Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 56
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Tudo começou com uma meia vermelha... pra lavar roupa suja.
(Penúltimo capítulo da temporada, hein)



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“Chá de bebê” moderno: check.

Mandar mensagem ao Bruno ao sair da casa da Alexandra: check.

Ficar desde a saída da festa de Alexandra em silêncio com Vinícius: check.

Ficar presa com ele num engarrafamento tamanho de um sábado à noite, os dois frustrados e chateados: em processo.

Estávamos tão jogados em nossos próprios pensamentos sobre o acontecido na casa de Alexandra que nos esquecemos da tal batida e ele dirigiu para a avenida principal, topando com aquela fileira de carros andando devagar, orientados ainda por uns agentes de trânsito. Fala sério, engarrafamento num sábado à noite é dose demais!

Ele tentou falar comigo antes de nos despedirmos de todos, tentou na porta, tentou na foto que Alexandra pediu de última com todos, tentou ao caminharmos para o carro e tentou antes de ligá-lo. Eu só queria um momento de silêncio, ele não percebia? Só levantava a mão para que parasse de tentar tanto.

Ouvi quando praguejou ao ter que entrar na fileira do engarrafamento, pois não dava mais para voltar pelo caminho que havia pegado. Era para pegarmos umas ruas alternativas que nos levariam para a avenida transversal onde fica a casa de Natália.

Me sobrou ficar olhando a lua através do vidro da porta do passageiro, iniciando a fase de lua cheia, sinistra, linda e iluminada – pra você ver que tá tudo embaralhado na minha cabeça que nem consigo admirar ou exaltar a lua direito. Só sei que ela tá lá intocada e imponente, e eu no meu canto, deixando as coisas vagarem. Nem som tinha, nem eu nem ele ligamos alguma rádio, eu por não querer mexer no aparelho, ele talvez por querer tentar ainda alguma comunicação. Só se ouvia os chiados do papel de presente que trazia em meu colo, o presente da aniversariante que compramos juntos essa tarde logo após conseguir achar a manta. Eu remexia inquieta no pacote, no laço, para me não ficar paralisada dentro do carro. O silêncio constrangedor ainda queimava... nele.

– Mi, eu peço desculpas, eu não... não pensei bem, pode gritar comigo, qualquer coisa, contanto que você fale algo. Eu não aguento te ver assim... esse teu silêncio tá me deixando doido.

Pelo menos ele soa ressentido com a besteira que fez. E resignado de que não havia muito o que ele fazer, apesar de estar tentando. Ainda assim não viro.

– A mim também.

– Então fala comigo.

Praticamente suplica em um pequeno múrmuro que, mesmo baixo, toma todo o carro. Vejo por visão periférica o quão incomodado está que não consegue ficar quieto por muito tempo.

– Eu quis dizer que você insistindo tanto tá me deixando doida.

Se era o universo trabalhando, eu não estava gostando. Da última vez que tanto quis me manter afastada dele, mais o universo me empurrou para ele, providenciou blackout, chuva e os malditos trovões. Agora nos arranja um engarrafamento, grande e lento, o bastante para nos manter presos na avenida. De longe dá para ver um grupo de policiais perambulando, ordenando por onde os carros podiam passar, pois a batida fora entre três carros que pegaram mais da metade da extensão da avenida.

Deve ter sido feio para ter rolado ambulância. Pelo meu cálculo mental de quando Michelle havia chegado contando a história, fazia quase duas horas que tinha acontecido e nada da perícia ainda ter mandado remover os carros do local. Também né, os policiais deviam estar num barzinho curtindo quando esses cidadãos resolveram bater seus carros.

– Desculpa, Lena, eu... eu exagerei, eu sei. Mas é que... juntei peças erradas, vi coisas que não existiam... E quando você não contava a história, me sentia... Sei lá, eu só queria saber o que era que você fazia tanto segredo. Tentei ligar a parte do vídeo... nada faz sentido. Mi, me olha, por favor...

Respiro fundo e viro para ele. Nessa hora ele se cala, a expressão dele esperando por qualquer resposta minha, querendo consertar a burrada. Insistiu tanto para que eu falasse, que eu achei melhor começar logo a falar pra me irritar menos, afinal, guardar tudo para mim só me deixaria mais louca. Alterno olhadelas para ele, para os carros à frente, para a lua, para os postes, o presente no colo, o banco do carro, o cinto de segurança e ele novamente enquanto deixo as palavras saírem:

– Sabe, uma vez eu juntei as peças erradas. Vi coisas que não existiam. Me senti mal por ter pensado mal de você, algo que foi aflorado pelo ciúme – que não nego, tenho ciúme sim, pois eu vejo outras garotas te cobiçando, mas eu não preciso provar para elas que estamos juntos. Pelo menos não toda vez que olham. Seu comportamento era tão ambíguo que eu não sabia o que você falava pelos tons que usava... tantas foram as vezes que você me deixou confusa. E eu te questionei? Não. Eu exigi explicações? Não. Esperei que viesse, uma por uma... porque eu sabia que uma hora você estaria pronto para falar delas. Deve saber do que eu estou falando... porque da mesma forma que eu tenho a história de Diogo, você tem a de Rebecca. E não, aquela sua confissão de culpa não foi suficiente para esclarecer o que quer que fosse vocês tinham. Nem por isso eu insisti... porque pelo mínimo que você mencionou, percebi que era de algo que não podia falar. Da mesma forma que eu não podia falar até certo momento de Diogo, mas me despus de ir atrás dele para verificar o que tinha sido o mal-entendido, e uma vez cheguei a comentar isso, que estava tudo resolvido. Que eu poderia falar. Verdade que parece que nunca temos muitas oportunidades para conversar e até se conhecer mais, só que acho que mesmo isso não justifica. Parece que tudo com você se resume a mal-entendidos. Então pronto, está aí o que eu estava tentando engolir, não precisei gritar, nem xingar. Nem me comportar mal.

