Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 42
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

O que é história paralela, o que é história principal? O coração de Milena não sabe dizer. Mas está aí, a todo custo, oferecendo seu apoio.



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Derrotado era como eu o via, ali sentado no meu sofá, fitando ele mesmo através da tela espelhada da minha TV desligada a sua frente. Uma almofada estava em seu colo, onde descansava seus braços, imóvel. A respiração dele estava ainda entre espasmos, resultante de seu choro baixo, procurando se regular. Encostada na parede que dá pro corredor, ainda na sala, tento me acalmar ainda de tudo que tinha passado. As minhas lágrimas ainda não tinham cessado, tampouco as dele, eu podia muito bem vê-las de onde eu estava, descendo uma a uma naquela face inerte, sem vida, sem foco.

Murilo volta da cozinha com um copo d’água para mim e quando o olho, sinto tudo cair novamente, a água enchendo mais meus olhos atrapalhando mais uma vez minha visão. Um Murilo borrado deixa o copo na mesa de estudo atrás de mim e me pega pra um abraço, como se estivesse me segurando se eu fosse cair. O que parecia mesmo, pois tudo em mim estava trêmulo. Não conseguiria segurar um copo, sequer engolir qualquer coisa, mesmo sendo líquida.

Murilo fala baixo para mim:

– Calma, Lena, o pior já passou.

– Eu não sei, eu não sinto isso.

– Shiii, se acalme. Ele precisa de nós, lembra?

Tentava ao máximo não chorar alto, por mais que quisesse. Aperto-me mais e mais no meu irmão, poderia espocá-lo assim, e não me importava. Ele o mesmo, eu vi nos seus olhos quão pesaroso estava quando nos encontrou na avenida. Dizer que estávamos péssimos era eufemismo para o real estado que se passava.

Naquela hora eu tinha que pensar rápido. Eu precisava de ajuda, de reforço, pois não podia lidar com Vinícius sozinha. Quem eu poderia chamar? Djane nem pensar. A avenida que estávamos era perto do bairro de Bruno, mas eu não teria como chamá-lo, pois ele não estava por lá, estava na casa de Dani por causa de sua alergia a produtos dedetizantes. Minha única opção mesmo era meu irmão. Estávamos ainda rente ao semáforo, com vários motoristas buzinando e passando por nós. Não que Vinícius ligasse muito, ele parecia não saber onde estava. Eu precisava de uma solução e rápida.

Ia ligar primeiro pro meu irmão, no entanto, quando consegui alcançar meu celular, liguei para o Bruno. Grande a sorte de ele estar na casa da Dani naquela hora. Ela morava num bairro próximo ao meu, o que já me valia. Ao perceber meu tom desesperado, ele entrou em alerta e escutou bem o que eu lhe pedia, que era urgente. Ele tinha que ir pra minha casa para encontrar meu irmão e então ir até onde estávamos em um carro. Não havia tempo para muitas explicações, só disse que eu precisava que ele fizesse isso por mim.

Logo em seguida liguei para meu irmão, tomando cuidado para não falar demais e Vini entender que aquilo era algo meio que esperado. Contei ao Murilo que ele precisava nos buscar, pois Vini não estava em condições de dirigir e que era um momento de crise. Avisei que Bruno logo estaria chegando na nossa casa, que por sorte também meu irmão estava por lá, e dei-lhe as coordenadas de onde estávamos parados. Não era preciso especificar muito, afinal, quando ele chegasse ali pelas bandas ele logo avistaria a situação. Tinha medo era de que alguém na rua chamasse a polícia ou algo assim, por isso torcia muito para que logo o meu reforço chegasse para conter o que não conseguia.

Ali jogado sobre o volante, Vinícius desmoronou. Eu também só por vê-lo assim. Ele não se mexia nem balbuciava mais, só chorava. Era uma dor tão grande que parecia sugar todo o ar do carro fechado e eu mesma não conseguia respirar bem. Ainda consegui baixar um pouco o vidro da minha janela. Era o que eu conseguia mexer. Eu não queria interromper aquele seu momento de crise, ele tinha que botar pra fora e... o que eu faria? Não tinha como tirar aquela dor dele.

– Vini.

– ...

– Vini, o-o-olha pra mim.

– ...

– Vini, por fa-vor.

– ...

– Vini?

– Por que, Milena?

– Por que, o q...quê?

– Por que você... ainda está aqui?

– Você ainda pergunta? Claro que e-eu não ia abandoná-lo ago-ora. Sabe que estou do seu lado, não vou deixá-lo.

– Sei? Está mesmo do meu lado? Você não sabe do que está falando.

Mais uma vez ele negava com a cabeça, grudada pelo meio do volante, perto de onde estava a buzina. Eu tinha medo de tocá-lo e quebrá-lo mais. De que ele pudesse se deixar dominar de novo pela ira e isso fizesse com que ele se arrependesse de algo. Assim eu removi meu cinto e soltei o dele. Foi quando ele passou a mão pelo rosto nervoso, jogou-se de encontro ao seu banco e desligou o carro. Seus braços se amoleceram, caindo sobre suas pernas.

