Mystic Falls, Virgínia, Dias Atuais

Sentada na varanda, sob a luz do luar, pensando e repensando sobre seus conceitos — e preceitos — a cabeça de Caroline voava; para outra dimensão, uma dimensão que era só ela, para ela e somente dela.

Enquanto olhava a lua enquadrada pelos galhos secos do enorme carvalho que ficava na frente de sua casa, Caroline pensava, e refletia sobre tudo o que tinha acontecido. Quantas vezes ela tinha olhado pra dentro de si e se sentido um monstro? Mas depois daquele dia, ela havia percebido que aquela afirmação não passava da opinião dos outros.

Ela era bem melhor vampira. Disso tinha certeza.

Mas apesar da certeza, tudo ainda lhe parecia confuso, uma vez que há tempos atrás — tempos que agora pareciam muitos distantes, uma distância que parecia de milênios — era tudo tão diferente.

Quando ela era normal.

Não que agora ela se sentisse anormal, mas antes tudo era bem mais simples. Tão simples que o primordial em sua vida era sua reputação, sua popularidade, seu ego. Quando as preocupações consistiam apenas em planejar da melhor forma possível os eventos da cidade. Buscar a aprovação de todos. Querer a atenção de todos. Um sorriso escapou dos lábios de Caroline.

Quão fútil eu era, ela pensou.

Não que agora era fosse à perfeição em caráter e responsabilidade. Mas a transformação a havia mudado além do que ela jamais havia imaginado. Muito mais do que fisicamente. As preocupações agora eram outras. E estavam longe de acabar. Assim como as aflições.

Caroline se pegou pensando em Elena e em Matt; e no que tinha acontecido a ele. A mera lembrança lhe causou uma tontura instantânea. Aquela lembrança jamais iria lhe abandonar, ela jamais iria conseguir tirar da cabeça a cena brutal que vinha lhe causando pesadelos.

A cena de quando Matt foi morto pelas mãos de Elena.

*****

Caroline ansiava em saber o que Matt tinha de tão importante em lhe falar para ter que tirá-la de casa numa noite tão fria como aquela. E por que tinha que ser ali. A grama congelada do campo de futebol da escola quebrava sobre seus pés e sua respiração se transformava em vapor gélido assim que escapava de sua boca. Mesmo com o enorme sobretudo preto por cima do grosso casaco de veludo Caroline ainda tremia de frio.

A noite estava mais escura do que o comum, e parecia ampliar o frio ainda mais. Olhando em volta do campo, Caroline sentiu um calafrio percorrer sua espinha; a escuridão era opressora e angustiante.

Ela apertou o passo e pegou o celular para conferir a mensagem que Matt a enviara horas atrás.

Encontre-me com urgência nas arquibancadas perto dos vestiários. É muito importante.

Matt.

Ela estava se perguntando novamente o que de tão importante ele tinha para falar com ela e porque naquele lugar; quando ouviu um barulho, uma voz feminina e logo depois um baque surdo.

Caroline, ofegante, percorreu com o olhar o campo de futebol — seu coração batia acelerado — e viu um vulto nas arquibancadas ao lado dos vestiários. Mas não parecia Matt. O vulto era de uma silhueta feminina. A sombra correu até a beirada da arquibancada e o poste de iluminação revelou a dona da silhueta.

Era Elena.

E ela estava chorando.

Caroline correu até o local para onde Elena olhava e um grito de horror escapou de sua boca.

Matt estava caído em uma enorme poça de sangue, os membros em ângulos estranhos após a queda de mais de quinze metros. Caroline dirigiu o olhar até sua mão e um desespero cortante percorreu todo o seu corpo. Ela explodiu em um choro copioso e dolorido após constatar três coisas:

Matt estava sem o anel Gilbert.

Ele estava morto.

E não voltaria mais.