Durante a viagem de carro toda, o pacote com o resultado que mudaria minha vida fica me tentando no banco do carona. Um lacre e uma camada de envelope entre eu e meu futuro.

Me concentro no trânsito. Percy não falou comigo ainda, mas o assunto não entra na minha cabeça e a tentação do pedaço de papel me deixa aflita.

Ligo o rádio e pulo pelas estações sem achar nada bom. Desligo o rádio.

Estou praticamente no meio do caminho. Meu nervoso me faz começar a bater os dedos no volante e tenho certeza que, de fora, eu pareço que estou animadamente escutando música.

Eu paro de bater os dedos. O que estou pensando? Não posso abrir o envelope ou o café com o Percy vai ser estranho e eu não aguentaria nem olhar para cara dele sem chorar e despejar tudo que eu tinha feito para ele.

Sim, chorar. Não importa o resultado, eu sei que vou chorar.

Eu paro em um sinal. Respiro fundo e olho pela janela. Quase lá.

Eu olho meu celular de novo e vejo que estou atrasada uns bons 15 minutos. Como o Percy não me ligou ainda? Suspiro e pego meu celular na mão, olhando a foto de plano de fundo. No dia do parque, o Percy recebeu uma ligação e ficou andando com o celular no ouvido. Jared se distraiu comigo e sentou no meu colo. Quando o Percy voltou ele viu a cena, Jared sentado no meu colo, eu sorrindo para ele, e tirou uma foto.

A história por trás da foto era muito mais significante do que a foto em si.

–x-

Eu entrei no Starbucks a passos rápidos e não vi Percy de primeira. Fiquei nas pontas dos pés e estiquei o pescoço procurando por ele nas mesas do fundo. Avistei a cabeleira preta dele e fui, quase correndo, até lá. Quando me aproximei mais vi que ele não tinha comprado um café para mim. Parei no lugar, dei meia volta e fui pedir o meu próprio. Ele deve ter achado que eu ao demorar muito ainda.

Eu estou absorta em meus pensamentos quando chamam meu nome para me entregar o café. Caminho até a bancada e recebo o copo. Vou andando até Percy tomando um gole do café que eu descubro estar muito quente.

Chego na mesa e me sento.

–Oi Percy. – minha voz perde a intensidade quando percebo que ele não tem o sorriso de sempre no rosto. Ele levanta a cabeça mas não olha nos meus olhos.

Eu fico calada enquanto vejo ele respirar fundo, como se estivesse tomando coragem para falar algo. Sinto um frio na espinha.

–Eu não quero mais isso, Annabeth.

Eu fico parada.

–O que... – eu começo mas sou interrompida.

–Eu estou tentando te falar que eu não quero ser só seu caso. Eu gosto muito de você, Annabeth. Muito. Mas é impossível suportar isso. Você passa a semana comigo, a gente sai, se diverte, eu brinco com o Jared. Mas é difícil. É difícil ver que todo final de semana você vai e volta pra casa e finge que ama aquele cara. E nem tente me dizer você ama ele! – ele interrompe a apropria fala quando eu abro a boca para tentar contradize-lo. – Se você amasse ele não estaria saindo comigo.

Ele termina e olha para o relógio, ainda evitando meu olhar.

–Eu quero que você me diga que vai deixar o Luke.

Eu me desespero. Todas as minhas inseguranças voltam, e eu não sei mais distinguir meus sentimentos. Nem por mim mesma.

Eu quero falar que, sim, eu vou lagar o idiota que me deu um anel de ouro por não me conhecer bem. Eu quero falar que vou largar tudo e viver com Percy.

Mas o que sai da minha boca é bem diferente.

–Não sei.

Com isso ele se levanta abruptamente.

–Eu estou atrasado.

É tudo que ele fala enquanto me dá as costas e caminha até a porta do café. Sua saída me lembra da primeira vez que viemos tomar café juntos.

Ele vira de costas e anda um pouco. Nessa hora, lembro que não nos despedimos e me preparo para gritar um tchau mas ele se vira primeiro e fala.

–Não se engane, Annabeth, você é especial! Tchau!

Eu fico vermelha, mas me tranquilizo.

–x-

De volta ao meu carro, a minha emoção que, no início da manhã, estava quase voando pelo teto, se esvaiu, e eu olho o envelope no banco do carona com metade da emoção anterior.

Depois que Percy foi embora eu tive que segurar as lágrimas para não chorar no meio do Starbucks e deixar claro que o acontecido entre mim e Percy foi algo parecido com um término.

Eu ainda seguro o copo de café, agora frio, e olho para um ponto fixo no horizonte.

Eu não quero abrir o envelope sem a Thalia, mas nosso último encontro não foi o melhor.

Suspiro e olho o pedaço de papel. Eu decido ir para casa e ligo o carro. A vontade de chorar só por conta de Percy já era suficiente por agora.

–x-

Eu sento no sofá. O Envelope na mesa. Meu celular está do meu lado já no contato de Thalia, eu ligaria para ela seja qual fosse a situação.

