O Cuidador Do Fogo escrita por Larinha


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Gatinhaaas.
Voltei para postar o lindo capitulo 4. :D

Espero que gostem e aproveitem.



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Eu estava em minha cama deitada com Adrian enquanto refletia como três meses não demoraram a passar e como eu já estava me sentindo bem melhor. Eu havia ficado com alguns caras para passar o tempo, mas a maioria das vezes eu passava meu dia acompanhada de Lissa e Adrian. Confesso que ainda não havia abandonado completamente as festas, mas estava satisfeita em ignorar a bebida e o narguile que entorpeciam minha mente e deixam-me vulnerável. Também não estava completamente feliz, mas Adrian adorava certificar-se que meu coração estava bem ocupado em lhe dar atenção. Não estávamos namorando, tanto que eu sabia de suas escapadas e embora ciumento, ele fazia vista grossa nas minhas saídas escondidas. Mas estávamos juntos quando queríamos e eu amava estar com ele. Sempre nos ocupávamos em nos divertir a qualquer custa e meus amigos apoiavam a ideia de sermos um verdadeiro casal.

Meu celular tocou e quando atendi a voz animada de Lissa soou do outro lado, me intimando para uma noite das garotas em seus aposentos reais. Ela havia chutado Christian e lhe dado um dia de folga para sair com seus amigos. Não que ele estivesse muito animado com a ideia. Mas essa noite seria apenas eu, ela e Mia, como nos velhos tempos. Preguiçosamente levantei da cama, peguei uma bolsa qualquer e coloquei um pijama, minha escova de dente, um par de meias felpudas coloridas e uma roupa para o dia seguinte. Verifiquei minha imagem no espelho e vi no reflexo Adrian me abraçando por traz e franzindo o cenho. Ele olhou curioso para mim em uma pergunta muda.

- Noite das garotas. – Respondi dando de ombros e virando-me para depositar um selinho em seus lábios. Ele pareceu surpreso com a atitude, mas não tocou no assunto, apenas ergueu uma sobrancelha de um jeito engraçado que disparava meu coração, me fazendo lembrar Dimitri. Se não fosse seu sorriso sarcástico e depravado eu juro que não me controlaria.

- Pensei que usava roupas mais sensuais para dormir dampirinha. Meias coloridas não combinam com seu tipo de mulher fatal. – Ri com a colocação de Adrian e dei um soco de leve em seu peito enquanto me afastava para terminar de arrumar as coisas. Ele me puxou pelo braço, me pegando de surpresa quando ao invés de beijar o topo de minha cabeça como sempre fazia me tomou em seus braços e me deu um longo beijo, profundo e cheio de sentimentos. Confesso que me assustei, tendo em vista que não esperava sua atitude. Senti-me corar por um momento, coisa que ele não pareceu notar já que me abraçou fortemente. Tomei o ar para perguntar o motivo disso tudo, mas Adrian silenciou-me pousando seu dedo indicador em meus lábios.

- Shiii, não fala nada. Só quero que tome cuidado. Aproveite com as meninas e vou distrair os meninos para que eles não lhes atrapalhem. Fique bem.

Estranhei sua atitude, mas assenti e em silencio terminei de arrumar as coisas que faltavam. Desligamos as luzes e me certifiquei umas duas vezes se a porta estava mesmo trancada. Saímos de mãos dadas pelo jardim e atravessamos a Corte até os aposentos reais.  Mal bati na porta e Lissa apareceu sorridente enquanto Mia acenava do balcão da cozinha. Um cheiro maravilhoso invadiu minhas narinas e soube que minha noite teria muito hambúrguer e besteiras para comer. Despedi-me de Adrian que jurou a nós que manteria os homens longes dali e Lissa tratou de confiscar meu celular dizendo que o teria de volta pela manhã.

- Achei que não fosse chegar nunca. – Mia reclamou enquanto me dava um forte abraço.

-Ei, eu não seria Rose Hathaway se fosse pontual. – Soltei uma risada nasal enquanto piscava para minhas amigas que também riam. – Mas bom... O que temos para hoje? Filmes, hambúrguer, brigadeiro e coca-cola?