– Deixe-me te dar essa certeza. Deixe-me cuidar de você.

– Estou cheio de pessoas cuidando de mim. Eu não preciso de ning...

– Precisa agora. Mais do que nunca. Você pode espernear, pode me afastar, pode gritar comigo e eu ainda vou permanecer aqui, não importando o que faça. Para o que você precisar, estarei aqui, esperando que me aceite.

– Nunca faria isso com você. Nunca.

Foi a única vez que ele virou para me olhar, numa certeza a qual eu também não duvidei. Contudo, ter aquela visão específica direta de seus olhos em mim foi o que mais me matou. Estava ele tão destroçado assim? Era hora de eu me aproximar, aos poucos. Consegui segurar sua mão, num encontro que ele sentiu e apertou com o pouco de forças que ainda lhe restavam. Fechou os olhos se entregando aos soluços. Puxei-o para mim, onde ele descansou no meu ombro e só chorou comigo. Passei os braços por ele, fazia um carinho nas costas, nuca, cabelos... tentando quem sabe amenizar alguma coisa, esperando o tempo correr e alguém nos socorrer.

Séculos se passaram ali. Ao longe algumas buzinas ainda insistiam, até que eu ouvi um grito alarmado me chamando. Murilo abriu a porta do motorista e me encontrou, tão desesperada quanto ele. Devagar me desprendi de Vinícius e o segurei com as duas mãos no seu rosto para que pudesse ter sua atenção:

– Escute-me. Nós vamos sair daqui, tudo bem? Deixe-nos fazer isso por você.

Assentiu e se mexeu. Com a ajuda de Murilo, ele saiu e só então pude dar atenção ao meu amigo, Bruno, que me esperava com a minha porta aberta. Eu sabia que ele estava lá. Rápido, segurei minha bolsa transversal no meu corpo e disse a ele que assumisse a direção. Precisava de alguém para remover o carro dali, senão seria guinchado ou coisa pior. Disse-lhe para levar até minha casa, que eu iria com Murilo acompanhando Vinícius. De prontidão ele fez o que lhe pedi, sem questionar ou retrucar.

Mais atrás estava o carro do meu irmão. Ele era um apoio para Vini, movendo-o devagar pela avenida, com todos olhando e murmurando, as pessoas formavam uma roda ali se perguntando o que tinha acontecido, pois não havia aparente acidente. Deviam achar que Vinícius teve algum problema e passou mal dirigindo... Não liguei para explicações que pudesse dar a elas, pois o meu centro era só um. Murilo deixou-o no banco de trás, onde ele se acomodou melhor, quase jogado. Entrei pelo outro lado, mostrando que de perto dele eu não sairia. Não saí mesmo, não enquanto não chegássemos a minha casa, segurei suas mãos o tempo todo.

Bruno chegou primeiro que nós, parou o carro em frente à casa. Nos esperava em pé, inquieto como meu irmão. Saí do carro para abrir a porta para eles, que levaram quase carregado o Vinícius. Dali da porta foi que lembrei de comunicar Djane, onde vi no celular 4 ligações não atendidas dela. Nem lembrava de ter ouvido o celular tocar. Liguei logo para dar notícias:

– MILENA!

Ela também não estava nada bem, numa aflição só. O importante era garantir a tranquilidade dela, um alívio pelo menos de saber que ele não tinha feito alguma besteira.

– Djane... e-estamos bem. E-e-ele vai ficar na minha ca-a-sa por enquanto.

– SAIU ERRADO, MILENA. NÃO FOI NADA COMO PLANEJEI...

– Não tinha como planejar a reação dele, agora só temos que esperar.

Tinha uma mão ao meu peito para segurar o meu nervosismo. Eu tinha que me acalmar, tinha. Eu não podia fraquejar numa hora dessas.

– COMO ELE ESTÁ?

– Eu não sei, não sei. Ele vai acalmar com o tempo. Só... dê um tempo a ele.

– Meu fi-ilho, Milena. Como me acalmar quando ele está desse jeito?

– Confie em mim. Nós vamos conseguir. Te dou notícias mais tarde, tudo bem?

– Tudo bem. Qualquer coisa me ligue mesmo, qualquer coisa. Não me esconda nada. Estou confiando em você.

Ao desligar, Bruno apareceu na porta meio desorientado. Muitas coisas deviam estar passando por sua cabeça, procurando um sentido para aquilo que ele presenciava. Sentia que ele queria perguntar, mas por respeito, ele se continha.

– Ele está na sala agora.

– Você não sabe o quão agradecida estou.

– Que é isso... eu só fiz o que você me pediu. Poderia me pedir mil coisas, que eu as faria se preciso. Como você está?

Ele segurou minhas mãos com carinho e me passou um pouco de tranquilidade. Sabia que com ele eu poderia contar, confiava nele. Nossa amizade poderia ter sido repentina, mas meus sentidos sabiam que ele era verdadeiro comigo. Com o tempo eu aprendi a discernir as intenções das pessoas.

Respirei fundo para melhor o responder:

– Me segurando. As coisas vão melhorar.

– Eu não devia perguntar, mas... o que houve?

