Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 7
Capítulo 7




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Sigo caminho pelos corredores, o sono chegando aos poucos. Olho o relógio do celular e já vai dar 3h da manhã. Não sei como ainda estou de pé, mas agradeço tanto por ter decidido ir pra faculdade de sandália rasteirinha, se não já estaria descalça perambulando o hospital, sem me importar momentaneamente sobre as bactérias. Caminho devagar não propriamente pelo sono... estava a pensar sobre o momento que passei com a professora na lanchonete. Por mais que me preocupe com ela – também acho estranho, não consigo evitar - e me sinta impelida a ajudar, não só porque ela me pediu, eu não sei como proceder...

Paro na porta do quarto onde ele está, olho pela janelinha de vidro e vejo que está ressonando. Abro a porta e deixo a bolsa na mesma poltrona que sentei naquele dia e me aproximo da grade. Passo a mão no meu rosto espantando o sono, porque ainda tenho que procurar o Murilo para ir pra casa. Ele deve ser liberado daqui a pouco, eu devia estar ao seu lado quando acordasse... estou cansada até para vê-lo fazer mais uma ceninha. Foco no Vini, dormindo em sua tranquilidade, tentada a mexer em seus cabelos em um carinho que parece ter surgido do nada.

Pelo jeito, não consigo me controlar, pois alcanço a ponta dos fios que tentavam fugir da bandagem. Vejo os arranhões ainda em seu rosto, fecho meus olhos e não consigo imaginar o que é ter um acidente de carro...

- Já amanheceu?

Se susto matasse, eu devia ter mais vida que os gatos. O Murilo adora se esconder pelos cantos lá de casa pra me pegar distraída, mas o grito que eu dei – pelo susto obviamente, sem falar do pulo pra trás, onde bati de costas na aparelhagem – superou o Murilo. Devo estar muito abalada ainda com tudo que tem acontecido ultimamente para uma reação dessas, só pode. Se não, é o sono. Pelo menos não quebrei nada. Com uma mão na base da coluna onde bati e outra segurando meu coração, tento me estabilizar.

- Cara, faz isso não.

- Algum problema? Ouvi um grito.

Muito legal, mais testemunhas. A enfermeira veio checar meu mico. Por que eu fui rir do Murilo naquela hora mesmo? Da próxima, se segura, Milena!

- Nada não, eu só... não foi nada.

O Vini nada falou, mas vi que segurava seu riso enquanto a enfermeira dava uma checada nele acordado. Deve ser minha deixa, então pego a bolsa, esfrego os olhos – já devem estar vermelhos de sono – e me aproximo para dizer boa noite – quando deveria ser bom dia, praticamente – a enfermeira diz que está tudo bem e vai se retirar.

- Eu devo ir também...

- Me desculpa.

- Pelo quê?

Me sinto meio lerda já, até pra falar. É capaz de eu não conseguir nem chegar em casa, e então, tentar me enfiar na cama de hospital que o Murilo está, porque sofá de hospital mais quebra coluna do que outra coisa. Se bem que com esse sono que agora tem me dominado, é capaz de eu dormir mesmo no chão e só me tocar quando acordar. Me encosto na grade de proteção da cama dele e abro um pouco os olhos pra, talvez, conseguir manter uma conversa.

- Desculpa se te assustei. Você está bem? Parece... sei lá.

- É que ainda não dormi e... deixa eu ver que horas são aqui... hã... ah, 3h15 da manhã. Vou ali arrumar uma cama senão durmo pelo chão mesmo.

- Te ofereceria minha cama, só que eu meio que estou preso nela.

- Não tem problema, eu me viro...

- Você pode dormir naquela poltrona, não deve ser as mil maravilhas, mas deve ser melhor que onde estou.

- Pensando bem, acho que ela está me chamand... Ai, não, não posso ficar por aqui.

- Por que não? Por favor, fica?

- Eu não posso.

- Você só sabe dizer isso. Por favor, fica, vai? Eu não quero ficar sozinho de novo.

- Imagine duas pessoas me dizendo isso, aí você se encontraria na minha situação. Sério, Vini, está tarde mesmo e tenho que ir, antes que os enfermeiros dêem outra dose de calmante por causa do... do... ah, esquece.

- Espera, como assim? Enfermeiros, calmantes?

- Tchau.

Dou um último sorriso e passo pela poltrona direto antes de cair em suas graças. Chegando ao corredor, vejo o enfermeiro bonito atendendo um senhor. Penso em falar com ele, mas o sono já ta me deixando nas últimas, então sigo para a ala onde deixei Murilo, pegando o elevador. Chegando por lá, disparo pela porta aberta, mas não deixo de ouvir quando Djane, sentada numa poltrona – onde ela arrumou? – de costas para onde eu estava, fala baixinho para meu irmão, que estava a ressonar:

- Queria ter a sorte de vocês... o carinho de vocês.

Acho que eu já estava bem grogue.

~;~

- Hey, Dani, como foi hoje pela manhã?

- Milena, você perdeu o show!

- Como assim?

- Olha, digamos que o Bruno descobriu seu lado obscuro da força. Sério, não veja esse garoto de mau humor de uma noite insone num sábado de manhã. Acho que até o diretor Fabiano tava com medo dele. Cara, nem eu de TPM fico assim...

