Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 16
Papai Noel nudista




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Capítulo dedicado especialmente às duas leitoras lindíssimas cujas recomendações eu simplesmente A-M-E-I.

♥ ♥ ♥ Miss Herondale e Giovanna Rodrigues, você são D+ ♥ ♥ ♥

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Esfrego os olhos com as costas da mão. O colchão range sob o meu peso enquanto pequenos fragmentos de um sonho rondam a minha mente. Esquisitice é apelido.

Olho para o lado e percebo que Calvin já se levantou e foi embora. Alcanço o meu celular e olho a hora. Certo, quase dez horas da manhã e ninguém veio me acordar. Oras, e o trabalho? Não venham me dizer que já fui demitida, estava tão entusiasmada! E não, não estou usufruindo da ironia nesse momento.

Bocejo enquanto me levanto da cama e cato alguma coisa para vestir no guarda-roupa monstruoso. Rapidamente troco o pijama por uma calça jeans escura e uma camiseta branca com os dizeres na frente: like a virgin.

Claro, com certeza.

Saio do quarto enquanto improviso um coque bagunçado. Mais rebelde que eu, só os meus cabelos mesmo. Ouço vozes vindas lá debaixo, e então resolvo ir atrás delas. Enquanto percebo que o barulho parece vir do lugar onde se fazem as refeições, não consigo parar de pensar na tal Theodora. Eu realmente preciso dar um jeito de conhecê-la apropriadamente.

Quando entro no lugar, todo mundo cala a boca no mesmo instante. Calvin, cuja expressão era de contentamento, fecha a cara assim que me vê. E Pedro substitui o alívio por pânico. Apenas mamãe e Antônio agem normalmente, apesar de que ela esteja com uma espécie de aura negra, coisa que com toda certeza nada tem a ver comigo.

— Bom dia. — Isso vem de Antônio. Aceno levemente com a cabeça enquanto me sento ao lado de Calvin. — Achei melhor não irmos para a empresa hoje, depois do estresse de ontem.

Aposto que ele se referia ao elevador, mas não pude deixar de pensar em Theodora e seu olhar enlouquecidamente apaixonado.

Mostro o dedão. Dou um sorriso.

— Tudo bem, sem problemas.

— E eu pensei que seria legal se passássemos o dia juntos, como uma família.

Ergo as sobrancelhas.

Ah, droga. Eu passaria o dia todo aqui dentro, junto com eles? Vendo a minha expressão mamãe começa a falar.

— Antônio tem um amigo dono de um sítio, não muito longe daqui. Vamos passar o dia lá, e talvez a noite também.

— Em um sítio? No mato?

Solto um gemido. Que pesadelo!

Mamãe apenas olha para o guardanapo que está dobrando.

— Sim, no meio do mato. Longe de certas pessoas.

Não sei por que, mas acho que isso não foi direcionado a mim. Oh, pobre Toninho, descobrindo um lado diferente e nada bonito da mamãe.

— Eu acho uma ideia excelente. — Isso veio de Calvin, e imediatamente o chutei por debaixo da mesa. Só que foi Pedro quem gemeu de dor. Ops.

Ele praticamente me fuzila com os olhos.

— Por que você me chutou?

Finjo um olhar inocente.

— Por que eu te chutaria?

Três pares de olhos estão atentos a nós dois. Sorrio de forma arrependida.

— Talvez eu tenha esticado demais a perna. Juro que não foi por querer.

Pedro murmura algo sem sentido, obviamente duvidando de mim. Volta a dar atenção a sua xícara de café. Falando em comida, meu estômago parece um buraco negro. Acho que comeria um boi inteiro.

Sirvo-me de chá, enquanto alcanço na mesa alguns biscoitinhos de aspecto chocante.

— Samara, — volto a cabeça em direção à voz da minha mãe — sairemos daqui a pouco, vamos almoçar lá. É melhor ir arrumando as suas coisas. Não precisa levar muito.

Concordo com a cabeça.

— Quanto tempo para chegar lá? — É Calvin quem pergunta.

— Uma hora. — Observo meu irmão ficar um pouco pálido. Ele tem sérios problemas sobre ficar dentro de um caro por mais de meia hora. Não é nada bonito vê-lo ficando quase verde. Ou vomitando.

Principalmente em mim. De novo.

— Não se preocupe, filho. É só tomar o remedinho.

