People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 33
Emoções


Notas iniciais do capítulo

oi gente OUTRA VEZ eu ainda vou responder os reviews ok é que eu to sem tempo porque tenho que arrumar um monte de coisa na minha casa e ugh e agh e enfim, eu tirei um tempo pra escrever pra vcs um dos melhores caps na minha opinião espero que gostem bye



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Eu sei que ele não vai me beijar, porque ele mantém uma distância considerável de mim, apesar de segurar minha mão para nos guiar. Acabo seguindo-o, tentando não ficar cansada, mas é impossível com Perry andando rápido do jeito que ele anda. Para me distrair disso, fico olhando as árvores, os galhos, e tentando tirar fotos mentais de cada uma dessas coisas, para quando eu for embora e sentir falta disso aqui. 

Odiar esse lugar é impossível. Acho que eu só odiava no começo porque estavam tentando me fazer amá-lo por motivos errados. Porque ia me ajudar. Mas acabei amando esse lugar porque eu estava longe de casa, e pude pensar racionalmente. Respirar. E aproveitar muito mais do que se estivesse em casa. O silêncio daqui costumava me irritar, porém não mais. Acho que o barulho do meu coração foi aos poucos diminuindo e ele também se sente confortável com o silêncio, e eu realmente duvido que conseguiria descobrir uma coisa dessas em casa. É como estar em um furacão silencioso. No começo, é perigoso e novo, e se você não souber lidar, vai te jogar de um lado para o outro até você... bem, até você morrer. Mas depois de um tempo, mesmo que esteja no meio da confusão, se fica lá por tempo o suficiente, consegue domar o caos, ou pelo menos se adaptar aquilo, e tornar um lugar seguro. E não estou falando do silêncio, estou falando do meu coração. Perry falou algo muito correto: ter orgulho do coração. Eu estou bem orgulhosa do meu, por conseguir domar o caos. Não acho que ele é um lugar seguro -não ainda -porque ainda há dias, como hoje, em que a confusão volta subitamente, mas o truque é domar a dor, tristeza, amargura até elas se tornarem apenas pontinhos no seu céu, não algo que te consumam todo dia, toda hora. E problemas com meu pai, Danny, raiva, insegurança, mudanças, todos são estrelas bem brilhantes no meu céu, grandes demais para serem apenas pontinhos, mas estrelas são bonitas, e elas também queimam. E queimam até sua energia acabar e se tornarem nada, apenas espaço no espaço. Como tudo que existe nesse mundo, visível ou não. 

Até eu. E é reconfortante saber que a dor que eu sinto no momento, mesmo estando nesse lugar tão lindo, com pessoas que significam o mundo para mim, vai passar. Vai queimar e brilhar, chamando minha atenção, e então desaparecer no seu tempo. Quem diria que o desvalimento seria tão reconfortante? 

-Aqui. -Perry diz, e eu olho para os lados. Estamos na ponte Nola. Poderia reconhecer apenas pelo som da água alguns metros abaixo. Começamos a caminhar por ela, mas Perry pisa em uma das grandes tábuas de madeira, e um dos pregos cai e faz a tábua pender para um lado. -Merda. -Perry diz, se abaixando, e botando de forma desajeitada o pedaço de madeira de volta, para não ficar um grande buraco na ponte, então, me olha.

-Vamos voltar. -Apesar de eu querer ficar na ponte, porque o lugar é o mais acolhedor, não quero arriscar pisar em um pedaço de madeira e deixar um buraco na ponte. -Depois a gente avisa Chris sobre isso. -Saímos dali, e andamos mais um pouco, até uma clareira. Há milhares de clareiras na floresta de St. Mara, mas essa é familiar, por ser a clareira em que a maioria das nossas Conversações aconteceram. Sentamos no gramado.

-Por que estamos aqui? -Ele tira um envelope do bolso do moletom. Estende para mim. Tem o nome de Danny. -O que é isso?

-É uma coisa que ele me mandou. Não sei se queria que eu te mostrasse, mas acho que é melhor mostrar, já que hoje não é um bom dia pra você por causa dele. -Abro com tanta pressa que quase rasgo todo o papel. Tem uma carta. Leio a caligrafia de Danny duas vezes, como se fosse um código, porque meus olhos já enchem de lágrimas e não consigo entender direito. Diz que está viajando para se encontrar com uma assistente social, e o corpo de Dover foi cremado. Ele está bem, na medida do possível e pede que nós (ele disse NÓS) não mandemos mais cartas, porque não tem endereço fixo e todas elas se perderiam. Ele vai esperar até estar permanentemente em algum lugar para entrar em contato. Não comenta sobre MINHA carta, mas pergunta se eu estou bem, e diz que tem saudades de nós. 