A fileira anda um pouco e, com buzinas atrás de nós, ele se mexe para dirigir e ter que parar novamente. O que sinto por desabafar não é de algo resolvido, é de um pouco de alívio. Evito fungar para não me entregar. A decepção ainda se faz presente, tanto que lutei para minha voz não falhar, dada à água que começava a voltar aos meus olhos. Mas ele tinha insistido tanto... se ele queria me deixar inquieta também, bom, ele conseguiu.

– Todo esses minutos sem resposta me fizeram montar discursos, argumentos, explicações... mas você sempre parece saber como me desarmar, porque eu não sei... não sei o que responder.

Um mínimo riso debochado, sobre ele mesmo, perpassa pela sua boca. Passa a mão várias vezes no cabelo, maneja a marcha para andar e parar de novo, e quando acho que ele ficaria calado, ele começa:

– Uma vez eu saí com um amigo meu, Fael, ele me arrastou para uma festa de bodas. Sinceramente, eu não estava muito a fim, estava estressado com meu esforço de conseguir a promoção no meu trabalho parece e ainda assim ele insistiu. Beleza, eu fui. Praticamente de penetra. Chegando lá ele me apresentou umas amigas dele, dentre elas, Rebecca, filha do casal aniversariante. Ficamos todos numa mesa e conversa vai, conversa vem, o povo se mexeu para curtir um Dj que tinha lá e eu fiquei na mesa com ela. Foi então que o pai dela apareceu, perguntando o porquê de ela não estar com tal cara lá que não lembro o nome... assim mesmo, na cara-dura, sem se preocupar de eu estar na mesa, ele perguntou a ela. Para nossa surpresa, ela respondeu que não estava com o outro simplesmente porque estava com seu namorado e... foi aí que notei que fazia sinais para que eu confirmasse a história. Acabei balançando a cabeça, sem saber no que eu estava me metendo. Quando o pai dela saiu indignado, antes mesmo de eu ter chance de falar algo a ele, enrolar alguma coisa quem sabe, perguntei o que tinha sido aquilo. Ela, toda nervosa, pediu desculpas e explicou que tinha um cara que o pai empurrava para ela, fazia gosto que ficassem juntos e ela não o curtia... no impulso, eu estava lá. Desse dia em diante, eu seria seu falso namorado e só Fael e Wellington souberam que era um acordo.

As coisas pareciam se desenhar na minha cabeça conforme ele as descrevia. Se é o universo nos dando um tempo para esclarecer as coisas, o melhor que faço é ouvir tudo, porque de nada me adiantaria ficar no escuro. Eu queria muito saber também, não nego. Assim como queria interromper e perguntar algumas coisas, mas deixo que ele fale. De começo parecia estar escolhendo as palavras e quando finalmente engatou, falou tudo fluidamente, como poderia ter sido se me contasse num dia qualquer, de algo que poderia ser cômico, mas que só trouxe enganos para os dois.

– Aí tivemos praticamente que fazer uma média. Fingir para os dois lados, para quem a conhecia e quem me conhecia. Quando ela foi lá no apartamento para combinar como seria o churrasco de noivado da prima dela, tive que apresentá-la ao meu ti... a Filipe, como minha namorada. Eles até se deram bem. Não demorou muito e ela conseguiu espaço dos pais e estava na hora de “terminar”. Terminamos... fingimos uma briga uns dias antes do meu acidente. Qual não foi nossa surpresa quando Filipe a chamou para ir ao hospital? Foi tudo muito estranho e confuso. Eu estava gostando de você e... eu não soube responder bem a tudo que estava acontecendo. Mas se você pudesse ouvir cada pensamento que eu tive naquele blackout... veria que não havia ninguém mais. Eu só tinha que dar um jeito no que era aquele namoro falso, sem te perder no processo. Só que teve a convivência com minha mãe e Becca insistindo para eu tomar cuidado, porque eu deixava as coisas escapulirem fácil, que eu tinha que esclarecer... e como você disse, sempre nos faltava oportunidades. Então, levado pela sede ao pote, fui desastrado, fiz besteiras, conheci o ciúme, e me segurei. Eu não queria confundir mais as coisas para você. Não sabe por quanto tempo eu quis te falar isso... só que nunca aparecia uma situação boa para essa conversa.

Ele praticamente se apodera de minhas palavras, pelo menos essas últimas. No entanto meu pensamento só batia em outra coisa, esse relacionamento furado e fingido deles – eu sei, ele praticamente se declarou, de novo, e eu pensando em outra coisa... mas é inevitável! – O que eles tiveram que fazer pra ter uma boa atuação? De fato, nunca tinha visto os dois se beijando – e preferiria nem olhar – mas a mente é uma coisa perigosa com uma faísca de ciúme. Pensa em branco, pensa em branco, pensa em branco! Não, essa imagem não vai vir! Eu não deixo... é, eu não deixo de perguntar, enrolando mais a fita do embrulho nos dedos, nervosa por uma resposta ou imagem involuntária que poderia vir:

– E nesse meio tempo que fingiram, vocês chegaram a fic...?

