Um Conto De Fadas Em Miami - Fic Interativa escrita por Words of a stupid girl


Capítulo 10
Capítulo 9 -A Fada Azul


Notas iniciais do capítulo

oiii demorei d novo kkkk
isso tudo é por causa de uma simples coisinha chamada aula, mas não se preocupem. Quando as férias chegarem, postarei mais! prometo!!!



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Prender o fôlego nunca fora uma das mais marcantes habilidades de Rider. Pelos seus cálculos, teria em torno de um minuto para resgatar Bruce.

Ele nem entendia por que raios havia pulado. Talvez não estivesse pensando muito bem na hora, com toda aquela pressão e adrenalina correndo por suas veias, ou talvez quisesse dar uma de herói destemido. Por algum motivo, preferia pensar que era isso o certo a se fazer.

Conhecia Bruce há apenas horas, e, mesmo assim, conseguira a proeza de despertar um sentimento de ódio no gordinho. Não que isso fosse muito difícil. Bruce tinha ódio de todas as criaturas vivas. No entanto, lá estava ele, arriscando a vida para salvá-lo das garras do troll, se aventurando pela água salgada de Miami que, a essa altura, o envolvia por completo. Só esperava que suas habilidades aquáticas não o desapontassem naquele momento.

O sal ardia em contato com seus olhos, principalmente na velocidade com a qual ia mais fundo e fundo. A água não era assim tão límpida quanto parecia, vista de fora. Como quaisquer outras águas provindas da cidade, essas eram escurecidas pelos líquidos tóxicos e pela sujeira que continha. Não tanto quanto as que um rio provavelmente teria, mas ainda assim era desconfortável.

Foi fazendo o clássico nado de peito e deixando a correnteza fazer sua parte do trabalho. O grande problema era que, como qualquer troll que se preze, Gustav era... bem, grande. E isso significava pesado. E isso significa que afundava muito mais rápido do que um garoto de quinze anos. Tentava, portanto, procurá-los apenas com o olhar, mas a sujeira e o sal o embaçavam.

Tentou focar em pensamentos felizes enquanto descia. Talvez o monstro já estivesse morto, lá dentro. Talvez Bruce houvesse se soltado, e nadava em busca da superfície. Seu tempo estava acabando, e o mar só ficava mais escuro e salgado a cada braçada. Pensamentos felizes.

Foi quase quarenta segundos, várias pedras e cascos de navio depois que avistou uma forma escura afundando.

A primeira coisa que alguém pensaria seria nadar mais rápido para baixo. Porém, ele foi mais esperto. Calmamente, moveu-se para o lado até sentir suas costas tocarem uma superfície dura, lisa e fria. Ouvira em algum lugar que o Porto de Miami não ficava em terra, mas em uma ilha artificial. Seguindo essa teoria, aquela deveria ser a borda dela. A borda de onde Bruce havia sido puxado, e por onde Rider pulara. Sendo ou não, iria servir direitinho.

Virou seu corpo para baixo, deixando apenas seus pés encostados. Pegou o máximo de impulso que pôde, e, com um simples empurrão, lançou-se com a maior força possível para baixo.

A distância que estava tomando da superfície o preocupava. Já estava tão no fundo que o ambiente ao seu redor escurecia em um gradiente azul escuro. Ao menos o plano, em geral, parecia ter funcionado sem maiores problemas. Em pouco tempo, chegou tão perto da figura afundando que pôde observar que era humanoide (ou melhor, tinha a forma de um certo gigante de cabelos pretos e camisa de canguru).

Ótimo. Metade da tarefa, completa. Agora, só faltava a parte difícil.

Nadou rapidamente até o Gustav desacordado. Como ele desmaiou, não fazia ideia. O importante é que uma de suas mãos prendia um Bruce sereno e quieto, balançando no ritmo das águas. Será que ele...? Não, não depois de todo o esforço.

Precisou de mais uma braçada para poder alcançar o garoto. As bochechas, antes coradas, estavam pálidas como porcelana, como um fantasma... os lábios opacos eram de um tom alarmante de roxo. Seus olhos estavam fechados de um jeito o qual parecia que apenas dormia. Imóvel, poderia ser confundido, de longe, com uma pedra branca, afundando lentamente.