-Por que ele não falou da minha carta? -Choro que nem uma bebê. 

-Acho que ele ainda não sabe como responder. -Enterro o rosto nas mãos, devolvendo a carta. Para meu reconforto, ele perguntou sobre mim. Mas gostaria que ele tivesse me dado uma carta -especialmente para mim. Só para eu poder parar de sofrer por causa disso. Mas preciso parar de ser egoísta. Ele pode estar sofrendo, pode me culpar, e tudo bem senão quiser me responder. Só sei que eu sinto medo. Medo de que ele me esqueça. 

Falo isso para Perry. 

-"O amor é mais forte do que o esquecimento". -Ele responde, se arrastando para o meu lado e envolvendo meus ombros. Por que ele tem que ter uma resposta pra tudo? Um E. E. Cummings pra tudo?

-Você não está com medo disso? Nem um pouquinho? 

-Minha mãe morreu, e eu não a esqueci. Danny não morreu, está aqui nesse mundo, distante, mas vivo e entrou em contato. Sei que ele não vai nos esquecer. Sei que não vai te esquecer. Ele aprecia a amizade de vocês demais. 

-Ele não falou mais comigo. 

-Emerson. Assim como você tem um tempo pra se recuperar, ele também. Não se passou nem um mês. Sim, ele pode te culpar. Sim, ele pode estar bravo, magoado ou angustiado, mas ele é esperto o suficiente pra não tornar isso permanente. Vai entrar em contato, e quando entrar, vai falar o que você precisa ouvir, vai te dar uma confirmação, mas dê um espaço para ele botar os pensamentos DELE em ordem, tudo ao seu tempo. -Perry soa tão inteligente. Talvez porque ele é inteligente, mas não aquele tipo de inteligência que é calculada com um teste de QI, mas aquela que só as pessoas que viveram o suficiente sabem proferir. 

Wow.

É meio sexy. 

-O.K. -Limpo as lágrimas, sentindo meu humor mil vezes melhor. -O.K. Acho melhor voltarmos. -Mas não nos movemos. Contra meu melhor julgamento, adiciono: -Mack vai pirar se demorarmos. -E ele já está me levantando. 

-Sei que Mack está te incomodando também. -Ele me lança um olhar rápido enquanto fazemos nosso caminho de volta. 

-As vezes eu fico meio irritada com a felicidade dela. Como se nada a atingisse. É meio injusto. Mas lembro que tudo o que eu desejo é a felicidade dela, e quero me dar um tapa.

-É bem confuso. -Ele comenta. 

-Eu sei. Mas ela é minha irmã. Não importa o quão confuso isso seja, meu amor por ela é...

-...constante. -Olho surpresa.

-Como você sabia que eu ia dizer isso? 

-Por causa do que você falou na Conversação aquele dia.

-E você lembra? -Ele para, no meio do caminho, e me olha intensamente. Vem mais perto, hesitante, e respira fundo, fecha os olhos e encosta a testa na minha, segurando quase tímido minha cintura. Não sei o que fazer, então não faço nada. Ele parece lutar com as palavras, então as diz.

-O que você disse... o que você diz... é como poesia. É poesia. E eu lembro de boa poesia, então guardo na minha mente. As coisas que você diz. Junto com E.E. Cummings e tudo que minha mãe já me disse. -Ele abre um sorrisinho, e eu quero pular e dançar de emoção e surpresa. Isso. Isso que Perry diz, é a forma mais pura de sentimento que eu já ouvi na vida. E as coisas que isso me causa são a forma mais pura, crua, de emoção que eu já senti. Me sinto tão leve como se eu pudesse voar. Passo os braços ao redor de seu pescoço, e ele beija o meu pescoço, duas vezes, beijinhos leves, inocentes e ao mesmo tempo característicos de alguém que sabe muito bem como seduzir uma pessoa. Ele me aperta um pouquinho. 

Eu estava errada, muito tempo atrás. Isso não é o inferno. Isso é o mais perto de paraíso que tenho.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?