– Problemas antigos de família. Uma “bomba” explodiu nele.

– Se precisa de algo, só me pedir. Quer que eu fique?

– Não, não precisa. Não quero te atrapalhar também.

– Não estaria me atrapalhando. Me sinto tão impotente agora.

Impotente, era essa a palavra-chave. Era o que me resumia. Porque não havia nada que eu pudesse fazer para que aquilo melhorasse... Vinícius teria que passar por cada segundo que estava passando. Horrível só de se pensar.

Despedi-me de meu amigo, assegurando que eu estava melhor, que ligaria se precisasse de algo, qualquer hora que fosse, e ligaria também para tranquilizá-lo. Eu precisava me recompor antes para que pudesse ser útil. Arejava a mente com respirações profundas, controlando o tremor que não me deixava, buscando um equilíbrio que pudesse emanar e alcançar Vinícius.

Separo-me de meu irmão, limpando meu rosto, dando-lhe um sorrisinho fraco para preparar-me melhor do que seguiria dali a frente. Ele também estava perturbado, sem saber o que fazer ou a quem atender, como uma barata tonta que não sabe para onde vai.

– Você vai dizer a ele que sabia?

– Vou. Não agora, claro. Vou dizer com calma. Vou descobrir o que aconteceu.

– Vou deixá-los a sós então. Ele realmente precisa de você agora.

– Faz uma coisa pra mim. Vai na padaria e pede alguma coisa. Algo que desça mais fácil. Ele vai precisar se alimentar, senão vai ficar fraco. Vou ver se consigo fazer com que ele tome um banho. Ele pode pegar algo seu emprestado, não?

– Sim, sim. Ele pode escolher algo que eu dou logo, depois compro pra mim de novo. Ele toma banho no meu banheiro, pra facilitar. Ele pode ficar naquele quartinho de visitas. Volto já.

Murilo sai em disparada com as chaves já em mãos. Nessas horas a gente tem que se manter fazendo alguma coisa, senão se rói de ansiedade e inquietação. Eu era uma assim. Retiro minha bolsa, deixo-a na mesa de estudos e sento perto dele após pegar uns guardanapos na cozinha. Sem um protesto dele, passo-os pelo seu rosto devagar, estudando cada reação mínima dele, a respiração mais amena agora.

Ele só me olhava, deixava que cuidasse dele, que ficasse ao seu lado, que lhe passasse alguma tranquilidade. Quando abaixo meu braço ele o segura firme, sem machucar, levando-o de volta onde ele estava, para que minha mão alcançasse seu rosto novamente, num carinho simples.

Fecha os olhos ante ao meu toque. Mais uma lágrima escapole de lá, seguida de um soluço pequeno, vai descendo devagar até encontrar o guardanapo que passo de novo em seu rosto. Logo se encolhe e se acomoda melhor no sofá, como se fosse dormir por ali. Não havia mais nada vivaz para contar história.

– Vini, não. Não deita ainda não. Tenta um banho.

– Eu num quero.

– Rapidinho. Você vai se sentir melhor.

– Eu não quero sair daqui. Me deixa ficar aqui, com você.

Algo dentro de mim morre e vive, num paradoxo só. Saber explicar eu não sabia, só sentia aquela última fala dele me bater e voltar. Ainda assim, insisto. Tento puxá-lo pelas suas mãos para que levante, ele se fazendo de difícil para eu desistir. Levanto para fazer mais força. Só então ele senta novamente, ainda relutante. A voz fraca e dolorida dele era baixa:

– Tá, eu vou.

Indico-lhe o banheiro do quarto do meu irmão, mostro de onde ele poderia pegar roupas confortáveis, mostro o quarto onde ele vai ficar e deixo que ele siga seu caminho. Eu também precisava disso, então preparo meu banho logo para poder atendê-lo quando sair.


~;~



Não me importava de cuidar dele. Se pudesse ficava grudada a ele o tempo todo. Ele precisava de espaço para respirar, só por isso eu não ficava o tempo todo em cima. Depois do meu banho, vesti um pijama confortável, quentinho para o frio que começava a fazer. Seria mais uma noite fria, porém, sem chuva. Por todo o dia nublado esteve e Murilo disse que não iria chover, pelo menos não nesse sábado. Pra mim estava de bom tamanho, o que era estranhamente cômodo.


Um “entre” fraco após duas batidas que dei na porta do quarto de meu irmão foi a minha passagem para o outro lado. Sentado de qualquer jeito na ponta da cama, ele vestia pijama também, calça moletom cinza e camisa branca. Devia estar sentindo o frio que vinha da janela entreaberta do quarto. Se fosse outro momento, diria que estava a coisa mais fofa, que eu poderia fuçar nas minhas coisas atrás da câmera só para guardar aquela visão dele. Mas ali daquele jeito a foto não seria perfeita, não captaria uma boa imagem para lembrança. Parecia um boneco, só que de cara inchada, a área dos olhos ainda meio vermelha.

Eu devia estar um pouco parecida, mas me sentia melhor depois do banho. Fecho a janela e saio de lá puxando-o pela mão, quase levando-o arrastado de volta para a sala.

