People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 22
E. E. Cummings.


Notas iniciais do capítulo

provavelmente meu preferido
mas tudo que tiver e e cummings vai ser meu preferido então whatever bye



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Má hora. Má hora pra ficar feliz. Por que meu pai vem descendo as escadas em nossa direção. Ele está correndo, desesperado pra chegar, e eu entro em pânico. Não quero falar com ele. Mack parece entender, porque me empurra para a rua na hora que o sinaleiro indica sinal vermelho e eu saio correndo ao encontro dos outros, do outro lado da rua, mas meus olhos estão presos no olhar do meu pai. Ele desvia, quando Mack o abraça e começa a chorar outra vez e o sinal fica verde novamente, os carros passam e nós estamos a uma distância segura. Meu pai fala com minha mãe. Ela mantém a expressão neutra, mas sei que está nervosa. Raiva ferve minhas veias. Como ele tem coragem de ir falar com ela?

-Emerson? Oi? Emerson? -É preciso a voz de Kristin para me tirar do transe e olhar para eles. Nem todos estão aqui. Só três. O que me deixa surpresa. Danny, Kristin e Perry. Perry. Tenho que agradecer a ele por manter minha cabeça ocupada lá dentro, mas ele vai me achar esquisita. Ele já deve me achar esquisita, mas deve me achar mais ainda. 

-...Oi! -Tento soar animada, mas parece que eu estou morrendo por causa da minha voz rouca do choro. Abraço todos eles. 

-Cristo, você está com uma cara de gambá. 

-O que isso quer dizer?

-Uma cara muito, muito acabada. -Kristin explica. Olho feio para Danny.

-Valeu. -Ele revira os olhos.

-Sabe que eu estou falando pro seu bem, -seus olhos partem para o outro lado da rua. -Seu pai? -Não me viro. Não parece seguro. Meu coração ainda bate forte e acelerado e tenho certeza que minhas bochechas estão vermelhas. 

-Sim. 

-Você não quis falar com ele? -Perry pergunta. O fito em silêncio. Quero contar para ele sobre o que eu falei para o meu pai, porque uma parte do ato foi por causa dele, mas não é a melhor hora. 

-Não, er, ainda não. Mas lá dentro não foi tão ruim. -Mentirosa. Grande. Mentirosa. -Enfim! -Mudo de assunto. -O que estão fazendo aqui?

-Decidi que era uma boa hora para fazer uma visita a Nova York, e trouxe companhia. -Chris explica e eu lanço um olhar feio em sua direção. Não acredito. Ele está mentindo tanto quanto eu. -Sua mãe ligou. -Minha expressão muda. Não sei se sinto vergonha ou gratidão. Olho para baixo.

-Ah.

-Mas eu já vinha planejando. Tem o parque de diversões no Brooklyn que eu queria ir. Mas sozinho não tem graça nenhuma. Estava pensando se vocês não podiam vir comigo. -Não consigo acreditar que eles vieram para Nova York por minha causa. Não dá pra acreditar que eles estão aqui. 

-Amei a ideia. Emerson, você tem que me emprestar uma das suas roupas de inverno. Essas botas são de morrer. -Todo mundo olha para Kristin, sob a menção da palavra com "m". Ela encolhe os ombros. -Quê? É uma expressão. 

-Tá, tá. O parque abre em meia hora. Você vai? -Chris me pergunta. Olho para meus amigos. Eles parecem meio fora do habitat natural olhando os carros rápidos e os prédios grandes. Um pouco de diversão ia ajudar, e eu poderia mostrar uma pouco da cidade para eles. 

-Claro, só me deixa falar com minha mãe. -Eles concordam e eu aproveito que meu pai foi embora para atravessar outra vez a rua e me encontrar com a minha mãe. Ele me olha, especulando silenciosamente se meu humor está melhor. Limpo meus olhos, vermelhos, e tento dar um sorriso. -Você chamou os residentes da minha casa pra virem pra Nova York? Por causa da decisão jurídica? 