Rider agarrou o braço rechonchudo rapidamente, apoiou os pés na barriga mole do troll e puxou. Puxou Bruce com toda a força que pôde encontrar.

Foi inútil. A única coisa que fez foi levá-los ainda mais para o fundo.

Puxou mais uma vez. E mais outra. E mais outra. Cada vez que repetia o ato, soltava um bocado generoso de ar que subia em várias bolhinhas, lá em cima. Bruce permaneceu onde estava.

Aqueles dedinhos de troll, além de feios e carnudos, eram até bem fortes. Estavam bem entrelaçados na cintura do garoto, cheios de calos, cascas e unhas encravadas. Uma beleza! Mas, ao contrário do que o garoto pensava, os músculos dos membros não relaxaram, apesar da criatura estar completamente inconsciente, e continuavam a apertar firmemente o corpo ao qual estava preso.

Reuniu suas forças novamente e deu outro puxão. De nada adiantou. Suas esperanças estavam começando a se esgotar.

Tudo começou, de repente, a ficar muito mais embaçado do que se lembrava. Presumiu que aquilo muito provavelmente não se devia à sujeira, e muito menos à água. Custava cada vez mais a se manter nadando, e cada movimento parecia mil vezes mais cansativo.

Olhou para cima. A superfície, embora longe, não era inalcançável. O mais antigo dos instintos, o de sobrevivência, começou a tomar conta de sua mente.

Olhando para trás, sabia muito bem que o que pensou em fazer com Bruce estava longe de qualquer ação heroica, ou mesmo ética. Mas em um surto de adrenalina extrema, foram descartados cada um de seus valores pessoais, e cada um de seus pensamentos, fora o óbvio "Nade para cima, seu idiota!". E mais: não havia realmente muito o que fazer pelo companheiro, a não ser morrer ao seu lado. Digamos que esse não era bem seu objetivo.

Deu uma braçada e mais um impulso na barriga do troll, indo na direção da luz. Ainda era um pouco difícil, por causa da quantidade de ar que perdera, mas tinha o pressentimento de que só iria ficar pior.

E ficou.

Mal deu o impulso, uma coisa o puxou para baixo novamente e com força. O susto o fez soltar o restinho de ar não tão fresco que tinha em seus pulmões, dando um sentimento horrível de vazio e pressão. Com desespero, olhou para o seu pé esquerdo. Ele, antes livre, era preso pelos mesmos dedos calejados que prendiam Bruce.

Executou mais uma braçada, ou duas (ou várias), para soltar seu pé esquerdo. Ele basicamente não sairia dali por nada nesse mundo. Então, teve início seu verdadeiro desespero.

Debateu-se na água como nunca fizera antes em toda a sua vida. Chutou, socou e estapeou tanto o mar que até podia ser proclamado lutador oficial de kick-boxing do Mundo Mágico. Em seus pulmões já havia mais de um litro de pura tortura líquida que queimava como ácido. Cada segundo era um instante perdido na busca incessante por oxigênio. E cada segundo durava tanto tempo que nem ele mesmo sabia dizer. Foi uma eternidade e um piscar de olhos, tudo ao mesmo tempo.

Por fim, a maré de agitação foi embora, tão rápida e desavisada como chegou, sendo substituída pela calmaria da fraqueza. Mesmo contra a sua vontade, ele relaxou, e foi questão de segundos até que ele não conseguisse sequer se mexer. A queimação em seu pulmão continuava, só que muito menor e menos dolorida.

Pelo canto do olho, Rider pôde ver alguns tentáculos negros de polvo se agarrando à perna de Gustav e a puxando ainda mais para o fundo. E ele não pôde fazer nada contra isso.

Então era aquela a sensação de um afogamento. Paz. Nunca imaginara que sua morte viria de maneira tão calma e serena, quase como um gato, no ataque de sua presa.

Seus olhos pesavam e não conseguiam mais ficar abertos. Mas teve tempo de observar, de relance, o pescoço do troll. Dele, pendia um longo e bonito colar, com um pingente comprido e azul que brilhava de um jeito bonito. Ele se contentou em observá-lo.