Da sala avisto meu irmão na cozinha colocando umas sacolas na mesa. Um cheirinho de comida leve flutuava pelo ambiente, provavelmente morninho, no ponto de se comer naquele clima friozinho bom. Nem isso chamou a atenção de Vini, que parecia enjoado. Estava vendo que seria uma batalha pra passar um alimento por ele. Ao ver seu rosto virado pro sofá não interessado em comer, prefiro deixar pra esquentar depois e distrai-lo primeiro. Ainda era cedo, não passava de mais de 17h da tarde.

Murilo parecia querer fazer o mesmo. Logo que sentamos no sofá, ligo a TV sem verificar que canal estava ou o que passava e meu irmão aparece do lado com uma sacola, meio incerto do que falar ou como falar:

– Eu trouxe algumas coisas a mais. Tem escova de dentes, chocolate, chicletes e... Uno. Quem sabe você não queira uma partidinha... mas tem que ficar de olho nessa aí, porque, eu não sei como, mas ela roubou naquele dia.

Apontando para mim, meu irmão tenta fazer graça. Começo a rir um pouco pela tentativa dele, pra quem sabe provocar um riso em Vinícius também. Este não exatamente ri, só assente. Não sei se é para não fazer desfeita ou se realmente queria aquilo. Tanto faz, o importante é que ele estava receptivo.

Deixo a TV num canal de música em volume relativamente baixo, só complementando o ambiente para que não fique naquele silêncio ansioso. Murilo senta-se na poltrona ao lado e ajeita a mesinha a nossa frente para começar o jogo. Enquanto isso levanto para buscar alguma coisa que pudesse beliscar, algo que de fato alimentasse, pois eu estava precisando de algo para cobrir minha ansiedade que ainda não tinha cessado. Volto com um prato de frutas cortadas, entre banana, maçã, laranja e pera, só no ponto de comer, com palitinho para se servir. Eles poderiam ficar nas besteiras se quisessem, dessa vez eu não reclamaria.

Engraçado que meu irmão disputava os pedaços de pera comigo. Aos poucos Vini foi se soltando mais, relaxando e se concentrando mais fácil. Não estava mais catatônico como eu temia que ele ficasse. Na primeira partida eu ganhei, deixando meu irmão com acúmulo de 7 cartas. Na segunda Vini ganhou, eu com 2 cartas acumuladas e meu irmão com apenas uma. Na terceira eu ganhei de novo. Murilo era a peça-chave para a distração, principalmente quando ele ficava frustrado:

– Já entendi o que vocês fizeram, se juntaram pra me derrubar, né?

Vini não falava, no entanto. Era isso que ainda nos perturbava, pois mesmo ele ali jogando, parecia que ele não estava ali conosco. Não sei realmente como ele tinha ganhado uma das partidas. As reações que esboçava eram muito fracas, como que se segurando para não voltar ao antigo estado.

Meu irmão segue para seu quarto para um banho, deixando-nos a sós mais uma vez. Um olhar significativo pra mim antes de ir dizia para que eu tentasse abordar o assunto. Eu não sabia como começar, não sabia como tinha acontecido. Após reunir as cartas na caixinha do Uno, peguei o controle da TV para ver se passava algum filme ou algo do tipo pra ficar de pano de fundo da conversa que eu tentava adiar e me deixei ficar sentada ao seu lado direito, separados apenas por uma almofada média, que não era um empecilho, na verdade. Vinícius continuava distraído, por isso o imito, olhando a TV. Minha insegurança começava a me inquietar.

– Então, você quer falar de como você soube isso? Essa história do seu pai...

– Eu não sei.

Ele abaixa a cabeça, apertando uma mão na outra. Eu não devia estar trazendo tudo de volta, mas era necessário. Porém, só o faria se ele abrisse uma oportunidade para isso, não insistiria se ele não quisesse. Assim coloco uma mão sobre as suas, passando a firmeza de que ele poderia falar.

– Eu quero te ajudar. Você tem que me dar passagem.

Um sorrisinho fraco e irônico eu identifico quando ele tomba a cabeça para o encosto do sofá, de olhos fechados. O que teria o ocasionado eu poderia passar a noite especulando. Era um começo.

– Comece por onde quiser.

– Eu... eu almocei lá no trabalho mesmo. Dona Ana disse que tinha ficado chateada, mas eu estaria em casa para a sobremesa. Ela disse que tinha que sair cedo, mas deixaria tudo no ponto. Quando finalmente cheguei em casa, estranhei o carro do meu avô que estava ali na rua, pois ele não tinha me ligado ou avisado sobre alguma visita. Até aí tudo bem. Entrei em casa e ouvi ele e minha mãe conversando, e foi quando eles contaram. Ouvi demais até. E-eu tive que correr, porque eu não poderia ficar mais lá, naquele centro de mentiras... eles mentiram por toda a minha vida, Milena. Pode entender isso?

– Posso imaginar...

Eleva uma mão ao seu rosto, escondendo-se de mim. Se isso o envergonhava, não o culparia, nem impediria, poderia piorar o caso. Ele estava se abrindo, era bom, não?