- Não se esqueça do sorvete! – Lissa disse enquanto fazia um biquinho de princesa mimada. Ainda me assustava com essas reações infantis e fofas que Liss tinha sem perceber. Pulei em sua cama grande fofa deixando-me levar com a sensação maravilhosa daquele lugar. Encarei o teto por um momento e depois fui me trocar no banheiro. Vestida adequadamente segui para cozinha e fui ajudar Mia e Lissa na preparação do nosso pequeno banquete. Montamos alguns sanduiches de queijo e eu fiz uma panela bem grande de brigadeiro.

Quando estava tudo pronto voltamos para o quarto com grandes bandejas cheias de guloseimas. Colocamos o sorvete, o brigadeiro e a coca-cola no frigobar que ficava ao lado da cama de Lissa. Assim pouparíamos muitas viagens até a cozinha. Dei uma olhada no titulo dos filmes e me surpreendi ao ver que minhas amigas foram sensíveis e não escolheram nenhum com tema romântico. Sendo assim, aventuramo-nos em um filme típico de besteirol americano com festas e bebidas, bem a minha cara. Demos umas boas risadas, admiramos os lindos atores humanos que estrelavam o filme, comemos muito e jogamos conversa fora. A noite foi leve e divertida como há muito tempo eu não passava antes. Estar assim com minhas amigas me lembrava da época do colegial. Eu nunca imaginei que um dia iria dizer que sentia muita falta desses bons tempos.

Adormeci feliz e incrivelmente acordei às 19h sem o auxilio do despertador. Resolvi ir tomar banho antes que Mia e Liss despertassem, para deixar o banheiro vago para elas. Quando estava pronta recolhi as travessas sujas de comida na cabeceira e fui para cozinha preparar um café da manhã para nós três. Estava tão absorta em meus pensamentos que me assustei quando Lissa se aproximou em silencio.

- Deus, assim você me mata do coração Liss! – Falei nervosa enquanto ela gargalhava ao meu lado.

- O que estava fazendo de errado mocinha? – Ela me repreendeu como se eu fosse uma garotinha sapeca fazendo alguma arte onde não deve.

- Café da manhã para nós. – Sorri abertamente e apontei um lugar para ela a mesa quando Mia apareceu com uma cara amassada na porta.

-Bom dia gatinhas. Espero que não esteja atrasada para comer. – Ela disse olhando para mim, sabendo que eu era muito bem capaz de devorar tudo que havia preparado sem deixar migalhas para as duas.

- Ei Mia, não te mataria de fome... Anda, estamos apenas te esperando. – Quando estávamos todas na mesa, começamos a comer em silencio apreciando os sabores divinos daqueles pãezinhos variados. Estava tudo bem e apenas ouvia-se o tilintar dos nossos copos, até que comecei a sentir uma inquietação de Lissa pelo laço. Ela estava muito boa em me bloquear, mas quando havia algo a incomodando, eu sempre sentia uma agitação diferente. Fiquei a encarando esperando que ela resolvesse falar o que lhe afligia sem que eu precisasse pressiona-la. Mia pareceu notar o que estava acontecendo, mas nos ignorou. Ai tinha coisa... Perdi a paciência e o meu pãozinho de milho com presunto não parecia tão apetitoso quanto segundos atrás.

-Desembucha Lissa! Você está me dando nos nervos... – Suspirei enquanto pousava meu copo de chocolate quente na mesa. Ela pareceu refletir por um minuto, mas acabou cedendo. Ela me falaria ou eu daria um jeito de descobrir o que estava rolando.

- Então Rose... – Ela pareceu escolher as palavras que iria usar, como se o que estivesse prestes a dizer fosse me magoar. – Você sabe que Hans irá se aposentar no final do mês, certo?

- Isso não é novidade pra ninguém. Graças a Deus ele vai dar um tempo pra mim... – Refleti lembrando-me do quanto aquele velho era insuportável.

- Então... Desde o dia seguinte da coroação Dimitri e Tasha estavam visitando academias e centros de treinamento para selecionar alguns guardiões para serem treinados aqui na Corte. Esses guardiões irão substituir a equipe da St. Vladimir, já que Alberta assumirá definitivamente a administração daqui e trará pessoal de sua confiança. – Assenti levemente e receosa.

- Certo... Não sabia que Dimitri e Tasha estavam fazendo isso, mas ok. Quando os guardiões chegam? Como será o treinamento? – Falei presumindo que Liss queria minha ajuda no treinamento dos guardiões.