-Você fala como se fosse impossível. Era perto. Eles vieram de carro. E posso ver a mudança em você. 

-Mãe, dá uma olhada no Perry. -Mack diz. Franzo o cenho, pensando no que ela quer dizer. 

-Quem? -Minha mãe olha para o outro lado da rua. 

-Perry. O musculoso. Aquele. Dos bíceps. -Conhecimento toma conta de mim e eu faço uma careta. 

-Mack... 

-Ele é bonito, filha, -ela olha pra mim.

-Lá não é uma casa do amor, sabe. É uma casa de orientação. 

-Você pode tirar proveito disso, é claro. 

-Eeeeeenfim. -Digo, saindo do assunto esquisito. Não acredito que minha irmã falou dos bíceps de Perry pra minha mãe. Bem. São bíceps bem grandes mesmo, mas mesmo assim. -Vamos para o parque de diversões. Mack, quer ir junto?

-Sim! -Ela responde, na mesma hora que minha mãe diz:

-Quero vocês no hotel às dez horas. Em ponto. Avise seu mentor. 

-É guru. 

-Avise seu guru. 

-Achei... achei que eu ia voltar com eles pra St. Mara? -Os olhos da minha mãe se suavizam. 

-Vou passar o dia com as minhas filhas amanhã. Se quiser, pode ir, mas...

-Não. Tudo bem. É claro que eu fico. -Senti falta da minha mãe demais pra negar um pedido desses. 

-Então tá, se divirtam. Tenho que voltar e falar com o advogado. Estou orgulhosa de vocês. As duas. -Ela frisa, nos dando um beijo. Depois volta e eu olho cuidadosa para minha irmã. Ela ainda está meio triste por causa de tudo que aconteceu e eu não espero que ela se recupere tão cedo. 

-Você não precisa ir se não quiser. 

-Tá maluca? É claro que eu quero. -O.K. Talvez ela se recupere mais cedo que eu. 

-O que ele queria? -Mack fica tensa. Sabe de quem eu estou falando.

-Perguntar se estava tudo bem. Não conversamos muito. Ele queria falar com você mas eu disse que não era a melhor hora.

-Obrigada. -Dou um mini abraço nela. 

-Sem problemas. Vamos logo. -Puxo ela para o outro lado da rua, onde ela solta ois e olás e entramos no carro de Chris. Eles parecem meio cansados da viagem, por isso não conversamos muito e o único barulho no carro é o meu nariz fungando por causa do choro de mais cedo e o de Mack também. O parque está brilhando quando chegamos, porque todos os brinquedos tem luzinhas e a noite tudo fica mais evidente. De longe, dá pra ver a montanha russa e a roda gigante. O barulho também vem, a medida que nos aproximamos. O Brooklyn, apesar de não ser muito glamouroso parece luxuoso a noite, por mais que vazio. Compramos tickets o suficiente para irmos em qualquer brinquedo. Os olhos de Danny brilham de entusiasmo. Nunca o vi tão... feliz. Dou um abraço nele e ele me olha surpreso, enquanto só dou de ombros. Também não sei o que isso significou. 

Os outros dão uma olhada em tudo, enquanto eu só observo a roda gigante. Venho aqui desde os quatro anos. Meus pais me traziam todo verão e me deixaram ficar lá em cima na roda gigante quantas vezes eu quisesse. Decido que não vou subir lá hoje. Acabo indo nos carrinhos de choque com os quatro, enquanto Chris compra comida para ele. Combinamos de voltarmos em uma hora para a entrada, a fim de nos encontrarmos. Perry quase me estraçalha no carrinho.

-Ei! Qual o seu problema? -Pergunto, mas não estou irritada. Bato nele de novo e o seu carrinho voa, bem na hora que o carrinho de Mack bate no meu. E dessa vez sou eu que voo. 