Era tão lindo.

Foi quando o brilhinho pequeno e azul do pingente começou a bater no vidro e a fazer sons um tanto estranhos. Rider entendeu aquilo. Alguma coisa queria se comunicar com ele. Alguma coisa sobrenatural. Mas não na língua com a qual nasceu, e sim uma bem mais antiga. A linguagem do "Socorro!".

Em um surto de mais adrenalina, Rider não pensou duas vezes. Meteu seu pé livre no colar com toda a força que lhe faltava. Foi o bastante para formar uma rachadura, que foi aumentando e aumentando, até que ela se partiu por completo em vários estilhaços de vidro.

Um clarão azul foi tudo o que viu antes de apagar.

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Quando abriu os olhos, Rider estava de volta à terra firme. Demorou um pouco para assimilar o que acabara de acontecer. Enfim, estava no porto novamente, deitado bem ao lado da borda.

Ele nunca ficara tão feliz em ter o sol forte queimando sua pele gelada e incomodando seus olhos. Naquele momento, a dor que começara a se espalhar por suas costas pareceu uma benção, só pelo poder de senti-la. Pensou o quanto e quantas vezes havia chegado perto da morte, naquele dia. Vamos torcer para que o processo não se repita.

Tossindo um bocado de água salgada do mar, seus ouvidos captaram o som de umas cinco vozes falando ao mesmo tempo, em alvoroço. Sua visão só foi se clarear depois.

–Você queria matar a gente de susto, não é? -uma Lisa aflita o encarava, tapando a luz do sol com sua cabeça. Ela tinha as sobrancelhas recurvadas de estresse, embora o brilho repentino em seus olhos mostrasse alívio. Alison estava ajoelhada ao seu lado, ainda com sua camisa preta. O cabelo estava amassado, porém, impecável. Seus rostos ficaram muito próximos, e, por um breve momento, o garoto sorriu. Ela retribuiu.

–É bom ter você de volta, Rids. -Ali deu um soquinho amigável em seu ombro. Doeu um pouquinho, mas Rider não falou nada sobre isso.

–Ué? Achou mesmo que ia se livrar de mim assim, tão fácil? -ele fez graça da situação. Tentou levantar-se, pois continuava no chão, de barriga para cima. O resultado foi mais tosse e um monte de água salgada. As duas garotas o impediram, ajudando-o a sentar-se sem esforço. -O que aconteceu, exatamente?

Na verdade, ele sabia em mínimos detalhes o que acontecera: o troll, Bruce branco como um fantasma, a luta para emergir quando sabia que era inútil resistir, os tentáculos, o desespero, o apagão. Estava mais determinado em descobrir como podia estar em um chão sólido, lembrando de todos os acontecimentos que, mais cedo, o levariam ao seu fim.

–Vocês demoraram demais lá embaixo. -explicou Heather, que observava toda a conversa de longe. Cuidava de Bruce, ainda pálido e de lábios arroxeados, molhado e envolvido por uma toalha branca que Rider não fazia a mínima ideia de como foi parar ali. Ele notou que também estava todo encharcado, dos pés à cabeça. Mike estava perto deles, rosnando de forma violenta para Bruce. Teve a vaga impressão de ter ouvido ele rosnar de volta. -Já estávamos começando a nos preocupar...

–Claro, até porque estava ótimo para nós, também. -Bruce ironizou, com sua voz estridente de repente variando para áspera e raivosa -Quando eu disse que preferia me afogar no oceano, não era bem isso que eu tinha em mente. Gigante idiota.

Era a centésima sexagésima primeira vez que ele usava a palavra "idiota" para se referir a alguém. E ainda não parecia um bom insulto.

–Tá, disso eu sei. Mas como viemos parar aqui? Da última vez em que estive consciente, nós estávamos morrendo.

Ninguém respondeu. Em vez disso, simplesmente apontaram para algo atrás do garoto. Ele virou-se para ver. Esperava encontrar algo parecido com um monstro, gigante ou ser altamente perigoso e mal-intencionado com quem tivesse que lutar contra. Fazer o quê? Estava começando a se acostumar. O que estava lá, no entanto, era um milhão de vezes mais impressionante do que todas as suas expectativas. Teve que admitir que seu queixo caiu.