- É justamente sobre isso que eu queria falar. Eles chegam hoje no meio da tarde. Terá uma palestra que Alberta irá proferir, explicando como vai ser o treinamento e tudo mais. Eu gostaria que você os recepcionasse até o auditório, onde será servido um coffe-break e que depois os acompanhassem até o seus respectivos dormitórios. Mikhail e Eddie irão lhe ajudar... Sabe como é, Dimitri e Tasha voltarão cansados da viagem e... – Bloqueei e por um momento parei de ouvir o que Lissa tentava desde o inicio me dizer. Dimitri e Tasha estavam voltando? COMO ASSIM?

- Pera, pera, pera, pera. – Interrompi Lissa bruscamente. – Você disse que Dimitri e Tasha estarão cansados da viagem? Do tipo que eles chegam com os guardiões? – Perguntei puta da vida, enquanto Lissa sorria amarelo equanto Mia abaixava a cabeça e suspirava. Essas duas sabiam de tudo o tempo todo e armaram essa droga de noite para me contar. Agora fazia sentido Adrian pedir para que eu tomasse cuidado.

- Sim, e Sidney também vem. – Lissa respondeu abrindo um sorriso maior, esperando que a chegada de Sidney fizesse com que eu me sentisse melhor e ignorasse temporariamente o casal. Mas eu simplesmente ignorei.

-Legal... Esperaram até hoje para me contar? Não imaginam o quão feliz eu estou com isso. – Sorri irônica para minhas queridas amigas. – Certo, não irei lhe decepcionar majestade, mas diga-me uma coisa... Porque não fui escalada para realizar o treinamento? Tem algo a ver com Dimitri não é? – Acusei – Por isso escondeu de mim o tempo todo.

- Na verdade não... – Dessa vez foi Mia que saiu em defesa de Lissa que ainda estava chocada por eu ter me referido a ela como a autoridade máxima do mundo Moroi. Bom, ela era mesmo então não estava dando a mínima importância. – Você só não foi escalada por que faz parte da guarda real, e seu dever é proteger a rainha. Há outros guardiões na Corte disponíveis para essa atividade.

- Digamos que eu aceite essa desculpa, - Falei desconfiada – não haverá nem ao menos uma participaçãozinha? Vocês sabem como gosto de aparecer. – Falei fazendo bico, tentando dissipar o clima ruim e minhas amigas riram de mim. Quando por fim pararam, Lissa me olhou profundamente nos olhos, verificando se eu estava mais tranquila para que ela pudesse prosseguir.

- Na verdade sim... Alguns guardiões serão convocados para demonstrações de luta e tudo mais. – Ela disse por fim. Um silêncio incômodo recaiu na cozinha até que eu resolvi quebrar.

- E eu fui cogitada??? – Disse com meus olhinhos brilhando por antecipação. Percebi o sorriso de Lissa murchar e Mia apertou minha mão como se eu precisasse de consolo.

- Sim você foi... Não se preocupe Alberta já recusou a ideia, mas Hans gostaria que você lutasse com Dimitri. Afinal, vocês são os melhores guardiões da Corte. – Senti uma tristeza me abater e alguns flashes de nossos combates me vieram na mente. Eu congelei no lugar e senti o sangue escapar da minha cabeça enquanto minha pressão baixava. Lutar com Dimitri, como há muito eu não fazia... Como nos velhos tempos. Olhei para minhas amigas que me encaravam assustadas, como se a qualquer momento eu fosse tombar na mesa do café.

- Eu aceito. – Me vi falando por fim. Lissa e Mia se encararam e estavam com olhar questionador.

- O que você disse Rose? – Lissa perguntou me dando um olhar chocado e piedoso.

- Eu aceito lutar com Dimitri. – Repeti enquanto me dava conta das minhas palavras. Afinal, eu só podia estar mesmo louca aceitando ir pra berlinda. – Avise Alberta, na verdade eu mereço isso. – De repente uma ideia sem noção surgiu na minha cabeça e um sorriso irônico se formou nos meus lábios. Essa seria uma boa oportunidade para descontar minha raiva. Dimitri sentiria a fúria da Hathaway.

            Terminamos de tomar nosso belo café em silencio. Acredito que Mia e Lissa estavam um pouco assustadas e receosas perante minha decisão, mas eu não estava dando à mínima. Ajudei Lissa com a louça enquanto Mia dava um jeito no quarto. Apesar de Lissa ser a nova rainha, velhos hábitos são difíceis de mudar, e ela nunca gostou de depender dos outros para fazer suas próprias coisas. Peguei minha mochila e despedi-me das meninas. Prometi a Lissa que a encontraria dentro de uma hora na sala de reuniões da administração para acertamos os detalhes da chegada dos novos guardiões.