– Tantas e tantas vezes estive próximo da verdade. Estava bem ali, se duvidar as paredes saberiam mais do que eu, besta... meu pai que tanto me amou, não o é. Essas pessoas não podem ser meus familiares, pois se fossem, seriam honestos. Sou um próprio marionetes sendo puxado de um lado e de outro...

– Eles devem ter suas razões pra isso, não as melhores, mas algo maior perpassa por tudo isso. Eles amam você.

Ele abre os olhos para mim. Isso devia mexer muito com ele. Confortável também não era pra mim, pra ninguém.

– Quem ama não faz isso com o outro.

– Não? Nunca contou uma mentira para proteger a quem se gosta, pra amenizar a dor de alguém, para camuflar algo que sentisse?

– Claro que já menti, mas nunca, nunca sobre algo tão sério assim. Eles não tinham o direito.

– Não tinham mesmo, não tiro sua razão. Isso não os impediu, verdade, o amor deles era cego para isso. De primeira isso é só o choque falando.

– Amor deles? Isso não é amor, Milena. Claro que estou em choque, eu... eu... espera, por que você fala...? Você fala como se... como se soubesse de algo. Não, não me diz que você também...

De choque ele passou para a descrença. Pior, surpresa e descrença de mim. Como falar mesmo? Eu precisava falar também? Precisava, Milena, é pelo mais que se prima...

– Hã...

Bruscamente ele levanta, impaciente demais para esperar minha resposta. Pronto, agora ele vai ficar com raiva de mim também. Ele vai me afastar, vai me odiar. Me encolho no sofá, meu cabelo caindo pela minha frente por abaixar a cabeça, entregando-me que sim, eu sabia. Não gostava, mas sabia.

– RESPONDE.

– Eu sabia.

– Como? Eles te contaram? Por que você soube antes de mim? MAS QUE DROGA, MILENA, OLHA PRA MIM, CARAMBA.

Não tinha notado até que ele gritasse comigo, eu estava chorando um pouco. De novo. Até eu chegava a me odiar. Foi com esse ódio que levantei a cabeça e o olhei, nervoso de pé a minha frente.

– EU TAMBÉM NÃO QUERIA SABER, TÁ? FOI POR ACASO QUE EU DESCOBRI... E-eu... eu poderia muito bem ter deixado pra lá, esperasse que isso se resolvesse por si só, mas olha o ponto que tudo isso chegou! As coisas só iam de mal a pior, eu tive que intervir também.

– O que você quer dizer com isso?

Ou era o frio ou era nossa briga que fazia os pelos do meu braço levantarem. Uma dor de cabeça logo se iniciava, mas ela não iria me impedir de falar o que eu tinha pra falar. Agora que começou, ele tinha que saber todo o resto, pois não adiantaria de nada ter verdades pingadas aqui e acolá. Isso só o confundiria mais, e eu, eu tinha algumas respostas para algumas de suas perguntas. Por isso levanto, para peitá-lo, colocá-lo diante da verdade que ele um dia tanto quis saber.

– Que eu tive que conter os dois senão eles se matavam e te levavam junto. Que mesmo não querendo ter descoberto, eu segurei isso e os ajudei a prepará-los para o pior. Que se não fosse por mim, ou você nunca saberia e as coisas iriam só piorar mais e mais entre vocês ou você saberia de um jeito muito pior...

Uma determinação vinha de mim, não sei de onde, mas estava agradecida por ela estar me levantando. Porque eu não ia me sujeitar àquilo, não mesmo. Quem fazia isso era ele, o que era compreensível dado ao momento. E nem metade havia dito ainda. Cético ele caminhou para se afastar de mim, chegando à porta da sala, muito nervoso para aceitar o que eu lhe dizia.

– Eu não acredito que você sabia esse tempo todo...

– Sabia, não nego. Não pense que foi fácil lidar com isso entalado em mim também. Nem poderia contar as quantas vezes eu quis te falar...

– E POR QUE NÃO CONTOU?

Explode mais uma vez. Não somente ele sabia explodir. Pra me conter jogo com força a almofada que tinha em minhas mãos de encontro ao sofá.

– PORQUE, COMO VOCÊ BEM DISSE QUE ELES NÃO TINHAM O DIREITO DE FAZER ISSO, EU... EU NÃO TINHA O DIREITO MUITO MENOS O DEVER... Não seria justo.

– JUSTO? VOCÊ QUER FALAR DE JUSTO? FOI JUSTO ME ESCONDER ISSO?

Agora andava de um lado para o outro, gritava comigo. Sabia no fundo que não era comigo que ele queria gritar – ou era isso que eu queria, preferia acreditar – ele estava tirando o que tinha de mal dentro dele. Sento de novo no sofá, teria que controlar a mim mesma para que ele pudesse controlar-se.

– Você tampouco está sendo justo comigo agora. Estou te dizendo a verdade, não estou? Isso não devia valer alguma coisa pra você?

Ele volta para perto de mim, de braços cruzados firmes. Se está assim comigo, imagine se tivesse ficado em casa. Não, ele não teria ficado em casa, faria coisas piores na rua. Fez isso uma vez, faria outra.