– Não. Engraçado que nunca tivemos que chegar a essa parte. Não passou de aparições públicas, uns abraços e beijos no rosto. Ela acabou se tornando uma amiga. Foi um jeito estranho, mas diante da situação, foi o que aconteceu. Ela percebeu logo que eu estava gostando de você e se dispôs a me ajudar. E claro, dar um fim no que era o acordo.

Encaro o laço rosa do embrulho e engulo em seco, pensando se devo comentar que eu meio que sabia. Mas não deixo de soltar o ar devagar em alívio por nada ter sido criado pela minha mente em falsas imagens de um beijo entre os dois. Eu sabia que havia algo estranho... além de ter percebido uma vibração esquisita do relacionamento deles – que eu não questionei esse tal esquisito por não querer comprovar que era ciúmes, já que estava ignorando cada coisa que ele fazia despertar em mim – eu sabia de um “acordo”, só não o que era exatamente este. Para mim, mais valia se distanciar. Mas devo comentar isso?

Acho que sim, porque olha que uma omissão aqui e ali nos trouxe... não seria um relacionamento saudável, não haveria confiança. Tínhamos que primar por isso além dos próprios sentimentos, senão não haveria pilares que os segurassem ou se ligassem. De fim, acabo por soltar num sussurro:

– É, e-eu lembro um pouco disso.

Viro devagar para encontrar sua expressão surpresa com um vinco na testa apesar da área que estamos na avenida estar um tanto escura por estarmos entre os postes. Algo passa por seus olhos e ele balança a cabeça, meio risonho, desacreditado.

– Às vezes eu gostaria de saber como você faz para ficar um passo a frente... sempre.

Nem eu consigo ficar séria por muito tempo também. Sinto meu olhar se perder no vidro a minha frente por ter a visão de um dia que estava tão duvidosa em relação ao que sentia por ele, logo depois daquela noite que passei em sua casa e pedi que fosse tudo esquecido, que ele me surpreendeu dizendo que não, roubando o controle da situação de mim. Lembro que estava com meu irmão no sofá, assistíamos algo na TV e ele me contou sobre o que tinha ouvido de uma conversa de Vini com Becca. Quando meu irmão foi dormir eu ainda fiquei na sala olhando para o controle que, na minha cabeça, Vinícius estava me tomando; cheguei a compará-lo algumas vezes a um criminoso.

Meu criminoso. Não como o da Britney Spears (em Criminal), apesar de ambas gostarmos deles, nos fazendo criminosas como eles, porque em meus pensamentos um envolvimento com uma pessoa comprometida era impossível e ele, por me fazer gostar dele, me fazia uma criminosa de sequer pensar nele de tal forma. O caso é que Vinícius não estava envolvido coisa nenhuma, era tudo fachada – o que não quer dizer que ele tenha deixado de cometer um crime aí, o da mentira descarada. Por causa desta, ele me levou junto, pois eu realmente pensei mal dele.

Quem não pensaria na minha situação? Além do próprio ciúme que tinha da Becca, aquele dia na maternidade eu quase estourei de raiva achando que até estando com ela, ele estava a traindo. Por essa e por outras, ele mereceu o remorso que encontrou, mesmo que tenha sido em forma de ciúmes. Quando ele estourou ao ouvir a conversa de Djane e seu Júlio sobre a verdadeira paternidade, lá no carro, ele deixou escapulir a culpa que guardava por esse pequeno segredo do relacionamento deles.

Digo pequeno em relação à confusão da família dele, porque individualmente, continua como uma mentira qualquer, que machuca alguém no processo. Eu. Eu que me reprimia. Não é revoltante? Minha irritação é um tanto tardia se considerar que muito já se passou desde o trágico dia.

A memória também me traz de volta o pensamento de que, quando se acostuma a ter um controle da situação, a coisa tende a desandar ao surgir alguém para competir sobre ele. E é só o que Vinícius tem feito comigo, ele tenta puxar o controle para ele, eu tento puxar para mim e de fim, acho que quebra e fica aquela coisa sem nexo. Eu também não cumpria meu papel às vezes... Não devia exigir tanto dele, pelo menos quanto a essa história do pai. Argh. É a merda do mal necessário que me faz ser assim. Acusei algumas vezes também por não ceder... e eu? Cedia? Cedo?

Devo agradecer ao universo, acho, por nos dar esse tempo para colocar os pratos limpos na mesa, eu não devia ficar zangada com nenhum dos dois. SÓ NÃO ME APRONTE MAIS NADA, SEU UNIVERSO! Vinícius ainda espera minha resposta, deve ter percebido que eu estava a maquinar algo. Tá, eu falo... Finalizo com um dar de ombros.

– Murilo contou-me que ouviu um pedaço da sua conversa com Rebecca. Assim, por acaso, quando nos acompanhou na sua alta. Sabíamos que havia algum acordo, que Filipe não sabia, que o pai dela não gostava de você e que tinha que acabar.

– O tempo todo você sabia... ou desconfiava. Por que nunca me perguntou diretamente?

– Porque eu não queria me envolver. Eu não queria te colocar contra a parede porque significaria estar me colocando contra a parede também. Significaria que eu estava aceitando gostar de você. Se era comprometido, eu não tinha porque insistir em algo que eu sairia machucada... eu estava por demais envolvida. Na minha cabeça, eu só teria que te ajudar com seus pais e... ser sua amiga.

– Ou enganávamos a nós mesmos ou um ao outro.