            Segui para meu quarto e lá larguei minhas coisas no sofá que já estava bagunçado. Joguei-me na cama e o cheiro de Adrian me invadiu, por um momento fiquei ali apreciando o seu perfume que já me era habitual. Sorri para o nada e resolvi dar um volta pelos jardins para espairecer um pouco. Minha cabeça estava dando voltas e eu não estava conseguindo me concentrar muito bem. Desci as escadas do dormitório e cumprimentei um guardião que estava na recepção. Seu rosto me era familiar, mas eu não lembrava seu nome. Ficava péssima quando esse tipo de coisa acontecia, já que eu tinha a impressão que todas as pessoas da face da terra pareciam saber quem eu era. Sentei em um dos belos bancos de madeira que ficam debaixo de grandes árvores e não tardou para alguém vir me fazer companhia. Eddie estava com os olhos um pouco inchados, que denunciavam a ausência de sono durante a noite.

            - Turno durante a noite? – Perguntei olhando de solasaio para ele.

            - Antes fosse... – Ele deu uma risada cansada e tossiu de leve. – Adrian não nos deu trégua, pois havia prometido a vocês que não permitiria que nós as incomodássemos.

            -Oh... Desculpe-me pela parte a qual sou responsável. – Sorri ingênua fazendo com que Eddie revirasse os olhos para minha expressão infantil. – Mas conte-me, o que fizeram de tão bom ontem? – É claro que eu estava curiosa, mas estava me fazendo casual... Como quem pouco se importa para o que irá ouvir. Eddie pareceu me analisar por alguns segundos e por fim decidiu que não havia mal em me contar.

            - Nada de muito interessante. Jogamos poker, tomamos umas cervejas, demos umas voltas pela Corte e jogamos conversa fora. Coisas de homem, você sabe. – ele piscou para mim em cumplicidade. Na época da St. Vladimir, eu andava com muitos garotos e bem, eu realmente sabia o que isso significava. Falar de mulheres, ver fotos de mulheres, beber cerveja, flertar com mulheres, baralho, vídeo game e mais mulheres. Até hoje não sei como era capaz de aguentar tanta bobeira, mas não posso deixar de admitir que eu me divertia pra valer. Homens são companhias leves e não precisamos tentar agrada-los. Além do mais, eles são ótimos contadores de piadas e talvez seja por isso que eu era tão bem aceita na rodinha masculina. Ninguém barra Rose Hathaway quando ela está de bom humor.

            - Interessante. – Bati de leve em sua perna. – Acho que eu teria me divertido um pouco mais com vocês. – Falei brincando e franzindo o cenho, o que lhe gerou uma risada gostosa.

            - Sabe que isso não me surpreende Rose? Na verdade eu até que senti mesmo a sua falta. – Ele piscou para mim e acenou para alguém que vinha em nossa direção. Mikhail beijou o topo de minha cabeça e tocou na mão de Eddie enquanto sentava-se ao seu lado. Ao contrário de Eddie, ele parecia bem mais disposto. Falando em estar disposto, lembrei-me que eles estariam comigo na recepção dos novos guardiões e por um momento fiquei brava por pensar que eles esconderam tudo isso de mim.

            - O que foi Rose? Que cara é essa? Aconteceu algo? – Mikhail perguntou enquanto analisava minha expressão.

            - Não é nada de mais... – Falei irônica. – É que eu me lembrei de que dois grandes amigos meus esqueceram-se de me contar que hoje teria a chegada de alguns guardiões aqui na Corte para um treinamento...

            - Corta essa Rose. – Eddie falou debochado. – Você não está brava porque não te contamos sobre a recepção e tudo mais. Você está brava porque ninguém te contou sobre a chegada de um guardião especial. – Senti meu sangue ferver e meu rosto esquentar com sua afirmação. Nós sabíamos que ele estava certo, mas eu que não iria admitir. Bufei de raiva e os dois riram cautelosos enquanto eu me levantava abruptamente.

            - Falando nisso, acho que tenho uma reunião sobre essa maldita recepção. – Falei enquanto virava de costas para meus amigos.