Estico minha mão e pego o papel. Começo a soltar o lacre.

Quando puxo as folhas de dentro eu fico confusa. O teste daria positivo se os DNA’s combinassem. O material é um pequeno bloquinho de folhas. Na primeira página tem as especificações dos itens avaliados, na segunda o que eu consigo entender é exatamente nada. Na terceira página os itens são parecidos com o da segunda, o que me leva a pensar que são as especificações especificas dos itens avaliados.

Na última página, no final, tem escrito em uma fonte grande e em negrito.

RESULTADO: ambas amostras tem...

RESUTADO FINAL: TESTE POSITIVO. PATERNIDADE CONFIRMADA

Minha mão trêmula vai até o celular. Eu não percebo a cascata de lágrimas caindo até que as mesmas caiam nas minhas pernas descobertas.

A ligação cai na caixa de mensagens. Logo após o sinal eu começo a falar, sabendo que Thalia simplesmente não atendeu o telefone.

–Thalia... é ele. Percy. Thalia! Thalia, Thalia... Percy é o pai Thalia.

Com isso, eu desligo o celular. Tudo que consigo fazer é soluçar.

Percebo a besteira que fiz no Starbucks.

–x-

P.O.V. Percy (bonus 1)

Naquele dia eu tinha acordado de mal humor. O assunto sobre mim, Annabeth e o marido ridículo dela, tinha me deixado acordado até as tantas da noite.

Quando eu recebo uma mensagem da Thalia que simplesmente dizia “precisamos conversar”, eu sabia que algo tinha dado errado. Não me leve a mal, eu conhecia muito bem a melhor amiga da minha namorada.

Eu me arrumei rápido, colocando só uma blusa e um short. Saí do meu apartamento ás pressas com minha chave.

–x-

Thalia abriu a porta para mim e se sentou no sofá dela, puxando o notebook de cima da mesa para seu colo. Típico. Eu entrei no apartamento e fechei a porta atrás de mim. Fui até ela e fiquei em pé na sua frente esperando um comando.

–Senta, seu lerdo – ela falou abrindo um sorriso.

Eu sorri de volta com a intensidade que podia, devido ao meu mal humor, e me sentei do seu lado, passando um braço pelas costas dela como que em um abraço.

–Você foi rápido hein? – ela comentou enquanto procurava alguma coisa no laptop em seu colo.

–Eu não tinha nada para fazer, além de ter que tirar minha cabeça de uns assuntos.

–Hm, “uns assuntos”. Bom, acho que você vai ter que abrir muito espaço na sua cabeça para isso. – ela falou enquanto me mostrava uma troca de e-mails dela com o Luke.

–Eu não tô entendendo – falei

–Caso você não tenha percebido ele tem me perguntado, aliás diariamente, - ela observou, apontando para as datas dos e-mails – coisas como a cor preferida dela e as comidas de festa.

Desvio meu olhar entre ela e a tela do computador, tentando entender.

–Ele está planejando um casamento, Percy.

Quando eu olhei para os e-mails vi que, muitas das fotos que Luke tinha mandado perguntando a Thalia qual das coisas a Annie gostaria mais, eram fotos com convidados bem vestidos, bolos gigantes, flores, e até os noivos, no fundo. Tudo em estilo de casamento.

Olho pro teto. Logo depois que saí da casa de Thalia tentei combinar um café com a Annabeth para botar um fim na história entre eu ela e o marido.

Olho pro espelho. Tomara que ela não chore hoje. Odeio quando meninas choram. Odeio quando Annabeth chora.

–x-

P.O.V. Thalia (bônus 2)

– Mais ou menos um mês e quinze dias atrás –

Uma briga. Uma briga feia. Nós estávamos bem depois de uma semana. Nico tinha acabado de sair de casa, me dando um beijo na boca pela primeira vez em dias.

Eu lembro bem que a briga aconteceu em um momento estupido. Nós tínhamos brigado por conta do assunto que tinha surgido. Bebês.

Annabeth e Hazel já tinham um filho. E eu queria um pequeno correndo pela casa. Mas Nico se recusava. Falou que ainda tínhamos muito o que viver sem um filho, que tínhamos que nos estabelecer financeiramente...

Mas eu queria um filho.

Pelo menos estávamos bem...

–x-

– Dois dias antes da briga com Annabeth –

I I

Duas linhas.

Positivo. De novo.

Eu estou grávida.

Eu estou grávida do Nico.

Eu começo a chorar. Como vou dizer a Nico que ele vai ter um filho depois da briga de algumas semanas? Sento encostada na parede do banheiro e deixo as lágrimas descerem livres.

Meu celular está na sala, mas Annabeth está ocupada.

Eu fico sentada no banheiro, vários exames de gravidez espalhados em volta de mim. Fecho os olhos e tento dormir por alguns minutos, só precisaria não estar naquele banheiro quando Nico chegasse em casa.

Gradualmente, tudo que eu vejo é escuridão.