– Um pouco tarde para a verdade, você também não acha?

– Na verdade... não. Não lembra que você quase descobriu também? Você sabia que havia algo, você foi atrás. Mais cedo ou mais tarde, você me disse uma vez, que algo ia aparecer. E, por mais bizarro que soe, ainda bem que você não descobriu naquela época. Porque não estava preparado para isso.

Bufa agitado e irritado. Que bom, se estivesse em estado catatônico ainda, seria mais difícil, doloroso e demorado ele passar por essa fase. Ele não me assustava. Na realidade, eu só via a fraqueza tomando de conta dele.

– Isso não me tirava o direito de saber.

– Não, não tirava. Mas por muito eles também passaram, então não pense que só você está mal. O quebra-cabeça só faz sentido com essa peça que você descobriu.

Levanto e saio. Melhor que ele ficasse pensando mais antes que as coisas fossem levadas para outros lados e um começasse um a magoar o outro. A minha cabeça também não estava das melhores.


~;~



Minhas lágrimas não duraram muito depois que saí da sala, o que eu agradecia. Ficar no silêncio do meu quarto parecia ser mais seguro para meus sentimentos. No entanto, sabia que ainda não havia acabado. Aquilo foi só uma premissa. Muita água ainda ia correr, literalmente, de alguns olhos.


Se cochilei um pouco, não percebi se o fiz. Evitava de pensar, mas quem disse que conseguia tirar tudo aquilo da cabeça? As coisas só rodavam mais e mais. Dado um tempo, Bruno me mandou uma mensagem no celular, perguntando como estavam as coisas. Com os olhos semicerrados para a iluminação do celular no meu quarto escuro, digito que tudo anda bem difícil, entre progressos e retrocessos, que eu tinha a esperança que eram todas necessárias para a melhora. Isso pareceu o tranquilizar mais, ele estava inquieto para aparecer aqui, assim como Dani preocupada conosco. Até a tia dela queria ajudar. Estavam ajudando só se preocupando comigo, eu agradeci.

Uma fresta de luz toma meu quarto e alguém entra. Devia ser Murilo, pois Vinícius não teria essa cara depois de nossa briga. Era meu irmão mesmo. Sussurra meu nome:

– Milena?

– Hum.

– Está dormindo?

– Só se virei sonâmbula.

Precisava rir. Era meu remédio contra essa loucura toda. Sabia que era um tanto bizarro rir assim, no meio de um tornado, o que poderia parecer sarcástico, quando não era.

– Parece mais animada.

– Alguém tinha que estar. Você ouviu a briga?

– Ouvi. Por pouco eu não entrei naquela sala e bati nele. Sério. Claro que entendia que era necessário e até esperado, mas Milena, gritar com você? Mal eu grito... fiquei muito doido, me segurando. Logo que você veio pra cá, Djane me ligou. Me assegurei que vocês estavam separados e mais calmos para poder falar com ela.

– Você disse que brigamos feio?

– Não. Ela estava nervosa demais.

– Ainda bem.

– Eu só disse o que fizemos, como o encontramos, como ele estava... coisas assim. Ela se desesperou no começo, mas consegui tranquilizá-la. O avô dele queria vir aqui, aí lhe disse que era melhor não. O momento ainda está... delicado.

– Fez bem.

Um silvo de alívio deixo escapar. Seu Júlio aqui talvez piorasse mais a confusão. Melhor esperar mais um pouco antes de qualquer contato de Vinícius e a família dele.

– Você quer jantar agora?

– Num sei. Até que estou com um pouco de fome...

– Então vem, maninha. Eu esquento pra vocês. Prometo não bater nele se vir de zangadinho de novo pra cima de você.

– Murilo!

– Eu tô falando sério. Ele que num dê uma de engraçadinho...

– Tudo bem, eu vou.

Antes de chegar à sala passo no banheiro para dar uma melhorada no meu rosto amassado inchado. Deixo que Murilo vá pra cozinha primeiro. Ao caminhar pelo corredor, meus passos de lesma iam avaliando devagar o território. A TV continuava ligada, num filme que vi só o começo sem saber o nome quando tinha posto naquele canal.

Era um dos trocentos filmes estrelados pela Sandra Bullock, fazendo par com o Keanu Reeves. Só eu acharia estranho os dois? Tipo, hellooooo, Matrix e Miss Simpatia? Ambos eram os escolhidos, salvariam o mundo – pelo menos ele – mas como par romântico eu duvidava um pouco que combinassem. Se bem que ele fez aquele filme lindo, Doce Novembro, que era, na verdade, bem dramático e triste.

Avisto logo Vinícius, no sofá ainda, vendo o que parecia ser então o fim do filme. Caramba, quanto tempo eu passei naquele quarto? Acho que muito dado à escuridão que lá estava. No relógio sala vejo que ia dar 20h. É, não era a toa que estava com fome. Não demorou muito pra Vini me perceber ali. Tinha algo muito pesaroso nele, nos seus olhos tremelicando ao ver-me, sem ter o que falar. Muito tinha sido dito nessa tarde, contudo, nem metade fora verbalizada ainda.