            - Nós também iremos a essa reunião mocinha. – Mikhail apoiou suas mãos em meu ombro fazendo me parar e virar de volta para eles. – Espere por nós. – Bati os pés revoltada e fui marchando ao seu lado enquanto eles pareciam se divertir com a minha atitude. Eles conversavam alguma cosia durante o trajeto, mas eu estava indignada demais para prestar atenção, então segui calada. Afinal, eu tinha que me preparar espiritual e emocionalmente para o que viria a seguir.

            Chegamos ao prédio, que estava em absoluto silencio, e fomos direto para a sala de reuniões. Lissa, Alberta e Serena já estavam por lá e não demorou muito tempo minha mãe e alguns outros guardiões passaram pela porta. Às 22h em ponto a reunião começou e não durou muito mais que uma hora e meia. Percebi que em alguns momentos as pessoas me lançavam olhares de compaixão, o que estava me deixando completamente irritada. Vi minha mãe surpreende-se quando Alberta anunciou que no encerramento do treinamento, que aconteceria dali a uma semana, eu e Dimitri iríamos nos enfrentar. Apenas vesti minha mascara de guardiã e fiquei indecifrável diante aos olhos de meus companheiros. Eu precisava que todos vissem que eu não ligava a mínima em lutar com meu ex-mentor e consequentemente ex-amante.

            Com tudo nos conformes, nós fomos dispensados para o almoço e depois poderíamos nos reunir para nos preparar e esperar o voo, que estava previsto para chegar às 03h. Mikhail, Eddie e eu estávamos responsáveis por dividir o grupo em três menores e assim seriamos responsáveis por guiar cada um. Teríamos de mostrar alguns pontos da Corte, estar solícitos a responder duvidas e encaminha-los a palestra de abertura e o coffe-break. Eu estava realmente muito animada para esse momento, já que o pessoal da Corte sabia muito bem montar banquetes maravilhosos, e eu esperava nessa ocasião várias comidinhas deliciosas para eu poder devorar. Como Lissa já havia me dito, nossas obrigações por hoje terminavam após o fim da palestra chata e cheia de bla bla blas. Só então poderíamos levar os grupos aos dormitórios dos guardiões e aí estaríamos livres para fazer qualquer outra coisa, inclusive dormir.

             

            Como estava tudo muito em cima da hora, Liss estava ocupada com os últimos detalhes e infelizmente não poderíamos almoçar juntas como era de costume. Então acompanhei os meninos para um restaurante em que Mia nos aguardava e que ficava próximo ao dormitório dos visitantes. Era bem pequenininho e eu já havia ouvido falar que a comida era deliciosa. Ao sentir o cheiro maravilhoso que vinha de lá, meu estomago roncou e só então eu percebi há quantas horas eu estava em jejum. Nem sentei a mesa e já fui direto para o local onde eu poderia me servir. Como era self-service, eu gostava de ser uma das primeiras, assim a comida não ficaria muito mexida e pareceria muito mais apetitosa.

            Quando retornei os outros três se levantaram e também foram se servir. Fiquei um momento comendo sozinha e apreciando o sabor maravilhoso da parmegiana com batatas fritas que eu estava devorando. Um tempo depois Mikhail, Eddie e Mia voltaram com seus pratos cheios e assim como eu, não perderam tempo em comer. Pedi ao garçom uma coca bem gelada, afinal, nada melhor para acompanhar esse almoço dos deuses. Pedi de sobremesa um sorvete gourmet que eu havia comido na semana passada com Lissa. Era de chocolate suíço com cookies, e em um dia Moroi quente como aquele caia muito bem.

            Ficamos batendo um papo após terminarmos, pagamos e fomos andando em direção à área de convívio da Corte. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Adrian, que estava almoçando com seus pais. Combinamos de nos encontrar em frente ao dormitório dos guardiões para aproveitarmos um pouquinho do meu tempo livre até a chegada do pessoal. Despedi-me dos meus amigos na promessa de encontra-los em mais ou menos uma hora e meia na pista de pouso e decolagem da Corte. Sai em direção ao ponto de encontro com Adrian e quando finalmente cheguei, ele já me aguardava lá.

            - Dampirinha. – Ele sorriu enquanto me abraçava tirando meus pés do chão. – Senti saudades...

            - Eu também Adrian, também senti sua falta. – Sorri boba e lhe dei um selinho. Ficamos assim por um tempo, ele me segurando no ar como se eu não pesasse nada e eu com meu rosto deitado em seu ombro. Depois de algum tempo ele resolveu me colocar no chão, segurou minha mão junto a sua e me puxou para dar uma volta pela Corte. Fomos caminhando até o centro dos jardins e sentamos em baixo de uma grande e velha árvore. Ele me encarou por um minuto até que resolveu quebrar o silencio.

