Maré De Sentimentos escrita por R_Che


Capítulo 16
Da intenção ao ato




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Uma Amazona 75 preta para Rachel na Loewe, e uma Michael Kors Hamilton Center-Stripe Studded Tote para Quinn, foram as primeiras duas compras que fizeram na Calle Serrano. Elas usavam marcas, porque o poder económico de ambas assim o permitia. Quinn viu os olhos de Rachel brilhar por um vestido Armani preto, mas não havia o seu tamanho. A assistente de loja prometeu à loira que o faria chegar no dia seguinte da loja de Barcelona, e a empresária agradeceu e pagou antecipadamente sem que Rachel se apercebesse. Continuaram as compras na Yves Saint Laurent, onde Quinn comprou uns sapatos e um blazer, e Rachel se voltou a apaixonar mas desta vez por uma saia preta e branca. Passaram pela Agatha Ruiz de la Prada, mas nenhuma compra fizeram, aquele não era o estilo de nenhuma das duas. No entanto, Rachel ainda comprou uns sapatos Marc by Marc Jacobs, que se fazia apresentar pelo El corte Inglés. Foram até ao fim da avenida e voltaram para trás.

E depois de muito palmilharem terreno, Rachel sugeriu que parassem para lanchar. Quinn agradeceu a sugestão e entraram no Le Pain Quotidien e disfrutaram do merecido descanso. Durante todo o percurso de lojas e compras, nenhuma das duas falou mais do que o essencial. Embora Quinn quisesse, não teve coragem de estragar o esforço que Rachel estava a fazer para ser politicamente correta com ela. Já a morena, agradeceu essa atitude. Uma atitude que estava prestes a ser quebrada.

Q: Queres ir jantar na mesma ao Lateral?

R: Não. Vai tu. Eu tenho outros planos.

Q: Eu não tenho planos nenhuns. Era uma pergunta... – mas foi interrompida.

R: Uma pergunta para criar tema de conversa. Eu sei.

Q: Estava a correr bem.

R: E vai continuar a correr. Mas eu combinei com o Alejandro ir jantar ao Mercado de San Miguel e depois ir à Ópera. Tu odeias ópera.

Q: Como é que sabes?

R: Porque cada vez que nos obrigavam a ir à ópera, tu tinhas sempre a mesma reação de desagrado.

Q: Eu gosto de ópera. Mas prefiro a ópera contemporânea. E nós íamos sempre ver versões clássicas e aborrecidas.

R: Também é verdade.

Q: Mas tudo bem. Eu assim vou rever as coisas que trouxe para a reunião de amanhã. – Rachel nada disse. Partiu-lhe o coração ver a cara de desilusão de Quinn, mas rapidamente recordou que tinha de manter a postura. Além do orgulho falar mais alto, ela tinha sido humilhada por Quinn naquele dia no escritório. A loira desculpou-se várias vezes, mas isso não apagava o facto de no único momento em que Rachel estava a baixar a guarda com a sua esposa, ela estragasse tudo com aquelas dolorosas palavras. Depois daquilo, e da maneira como Rachel recebeu aquele disparate, a morena não conseguiu esconder o que realmente sentia pela sua mulher. E doeu. Como doeu quase tanto excluir Quinn dos seus planos, mas tinha de ser.

Já no hotel, e depois de pousarem as compras, Rachel decidiu estrear naquela noite uma saia e uma blusa que tinha comprado na Michael Kors. Retirou-lhes as etiquetas e pousou em cima da cama. Enquanto Quinn estava sentada no sofá da suite com o comando da televisão na mão e com o intuito de a ligar, Rachel entrou na casa de banho e foi tomar banho. Passados 10 minutos saiu de roupão branco e toalha na cabeça. A loira estava no mesmo sitio mas recostada a ver uma série qualquer que passava àquela hora na Antena 3. Fez uma nota mental da evolução da qualidade das séries espanholas desde a última vez que tinha visto uma. Rachel secou o cabelo e arranjou-o. E quando estava na casa de banho a maquilhar-se, Quinn aproximou-se.

Q: Posso?

R: Sim, eu saio.

Q: Não. Não é preciso saíres. Eu só quero o roupão e os chinelos. Vou dar um mergulho.

R: A esta hora?

Q: Sim... estou a precisar. – o semblante cansado da loira não passou despercebido a Rachel, mas desta vez ela não teve coragem de ignorar.

R: Estás bem?

Q: Sim. Se já não estiveres quando eu voltar, tem uma boa noite com o Alejandro. Manda-lhe um beijinho e divirtam-se.

R: Quinn não está frio para ires para a piscina a esta hora? – a loira sorriu com carinho.

Q: Agradeço a preocupação, mas vou para a piscina interior. – Rachel assentiu e voltou à sua tarefa de se maquilhar. – Até logo.

R: Até logo.

E assim foi. Quinn passou algum tempo na piscina, quando voltou ao quarto já Rachel tinha saído, e após tomar banho desceu até ao restaurante do hotel e jantou ao som do piano. Não quis subir sozinha, depois de jantar sentou-se nos sofás do bar a tomar uma bebida. O bar tinha acesso à recepção, estava afastado do balcão e da entrada mas apenas duas escadas distinguiam o hall do lounge. Quando Rachel chegasse, a loira teria conhecimento direto. Acontece que a morena não chegou até à 00h30, com um sorriso rasgado no rosto e com a descontração instalada no corpo. Notava-se a anos luz que aquela tinha sido uma noite divertida para Rachel. Quinn não disse nada, mas a morena viu-a e dirigiu-se aos dois degraus, e subiu-os.

R: A piscina? Estava boa? – Quinn assentiu.

Q: Obrigada. Fez-me bem.

R: Ainda bem.

Q: E a ópera?

R: Nada de especial para ser sincera.

Q: Não? Que estranho. – nenhuma segunda intenção veio acompanhada desta declaração.

R: Porquê? – nem desta.

Q: Noto-te feliz. Contente. – sorriu Quinn.

R: A ópera não era nada de especial, mas o Alejandro é um divertido.

Q: Sim, e é sempre interessante sair à noite com alguém que conheça os sítios e saiba contar histórias. – a simpatia de Quinn estava a desconcertar Rachel. O sorriso da loira era sincero e triste e a morena não era capaz de controlar o que surgia dentro dela ao dar-se conta disso.

R: Desculpa. – baixou instantaneamente a cabeça e do seu rosto morreu o sorriso. Quinn estranhou, levantou-se a aproximou-se de Rachel depositando as duas mãos nos ombros dela.

Q: Desculpo o quê? – a morena subiu o olhar e não respondeu, contudo, não o desviou. – Eu fico contente que te divirtas. – novamente nada disse. – E o Alejandro é uma óptima companhia.- e o silencio permaneceu. – Além de que eu confio muito nele, tenho a certeza que estás protegida. – Quinn sorriu, e Rachel retirou o olhar da loira.

R: Vou subir. Estou cansada. – disse enquanto se separava dela. Mas Quinn não soube explicar o que a impulsionou a tomar a atitude seguinte. Voltou a agarrar Rachel, mas agora pela cintura, e aproximou-a dela devagarinho. A morena não podia dizer que não sabia quais eram as intenções de Quinn, porque o tempo que distanciava a intenção do ato era suficiente para concluir o resultado final.

E o resultado final ela sentiu-o nos lábios, no sabor, no oxigénio e no toque.


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