Debruça-se sobre o volante do carro, quem sabe procurando algo para se deitar, ou mesmo ainda inquieto. Apesar de estabelecer uma nova posição pra ficar, não parece relaxado. Ainda tem algo que o frustra.

– É, e você não ajudava muito. Deixava-me confusa com tantas entrelinhas.

Resmungo por resmungar, e ele levanta-se num átimo do volante.

– Era a única hora que eu podia ser sincero. Queria ver minhas chances também... só que no meio tempo surgia tantos marmanjos no meio. Poxa, um cara do nada na loja consegue uma foto com você, o outro estava cheio de segredinhos com você, o outro era um ex... Parece que se juntaram para me roubar você aos poucos. Sabe quanto tempo levou para eu conseguir uma foto com você? Eu tive que tirar do netbook da Flávia quando ela não estava olhando! Lá no auditório, no meio da palestra... ela tinha me mostrado umas e quando teve que sair para falar com uns amigos, eu aproveitei.

– É, eu sempre me perguntei como você tinha arranjado essa foto.

– Meu Deus, me diz como, COMO você sabia que eu tinha essa foto?

A plena surpresa por eu saber da posse dele quanto à foto fica estampada no seu rosto. Mas ele sabia, não? Naquele dia no salão eu falei que sabia da foto... Talvez ele não lembre, já que tudo o que aconteceu lá foi muito intenso para quiçá lembrar detalhes. Por todo esse tempo eu pensei que eram coisas pequenas e poucas, mas citando tudo agora, as omissões estavam virando coleção.

Como deixei chegar a esse ponto?

– Eu não tenho culpa se as coisas aparecem, assim, do nada, para mim... Domingo passado, quando você ficou meio retraído das ideias e se meteu a trabalhar, eu tive que verificar seu notebook, porque acreditava que você ia deixar pra trás todo o rolo para não sofrer mais pela descoberta da identidade de seu pai. E ainda bem que fui eu que vi, porque Murilo quando olhou essa foto dias depois da festa, quis dá uma de irmão protetor... e pior, na frente de Djane. Eu quase morri de vergonha com aquele resmungão. Logo depois teve aquele jantar na sua casa com Rebecca, e Murilo nos vigiand...

Ele me corta enquanto mais uma vez coloca o carro para andar uns milímetros da fileira que começava a se movimentar. Da marcha, sua mão se move para a minha ainda no colo, segurando o presente. Estava morna apesar do ar-condicionado do veículo. Tão logo se vira para mim quando tem que parar o carro novamente.

– O que nos mata, Milena, é esse não-dito. Eu poderia nunca saber dessas coisas todas. Minha cabeça só sabia de maquinar pra achar respostas... mesmo seguindo as pistas erradas. Bom, eu não sabia se eram as erradas, porque eu não tinha a noção de nada. Eu me utilizava das entrelinhas, mas quando se trata de você, eu praticamente tenho que arrancar a informação. As coisas podem “aparecer” para você, mas não pra mim... E até agora eu não entendi o que foi a história do vídeo... ou o lance do Diogo.

– Foi o tempo que nos prejudicou praticamente. Um mês atrás eu nem gostava da sua mãe, eu não sabia que ela tinha um filho, eu não conhecia o Bruno, eu cantava no ônibus, eu não gostava de ninguém... Em um mês teve toda essa enxurrada de acontecimentos, não havia como explicar. Justamente o que falei mais cedo, de parar e conversar sobre as coisas. Tudo tem sido rápido, Vinícius, e eu não sei se... isso que estamos vivendo é...

– Um erro? É isso que você acha?

Sua mão se fecha na minha, ansioso, tenso.

Não, nunca! Como ele poderia achar isso?

– ...normal. Isso me assusta um pouco às vezes.

– Poderia ter me dito... Eu quero saber no que tanto você pensa.

A leve pressão de sua mão relaxa. Mas não ainda as linhas de sua fronte.

– Mas é disso que estou falando. Se não fosse por esse engarrafamento, quando iríamos conversar de fato? Até quando você ainda estava no hospital e eu queria saber de Filipe, eu não conseguia. E agora apareceu uma irmã! Quando eu acho que a história tá diminuindo, ela tá é aumentando.

– Eu sei que eu sou teimoso e sempre tento me afastar quando se trata da minha família, mas agora, Milena, eu quero saber é de você, que me deixa maluco procurando respostas. Já te magoei demais por não saber das coisas... quando esse não-dito vai se tornar dito?

Direto.

Tivemos muitas perguntas pra um mês só. Melhor começar a parte das respostas, coisas simples que de fato precisavam ser ditas e não esquecidas... ou não fingir serem esquecidas. Não mais zangada, eu resgato um sorriso, uma visão, uma lembrança. Poucas foram as vezes que imaginei poder contar essa história e sempre pensei que seria numa situação descontraída e conveniente. Não que toda a seriedade de nossa conversa tenha se esvaído, mas essa história em particular me diz que logo um traço divertido vai chegar aos seus lábios e fazer todo esse engarrafamento valer a pena. Assim como a essa discussão trazer algo útil.

– Bom, tudo basicamente começou com uma inocente meia no lugar errado na máquina de lavar...


~;~


O universo queria era arrancar respostas de mim também, só pode. Quer dizer, é quase certeza. Ou devo acreditar em coincidência? Tanto faz, o caso é que mal acabei de contar a história, o trânsito fluiu. Foi quase uma hora para chegar ao ponto de encontro no posto, ficamos cerca de 50 minutos só batendo DR, esclarecendo o nosso relacionamento... e as falhas de comunicação, parados na avenida.