            - Você está diferente.

            - Diferente? – Juntei minhas sobrancelhas refletindo minha falta de compreensão. – Diferente como?

            - Não sei... Mais romântica e carinhosa. – Ele riu baixo enquanto retirava do meu rosto uma mecha do meu cabelo que insistia em cair sob meus olhos. – Nem parece a Rose que eu conhecia. Está feliz?

            - Em partes. – Confessei. – Estou insegura sobre... Você sabe. Eu não esperava tão cedo ver Dimitri, mas estou feliz que não esteja com expectativa de algo. Sabe como é, depois de um tempo quebrando a cara a gente aceita e já espera o pior.

            - Pensei que você ia falar que estava feliz porque estava comigo. – Ele fez um biquinho que eu tratei de beijar, arrancando-lhe um sorriso jocoso.

            - Não faz essa carinha linda. Você sabe que eu estou sempre feliz quando estou com você Adrian. – O abracei de uma forma esquisita, pois estávamos sentados e aproveitei para deitar, apoiando minha cabeça sobre seu peito.

            - Mas é importante falar às vezes. Sabe que posso me esquecer. – Ele me puxou para um beijo calmo, que aos poucos foi se intensificando. Sua língua pediu passagem e quando permiti ela explorou cada canto de minha boca, como se tentasse memorizar cada pedacinho que pertencesse a mim. Tinha sentimento, e com ele pude entender que Adrian estava receoso. Eu não havia pensado nisso, mas talvez ele estivesse com medo que Dimitri voltasse e resolvesse ficar comigo. Não que eu fosse aceitar... Longe disso! Mas para Adrian essa era uma grande ameaça. Sorri entre o beijo que Adrian interrompeu lançando-me um olhar questionador.

            - Só estou feliz... – Respondi sua pergunta muda, falando-lhe o que queria ouvir. – Feliz por estar com você! – Seu sorriso alargou e ele me aconchegou mais a seus braços, que estavam quentes e confortáveis. Ficamos abraçados daquela forma até a hora deu me encontrar com meus parceiros de equipe. Levantei-me preguiçosa, amaldiçoando o relógio por ter corrido com a hora. Ofereci minha mão para Adrian levantar e ele aceitou, mas claro, não abusando da minha força. Ele me acompanhou até a pista, onde eu havia combinado de nos reunirmos e o abracei na hora de nos despedir.

            - Fique bem dampirinha. – Ele sussurrou baixinho em meu ouvido para que apenas eu pudesse ouvir. – Qualquer coisa pode me ligar que eu venho lhe resgatar. – Sorri boba e coloquei-me na ponta dos pés para poder alcançar sua orelha para enfim responder-lhe.

            - Vai dar tudo certo. Ligo assim que estiver liberada. – Voltei a minha altura original e olhei no fundo dos seus lindos olhos verdes que estavam transmitindo carinho e amor. – Você me busca para jantarmos?

            - Claro. – Ele respondeu sorrindo com a ideia de me ver mais tarde. – Estarei te esperando. – Ele beijou levemente meus lábios e despediu-se de Mikhail e Eddie, que observavam tudo calados. Virei para os dois e sorri me sentindo mais confiante para o que estava por vir. Eles me abraçaram de leve e fomos para a cobertura, aguardar em uns banquinhos a chegada do voo. Comprei uma coca na cafeteria que ali tinha para ver se meus nervos me davam uma trégua.

Não demorou muito mais do que trinta minutos para vermos o avião pousando na pista, mas eu poderia jurar que aguardei pelo menos duas horas. Eddie e Mikhail levantaram-se e caminharam e direção à porta automática. Senti minhas pernas fraquejarem por um momento, respirei fundo e tomei a direção que a pouco meus amigos tinham tomado.  

            - Pensei que tinha desistido. – Eddie zombou quando eu me aproximei, tentando descontrair o clima tenso que eu tinha provocado.

            - Jamais. Sou mais forte que isso tudo. – Ambos apertaram minhas mãos que estavam geladas. Eu estava inquieta, e toda calmaria que Adrian havia me proporcionado dissipara. Sorri amarelo quando os primeiros passageiros começaram a descer do avião. Não havia nenhum rosto conhecido, mas após alguns minutos pude ver Sidney descer as escadas e se aproximar.

