Estava pensando no primeiro desejo da lista da Alice… Como eu vou fazer uma pessoa estar em dois lugares ao mesmo tempo? Eu só podia ter ficado louco quando pensei nisso. Isso é impossível!

Ou quase.

Lembrei de uma marca em uma calçada que divide o Canadá e os Estados Unidos. O problema é que Detroit fica a uma hora e quarenta minutos daqui, Blenheim*. Não sei se a Alice vai querer passar esse tempo todo comigo trancada em um carro.

Ainda estava cedo. Eu tinha acabado de almoçar. Desci as escadas e fui até a janela do quarto dela, assim como no dia que eu perguntei quem era o Will pra ela e ela me atacou o telefone. Espero que dessa vez seja diferente.

– Tá ocupada? - Perguntei e ela pulou de susto, logo depois olhando pra mim.

– Sabia que eu podia ter morrido do coração? - Deu de ombros. - E outra, você não tem vida? Vai vim todo dia aqui?

– Talvez. Tá fazendo o que? - Ela virou o rosto pra tela do computador de novo. Pulei a janela, entrando no quarto.

– To na internet. E isso é invasão de domicílio. Algo me diz que seu pai nunca pagaria a sua fiança se eu te denunciasse. - Isso é verdade.

– Então você tem facebook… Até que você é um pouco sociável.

– Devo dizer obrigada? - Ri.

– Quem é essa? - Apontei pra uma foto de uma menina ruiva. Tinha uma loira também.

– Por que? Achou bonitinha?

– É pegável. - Ela revirou os olhos.

– Não te interessa.

– E por que não? Acha que eu vou atrás da menina?

– Talvez. - Ela disse rindo.

– O Peter com certeza faria isso. Mas como não sou ele… - Sentei na cama.

– O nome dela é Emily. - A da lista? Bem provável… - E, pelo menos, tira os sapatos pra se jogar na minha cama.

– Ok, desculpa. - Disse rindo e levantando os braços. - E a outra?

– Que outra?

– A outra garota da foto. - Ela revirou os olhos.

– Sou eu. - Levantei e aproximei o rosto da tela do computador.

– Não é mesmo.

– Acho que eu saberia se eu estou ou não em uma foto. - Olhei pra ela. Não. Não é Alice. - Para de me encarar.

– Não parece você. Assim… Você agora parece estar com quilos de maquiagem a mais. Mas mesmo assim, se na foto você tivesse, não iria parecer você. - Juro mesmo. Não parecia ela. A menina na foto é completamente diferente. É o oposto dela. Não é possível alguém ter mudado tanto.

– Eu não usava maquiagem nessa época.

– Começou do nada? - Ela me olhou. - Tá, você não vai me responder.

– Não mesmo. - Voltamos a estaca zero. Pelo menos agora eu sei quem é Emily.

– Tá afim de sair? - Perguntei ainda olhando a foto. Ela bufou e fechou a página.

– Pra onde? - Sentei de novo na cama. - Já vou avisando que não gosto de surpresas. - Ri.

– Eu nem falei ainda. To querendo ir pra Detroit. - Ela ficou com os olhos arregalados me olhando.

– Você enlouqueceu? - Ela realmente me olhava como se eu fosse louco.

– O que tem?

– Além de ser em outro país e quase duas horas daqui, nada. - Ela sorriu irônica.

– Vai ser divertido. - Não garanto nada.

– O que tem lá?

– Precisa ter alguma coisa lá?

– Pra você querer ir… Ou é vontade repentina?

– Vontade repentina. - Disse sorrindo amarelo.

– E você quer ir hoje?

– Por que não? - Disse dando de ombros.

– Não seria mais legal chamar seus amigos? - Parei pra pensar nisso.

– É, seria. Mas eu quero ir contigo.

– Já que insiste…

– Você vai?

– Vou. - Sorri. - Você vai se trocar?

– Vou.

– Dessa vez sai pela porta. - Ela disse abrindo o guarda-roupa. Saí do quarto dela e fui em direção a sala. Quando cheguei lá, dei de cara com a mãe dela.

– Oi, senhora Mendler. - Disse com um sorriso torto.

– Oi, Andrew. - Um homem que estava sentado no sofá da sala se virou.

– Então, você é o Andrew… - Ele disse e eu arqueei uma sobrancelha. Como ele sabe da minha existência?

– Ele é o pai da Alice. - A senhora Mendler me disse.

– Ah… Oi.

– Vocês vão sair? - Ele perguntou.

– É…

– Hm… - Ele resmungou.

– Bom, vou me trocar. - Disse e saí de lá. Preciso dizer que pareceu que ele não foi com a minha cara?

