo. É o suficiente. E eu sinto orgulho de ser o suficiente para ela.

O celular de Emerson toca. Nesse exato momento, ela está dormindo do meu lado. Ela não acorda, então eu pego o celular e atendo. É Mackenzie, a irmã de Em.

–EM.

–É o Perry.

–Oi, Perry! -Ela é a outra coisa que eu gosto em Emerson. Talvez eu goste da irmã dela por causa do amor que Emerson tem por ela, que me lembra meu amor pela minha mãe. Acho que é bom encontrar alguém que consegue amar uma pessoa tanto quanto você. Alguém que entende.

–Está tudo bem?

–Preciso que você avise Emerson de uma coisinha...

–O quê?

–Que eu vou visitar ela no final de semana.

–Ela vai pirar.

–Eu sei.

–Algum motivo específico?

–Estou fugindo de casa.

–Ela vai pirar mais ainda.

–Eu sei! Então é bom que eu dê tempo pra ela se preparar... sabe...

–Mack...

–Perry... -Ela usa o mesmo tom. Espertinha.

–Tudo bem. Vou dar a mensagem.

–Obrigada!

–De nada! -Finjo animação, e ela desliga. Reviro os olhos. Mack tem sido uma presença constante na minha vida desde que Emerson entrou nela, mas não me incomodo. Minha vida era silenciosa. Eu era tipo Draco Malfoy. E agora, me sinto um Weasley. Com uma família. Meu pai ainda aparece, de vez em quando, e nós dois sabemos que ambos tentamos ser parentes melhores. Com o tempo, suponho, as coisas vão melhorar. Ele deve sentir falta da minha mãe também, e isso deve ser tão ruim para ele quanto é para mim, então respeito isso.

Emerson chega mais perto, se aconchegando no meu peito. O cabelo dela cai perto do seu nariz e ela espirra, sem nem acordar.

Quase rio da cena, só sorrio, para não fazer barulho para acordá-la.

No silêncio da noite, eu mando um olá para minha mãe. Na minha mente. Depois, eu digo para ela meu poema do dia e explico porque ele é o poema do dia, como nós fazíamos quando ela ainda estava vida.

Depois disso, me viro para dormir. E pela primeira vez em anos, agora quando vou dormir, estou com alguém que amo do meu lado. Alguém que eu sei que vai dormir no mesmo lugar no outro dia, e no próximo. E por saber disso, algo raro acontece.

Tenho orgulho de mim mesmo.


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Notas finais do capítulo