-Vocês são tão violentos. -Danny reclama, mas quase leva Kristin para o outro lado com a batida que dá no seu carrinho. Depois de um tempo, decidimos que os carrinhos chamam o lado raivoso em nós e paramos de brincar. Vamos jogar argolas. Depois, bater peso. A disputa fica entre mim e Perry, porque eu o provoquei por causa do seus bíceps, depois de Mack fazer um comentário sobre eles. Ele ficou vermelho, mas depois se recompôs e me chamou pra briga. O objetivo é tocar no martelo e esperar a girafa subir, de acordo com a força. Eu vou primeiro. A minha não toca o último traço, mas a de Perry sim, e ele ergue uma sobrancelha, olhando pra mim, vitorioso.

-Me erra. -Murmuro. 

-Adoraria. -Ele retruca. Comemos cachorro quente retomando o fôlego e nos dividimos em grupos. Acabo ficando com Perry. Fico com ele porque quero ir no Passeio da Morte ver suas reações ao ver as criaturas fajutas pularem em cima dele. O resto do grupo estava com medo. Até a Mack, que já veio nisso antes. 

Ele não pareceu achar ruim. Talvez ele pense que eu vou ficar com medo e cair fora, mas está errado. 

É a melhor parte desse parque. Entramos em um carrinho e seguimos pela floresta. 

-Eu meio que falei com ele, sim. -Digo, enquanto nada assustador aparece. Só árvores e isso nós já estamos acostumados. 

-Sério? -Ele vira para mim. Seu rosto mal iluminado pelo poste de luz. 

-Mais ou menos. Eu só disse "me perdoe". Mas acho que tenho o mesmo problema que você. Não penso antes de falar quando eu estou triste. E eu estava triste. -Ele fica meio vermelho quando menciono aquele dia. E tem toda razão. Afinal, ele disse que eu era bonita. Isso causa alguma reação. 

-É um começo. 

-É... -Não dizemos mais nada pelos próximos cinco minutos. Então um pirata sem olho feito de cera pula em nós, e eu solto um gritinho enquanto Perry nem pisca. 

-Isso é o melhor que eles tem? -Não assustou nada, mas fico decepcionada pela reação dele. -Meu coração nem acelerou. 

-Perry? Você tem coração?

-Cala boca. 

Não falo nada. Um boneco do Chuck, uma cozinheira parecida com aquela menina dos filmes de terror e uma bailarina negra aparecem, e Perry não faz NADA. 

Sério. 

Decepção. 

-Nem um gritinho? -Pergunto a ele. Ele me olha feio. 

-Me dê um crédito. Estou surpreso por você não ter corrido ainda. 

-Nope. Forte como uma rocha. 

-Sei. -Empurro seu braço.

-Machista. 

-É a última vez: cala boca, Emerson. -Então ouço o som da serra elétrica e os olhos dele se arregalam. Isso. ISSO. 

Sou doente por querer que Perry se assuste? 

Porque ele se assusta. Sinto os pelinhos do seu braço se arrepiarem quando escuta o som da serra se aproximando e ele até vem mais perto. Reprimo uma risada, mas estou rindo por dentro. 

Porém, as coisas mudaram na programação. O cara da serra elétrica vem antes do planejado e eu acabo soltando um grito tão alto quanto o que Perry solta. Fecho os olhos e seguro no seu braço também, e dessa vez ele não o retira. 

-PUTA QUE PARIU. -Diz, quando o homem está fora do nosso alcance. -Puta que pariu. -Repete. Só começo a rir, vermelha, deixando a adrenalina sair aos poucos. 

-Eles mudaram o script. 

-Como assim? -Ele me olha curioso. 

-Venho aqui desde que tinha quatro anos. -Solto o seu braço e ele olha para minhas mãos, só agora percebendo que eu estava me segurando a ele. -Se abaixa. -Digo, e nos abaixamos bem rápido enquanto um barulho de morcegos soa e vultos pretos passam por onde nossas cabeças estavam. Quando voltamos, termino de falar. -Já estou acostumada. Mas o cara da serra. Ele realmente veio antes da hora. Aquilo me assustou. 

