People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 24
Dover.




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O choque pelo que aconteceu com Perry e meu pai foi eclipsado por um choque pior. No dia seguinte, eu acordo com uma ligação de Chris, já em St. Mara, avisando sobre o que aconteceu no tempo que eu estava fora. Primeiramente ele disse que Dover estava no hospital, e isso causou temor o suficiente para eu convencer minha mãe a me levar de volta para a Orientação, ao invés de passar o dia fazendo compras com ela. Ela ficou meio decepcionada, e um pouco surpresa por eu estar tão desesperada, mas aceitou quietamente. Eu também estava surpresa pela minha reação, mas acima de tudo, estava assustada e eu só conseguia pensar em Danny. Meu amigo. Danny, o cara que já teve que aguentar muita merda na vida e não merecia ter o gostinho de perder o irmão. Eu sabia que ele precisava de apoio, então tinha que voltar.

-Não faça besteiras. -Minha mãe disse, quando me deixou no começo da estrada, onde Perry estava esperando com o carro, já que Chris deveria estar fora.

-Vou me comportar. Obrigada por tudo, mãe. -Respondi, e depois a abracei forte. Aquela notícia tinha me abalado um pouco. Depois, sai. A viagem de volta para a residência da senhora Kowki foi meio silenciosa e estranha, por causa do clima entre Perry e eu. Só que Dover era um assunto mais importante então nenhum de nós se incomodou em falar alguma coisa.

Depois, Kristin me deu a notícia. Só estavam as garotas na casa, quando chegamos, e Rose e Kristin estavam chorando. A senhora Kowki fez Perry e eu sentarmos no sofá, e lentamente contou para nós que Dover, irmão gêmeo de Danny, filho, um ser humano como eu, morreu. Durante todo o caminho que Perry e eu percorriamos para voltar para casa. Causa: suicídio. De acordo com a senhora Kowki, ele esperou até o irmão estar fora, me visitando, para inalar gás tóxico. Isso ocorreu por volta das onze da noite, e a senhora Kowki nunca poderia ter adivinhado. Ela falava firme, mas estava abalada. Minha mente intercalava entre o nome de Danny e todas as vezes que falei com Dover ou fizemos alguma coisa juntos. Por um momento egoísta, fico grata por não ter sido Danny. Mas tiro o pensamento horrivel da cabeça quando começo a pensar em como Danny está. E depois, lentamente o fato entra na minha cabeça. Dover morreu. Morreu. Parou de viver. E a pior parte, a que eu não gosto de pensar, é que nada disso teria acontecido se eles não tivessem ido para Nova York.

Tudo fica preto depois. Não falo com ninguém a não ser a senhora Kowki, que me dá remédios pra dormir e acabo caindo na inconsciência por dias. A dor. A dor fica enorme. Quero conversar com Danny -e com Kristin, que ainda dorme no mesmo quarto, mas não consigo. Danny, porque ele simplesmente sumiu. E Kristin, porque ambas estamos no estado-zumbi. Meu coração não aguenta. Sinto que ele vai parar de bater, de cansaço. Não está certo.

-Hora do almoço. -A senhora Kowki bate na porta.

Kristin e eu olhamos para cima.

-Não estou com fome.

-Eu também. -A senhora Kowki parece em conflito.

-Vocês precisam comer. Os efeitos do remédio em um estômago vazio são horríveis. -Contra nossa vontade, levantamos.

Agora fazem quatro dias. Não vi Danny. Nem Chris. Mal soube do que vai acontecer com o corpo de Dover e mal vejo Perry. Ele está mal também. Em um dos meus breves momentos em que não estava chapada de remédios, pude ver a senhora Kowki fazendo a barba de Perry, então julgo que ela também não confia mais na vontade de viver dele.

Pra falar a verdade, não confio mais na minha também.

Sento na cadeira.

-Ele ligou? -Kristin pergunta. Pego um pedaço minusculo de lasanha, sem fome.

-Chris, sim. Ele -ela faz uma pausa- avisou que a estadia de Danny foi cancelada.

-Pra onde ele vai? -Ela não responde. E não quero pensar na resposta. A culpa me consome e sinto que vou chorar.

-...Dover? -Rose pergunta e na minha frente, Perry fica tenso.

-Ele, hm, foi enterrado. Ontem.

-Como o Danny está?

-Péssimo. Hm, não é a melhor hora de tocar no assunto. -Liana se levanta e sai, em silêncio, e lembro do marido dela. Se eu estivesse em melhores condições, falaria com ela, mas são tantos problemas, TANTOS, que não estou apta para nada disso. Preciso me recuperar primeiro.

-Podemos falar com ele? -Pergunto.

-Ele quem?

-Danny. -Preciso falar com ele. Garantir que ele vai ficar melhor. Talvez eu só precise do perdão, porque honestamente, a culpa consome grande parte de mim. Se Danny não estivesse lá por mim em Nova York, ele não teria que estar passando por isso agora. Sozinho. Seu pai... Não consigo pensar nisso. Sinto as lágrimas arderem enquanto a senhora Kowki me responde.

-É melhor não, querida. Ele pode não reagir bem. -Ele diz suavemente, mas a cada palavra uma faca é enfiada no meu coração. Isso é como uma mensagem oculta, dizendo: ele pode não gostar de falar com você pois você é a culpada.

-Quando nós pudermos... Você pode, hm, avisar? -Kristin pergunta. A senhora Kowki concorda e terminamos de comer em silêncio. Perry é o primeiro a sair. Sinto meu coração apertar. Ele era bem amigo de Dover. Não suporto imaginar que ele está passando por uma perda outra vez. Quase corro para abraçá-lo, mas a tristeza entre nós me afasta.

-Seu pai ligou. -A senhora Kowki avisa. Eu digo que não ligo, mas aquilo fica na minha cabeça, remoendo a noite.

Naquela noite, Kristin e eu conversamos pela primeira vez em dias. Sobre Dover e Danny. Pensar em Dover morto ainda é demais para nós, então falamos sobre Danny, até que nossas cabeças estão pesadas demais e dormimos.

Sonho com Danny e Dover. E acordo chorando, ganhando algumas pílulas.

-Vai ficar tudo bem. -A senhora Kowki afaga meu cabelo. Digo mentalmente para ele que é mentira. As coisas nunca ficam bem. Fazendo a lista de coisas ruins, minha cabeça se enche.

Meu pai. Os pais de Kristin. E Perry. E os problemas de todos os seres da terra. Não vai ficar tudo bem. Essas coisas nunca vão embora, e quando a senhora Kowki sai, depois do meu silêncio, Kristin me abraça e eu me sinto um pouco reconfortada por esse ato, torna a dor menor. Abraço-a de volta, tentando causar a mesma reação nela, e ficamos quietas, assim, tentando fazer com que tudo fique bem, mas nenhuma de nós verdadeiramente acreditando nisso no momento.


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