Contei do que foi a premeditação de Murilo e seu plano furado de se vingar do caso da cueca rosa, do vídeo que gravara da minha briga com a impressora, da primeira história do vestido branco num dia de chuva. Da minha descoberta desse plano, da minha vingança e o arquitetar do meu plano. Pelo jeito que eu narrava a parte do Murilo, ele ria vez ou outra – acredita que ele ainda o defende? Bom, eu ainda defendo a mãe dele, então estamos quites, de novo – mas fechou a cara quando chegou a parte do Diogo. Vai haver alguma vez que mencionarei esse nome e Vinícius não mude seu bom humor?

– Eu havia me livrado das minhas “evidências” e deixei Murilo acreditando que ele ainda as tinha escondidas. Assim, nesse meio tempo, tive que ir atrás das “evidências” dele. A melhor que pude pensar foi no vídeo de segurança do hospital, mesmo estando eu envolvida. Para isso, perguntei ao Diogo se ele sabia de como conseguir um desses materiais. Nesse dia... bom, foi o que eu estava brigada com Djane e Murilo me levou ao hospital para conversarmos, mas aconteceu de pegarmos uma chuva e Diogo me ofereceu uma roupa seca de uma de suas companheiras lá da ala da enfermaria. Troquei de roupa e fui levar a camisa para meu irmão... e enquanto esperávamos o elevador chegar, porque estávamos no 4º andar, perguntei, assim, como quem não quer nada se tinha chances de eu conseguir a gravação. Ele comentou sobre uma burocracia, porém, ofereceu-se para falar com um segurança conhecido para saber do caso. Aí... bem...

– Aí...?

Aquela história de “ajoelhou, agora reza” me veio a mente para não me deixar hesitar. Seria uma boa hora para Vinícius começar a treinar seu controle, pois que não viesse com gracinha que eu o deixava plantado no engarrafamento. E não estaria sendo má.

– Lembra aquela vez que eu disse que não podia comentar sobre porque era algo do qual eu me envergonhava, senão, que me chateava?

– Hum. Lembro.

– E que uma vez eu falei meio zangada, chamando-o de traste?

– Conclui, Milena.

– Pois então, eu o agradeci por ele se prestar a procurar o tal vídeo. E ele me abraçou, respondeu “de nada, amor”.

– Quê? Como é que é a história aí? Como assim, “amor”?

O tom de voz incrédulo, duro, rebateu pelo carro e vi quando apertou o volante, tanto que seu braço praticamente retesou. Se estivesse mais claridade no carro quem sabe eu seria capaz de ver a fumaça saindo de seus ouvidos. Mas deu pra enxergar o vinco raivoso que traçava sua fronte. Deixava-o até engraçado. Quem seria o louco pra rir disso? Eu não, claro, apesar dele fazer uma expressão linda que me dá uma vontade maluca de tirar aquele vinco eu mesma. Me seguro porque ele poderia achar que eu estaria tentando “distrai-lo”. Tal qual Murilo, eu tenho que manter pulso firme, senão eles acham que sou fraca e não sei me defender. Rum.

– Claro que eu perguntei. Você acha que é qualquer um que eu deixo me chamar de “amor”? O último que quis me chamar de “cariño” quase engoliu o espanhol de volta.

PRA QUÊ? Melhor: POR QUE EU FUI LEMBRAR/CITAR ISSO? Eu seriamente me pergunto. Quase bati a cabeça no vidro da janela ao meu lado pra ver se eu pegava no tranco e parasse de falar besteiras. Por que sempre acontece eu falar demais? Porque ele travou de vez a mandíbula e quis saber de quem eu tava falando, que cidadão era esse, “que outro marmanjo era entrando na história também”. Posso acrescentar que ele estava lindo com o cabelo bagunçado? Quer dizer, com a zona que ele mesmo fazia por estar nervoso... Parece que trocamos os papéis, porque quem tá zangado agora é ele. De novo.

– Olha, vamos manter o foco, tá? Esquece essa do espanhol, foi há tanto tempo que eu mal lembrava disso. O fato é, Diogo disse que era uma forma carinhosa de tratar as amigas, e por eu ter me incomodado, ele parou. Fui atrás de Murilo, só que ele já havia saído, coisas de última hora. Foi aí que topei com Filipe, que saía de seu quarto. Você estava em mais uma bateria de exames. Essa parte você já sabe, que Djane me viu falando com ele e pensou besteira. Assim, saí batida e encontrei Diogo novamente...

– Esse cara não trabalha, não?

Replicou, injuriado, bufando. E continuei a história.

– Eu não estava bem. Fomos para a ala da enfermaria e ficamos no vestiário masculino. Um tempo depois um cara entrou lá e insinuou que estávamos juntos, então saí logo. Sem rumo, fui para o vestiário feminino. E foi aí que começou a chuva pesada, de trovões... E-eu entrei em desespero, sozinha.

– E eu preso naquele maldito quarto...

Resmungou virando o volante seguindo para o outro lado da faixa onde o guarda de trânsito pedia que passassem todos os carros. Por causa da batida, só tinha uma via da pista, era como se tivesse afunilado para todo mundo passar só num lugar. Por isso acumulava muito carro.

– Djane então me ligou, chamando-me na sala do diretor, onde estava com Filipe brigando e eu descobri a história dele ser seu pai. Mas antes de ir, eu topei com Diogo, e ele viu meu estado, pela fobia. Ele tentou fazer graça, mas sabe como eu fico. Pior, não demorou muito e aquele cara do vestiário apareceu e fez mais insinuações. Aí pronto, coloquei o enfermeiro contra a parede. Não literalmente, claro.