Sentada em um montinho de containers mexicanos (cujo interior ele preferia não se preocupar em saber), ofegava a criatura mais extraordinária que Rider já vira na vida. Talvez não a mais estranha, nem a mais assustadora. Mas, com certeza, a mais extraordinária. Todos se calaram imediatamente na sua presença. Ela parecia exausta, mas linda, do mesmo jeito.

Era uma moça alta e esguia, que se sentava de pernas cruzadas, não parecendo, em nada, desconfortável. Seus cabelos perfeitos e louros caíam sobre seus ombros, arrematados por uma tiara. Tinha um rosto delicado e perfeitamente maquiado em tons claros, com lindos olhos azuis e lábios vermelhos. Usava um vestido longo, em estilo meio medieval, meio angelical, azul e brilhante, que lhe caía bem e esvoaçava quando até o vento mais fraco batia. As mangas do vestido eram tranparentes, e longas como a saia. Estava descalça, mas sua extrema elegância fazia até aquilo parecer sofisticado. Tinha nas mãos uma vara longa e fina, exageradamente branca, que produzia brilhinhos azuis na ponta.

E isso nem era o mais impressionante. Por trás das suas costas, saíam duas formas transparentes e finas, com um leve brilho, que Rider notou serem asas. Asas em formato de borboleta, saindo das costas da moça. Ela irradiava um brilho muito luminoso, podendo ser visto até mesmo debaixo do sol forte que fazia. Ficou preocupado (não sabia por que, pois a criatura era uma completa estranha) que ficasse queimada ou se sentisse incomodada com o sol. Porém, não mostrou qualquer sinal de dor.

A mulher estupidamente maravilhosa sorriu para Rider. Isso fez ele ser invadido por uma sensação diferente de todas que já teve. Era quente, reconfortante, boa e feliz. Então, ele soube: aquela era a sensação da verdadeira magia.

–É como se ela tivesse uma luz própria. -Lisa, ainda ao seu lado, leu seus pensamentos -Como uma estrela. Como Stardust.

Até responderia o comentário nerd da irmã com algum fora bem pensado, mas estava ocupado demais ficando estupefato.

–... Fada Madrinha? -Rider deu um palpite. A moça riu, o que explodiu-se em um calor ainda mais forte e delicioso em sua espinha. Teve vontade de se deitar e adormecer no chão duro, mesmo. Mas se conteve.

–Não, jovem príncipe. Receio que não seja eu quem você procura. Meu nome é Fada Azul.

–Fada Azul... -ele mastigou aquele nome. Os outros continuavam em silêncio, esperando para ouvir o que tinha a dizer. - ... Príncipe?

–Mas é claro, meu querido! -ela respondeu, sorrindo. Sua voz tinha um tom de bondade e gentileza que acalmava. Então, com um simples balançar da sua vara comprida, o garoto estava magicamente de pé. Sua roupa molhada grudava na pele que, apesar de pingando, não lhe ocasionava frio. Percebeu que também estava descalço, e que seu tênis se estendia em algum lugar entre Heather e Mike. A fada se moveu delicadamente de cima dos containers e, uma vez em solo, caminhou devagar até ficar cara a cara com ele. -Afinal, você é o filho dos governantes de direito do Supremo Palácio do mundo mágico! O que mais isso lhe faria?

–O que ela quis dizer com isso? -Rider pôde ouvir Bruce perguntando baixinho para Heather.

A criatura mágica fez uma reverência demorada ao garoto, que o fez sentir-se um tanto importante.

–Você parece bem mais poderosa que eu. -constatou, desconfiado.

–Não imagina o quanto! Contudo, nunca devemos deixar o respeito de lado. -ela respondeu calma e sabiamente. Mais tarde, teriam muito o que explicar para quem quer que os visse recebendo lições de moral de uma mulher com asas de borboleta em plena Miami. Mas, na hora, aquilo não era importante. -Poder é uma coisa traiçoeira. Não se deve deixar de controlá-lo, ou ele é que te controla. Espero que entenda isso, príncipe.

