POV Malu

Acordei lentamente, peguei meu celular e vi que eram 11:30h da manhã, pena que as férias estão acabando, logo essa moleza vai acabar. Me levantei devagar, fiz minhas necessidades no banheiro e desci para a cozinha, estava morrendo de fome.

– Bom dia dia filha. - disse minha mãe.

– Bom dia mãe. O que tem pro café da manhã?

– Já está quase na hora do almoço, e precisamos conversar.

Não é muito com quando sua mãe chega pra você e diz que precisam conversar.

– Conversar sobre o que? - perguntei.

– Sobre uma pequena mudança que vai ocorrer em nossa vida.

– Tudo bem mãe, eu vou parar de acordar tarde, as férias já estão acabando.

– Não é isso filha, é que nós vamos nos mudar.

– Nos mudar? Pra onde vamos? - eu perguntei.

– Vamos pro Rio de Janeiro, a empresa pediu, vou ter que trabalhar lá agora.

Minha mãe é publicitária e já aconteceu umas duas vezes de nós termos que nos mudar por conta do trabalho, mas não pra uma outra cidade.

– Caraca mãe, tudo bem se a gente se mudasse pra outra rua, outro bairro, mas outra cidade? Não acha que é exagero?

– O que eu posso fazer, filha? Não posso perder meu emprego. - ela disse num tom meio triste.

– Eu sei mãe, tudo bem. Quando vamos?

– Amanhã de manhã, você já pode começar a arrumar as malas.

– Nossa, ok, vou avisar ao pessoal.

***

Já eram 20h e eu já tinha arrumado todas as minhas coisas e avisado ao meus amigos, que não eram muitos, sobre minha viagem sem volta. Eu estava feliz, porque gosto muito de viajar, ainda mais pro Rio de Janeiro, um lugar que nunca estive, mas ao mesmo tempo estava muito triste, porque eu ia deixar alguns aqui e seria bem difícil pra me adaptar as coisas de lá.

– FILHA, O JANTAR TÁ PRONTO! - ouvi minha mãe gritando da sala. Desci rapidamente.

– O que temos de bom pra comer?

– Arroz, feijão, nuggets e batata frita. - disse minha mãe rindo.

– Isso tudo é preguiça de cozinhar? - eu perguntei rindo também.

– Sairemos daqui amanhã às 5h, pra que fazer comida complicada?

– Às 5h? Disso você não tinha falado! Mas ok, vou dormir cedo hoje.

Terminei de jantar, tomei um banho, escovei os dentes e sentei na cama. Peguei o porta retrato que ficava ao lado da minha cama em meu criado mudo e fiquei olhando pra foto que estava lá. Era eu e meu pai em uma praia, aquele dia tinha sido maravilhoso, um mês antes dele falecer, foi a última foto que tiramos. Eu tinha 7 anos e ele 38. Se foi muito cedo. Me lembro bem daquele dia. Era dia 9 de Janeiro de 2003, eu estava em casa com minha mãe assistindo a um filme, era sábado e meu pai estava voltando do trabalho. Eram 21h e a chuva estava muito forte. Ficamos assistindo o filme esperando que meu pai chegasse a qualquer momento e nos desse um susto, ele adorava fazer isso. Deus 22h, 23h, e nada do meu pai chegar. Minha mãe ligou várias vezes mas o celular só caía na caixa postal. Quando foi 13h do dia seguinte minha mãe recebeu uma ligação que mudou nossa vida. Meu pai tinha morrido em um acidente de carro. Seu carro capotou e ele morreu na hora. Foi muito difícil pra nós duas. Minha mãe já trabalhava, mas foi difícil ter que sustentar uma casa sozinha e eu cresci uma criança tímida, sozinha, me isolava de tudo. Penso em meu pai todos os dias, e naquele momento fiquei pensando o que ele acharia de mim agora, eu nunca fui uma adolescente rebelde, eu era normal. Saía, tinha alguns amigos, tirava notas boas, nada fora do comum que fizesse minha mãe não se orgulhar de mim. Fiquei pensando o que ele acharia dessa viagem ao Rio de Janeiro, queria muito que ele tivesse aqui agora. Mas infelizmente não está.

Depois de muitos pensamentos acabei adormecendo com a foto em minhas mãos.

POV Léo

– Léo, acorda, vem me ajudar com umas coisas aqui! - acordei bem na hora que ouvi meu pai entrando no meu quarto e dizendo isso.

– Já vou! - respondi fechando os olhos e cochilando mais uns 5 minutos.

É muito chato quando você está de férias e seu pai fica querendo te acordar cedo pra fazer alguma coisa. Desde sempre morei só com meu pai. Minha mãe infelizmente morreu durante meu parto, foi uma sorte eu conseguir sobreviver. Nunca conheci minha mãe, só por fotos mesmo, e me arrependo amargamente de ter sido o sobrevivente da história.

– Preciso que você me ajude a descascar essa batata. - disse meu pai.

– Ah não acredito que você me acordou cedo pra isso. - olhei pra ele indignado.

Meu pai se virava desde sempre. E eu o ajudava, é claro. Ele já tinha tentado se casar novamente, mas nunca dava certo. Ele sempre lembrava da minha mãe e as mulheres não gostavam nada disso. Eu também não fazia o tipo "namorador". Nunca me apaixonei por ninguém, mas já peguei várias. Não me orgulho disso, mas é a vida né, sozinho eu não quero ficar. Acho que esse lance de ficar, se apaixonar, namorar, noivar, casar, ter filhos, não é comigo. Prefiro ser solteiro, poder ir pra festa que eu quiser, beber o quanto eu quiser e beijar quantas eu quiser! Estudo no Miguel Couto e sou capitão do time de futebol. É, super clichê isso, o gato do colégio, que também é capitão do time de futebol, que pega todas e blá blá. Mas não, não sou esse cara. Tiro notas boas também, não pensem que sou um vagabundo qualquer.

– Amanhã começam as aulas né? - perguntou meu pai terminando de fazer o purê de batata.

– Sim, infelizmente.

– Ah, não fala assim meu filho, estudar é bom, e esse ano tem 4 campeonatos.

– É, eu sei, esse é o lado bom da escola, o futebol.

– Vocês começam a treinar quando?

– O primeiro campeonato é em março, então provavelmente a partir da semana que vem começam os treinos, vou dar tudo de mim pai.

– Tá certo, filhão.

***

Já eram 21h e meu pai já tinha mandado eu dormir, afinal, amanhã era o primeiro dia de aula. Tudo de novo. Antes é claro, dei uma passada no meu facebook pra dar uma atualizada e ver as novidades. Depois resolvi dormir ouvindo uma boa música.