            - SID! – Ergui os braços e sai em sua direção diminuindo o espaço entre nós. Ela me abraçou cautelosa quando eu me joguei em seus braços. Mas após alguns segundos ela pareceu relaxar e eu pude ouvir sua risada sonora.

            - Rose, você está me sufocando cara! – Ela falou me fazendo cair na gargalhada e esquecer os motivos pelo qual eu estava nervosa. Ajudei-a com suas malas e a levei até a parte interior da cobertura para que ela pudesse esperar mais confortável.

            - Como foi de viagem? – Perguntei sentando-me ao seu lado.

            - Foi tranquila... Tirando a parte que o avião estava lotado de criaturas malignas e monstruosas. – Ela franziu o cenho fazendo uma careta leve. Eu não me sentia ofendida dela referir dessa forma a minha raça, afinal, ela não estava de todo errada. Sorri dando de ombros enquanto ela retirava um de seus pesados casacos. – Está quente aqui.

            - Oh se está... Há tempos não fazia tanto calor como ultimamente. – Concordei lembrando-me do sorvete maravilhoso que havia comido de sobremesa no almoço. Resolvi pegar outra coca, dessa vez para diminuir o calor e levantei-me de onde estava sentada.

            - Vou pegar uma coca para mim Sid, quer algo?

            - Não Rose, obrigada. Eu gostaria de ir ao banheiro, sabe me informar onde fica?  - Virei em direção à porta automática e sinalizei com as mãos a localização do banheiro. Sid assentiu em agradecimento e foi em direção ao banheiro. Dei as costas para o local em que ela sumiu e fui até a cafeteria e comprei outra coca. Abri a latinha e fui até a lixeira jogar o plástico protetor do canudo fora. Voltei a rumar em direção onde estávamos e pude ver Sidney sair do banheiro resmungando e secando suas mãos em sua calça jeans. Mas não foi isso que me fez paralisar onde eu estava. Não, não. Foi uma coisa completamente diferente.

            Dimitri passava pela porta automática no mesmo que Sid pareceu notar que havia algo de errado comigo. Ela vinha em minha direção, chamando meu nome, mas eu simplesmente não conseguia assimilar os fatos. Eu já tinha me esquecido o quão lindo ele era. Sua barba estava levemente alta, coisa rara de se ver, e seus cabelos estavam presos no típico rabo de cavalo. Seu maxilar estava rígido em sua perfeita mascara de indiferença de guardião. Ele segurava uma bagagem em sua mão direita e na esquerda estava seu clássico guarda-pó, que provavelmente ele havia acabado de retirar. Acordei do meu transe quando Sid entendeu o que estava acontecendo comigo. Ela revirou os olhos e me puxou até as cadeiras em que estávamos acomodadas. Sentei-me e respirei fundo de cabeça baixa, tentando sem sucesso de alguma forma me acalmar. Tomei um gole da minha coca e quase cuspi quando uma sombra conhecida fez-me a minha frente.

            - Guardiã Hathaway, quanto tempo. – Congelei com a voz e por um momento encarei o chão. Já era demais vê-lo de longe, imagina dirigir minha palavra a ele. Momentaneamente entrei em pânico e minha maior vontade era fugir dali. Prendi a respiração em uma ultima tentativa de abaixar minha pressão para que eu pudesse pensar em algo. Quando senti meu rosto encher de sangue soltei o ar e tomei uma decisão. Eu iria fingir que nada havia acontecido. Coloquei-me de pé e encarei profundamente seus olhos chocolates que brilhavam levemente em hesitação.

            - Qual é camarada – Soquei levemente seu braço e ele pareceu surpreender-se com minha reação. – desde quando se refere a mim com tantas formalidades? – Ele sorriu tímido, mas pareceu aprovar minha atitude. Enquanto colocava suas malas no chão eu cruzei meus braços sobre o peito observando-o com curiosidade. Dimitri cruzou o espaço que nos separava e por um instante o mundo pareceu parar, já que em nenhum momento, hora nenhuma que fantasiei e montei esse reencontro eu imaginei o que ele fez a seguir.

            Dimitri me abraçou! 


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Notas finais do capítulo

E ai?
O que acharam?
Surpresas? Expectativas?

Próximo agora só na quarta... Ainda falta muito para terminar de escrever.

Beijos e até mais.