Rider gostava da forma a qual a fada se dirigia a ele. Príncipe. Rider Price, príncipe do Supremo Palácio do Mundo Mágico. É, estava bom, para ele.

–Hm... -ele ponderou. -Então, isso faz de Lisa uma...

–... uma princesa, de fato. Sim. -ela completou com muita má vontade. Lançou para Lisa um olhar de desdém, cruzando os braços. A garota recuou.

Rider estranhou a atitude da fada, mas preferiu não falar sobre isso.

–Me diga uma coisa, Vossa... Fadeza. -Rider fez pose de durão, mas, ao se abaixar para pegar sua espada prateada que aparecera de forma desconhecida ao seu lado, seus joelhos tremeram. Para não cair de cara no concreto cinzento e sujo, foi necessário que Lisa e Ali o segurassem uma por cada braço. Ele se recompôs, pegou a arma com destreza (o que era fácil, já que ela era bem leve), guardou-a na bainha que pendia de sua cintura e pigarreou, tentando manter a imagem. -Como salvou nossas vidas? Claro, somos eternamente gratos por isso.

Ela soltou mais um riso perfeito. Seus dentes eram lindamente brancos e pareciam ter todo o seu brilho triplicado. Esqueça o Mundo Mágico. Ela devia ter saído de um comercial de pasta de dente.

–Nisso, acredito que esteja errado. Eu é que sou grata por ter me salvado.

Agora sim. Ele estava confuso.

–Mas como que eu... -eu ia argumentar, mas então se lembrou de uma coisa que vira dentro d'água, quando já estava quase se afogando. A última coisa que viu antes de perder completamente suas forças. -Era você! Aquele brilhinho azul naquele... naquele colar que o troll usava!

Ele não estava perguntando, e sim afirmando. Como imaginava, a fada assentiu.

Agora, ele via toda a cena em sua cabeça, como em um filme: o colar longo e de pingente azulado flutuando na imensidão azul. Aquele singelo brilhinho de esperança que, do nada, pareceu querer se comunicar com ele.

–E o que você fez com o colar? -ela perguntou, estendendo sugestivamente as mãos delicadas.

–Eu... eu quebrei. -ele constatou. -Isso deve ter sido o suficiente para...

–Para me libertar. Sim, Rider. Você me salvou. Existe um pequeno truque de prender uma fada em um lugar apertado. Digamos, um frasco. Ou uma lanterna. Entre outros. Uma vez que ela é liberta, é obrigada a fazer algo por você. Um feitiço antigo e ultrapassado, mas continua sendo uma maneira eficiente de controlar magia.

–Espera! Quer dizer que você é a tal "semelhante" que tínhamos que salvar? -Alison interrompeu a conversa, trazendo um ponto do qual Rider havia sinceramente esquecido. Na verdade, ele também tinha esquecido que ela ou qualquer um de seus amigos continuavam ali presentes. -Mas pensei que precisava ser um renascido! Não era essa a lógica?

Ela tinha razão em um ponto. A mensagem deixada pela Fada Madrinha fora bastante clara: "Três semelhantes correm perigo". Até aquele momento, tinham considerado que seriam, os três, renascidos. Dois deles com certeza eram Heather e Bruce. Disso, não tinha dúvidas. Estava faltando um terceiro.

–Fadas não se prendem a uma coisa tão limitante quanto a lógica, jovem Rapunzel. -a fada respondeu ao comentário. -A propósito, parabéns pela nova arma. É ouro, não é? Uma espada forjada no alto dos morros, nos arredores do Reino do Sol, perto das minas dos anões. É uma arma forte. Digna de alguém como você.

Pode-se dizer que Rider entendeu o que a Fada Azul quis dizer com "não se prendem à lógica". A conversa tinha, de algum jeito, partido de um agradecimento e ido parar em espadas grades e pesadas de ouro. Não tinha como haver lógica naquilo.

–Talvez não fosse isso o que a fada madrinha quis dizer. -Rider explicou. Ou pelo menos disse o que pensava. -Ela é semelhante a nós, de certa forma. Pertence ao Mundo Mágico, estava presa às custas de um troll... é, não somos tão diferentes assim. É por isso que devemos nos ajudar.