– E você ainda quer que não fique indignado com isso?

Falou entredentes. Nem queria pedir mais por paciência, porque sei bem o que é ter crise de ciúmes e... paciência é algo que passa longe, bem longe. Mas era algo necessário... Ou ele queria ficar no não-dito novamente? Pois bem.

– Espera. Tem explicação. Ele inventou uma história maluca de créditos. Que os médicos davam créditos aos subordinados que “ficassem” com pacientes ou acompanhantes. E antes que você pense loucuras, eu descobri que isso era mentira. Não na hora, claro.

– É bom que seja uma boa explicação, senão eu passo por cima desses carros só pra voltar lá na festa e dar uns socos nesse cara.

– Calma, estou chegando no final. Ao ter me dito essas baboseiras, eu fiquei zangada, claro, mas ele pediu pra manter isso em sigilo. No dia da sua alta, eu o peguei no estacionamento aos beijos com uma médica. Mais uma vez, ele me pediu sigilo. Antes de você sair, eu fui devolver a roupa que a enfermeira havia me emprestado e... encontrei um guardinha que me passou um CD, que tinha o vídeo de vigilância. De acordo com ele, o pagamento pelo “servicinho” já havia sido feito, pelo Diogo. O segurança não quis me dizer o que tinha sido. E foi assim que eu fiquei com raiva de Diogo, que pra mim, era um traste de enfermeiro.

– Você podia ter me dito. Eu... eu teria...

– Eu sei o que você teria feito. Por isso não comentei com ninguém. Além do mais, estava envergonhada com essa do CD, que foi um pouco ilícito e antiético, não tenho culpa se tive que apelar, sabe como meu irmão é. O hospital também poderia se prejudicar. Ainda mais com essa história de créditos...

– Você se importa demais com os outros e se esquece de você. Alguém tinha que partir pra cima dele, fosse eu ou Murilo. Ele tem razão quando diz que você precisa de proteção, porque olha onde você foi se meter... e ainda quer deixar todos impunes!

– Vini, num começa, sabe que comigo a coisa funciona de outro jeito. E você sabe que existe um mal-entendido aí. Fica bem na cara que tem algo estranho. Vocês que ficam querendo complicar a história.

– Mas Mi...

– Sem mais. Xiu. Eu comecei, eu vou terminar. A outra vez que o vi foi aquele dia que estávamos na loja de conveniências. Que ele falou da minha fobia e chutou a parte do CD. De fato, eu queria bastante cópias espalhadas. Ficou uma com Flávia, uma com Dani e o outro eu deixei para pensar. Depois daquela noite no salão que você falou de dividir segredos, eu pensei bem e te entreguei. Mas voltando à história, quando o diretor falou naquele dia sobre as pendências, eu também fiquei indignada. Tanto que não me aguentei e fui atrás de Diogo no hospital. E ele me explicou tudo.

– Aham, ele te passou um papo.

Eu sei, o deboche dele é uma forma de dissipar o ciúmes. No entanto, eu não ia deixar que ele falasse assim comigo, eu não sou qualquer uma.

– Assim você me ofende. Sabe que as pessoas demoram a me convencer quando não concordo muito com elas.

– Desculpa. É que isso tudo... Prossiga.

Ê frustração a dele. Ele não sabia se bagunçava mais o cabelo, se ficava bravo, se bufava, se movia o carro. E teve que mover, porque tinha gente buzinando e o deixava mais maluco ainda.

Finalizei o caso. Aproveitei e falei da vez que bati de frente com Murilo ameaçando-o com o vídeo. E ele teve pena do meu irmão! Pena devia era ter de mim de ter que lidar com aquele peste me atormentando, eu tinha que responder de algum jeito, oras, senão Murilo me tomava por controle. Tá que eu ia deixar um negócio desses.

– Viu, a gente tem que pensar no porquê das pessoas fazerem o que fazem, porque pode haver grandes razões por trás de tudo, que por vezes não competem de sabermos em dados momentos.

Mais calmo, livre então daquela parte da batida, passado o engarrafamento, ele retrucou com graça:

– Tá bom, “amor”, sem lições por agora.

Ele alcançou minha mão após passar a marcha. Confesso que essa pequena ação amornou meu coração, porém, por ter sentido um lado palhaço no tom que usou, eu quis verificar antes que isso de fato criasse raízes. Eu e minha mania de pensar demais.

– Não me diz que me chamou de “amor” agora só porque falei do Diogo. Porque se for, faço você engolir seu português.

– “Cariño”, às vezes você é tão má.

Ele riu e apertou minha mão. Eu também ria por dentro, queria fazer só um draminha mesmo, pois ceder fácil é algo que não costumo fazer e só porque é dele que eu gosto, também não abro exceção.

– Faço o que posso. Eu só... não quero nada forçado ou induzido.

E é verdade. Essa parte não foi bem um drama, eu gosto de naturalidade nas coisas. Depois dessa senti que os papeis tinham sido trocados novamente, pois, uma vez que ele esperou me pegar falando de “amor do tamanho do universo” no telefone, agora sinto que vou esperar que ele fale, em espontaneidade, uma chamada carinhosa de “amor”. Compreendo então o que é se sentir a pessoa a mais sortuda por ouvir umas poucas palavras.

