People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira
Notas iniciais do capítulo
esse cap he he
Danny não vai mais voltar. E, obviamente, nem Dover. O silêncio da casa se torna insuportável depois de uma semana desde que eles foram e não voltaram mais, então, agora eu passo a maior parte do tempo andando pela floresta ou explorando a praia ou a caverna. Às vezes, a senhora Kowki nos deixa pegar o carro e ir até algum lugar mais distante, porém temos que voltar em uma ou duas horas. Na maior parte do tempo, fico sozinha, mas quando vou com alguém, é sempre com Kristin.
Conversei com Liana alguns dias atrás. Ela estava mais quieta, mas não tenho certeza se é pelo marido ou por Dover. Perguntei o que tinha acontecido quando ela encontrou o marido.
-Ele disse que eu estava linda. -Ela funga, mas não estava chorando. -Depois fomos para cama, e quando acabamos de... você sabe -Eu sabia. E não queria detalhes. -Ele disse que não podíamos ficar juntos, porque ele conheceu outra pessoa.
-Mas isso não faz sentido, ele dorme com você pra DEPOIS falar que tem outra pessoa? -Ela me olhou, triste.
-Algumas coisas não fazem sentido, Emerson.
Ela estava certa. Porém, parcialmente certa. Errada em apenas uma coisa: nada faz sentido. E a prova disso é o aviso da senhora Kowki, no meu quarto em uma segunda de manhã que diz que Mack vai vir me visitar de novo.
É patética a minha reação. Fico com raiva. Muita raiva da minha irmã. Quer dizer, como ela se atreve a vir para cá, toda feliz, quando uma coisa ruim dessas acontece? Mas eu me seguirei, e perguntei quando. A senhora Kowki disse que em duas semanas, ela estaria aqui. Depois, sozinha, cheguei a conclusão que Mack só quer me apoiar nesse...momento difícil, e a raiva passou.
Agora só me resta sentir falta de Danny. E Dover, mas ele não era uma presença tão grande na minha vida, então não... sinto a diferença.
Liana estava tão certa. Nada faz sentido. Eu posso ficar encarando o teto uma tarde inteira procurando o sentido de tudo que aconteceu e eu não acho. Começo a ficar super revoltada, então na Conversação (uma coisa que Chris ainda obriga a gente a fazer, como se nada tivesse mudado) eu escolho esse assunto. O sentido das coisas. Porque eu estou tão, tão, tão revoltada.
-Você acredita em Deus? -Chris pergunta, para mim. Estamos eu, Kristin, Perry, Rose e Liana, junto com Chris, olhando para a praia, cada um com seu potinho de tristeza guardado no bolso.
-Não. Acho que não. Quer dizer... como eu posso acreditar? Depois de tudo isso? -Os outros concordam. Chris parece pensar profundamente.
-Talvez você esteja certa. Mas em situações como essa, onde você passa por algo traumático, ou forte ou desafiador, é sempre bom acreditar em alguma força maior.
-Se eu acreditasse em Deus, estaria certa de que ele me odeia. -Kristin diz.
-Uma citação de um religioso famoso... não lembro o nome, diz que Deus só nos dá um fardo que conseguimos aguentar.
-Bem, ele pesa os fardos bem errado. -Comento.
-O que eu quero dizer é que problemas existem para nos ajudar a crescer. Se você nunca superasse a raiva ou a tristeza, nunca saberia que há coisas melhores na vida. Ele só bota problemas na nossa vida pra ficarmos mais... sábios.
-Isso tá parecendo igreja. -Liana diz.
-E se os problemas nunca acabam? -Perry pergunta. Por um momento, nossos olhares de cruzam. Há intensidade neles, e eu fico encarando até ele desviar o olhar.
-Eles sempre acabam. O truque é você reconhecer os problemas e quando eles já não são mais problemas.
-Não parece fácil.
-Pensem no seu professor de matemática, quando ele dá uma tarefa com questões de A até G. Você vai resolver uma questão de cada vez. As vezes, começando pelas questões mais fáceis, ou pelas mais difíceis. Vai demorar. Vai dar dor de cabeça e você vai querer deixar pra mais tarde. Mas você se obriga a terminar naquela hora mesmo. Todas elas. E então, acabou. Você tem uma semana de descanso, sem ninguém te dando trabalhos e tarefas, até que, na semana seguinte, o mesmo professor passa a mesma quantidade de tarefas, só que mais difíceis. Estão entendendo?