–Exatamente. -a fada concordou, imóvel.

Assim que terminou de falar, um barulho alto e grave tomou conta do porto. Acabava de atracar um imenso (e isso quer dizer imenso DE VERDADE) navio de carga feito de metal pintado de cinza e vermelho. O que não fazia o menor sentido, pois na direita, no casco, estava escrito o nome "Black Raven", em letras brancas, fazendo com que nada tivesse o tom de preto lá. O apito do navio soou mais uma vez e, quase que imediatamente, surgiu, do lado oposto pátio aberto de containers e concreto, um conjunto grande de pessoas fardadas De cinza. Correram simultaneamente para as máquinas empilhadeiras que se encontravam espalhadas por todos os cantos.

Ao ver o batalhão se aproximar, a primeira reação dos cinco foi estritamente a mesma: todos se reuniram rapidamente em um círculo ao redor da Fada Azul, para que ninguém a visse.

Rider respirou fundo. De perto, a fada exalava um cheiro doce e distinto de blueberry. Imaginou se uma fada negra não teria cheiro de blackberry, ou uma vermelha, de morango.

Foi Bruce quem resolveu se expressar.

–Seja lá o que você tiver que fazer antes de ir embora, por favor, minha senhora, se apresse! Essa gente idiota não está muito acostumada a ver esse tipo de coisa!

Não podia culpar Bruce por ser tão indelicado. Era muito difícil esconder uma coisa que tem brilho próprio. Ela poderia até ter cooperado, diminuindo de tamanho ou se disfarçando de sei lá o que viesse na cabeça. Porém, ela se levantou (ignorando completamente todo o esforço que estavam fazendo para escondê-la dos trabalhadores do porto), e sua cabeça determinada pairou sobre todo o grupo de renascidos. Esfregou a varinha suavemente contra seus dedos, prendendo a atenção de Rider nequelas mãos longas e delicadas.

–Onde eu estava? Ah, sim! Rider Price...

–Espera! Como vamos saber se ela não está contra nós? Quer dizer, ela pode nos ajudar por pura conveniência, só para nos apunhalar pelas costas, depois. -Lisa interrompeu, deixando clara a sua impressão sobre a recém-chegada. -Como disse, você não age com lógica.

Em resposta, ela lançou para a garota outro olhar de desdém.

Mas o que tinha de tão detestável assim em sua irmã? Claro, ela era chata e irritante, mas nada assim tão... Tinha alguma coisa ali. Dava para ver no ressentimento com o qual a tratava. Era como se fosse vergonhoso, para a fada, estar no mesmo espaço que ela.

–Às vezes, é preciso correr riscos. -Respondeu, simplesmente. -Voltando para o que eu dizia: Rider Price, você não só ajudou uma fada hoje, mas também a libertou de uma longa prisão mágica de vidro e constantemente mostrou bravura e generosidade, arriscando sua vida para salvar a de outros. Em troca do seu sacrifício, eu, a Fada Azul, gostaria de lhe conceder...

–Um desejo????? -ele perguntou, apressado. -Porque, se for o caso, eu desejo saber quem eu sou, sabe? No Mundo Mágico. Que tal Pinóquio? Não, é meio gay, né? Ou quem sabe o Peter Pan. Esse é legal. Já sei! Rumplestiltskin! Com certeza, esse seria meu escolhido! Quer dizer, se eu pudesse escolher...

Ela riu, o interrompendo. Justo quando ele estava começando a se empolgar.

–Não era bem isso que tinha em mente. Lhe darei uma coisa melhor. Um conselho. Uma base, um ponto de partida.

Aquilo não soou muito bem para seus ouvidos. Não a parte do conselho, mas sim a de não ganhar nada por tudo o que fez. Como ela mesma dissera, ele se arriscara pela vida de outras pessoas não uma, mas duas vezes (contando seu mergulho ao "estilo troll" para salvar Bruce e a pancada na cabeça de Carl, o gerente de hotel psicótico para salvar Alison.), e como se não bastasse, ele ajudara a própria fada. Merecia, por isso, ao menos saber que tipo de renascido ele era.

Claro, a menos que não fosse renascido, coisa nenhuma.