Calvin fica vermelho e encara fixamente a toalha branca pouco interessante. Pego a sua mão por debaixo da mesa e a aperto. Ele retribui, agradecido.

— Bom, — me levanto — acho que vou pegar uma ou duas coisinhas no meu quarto.

Limpo as mãos nas calças enquanto vou para o pesadelo rosa.

Jogo dois pares de roupa e um pijama dentro de uma mochila. Enquanto procuro um tênis velho resolvo tomar um banho rápido, afinal, só Deus sabe se aquele lugar teria água encanada.

Vou correndo até o banheiro e quando começo a me despir olho para um rolo de papel higiênico. Só por precaução, pego ele e o coloco na mochila. Limpar-se com uma folha não é muito a minha cara. Quero dizer, sou ecológica e tal, e adoro abraçar uma árvore, mas para tudo há um limite.

Tomo o que pode ser chamado de o banho mais rápido da minha vida. Sequer seco os cabelos depois de me vestir novamente. Jogo a mochila nos ombros e resolvo procurar o pessoal. Quando desço e descubro que fui a primeira a ficar pronta, tenho vontade de me enforcar com o papel higiênico na minha mochila. Resolvo esperá-los sentada no chão, perto da porta.

Amarro e desamarro os meus tênis, em uma tentativa inútil de passar o tempo, até que uma sombra paira sobre mim. Olho para cima.

Pedro parece estar se decidindo se vai me ignorar deliberadamente, ou se cederá à boa educação que parece estar enraizada nele.

Pelo jeito esse garoto simplesmente não consegue ser mal educado.

— Oi. — Diz de má vontade.

Aceno com a cabeça.

Ok, talvez eu deva mudar a minha tática, por que afinal, ao invés de aproximá-lo de mim, Pedro parece entrar em pânico cada vez que me vê.

— Você já foi nesse lugar antes? — Pergunto com a voz neutra. Ele olha pela janela.

— Já.

— E é legal?

Deus, sinto como se estivesse conversando com uma criancinha especialmente arrisca.

— É um lugar bonito.

Desde que eu o conheci, comecei a sentir cada vez mais a necessidade de rolar os olhos. Cadê o cérebro do garoto?

— Hum.

E o assunto termina ali. Sinto-me tentada a perguntar se ele gostaria de ir brincar comigo no matinho — coisa que deveria ter abundantemente naquele lugar — mas decido que isso só iria assustá-lo ainda mais, sem falar nos passos e vozes que estavam se aproximando de nós.

Os outros três integrantes dessa família especial — e não no bom sentido — se juntam a nós.

— E então, estão animados? — Antônio pergunta tentando soar animado. Quatro pares de olhos grudam nele, de forma nada amistosa.

Algo me diz que coisas ruins vão acontecer nesse dia tão pouco interessante. Não que eu vá ter participação nisso, de jeito nenhum. Como eu havia dito anteriormente, nesse corpinho não há um único osso de maldade.

Só algumas arteiras e alguns órgãos vitais.

— Vamos lá. — Calvin suspira de forma resignada.

Dez minutos depois estamos todos dentro do carro e saindo da nossa rua. Como sou, bem, eu, sento entre os dois garotos. Afinal, alguém precisaria tomar conta do Calvin quando ele começasse a passar mal — o que sempre acontecia, com ou sem remédio, mas vai tentar enfiar isso na cabeça da minha mãe — e por que eu precisava ficar perto do Pedro para tentar estabelecer algum tipo de conversa.

Eu estava realmente decidida a conquistá-lo.

Por algum tempo simplesmente observo as casas sumirem ao nosso redor, tentando encontrar algum assunto em comum com ele. Mamãe e Antônio parecem ter feito algum tipo de voto de silêncio, coisa na qual não me oponho, e Calvin está com o cenho e os lábios franzidos, com uma típica expressão concentrada. Não que isso fosse ajudar quando ele começasse a passar mal.

— Então, o que você costuma fazer nos finais de semana?

Pedro olha ao seu redor, como se tivesse mais alguém dentro daquele carro a quem eu pudesse fazer essa pergunta. Pelo amor, que retardado.

— Hum, está falando comigo?

Dessa vez não me controlo e rolo os olhos.

— Claro que não. Estava falando com a minha espinha que por acaso se chama Jane. Você não acreditaria na vida movimentada que ela leva, principalmente nos finais de semana. Festas, orgias, surubas, bebidas... Você ficaria impressionado com a popularidade dela.