Ao finalmente chegarmos no posto combinado, encontramos Bruno com Dani, ambos de pé um do lado do outro, encostados no carro dele num maior papo que eu fiquei com dó de interromper. Foi muito bom o atraso então. Ele estava de blazer por cima de uma camisa acinzentada, bem social, e Dani numa graça de vestido preto de faixa rosa que tinha um laço avantajado para o busto (Link: http://migre.me/8XTVK). Pareciam bem animados até Vinícius não sacar e buzinar de cara logo para eles. Bruno foi na frente e o seguimos para a garagem de trás da casa para entrar na festa.

Da esquina se ouvia o tun-tsi-tun-tsi de uma batida eletrônica. Ao passarmos pela entrada de madeira, Bruno nos identificou para o segurança e foi como se entrássemos num sítio, porque a parte do fundo da casa era cheia de árvores fruteiras, do tipo mangas e jacas, terra, pedras, e tinha um gramado de futebol que eu nem tinha notado da vez passada. Ah, sim, talvez porque eu estava fugindo de um cachorro.

Nesse gramado tem uma cabana em pano enorme toda branca onde parece ser a concentração da festa. A batida eletrônica é mais forte, a galera pirava em urros de farra, algumas pessoas estavam espalhadas pelo gramado do lado de fora, dançando, bebendo, luzes coloridas dominavam o local e tinha até fumaça de gelo seco na porta da cabana, com uns dois seguranças no local.

– Uau.

Dani resumiu o que eu ia falar ao ficar ao meu lado, de frente para essa entrada. Logo Vinícius e Bruno surgem às nossas costas e... surge uma mulher do outro lado que passa por nós gritando a procura de alguém:

– NALDIIIIIINHO! NALDINHO, QUERIDO, ONDE ESTÁ VOCÊ?

Nos entreolhamos e caímos na gargalhada. A mulher devia ter seus 50 anos e estava tentando andar pelo caminho de pedras com um salto enorme, segurando seu vestido longo preto para não dar de encontro com a terra. Acho que todos ficamos com pena desse tal “Naldinho”, porque a voz da mulher era chata e muito fresca. É bom que ele se esconda mesmo. Dani e eu nos seguramos uma na outra para andar pela areia, ela imitando a mulher com uma voz estridente:

– Naldinho, meu amigo, se esconda, se esconda bem...

Já ia pisar no gramado quando algo gruda na minha perna e, pelo susto, olho pra baixo para encontrar um garoto de terninho abraçando-a:

– Tia, você veio.

Não, tia, não! Sou muito nova para ser tia! Mas adianta dizer isso para ele?

– Tia não, Milena, lembra?

– Claro, tia Milena.

É, não adianta. Vinícius passa o braço pelo meu pescoço e cumprimenta o baixinho. Sério que ele tá com ciúmes do pequenino? Melhor que não esteja.

– Tia Milena, quem é esse cara? E o que ele tá fazendo abraçando você assim?

– Eu sou o namorado dela, Vinícius.

– Não gostei dele, tia Milena. Ele tá me roubando da senhora.

– Epa, senhora não!

– Pelo jeito, alguém aqui gamou em você, Lena.

Muito gentil, Bruno. Ele cumprimenta o menino e... o pequeno consegue arrancar um beijo de Dani. Impressão minha ou o Bruno ficou com inveja? Há. Será que só eu percebi mesmo? Interrompi para não ficar algo constrangedor:

– Então, Roger, onde está sua irmã? Queremos parabenizá-la e entregar os presentes.

– Ah, ela está na outra ala da festa. Mamãe praticamente se apoderou do niver da Naty para fazer aqueles jantares chatos dela com gente velha e sem graça que fica apertando minha bochecha, dizendo que tô crescendo. Esse povo ainda não sacou que ninguém gosta disso?

Há, ele fez pose. Pose de indignado e bico de zangado. Deviam estar lhe aporrinhando muito. Ele não achou engraçado quando rimos dele.

– Olha aqui, tios, só porque vocês riram de mim, eu vou levar a tia Milena e a tia Daniela comigo. Fiquem aí com esse dj...

Daniela se manifesta:

– Gostei desse garoto... Espera, e o cachorro?

– Calma, tia, ele nem está em casa. Vocês vão jantar comigo, né? Eu não aguento ficar na mesa com aquele povo chato falando de economia ou política. Eu ia me refugiar na ala do dj, mas os seguranças não deixam eu passar...

Viro-me para meus amigos, Roger ainda puxando a mim e a Dani pelas mãos para que fosse com ele.

– Bom, eu estou com um pouco de fome, não comi no chá de bebê. Além do mais, temos que cumprimentar a aniversariante, que convidados mal-educados seríamos se entrássemos direto na cabana?

Concordamos e fomos para a chamada “ala chata” que Roger descreveu. Ele só não gostou de Vinícius, seu “concorrente”, nos acompanhar também. Por uma passagem escura ao lado do gramado o pequeno nos guiou para a casa, perto de onde parecia ser uma estrutura de chácara. Inevitavelmente Dani e eu olhamos para cima, no pavimento de cima, onde a janela estava fechada.

Acho que estávamos tendo a mesma memória, de quando ela saiu procurando Bruno e logo o cachorro nos encontrou. Por todo o terraço-garagem-jardim da casa estavam espalhadas mesas com pessoas de mais velhas. Ao dar uma checada geral, percebo que a música ambiente vem de um grupo de três pessoas que ficam ao pé da piscina no jardim tocando umas músicas. Bem ao longe dava para ouvir a batida eletrônica do outro lado, mas parecia não estar incomodando ninguém.