- Calma, volta a fita e explica de novo. Como que Fabiano tava com medo de Bruno? Aquele Bruno super gentil e engraçado... estamos falando da mesma pessoa?

- Estamos. Cara, tava todo mundo assustado com ele. Ele que é tão calmo, simplesmente explodiu e começou a xingar a menina da gráfica pelo telefone, porque o pedido que mandaram ontem teve um erro de agendamento que vai nos atrasar um pouco, mas esse não foi o pior. A menina se revoltou com ele... claro, quem não ia, né? Ela nem tinha culpa. Fabiano pegou a extensão da secretaria, onde estávamos arrumando as coisas, e ouviu a menina ameaçando processo. Foi... tenso.

- Ai-meu-Deus! E como ficou isso?

- Fabiano gelou só de ouvir a menina falando no telefone e Bruno mandando ela... você sabe. Na mesma hora foi até a mesa onde o Bruno tava e desligou o telefone. Aí Fabiano foi fazer aquele discurso dele... e o Bruno teve que escutar. Geral espionando a sala do diretor... quando saíram, galera se dispersou e Bruno seguiu pra área da cantina. Fui atrás dele, claro.

- Fez bem. Ele disse algo?

- Depois de muita sondagem, disse, pouco, mas disse. Ele tava estressado com umas paradas que não quis contar e isso não o deixou dormir à noite, aí quando a menina disse do problema lá, ele explodiu porque achou que ia sobrar pra ele. Só que sobrou pra ele de qualquer forma. Fabiano o dispensou pra não ter que tomar uma atitude mais séria... Aí que a calmaria reinou no departamento, apesar do atraso que vamos sofrer com parte dos materiais. Isso porque nem era bem nossa parte, mas acontece que a gráfica vai fazer pacote completo.

- Putz! Não consigo imaginar Bruno estourando assim.

- Tem coisas que a gente não imagina até vermos por nós mesmos.

- Tem acontecido comigo ultimamente... o que não vem ao caso. Me diz o que ficou pra segunda.

- Não muita coisa. Fabiano vai tentar agilizar lá com a gráfica e impedir o suposto processo... claro que não vai rolar processo, os dois só estavam num dia ruim ao mesmo tempo. Esperamos que até lá Bruno tenha aproveitado seu sono no fim de semana, porque né, nem peguei carona com ele pra você ver... seria muito estranho. Mas aí tem outra coisa, acabamos por entrar na parte dos materiais porque os responsáveis por eles estão doentes... deve ser alguma epidemia na cidade. Não sei quem sofre mais, quem tá doente ou quem tem que cobrir os trabalhos da galera doente...

- Ou quem tem que cuidar dessa galera doente também.

Rir pra não chorar, Dani sempre dizia isso. Acabei pegando um pouco disso dela entre nossos risos e ironias. Pra quê ser ranzinza, né? Menos quando tô com raiva e nessa hora ninguém pensa em nada.

- Seu irmão, como está? Vocês ainda estão no hospital?

- Não, ainda bem que não. Saímos quando amanhecia o dia. Chegamos em casa só pra se jogar na cama mesmo. Nosso almoço foi nosso café da manhã, praticamente.

- Melhoras pra ele então. E cuidado para você, não quero ter que te cobrir também, viu! Te cuida bem que virose é coisa séria...

- Ai, só você pra pedir pra eu me cuidar pra você se sair bem, né? Boa amizade é assim mesmo!

Tentava rir baixo com as conversas de Dani no telefone, Murilo estava jogado no sofá dormindo que nem criança no meu colo. Tava até fofo... dava pra tirar umas fotos engraçadas, mas a preguiça me segura pra não pegar a câmera... que também nem sei onde está. Talvez seja melhor assim, ele me mataria se divulgasse uma dessas fotos mesmo... Depois da pancada que dei nele no hospital tô tentando compensá-lo com carinho.

- Claro, temos que preservar as boas amizades, interesses e convívio... Ah! Tenho que te contar essa: se eu te disser que dois dos meus professores não me liberaram da prova final?

- Diria que tenho medo de saber quantos não me liberaram... aposto que dona Silvana disse não antes mesmo de ser questionada.

- Aposta quanto?

- Um lanche completo na cantina: suco, um salgado e uma sobremesa.

- Eita que já garanti meu lanche de segunda!

- O quê?

- Silvana foi a primeira a dizer sim, não sei como. Mas só quem te liberou mesmo foi ela, professor Carvalho e a professora Garra. Nossas notas finais dependem desse evento. Já to vendo... tô ferrada...

- Nada, pior fosse se tivéssemos todas as disciplinas mais o evento.

- Ok, vamo encerrar por aqui pra não dar má sorte. Tchau, Milena.

- Tchau.

Fiquei olhando meu irmão dormir no meu colo por mais uns minutos depois de desligar, fazendo um cafuné nesse pestinha que estava tão quieto. Não deu mais febre e nem tosse tinha, ainda bem. Melhorou consideravelmente, apesar de um enjoo no almoço... Ficar olhando-o assim logo me lembrou da professora Djane e do Vini. O que ela não passou esse tempo todo, o que ambos têm passado ultimamente... Amanhã penso no que posso fazer, uma visita quem sabe. Mas dessa vez ele tem que estar acordado mesmo.


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