Ainda haverá maiores crises? O pior teria passado de fato?

– Hey.

– ...

– Então, pronto pra uma sopinha?

Seguro a barra da minha camiseta sem-jeito pelo seu silêncio, alternando meu foco ocular dele para minhas mãos e chão. Que se danasse a zanga dele, eu não iria deixar que isso tirasse minha paz, por isso tento quebrar o gelo. Me aproximo dele e abraço meu corpo com o friozinho maior que fazia ali fora dos quartos.

– Ora, vamos. Vai me deixar jantar sozinha mesmo?

– Não quero comer.

– Pois vai. Nada de ficar sem se alimentar.

– Milena, eu não quero comer. Mesmo.

– Vamos ver se não. Não sente esse cheirinho bom?

Nada animador da parte dele. Eu precisava tentar mais.

– Bora, levanta daí. Tô esperando.

– Mas Milena...

Bato o pé impaciente para ele ver que eu não ia desistir de novo. Ele sabe que quando sou determinada com algo, eu vou até o fim se preciso. Relutante novamente ele levanta e me acompanha até a mesa. Dois pratos de sopa e mais um de macarronada. Este último era do Murilo, claro. Estava acabando já. Talvez queria logo sair dali para nos dar um tempo, como se fosse a hora de se entender, pois briga já tinha rolado.

Vinícius senta do lado meu irmão e eu na frente deste, querendo roubar um pouco da macarronada. Me seguro ou seguro minha fome. Faço sinal para que Vini comece, que pegue a colher e coma. Ele chega a pegar a colher, porém, fica passando ela de um lado pro outro no prato, de cabeça abaixada. Eu começo a comer logo, estaria me sentindo fraca se ficasse sem uma alimentação. Era minha preocupação do momento, por isso ia ficar falando até que ele comesse.

– Vini...

– Milena.

– É só engolir, mal precisa mastigar.

– Não tenho vontade.

Murilo o cutuca com o cotovelo, relatando sua experiência de quando eu fazia o mesmo com ele. Era como se dissesse “tenha ainda sua dignidade, antes que ela te force, porque ela força se preciso”. Ainda bem que meu irmão estava lá, se não fosse por ele, não sei como se sucederia esse dia estranho.

– Ela não vai desistir, cara, acredite em mim. Da vez passada ela quase empurrou a colher na minha boca. Quase pedi por uma sonda... já que nada parecia descer. Só não pedi porque, bom... er...

– Porque ele tem medo de agulhas. E pra colocar uma sonda precisa dela.

– Assim você me deixa com uma má imagem, Lena.

– Mas é isso que eu adoro, irmãozinho.

Não resisto e belisco a bochecha dele na minha frente. Emburrado e fofo, desvencilha-se de mim passando a mão onde eu tinha beliscado. Tem coisas que só tendo irmão pra saber que atentar o outro quer dizer amor. Atentar no sentido leve da palavra, claro, pois tudo tem limite. Vinícius suspira forte, derrotado, e começa a comer devagar. Ponto pra mim – não que eu esteja contando.

Antes de eu chegar no meio do meu jantar Murilo levanta com seu prato e dá boa noite. Disse que tinha “trabalho” pra fazer, o que me deixou desconfiada, não só pelo fato dele ainda estar suspenso, mas também pela forma que ele deixou destacado “trabalho”. Me viro na cadeira e o chamo de volta:

– Como assim, “trabalho”? Você não está...?

– Eu não tenho muito o que fazer, então resolvi dar um geral no meu quarto. Hoje eu tava fazendo limpeza na casa com dona Bia. Vassoura e tudo.

– Há! Tá aí uma cena que eu gostaria de ver.

– É, né? Ela me disse o que encontrou você fazendo enquanto você dava uma geral no seu quarto. Essa era uma cena que EU queria ver.

– Hum. Ainda bem que não viu.

– O mesmo digo eu.

Abrandando a tensão, sentia o olhar curioso de Vinícius cravado na minha pessoa. Estaria ele com vergonha de perguntar? Só diria se ele me perguntasse, só acabaria com o silêncio se ele primeiro falasse. Ele não aguenta muito tempo mesmo.

– O que você estava fazendo? Quer dizer... enquanto limpava o quarto?

– Cantando Backstreet Boys para as paredes.

Ele... ele riu. RIU. Finalmente, Senhor! Tá, mas o que isso devia significar mesmo? Estaria tentando fazer graça? Lembrando de alguma coisa? Imaginando a cena? Queria saber.

– O que foi?

– Nada.

– Ah, diz.

– É que... pareceu tão... “você”.

– Hum. Sério? Pensei ter sido contaminada pela Dani.

– Também, preciso concordar.

– Na quarta ela deu showzinho de novo, no encerramento. Tenho as fotos se você quiser ver depois... o Gui ficou chateado porque ele não ficou e não sabia da festinha. Foi improvisada, como alguém poderia saber?

– Er... Milena?

– O que?

– Desculpa.

– Hum?

– Desculpa. Por tudo. Pelo que houve no carro, pelo que aconteceu mais cedo. Por como tudo ocorreu, por ter explodido com você, por ter gritado, por... ter te magoado.