Seus lábios estão em uma linha fina, como se ele os estivesse apertando. Certo, então ele não gostou do que eu falei, ótimo. Mas então sua boca começou a tremer, e eu percebi o que ele realmente estava fazendo.

Tentava conter um sorriso.

Olhei para o meu colo, sentindo uma onda de satisfação varrer o meu corpo.

— Definitivamente a Jane tem uma vida social mais ativa que a minha.

Arregalo os olhos com a sua resposta. Sinceramente não esperava que ele fosse participar da brincadeira.

— É que ela é muito bonita e sexy, sabe.

— Ah, então é por isso que sou um fracassado socialmente.

Seus lábios ostentam um pequeno sorriso. Certo, isso já é um começo.

— Sinto muito, Pedro, mas nem todos são agraciados com boniteza e sexydade como a Jane.

— Não sei se me sinto insultado por ter que ouvir que uma espinha é mais bonita que eu, ou se rio das palavras que você inventa.

Toco seu joelho de leve. Sinto um tremor percorrer meu braço, mesmo com o tecido da sua calça entre nós.

— Prefiro ouvir a sua risada.

Sua expressão fica séria de repente, e me pergunto se não fui longe demais. Decidi que mudaria a minha tática, e era exatamente isso que estava fazendo, mas eu jamais conseguiria me controlar tanto a ponto de não flertar descaradamente com ele em algum momento.

Mas então seus olhos parecem brilhar mais do que o normal, enquanto encaram os meus sem piscar. Solto um pequeno suspiro, lamentando estar dentro daquele carro tão fechado.

E o jeito que ele me olha é tão... Intenso. Me faz querer...

— Sammy?

— Hum? — Olho para Calvin, e de certa forma fico decepcionada quando aquela espécie de vínculo mágico se rompe. Seus olhos inteligentes me estudam. Imagino o quanto ele deve ter escutado da nossa conversa. Provavelmente tudo. — Você está bem? — Acabo perguntando, embora a minha vontade seja de estapeá-lo.

— Ainda não estou sentindo nada. Mas... — Ele repousa a mão contra a própria barriga.

— Quer tomar alguma coisa? — A irritação por ele ter estragado aquele momento logo é substituída por preocupação de irmã vinte minutos mais velha.

Somente balança a cabeça e volta a olha pela sua janela. Suspiro e me afundo no banco, enquanto mamãe resolve ligar o rádio. Uma música calma toma conta do carro.

Antes que decida que é muita ousadia, encosto a minha cabeça no ombro de Pedro. Sinto-o ficar tenso, mas não me afasta. Afinal, não se passa de um gesto inocente, certo?

Ele limpa a garganta.

— Então, você está confortável?

O tom que ele usa é tão estranho que não consigo decidir se está sendo irônico, educado, ou simplesmente indiferente.

— Não muito. Mas dá pro gasto.

Ficamos em silêncio por algum tempo, enquanto observo Antônio dirigir. Até que ele era um bom motorista. Pelo menos eu não morreria em um acidente de carro.

— Lá tem banheiro? — Pergunto baixinho, não só por querer puxar assunto, mas por essa ser uma preocupação gritante.

Sinto-o se contorcer, e me afasto para olhá-lo melhor, ver se não está tendo um ataque de asma ou coisa do tipo.

O idiota estava rindo! De mim!

— Você acha que estamos indo para onde? Para a casa do Tarzan? — Ele limpa o que parece ser uma lágrima no canto do olho. — É claro que tem banheiro!

A primeira coisa que faço é soltar um suspiro de alívio, e, em seguida, faço uma expressão malvada acompanhada por um olhar mortal. Pedro para de rir no mesmo instante.

— Você me desonrou com essa risada profana. — Faço uma pausa. — E agora pagará com... Cócegas!

No limite do possível me jogo para cima dele, realmente o bombardeando com cócegas. Digamos que minhas unhas compridas são extremamente úteis.

Suas mãos envolvem os meus pulsos, tentando me conter enquanto ele se contorce sob os meus dedos. A risada dele é... Suave.

De repente me sinto perto demais dele, e uma tensão se instala entre nós, dando a impressão de que vou explodir a qualquer momento. Demoro uma fração de segundo para perceber que o carro parou. Mesmo sem vê-los, sinto os seus olhos em nós.

Volto ao meu lugar, consciente de que mamãe e Antônio nos olham com expressões estranhas pelo retrovisor, e Calvin está com todo o corpo virado na nossa direção. Pelo menos o motivo de pararmos foi um sinal vermelho, e não meu show de cócegas.