(…)

– Eu te disse pra virar ali! - Alice berrou irritada olhando pra mim. - Quem tá vendo o GPS? Eu ou você? Eu! Então é pra fazer o que eu falo.

– A gente não vai se perder. - Disse rindo. Já fazia meia hora que tínhamos saído de Blenheim.

– Desse jeito, vamos sim.

– Não é a primeira vez que eu vou pra lá.

– Você já dirigiu pra lá?

– Não, mas eu sei o caminho.

– Acredito. - Ela disse irônica.

– A gente vai chegar lá. Tá afim de comer alguma coisa?

– Não. To com sede só.

– Quer parar?

– Não precisa. - Ela ligou o rádio. Tocava Mirrors do Justin Timberlake. Ela mudou.

– Hey! Essa música é legal. - Protestei.

– É depressiva.

– É bonitinha.

– Depressiva. - Revirei os olhos. Na estação que ela colocou, tocava I Knew You Were Trouble da Taylor Swift. Eu tinha certeza que ela ia mudar.

– Não vai mudar? - Perguntei.

– Não. Até que eu gosto dessa. - Arqueei uma sobrancelha olhando de relance pra ela.

– Mas… Taylor Switf é pra meninas meigas. - Ela riu.

– Eu ouço as vezes.

– Você não é meiga.

– Lógico que sou. - Ela disse irônica e rindo.

– Super meiga. - Disse irônico.

– Tem uma hora de viagem ainda. - Ele disse olhando pela janela.

– Daqui a pouco vamos pegar a estrada. - Ainda passávamos dentro de uma cidade. Ela se calou. - Pode mudar a estação do rádio, se você quiser. - Ela deu de ombros.

(…)

O restante do caminho foi quase todo silencioso. O único som era da música tocando no rádio. Quando chegamos na fila pra apresentar o passaporte, parei o carro na guia.

– Não vai pegar a fila? - Ela perguntou.

– Vamos a pé.

– Ah tá! - Ela disse rindo. - Não rola.

– A gente não vai realmente entrar em Detroit. Vem. - Disse saindo do carro e ela bufou, mas também saiu com a bolsa na mão. Alguns policiais olharam pra gente, quando nos aproximamos, mas fingi que nem reparei. Alice olhava pra mim de relance. Não falei nada.

– Eles vão prender a gente. - Ela disse e eu ri.

– Lógico que não.

– Eu to com o meu passaporte aqui. Você tá?

– Não tenho passaporte. - Ela revirou os olhos. Paramos na divisa. Dois policiais olhavam pra gente.

– O que a gente veio fazer aqui? - Alice perguntou e eu dei de ombros.

– Pisa aqui. - Indiquei apontando pra uma parte do piso.

– Você é louco?

– Faz o que eu to falando. - Ela fez revirando os olhos. - Deixa um pé aí e coloco o outro aqui.

– O sol tá afetando seu cérebro. Só pode. - Ri. - E agora?

– Você não queria estar em dois lugares ao mesmo tempo? De um lado é o Canadá e o outro é os Estados Unidos. - Ela ficou olhando pra mim. Essa é a hora que ela me xinga e me bate, ou a hora que ela sorri? Por um momento ela não disse nada. E isso estava começando a me preocupar. Até que...

– Eu não consigo acreditar. Você… Você quis dirigir isso tudo pra…

– Pra realizar um desejo. - Ela continuou olhando pra mim. Até que arqueou uma sobrancelha olhando pro chão.

– Como você achou a lista?

– Ela caiu do seu caderno quando você deixou comigo. Foi sem querer. Juro. - Ela sorriu e confesso que fiquei surpreso.

– Obrigada. - Sorri também. - Eu sei que era uma coisa boba, mas… Eu to surpresa ainda. - Sorri.

– Quando você quiser ir, é só falar. - Ela olhou pra esquerda, que era os Estados Unidos. Dava pra ver uma parte da cidade dali.

– Não posso ficar a vida inteira aqui. - Ela disse rindo. - Vamos? - Assenti. Fomos o caminho até o carro em silêncio.

– Como tá se sentindo? - Perguntei abrindo a porta.

– Eu não sei. - Ela disse rindo. - Surpresa... Feliz... Tentando acreditar que isso realmente aconteceu… E pensando em como te agradecer.

– Não precisa. - Ela ainda sorria. Como sempre, falou pouco na viagem, mas a diferença é que a viagem toda ela sorriu.

*Galera, a cidade existe mesmo. Fica no Canadá. Andei pesquisando no google maps. Qualquer informação errada, culpem o google u_u