Deixamos os presentes numa mesa vazia e seguimos para a mesa onde estava sendo oferecido o jantar. Vinícius afasta-se para atender uma ligação e Bruno sai em busca de Naty entrando na casa. Fica apenas eu, Dani e Roger fazendo nossos pratos. A lasanha logo chama a atenção do meu estômago. Dani puxa um papo com o garoto.

– Então, Roger, por que duas festas?

– A Naty não gostou de ter que receber seus convidados junto com os de mamãe... a gente não liga de fazer essa social, saca? É um tédio total. Eu ia ficar no meu quarto assistindo a maratona de Smallville, mas minha mãe desligou a tv a cabo só pra eu não ter onde me refugiar. Aí resolveram quase de última hora fazer as duas festas de uma vez só, com Naty transitando de lá pra cá, só para fazer a média. Pelo menos eu consegui 10 pratas com um cara lá no fundo.

– Como assim?

– Vocês viram um velha chata gritando por aí, procurando alguém?

– Ah, então você conhece o tal “Naldinho”?

Pergunto enquanto equilibro meu prato numa mão e me sirvo de alguma coisa esquisita que cheirava bem. Era de camarão, podia ter a cara estranha, mas estava me conquistando só com o cheiro.

– Ele me deu dinheiro pra enrolar a mãe dele. Sou esperto, né?

Ele poderia ter ganho mais, se vendeu por pouco, mas sendo os dois crianças acho que não fizeram um negócio tão ruim assim. Pelo menos despistaram a mulher. Ao chegarmos na nossa mesa e colocarmos nossos pratos, Bruno chega com Natália numa conversa bem acalorada. Deviam ser grandes amigos mesmo. Sinto o desconforto de Dani e parabenizo a aniversariante para evitar aquele climinha. Não queria ver minha amiga para baixo.

Natália não parecia chateada por estar na “ala chata”. Talvez por termos a abordado aqui e entregar os presentes, ela tenha ficado mais feliz. Também estava de vestido, um pouco social para a noite, mas que tinha dado um toque clássico e contemporâneo ao mesmo tempo. Que posso dizer, se adoro vestidos? É tomara-que-caia liso nude de acabamento “baloné” e busto em faixa lisa preta com um laço no meio (link: http://migre.me/8XUFt). Estava tão “cute” quanto Daniela, gamei no vestido das duas.

– Vocês não vão ficar aqui, vão?

– Claro que não.

Respondeu Bruno no mesmo segundo que Roger respondeu “claro que sim”. Simpática – e sem cinismo, devo acrescentar – Natália tenta afastar o garoto.

– Roger, cadê sua turma?

– Estou com a minha turma, né, Dani e Milena?

Só assim para ele esquecer de nos chamar de tia, só assim... Natália não quer se livrar do irmãozinho, mas era a noite dela, então tratou de fazer um combinado com ele afastado de nós. Relação de irmãos é uma coisa, viu. Sei bem demais como é isso. Quando ela volta é com seu prato e Bruno logo atrás com Vinícius, também com seus jantares em mãos. Dani acho que estava se esforçando para ser gentil, já que de algumas datas não era a melhor fã da aniversariante.

– Que bom que você vieram. Adorei a agenda, parece que você sentiu que eu estava pensando em comprar uma. E essa pulseira? Onde você comprou, Milena? Tenho uma amiga que eu sei que vai me perguntar, quer dizer, me matar se eu não souber de onde veio esse pingente lindo. Amei os presentes de vocês.

– Ah, eu não conto minhas fontes. Segredo de Estado.

Ao meu lado esquerdo estava Vinícius, no direito, Dani. Natália ficou entre ela e Bruno e sobrou apenas uma cadeira onde Roger estava, deixando um espaço entre os meninos. A conversa estava fluindo tão bem que quando Natália riu alto por contarmos, eu e Bruno, a história de como o enrolei no evento quando ele achou que o diretor estava raivoso, duas senhoras da mesa adiante viraram para nós com um olhar reprovador. Ninguém se importou de qualquer forma, afinal, festa é pra se divertir e não ficar a ver nuvens em uma festa morta.

Natália começa a contar uma história que aconteceu de algo parecido com eles, só que dado um momento eu me perco na narração ao notar Vinícius quieto. Estranho, o que ele tinha em mente? Como estávamos com Dani e Bruno preferimos não ficar agarradinhos, para não se sentirem de vela, assim, discretamente chamo sua atenção tocando-lhe nas mãos, trazendo sua mente de volta:

– O que foi? Está calado. Tem a ver com a ligação?

– Não... era meu avô querendo confirmar o almoço de manhã. Só que... quando fui atender lá no jardim, ali depois da piscina pra conseguir atender onde não estava tanto barulho, eu vi um cara. Ele tava resmungando com uma garrafa na mão e.... num sei, estava bem escuro, não deu pra ouvir bem, mas pareceu a silhueta do Guilherme.

– E quem é Guilherme?

Rio por ele falar assim tão naturalmente como se eu pudesse saber quem era o cidadão. Só que Vini não faz uma boa expressão, parece confuso.

– Oras, o Guilherme que estuda com você.

– Guilherme que estuda... comigo?

Mal proferi e um “clic” se fez na minha cabeça. Levanto de vez pela constatação e todos se espantam com minha atitude repentina.

– Eu não acredito.


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Notas finais do capítulo

Muitos mistérios sendo esclarecidos, né?
Mas já descobriram quem é Naldinho?
Rumo ao último da temporada...



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