Resolvo sossegar por algum tempo.

Passados vinte minutos, vejo Calvin bater a testa contra o vidro da janela pelo canto do olho.

E que comece o espetáculo.

Olho para o seu rosto, que está sem cor. Na verdade, eu diria que está um pouco esverdeado.

— Calvin, você está bem?

Ele nega com a cabeça, e então a coloca entre as pernas. Inclino-me para frente, vendo o asfalto passar por nós.

— Mãe, o Calvin está passando mal. Acho melhor pararmos um pouco. — Ela olha para trás preocupada, e assim que põe os olhos em seu filho, concorda.

— Antônio, será que você poderia encostar o carro por um momento, por favor?

Dois minutos depois estamos estacionados na beira do asfalto. Calvin está sentado no chão, com os olhos apertados.

Apoio-me contra o carro e olho para o céu. Nenhuma nuvem, e um grande sol quente.

Pedro se aproxima de mim.

— Ele vai ficar bem?

— Sim, sempre fica. — Ou melhor, na maioria das vezes. — Calvin só precisa de um pouco de ar.

— Sobre antes...

Encosto meu pé no seu, com a intenção de calá-lo, o que claramente funciona.

— Não diga nada.

Olhamo-nos por um longo minuto, até que ele é o primeiro a romper o contato.

Suspiro. Que garoto mais difícil.

Depois do que parece ter sido uma eternidade, Calvin volta para o carro já não parecendo mais o fantasminha camarada.

E lá vamos nós, de volta para a estrada.

Jogo a minha cabeça para trás e fico encarando o teto do carro pelo resto do trajeto. Sinto o carro entrar em uma estrada estreita e em péssimo estado. O carro meio que começa a pular loucamente, e eu me sinto um milho virando pipoca.

Finalmente — graças a Deus! — o carro para. Olho para fora da janela.

Verde. Verde. E, olha só que cor mais interessante! — verde esverdiado.

Apanho meu celular no bolso.

Sem sinal.

Que ótimo.

Quando Antônio sai do carro todo mundo resolve seguir o seu exemplo.

Pulo para fora do veículo e resolvo fazer um reconhecimento do território. Só que no terceiro passo que dou naquela desgraça de lugar, sinto meu pé afundar em alguma coisa mole. Olho para o chão.

Isso é... Caca de cachorro!?

Eca!

Levanto o pé com nojo no exato momento em que um homem barbudo sai do meio do mato e se aproxima da gente.

— Antônio! Meu amigo! Estava ansioso para conhecer a sua bela noiva.

Oh, não. Pelo amor de Deus, não.

Aquele simplesmente não podia ser o meu antigo professor de história que fora expulso da escola por ir de Papai Noel nu — a não ser que você considere a toca vermelha uma peça de roupa — na festa à fantasia.

Mas a julgar pela camisa aberta com estampas de papagaio, a barriga saliente sendo mostrada sem pudor, a bermuda laranja breguíssima e a inconfundível barba... Sim, era ele.

Afundo o pé de volta na merda, por que é assim que me sinto.

Aquele dia seria longo, horrível e infernal.

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Gente, pois então, adoreeei os reviews >
Eu disse que ia postar na sexta, mas acabou não dando, e acho que não vou mais ficar dando um prazo para postar o capítulo, por que quando faço isso parece que demoro mais para postar.
Outra coisa, quanto ao capítulo anterior. Era um sonho, ou seja, nada era real. Maaas, não era "só" um sonho em certa parte. E se eu disser mais que isso vai ser spoiler, porém prometo que tudo fará sentido em breve. :D
Dessa vez vocês é que me farão alguma pergunta e eu respondo :)))
BjxxxX minhas pipoquinhas

LEAIM: Vocês conseguem ler as notas finais inteiras aqui embaixo ou elas estão incompletas? Por favor, é importante eu saber isso.


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Notas finais do capítulo

Gente, pois então, adoreeei os reviews >
Outra coisa, quanto ao capítulo anterior. Era um sonho, ou seja, nada era real. Maaas, não era "só" um sonho em certa parte. E se eu disser mais que isso vai ser spoiler, porém prometo que tudo fará sentido em breve. :D
Dessa vez vocês é que me farão alguma pergunta e eu respondo :)))
BjxxxX minhas pipoquinhas



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