Mas o que ela queria dizer com "ponto de partida"?

–Vejo que traz um belo grupo com você. São corajosos, honestos, bondosos e ótimos amigos. Tem uma

grande sorte em tê-los do seu lado: Alison é corajosa, segura e leal o bastante para lhe desobedecer, quando preciso. Apenas tome cuidado para não ficar sabendo de mais do que precisa, está bem?

Ali estranhou a descrição, mas deu um sorriso amarelo. Que a servia muito bem, para falar a verdade.

A fada, então, virou-se para a morena alta:

–Heather tem um espírito carinhoso e mente aberta. Ela protege quem ama. É claro, se conseguir, antes, proteger a si mesma.

Heather simplesmente baixou a cabeça. O garoto pôde notar que seus olhos marejavam um pouco, ainda. Lembrou-se do que os trolls conversavam sobre os pais da garota. Se sentiu mal por ela, até porque a mesma coisa poderia ter acontecido aos seus próprios pais. E ele não saberia.

–Bruce é de uma audácia inigualável, habilidoso na força bruta. Se conseguir controlar seu temperamento, se torna extremamente poderoso. E Elisabeth... bem, ela tem que ter alguma coisa boa!

–Ei!

Aonde ela queria chegar com toda aquela conversa mole?

–Serão, também, grandes e gloriosos guerreiros, eu vejo. Mas precisam, para isso, de uma luz. Alguém para guiá-los nessa jornada, para decidir que caminho seguir e que batalhas travar. Você, príncipe, será essa luz.

–Eu?

–É, você, príncipe das florestas, cavaleiro da justiça. Deve cumprir a simples missão. Então, e somente então, achará o que procura. Você vai precisar de quatro coisas: primeiro, você precisa de loucura. Segundo, você precisa das fadas, e precisa acreditar. E o mais importante: você precisa do elo!!

–Tá, mas o que é um elo?

Ela não respondeu à sua pergunta. Apenas continuou a falar.

–E não se preocupe: você será, e como será, grandioso. Mas não do jeito que imaginou.

Foi aí que tudo o atingiu como uma bala.

Ela estava certa. Rider se recusava a terminar como mais um adolescente da Carolina do Norte. Não o atraía nem um pouco a ideia de ser um garoto normal. Ele ansiava por aquilo. Se tornar bem mais que Rider Price.

Ele queria ser um renascido. Príncipe Rider, herdeiro do trono do Mundo Mágico.

A fada azul pareceu ler seus pensamentos, pois concordou com o olhar.

–É, acho que é isso. Tenham cuidado com os traidores, e boa sorte em sua jornada. -a fada parou por um instante. Rider achou que ela tinha acabado seu discurso. mas, então, ela lançou um olhar para a estampa da camiseta de Lisa: um lobo cinzento. -Ah, e lembre-se: dizem que um lobo não pode, por livre e espontânea vontade, mudar sua natureza. Que ele sempre será o que a vida quis que ele fosse: um assassino. Um predador. Cabe a vocês mudar essa opinião.

E, com isso dito, o ser magnífico desapareceu em um clarão e uma nuvem de pó azul de fada.

Sua saída triunfal pareceu não ser notada pelos trabalhadores, como o monte de coisas extraordinárias na vida que as pessoas sempre acabam deixando passar despercebidas.

Rider apenas ficou lá, parado, observando o pozinho brilhante e azul cair sobre suas roupas. Nada falou para seus companheiros. Também, não achou que conseguiria. Sentiu que o clima mudar no Porto de Miami. O sol ficou mais forte, e o vento, mais frio. No entanto, ainda estava no ar aquela sensação reconfortante de magia.

Ela havia acabado de nomeá-lo líder da missão?


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Notas finais do capítulo

Pergunta de hoje: Qual é a sua fada preferida da Disney? próximo cap eu digo qual a minha

é o seguinte, leitores: estamos a poucos caps de mostrar quase todos os personagens! por isso, eu preciso das vagas todas preenchidas. quem quiser fazer ficha, a hora é agora! chamem amigos, parentes, seu cachorro, tanto faz! contanto que as vagas sejam preenchidas, por favor!