-Tradução: a vida é um monte de questões de matemática.
-Matemática é do capeta. -Kristin adiciona ao comentário de Perry.
-Sem piada. É isso mesmo. A questão é saber que os problemas vão vir a todo momento, mas você tem que estar pronto pra lidar com eles e saber aproveitar os momentos em que está livre deles.
-Faz parecer tão simples. -Chris me lança um olhar pesado.
-É simples.
-Tanto faz. -Continuamos conversando sobre isso, voltando ao assunto Deus, depois passando para Danny e Dover, até que Chris decide que temos que voltar. Apesar de ter me dado mais raiva, a Conversação meio que ajuda. Mais no assunto Danny e Dover do que em qualquer outro. Dá pra ver que Chris sabe o que está fazendo, quando fala de luto e morte. Me pergunto se isso ajuda alguma coisa o caso de Perry. Ele parece o mesmo.
Por falar em Perry, volto para a casa da senhora Kowki com ele. Decido falar com ele.
-Perry?
-O que é? -Ele não diz ríspido, nem grosso. Só vazio, distraído.
-Obrigada pelo que você fez. No, hm, hotel. -É a primeira vez que menciono isso.
-Quer dizer, socar seu pai? Aquilo me ferrou depois. Chris ficou uma fera.
-Então porque fez?
-Eu não sei. Queria testar uma coisa.
-O quê?
-Por que você liga?
-Era o meu pai quem você socou.
-Desde quando você liga pro seu pai?
-Não ligo. Ligo pra você. -Fico vermelha. O.K. Palavras erradas. Ele vira abruptamente e ergue uma sobrancelha. -Tá, errrr, foi uma escolha de palavras ruins. Quero dizer que... eu não sei o que eu quero dizer. Mas... sei lá.
Emerson Krish sem palavras. Essa é nova.
-Queria entender a sua raiva. -Ele responde, depois que eu fico um minuto me afogando em vergonha. Continuamos a andar.
-Minha raiva dele?
-É. Ele não parece ruim. Mas eu fiquei pensando que, se eu fizesse o que você fez, talvez entenderia.
-...Ele disse que preferia ver minha mãe morta. -Isso sai como um sussurro. -Foi isso que ele disse antes de eu socá-lo. -Um minuto passa.
-Bem. Isso com certeza dá raiva.
-É.
-Sinto muito. -Ele diz, VERDADEIRO. De repente, fico surpresa demais com o que Perry disse para andar normalmente, e tropeço em um galho no meio do caminho. Perry me segura, mas acabo puxando ele para o chão.
Então, uma coisa acontece.
Uma coisa não tão agradável. Sinto alguma coisa lá embaixo. Tipo, embaixo vindo... dele.
Ele cai em cima de mim, então percebo de cara.
Esse é Perry. Com uma... ereção? Ah, meu Deus.
PERRY TEM PROBLEMAS COM SEXO! É o que minha cabeça grita. Arregalo os olhos, e Perry sai de cima de mim tão rápido quanto caiu. Olha pra mim. Estou vermelha. As palavras não saem. Então faço o que sei fazer de melhor: viro, e começo a andar bem rápido, indo pela direção oposta. Quero me jogar da ponte. Me enterrar em um buraco. Mudar meu nome e ir morar no Chile.
Ah. Meu. Deus. Eu causei uma... ereção nele?
Não é surpresa que essas coisas acontecem, mas ainda sim... oh. Oh. Oh. Oh.
Me sinto como se estivesse flutuando no caminho pra casa, e fico com uma vontade imensa de contar isso a Danny.
Então eu lembro que ele foi embora. Então, lembrando disso, lembro que Dover morreu. E lembro que pode ser minha culpa.
-Emerson, por que está...? -A senhora Kowki não termina. Estou entrando dentro da casa em um rompante, agora chorando, com o coração acelerado e a cabeça doendo e vou direto para o telefone. Minha cabeça grita: Perry, Perry, Perry, Perry, Dover, Dover, Dover, Dover, Danny, Danny, Danny, Danny, e eu penso em todos os problemas dele e tudo que aconteceu entre mim e Perry e como ele estã triste por causa da mãe e da morte de Dover e como tudo isso me faz pensar que a vida é uma coisa muito confusa e eu preciso conversar com alguém pra entender alguma coisa e antes que eu desmaie por estresse outra vez eu disco um número. E só percebo que é o do meu pai quando ele atende.
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