-Que coisa do capeta. -Ele replica, sem fôlego. -Trapaceira. 

-Não fiz nada.

-Eu SABIA que você estava confiante demais. 

-Eu sou corajosa o suficiente pra vir sem gritar, Perry. 

-Trapaceira. -Ele repete. Volta a respirar normalmente. 

-Não é engraçado que as pessoas venham pra isso aqui desviar de todas as possíveis mortes que cada um desses caras faria? Isso é tão nós. 

-Nós?

-É. Essa coisa de morte. 

-Nós, nós ou nós, eles? -Ele me olha, profundamente. Fico vermelha de novo. 

-Sei lá, Perry. Nós, todo mundo. Para de me olhar. 

Ele disse que eu era bonita.

Isso pula na minha cabeça. 

-Sério, para. -Estou envergonhada demais pra aguentar os olhares dele. Credo. Ele vira. Mais algumas pessoas tentando ser assustadoras passam por nós e acabamos soltando suspiros entediados. Depois, quando saímos, ele diz:

-Pior coisa que eu já vi. 

-Diz isso pro cara da serra elétrica.

-Não enche. -E então, olha para a roda gigante. Não. 

-Não vou lá. 

-Por que não? Será que você está com medo? -Ele provoca, dando um sorriso babaca. 

-Vai pro inferno. 

-Medo de altura?

-Nunca. 

-Então, o que você tem a perder? -Não vou contar a ele sobre meu pai. 

Então subo na roda gigante com ele. Penso em números primos pra não pensar no meu pai, até pararmos lá em cima. A viagem é silenciosa, mas no topo, onde dá pra ter uma boa vista de Nova York, é inevitável, principalmente quando Perry abre a boca pra falar. 

-Minha mãe sempre falava que é bom ver as coisas por um ângulo diferente. De longe. Quando você está no meio da confusão não tem ideia que a alguns metros de distância tem paz e calma. É sempre bom se distanciar. Tem esse poema do E.E Cummings...

-...Outro? -Ele me olha, talvez surpreso.

-É outro. Não lembro direito como é, mas ele falava da lua. E se perguntava se a lua não era apenas um balão repleto de pessoas bonitas. Gosto de pensar que ele só achava uma coisa tão bonita quanto um balão porque estava a distância. As coisas ficam mais bonitas a distância. Mais fáceis. Rodas gigantes me dão a sensação de distância dos problemas. Não acontece com você? -No momento, essa roda gigante me traz lembranças dolorosas, mas ele não precisa saber. Perry está me dando tanta informação que fico abismada. Faço que sim com a cabeça, olhando para as silhuetas dos prédios. 

-Sua mente é uma floresta viva cheia de pássaros cantantes. -Digo, sem pensar. 

-Isso também é E. E. Cummings. Por que falou?

-Estou falando de você. 

-A maioria das pessoas é perfeitamente temerosa ao silêncio. 

-...? 

-Estou falando de você. -Ele repete meu tom. Respiro fundo. Ele (ou E.E Cummings) está certo. Mas decido mudar de assunto antes que fique muito pessoal. 

-O.K, enfim. Acho que sua mãe estava certa. 

-Eu também. 

-Você sente falta dela? -Me sinto idiota perguntando. -O.K, esquece. 

-Sim. Sim, eu sinto. Mas tem um último poema. "Eu carrego seu coração comigo (eu carrego no meu coração) e eu nunca estou sem ele." 

-É assim que você se sente? Sobre a sua mãe? 

-Carrego o coração dela no meu. Estou começando a entender que isso é suficiente. Mesmo quando não tenho mais a presença dela aqui. Acho que serve pro seu pai também. Você está segurando o coração dele no seu, por mais que não queira. -Olho pra ele. Droga, estou sem ar. Meus olhos ardem. Seus olhos escuros olham pra mim. 

E então, começo a chorar. 


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