– Ah. Isso...

– Sim. Isso. Eu estava fora de mim.

– Eu sei.

– Eu nunca quis te fazer algum mal. Te fazer chorar. Isso me quebrou também.

– Eu entendo.

– Não quero que você entenda, Milena. Quero que me escute. E-eu... eu estou me odiando tanto por ter feito você passar por tudo isso. Por ter chegado a te culpar de algo, por desprezar, mesmo que por um segundo sequer, o que você tinha pra me dizer. Não é com você que eu devia estar zangado.

Ele alcança minha mão esquerda de onde ele estava, segurando-a firme num leve aperto agradável. Uma vez ele tinha feito isso, falando coisas que me deslumbravam, me deixando envergonhada. Não foi muito diferente dessa, eu... até engulo um pedaço de carne da sopa, que parece ter ficado preso na minha garganta. Deixo a colher de lado e, discretamente, aperto minha garganta pra ver se o troço desce. Engasgar eu não ia, o pedaço não era tão grande assim. Incomodava, era um fato.

– Por que você não me olha?

Engraçado ele dizer isso porque da vez passada ele disse algo parecido. Mas como eu ia rir com aquele troço na minha garganta? Ele mexe na mão que ele segurava para ter minha atenção. Eu tinha que dizer, né?

– Porque acho que... vou engasgar. Engoli um pedaço de carne.

– O quê?

– Só pegar um copo de água na geladeira. Rápido.

Alarmado, ele levanta, pega o primeiro copo que vê, enche d’água e me passa. Bebo fazendo força até a carne se desprender. Ele se alivia ao ver meu aceno de que tinha descido. Só eu pra quebrar o clima assim. Precisa de mais cuidado, NÉ, Milena?

– Você estava dizendo...

– Que me arrependo de ter te tratado daquela forma, que espero que desculpe aquele meu comportamento. Eu... eu, na verdade, tenho é que agradecer, por você ter falado a verdade. Parece que só você tem seguido essa linha. Mas ainda tem algo que você não me disse. Como descobriu? Quando?

De repente brincar de fazer ondas na sopa com a colher era mais interessante. Contar quantos pedaços de legumes flutuavam era o que eu podia olhar. Ele alcança minha mão novamente, passando seu braço pela mesa, num pedido silencioso para que lhe respondesse.

– Bom, em resumo, foi na noite antes do dia da sua saída do hospital, logo depois que conheci seu tio... pai.. Tio. Eu tinha brigado com Djane na noite anterior, deve se lembrar que eu tinha falado isso quando você teve alta. Como bem deve saber, sua mãe e... Filipe, não se bicam muito. Ela me viu conversando com ele, e estando brigadas, ela achou que eu tinha “passado” para o lado dele. Também não tinha sacado na hora... aí eu dei uma sumida. Um tempo depois Djane me chamou na sala do diretor. Quando eu cheguei lá, eles estavam no meio de uma discussão... e foi a hora que Filipe disse que era seu pai. Foi muito... estranho. Quando o encontrei no quarto, levando Filipe comigo, eu falei de odisseia, se você lembra. Estava me referindo a isso.

– O que você quer dizer com “dei uma sumida”?

– Ah. Djane achou que eu tinha ido embora, enquanto na verdade eu fiquei o tempo todo no hospital, conversando com o Diogo. Foi nesse dia que ele viu... minha fobia.

– Ah. Diogo. Sei.

Levanto a cabeça para encontrar um comportamento indiferente dele. A simples menção de Diogo sempre fazia algo assim com ele, como se desconfiasse de algo que não existe na verdade. Não gostava quando ele ficava assim.

– Vini, não faz essa cara. Olha, eu sei o quão chateado você ficou na outra noite quando o doutor comentou e tal. Naquela noite eu não poderia falar nada.

– Hum. E agora, você pode?

Ele entra na defensiva com deboche. Ele só não contava com a surpresa de que, dessa vez eu poderia falar, o que seria um grande alívio pra mim como foi na noite passada que falei com Diogo.

– Posso. Eu resolvi. Ontem mesmo.

– Então fala.

– Agora-agora não. Ainda tem muita coisa te perturbando. E outra, não quero que meu irmão ouça.

Falo a última parte bem sussurrada, porque eu poderia prever a reação do meu irmão caso ele soubesse do rolo todo com Diogo, um tolo protetor, exagerado. Isso deve ter convencido Vini, talvez por eu mostrar que iria confiar a ele essa história, ele esperaria vir. Então mais uma vez resmunga, acho que querendo ironizar toda a situação como técnica de defesa de si para o problema. Só que... eu não sabia da bomba que eu tinha nas mãos:

– Acho que descobrir que seu tio é seu pai e seu pai é seu tio não é algo que deixa uma pessoa muito orientada.

– É, saber ainda que ele quase te matou e que não conheceu sua verdadeira mãe por causa dele também me deixa assustada...

– O QUÊ, MILENA?

Ele não... sabe?!

Ferrou.


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Notas finais do capítulo

Quer dizer que as bombas desse capítulo/campo minado já não explodiram todas? Pelo jeito não.



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