Acordei no dia seguinte pensando apenas em Ally. A cada dia eu ficava mais preocupado com ela. Eu tentava pensar em outras coisas, mas não havia como Ally sempre voltava em meus pensamentos. Eu queria ter um modo de ajuda-la, não aguentava mais vê-la deitada naquela cama como se estivesse sofrendo silenciosamente. Mas, como o médico explicou, ela só iria acordar quando estivesse preparada. Enquanto isso continuaria lá sofrendo sozinha, e eu aqui também sofrendo. Se ela soubesse o quanto me machuca ela estar naquele estado...

Mais tarde fui com minha mãe no hospital para pegarmos Melissa. Fomos apenas hoje porque mesmo ela recebendo alta ontem tínhamos que falar com a assistente. Quando estava tudo pronto para levarmos Mel fomos ao quarto dela busca-la. Mel estava no colo de uma enfermeira, ela estava com um vestido florido e delicado provavelmente dado por alguém, pois ainda não tivemos tempo de pegar as coisas dela na casa de Ally. Ela não chorava e nem gritava, mas sua expressão deixou minha mãe emocionada. Ela tinha os olhos assustados e chorosos, mas se matinha forte, assim como Ally fazia. Sua expressão demonstrava sua inocência com tudo àquilo que estava acontecendo.

– Austin – Ouvi sua voz doce pronunciar quase em um sussurro. Fiquei surpreso, todos os dias eu vinha visita-la, mas ela nunca havia me chamado. Claro que Trish passou horas tentando ensinar nossos nomes para a menina assustada, tentando demonstrar confiança. Meus olhos se arregalaram quando ela esticou os dois bracinhos pequenos em minha direção e se inclinou em minha direção mesmo estando longe de mim. A enfermeira se aproximou de mim sorrindo e a me deu com cuidado. Meio confuso passei os braços em suas pernas a colocando em meu peito e ela colocou a cabeça em meu ombro. Olhei desajeitado para minha mãe e percebi que ela também sorria.

– Bom dia – A enfermeira finamente falou – Vejo que vieram pegar Mel – Ela disse me olhando e eu sorri sem graça – Aqui está alguns remédios que ela terá que tomar se estiver com dor – Ela disse dando uma receita para minha mãe – Ela não terá que tomar nenhum constante, pois ela apenas com alguns curativos que poderão ser retirados em sua próxima visita ao hospital em duas semanas. Qualquer sintoma ou dor traga-a aqui, tudo bem? – Ela explicou.

– Sim. Obrigada – Minha mãe respondeu e depois saímos do hospital – Vamos a levar de carro sem cadeirinha? – Ela perguntou preocupada enquanto nos dirigíamos ao carro.

– Hm... Posso pedir para Dez arranjar uma, mas por enquanto teremos que ir assim – Falei também preocupado.

– Tudo bem. O caminho não é grande então pode ir na frente, mas apenas hoje não queremos mais um... – Ela se interrompeu olhando para Mel. Percebi que a menina agora tinha uma respiração profunda, havia dormido. Entramos no carro e ficamos os dois apenas um tempo observando o sono silencioso de Mel.

– Temos que pegar roupas para ela – Minha mãe falou com a voz baixa.

– Também pensei nisso. Me deram a bolsa da Ally e eu peguei a chave – Falei pegando com cuidado a chave de me bolso e minha sorriu.

– Esperto. Sabe onde é o endereço? – Ela perguntou.

– Sim – Respondi e expliquei o endereço lembrando da vez que levei Ally para casa.

Alguns minutos depois tínhamos parado na frente da mesma casa que lembrava apenas um pouco mais abandonada.

– Vou deixa-la no banco de trás – Avisei.

– Não. Deixe-a comigo. Vá sozinho não acho que tenho direito de entrar ai – Ela falou meio triste, acho que não queria trazer mais lembranças.

– Tudo bem – Falei e deixei Mel em seus braços cuidadosamente. O olhar de minha mãe era carinhoso enquanto ela acariciava os cabelos da menina – Já volto.

Sai do carro e me dirigi à porta da casa. Acho que não legal ter uma pessoa entrando em sua casa sem você saber, mas acho que Ally entenderia, é por sua irmã. Sua casa é bem espaçosa por dentro, pois não havia muitos moveis. Subi as escadas porque constatei que os quartos seriam lá. Havia três portas, comecei pelo ultimo e tive sorte. O quarto tinha as paredes brancas e apenas uma cama, mas reconheci sendo da Ally, pois havia uma foto dela e da irmã na cômoda ao lado da cama. Ao lado também havia um violão, reconheci daquela vez que nos encontramos no parque. Além disso, havia vários brinquedos em cima da cama.

Andei um pouco para dentro do quarto, era tão fácil lembrar da Ally naquele quarto, seu perfume por todo lugar. Suspirei profundamente fui para o guarda-roupa do quarto. Dentro tinha algumas caixas pequenas nas prateleiras espaçosas, provavelmente ela não tinha arrumado tudo, já que era nova na cidade ainda. Fui olhando dentro das caixas, achei alguns cadernos, roupas de Ally, até que finalmente encontrei as pequenas roupas de Mel. Peguei a caixa e coloquei no chão para olhar melhor. Em cima havia um pequeno urso de pelúcia, embaixo havia muitas roupas de Mel. Entretanto, no meio delas encontrei algo com capa dura. Puxei e percebi que era um caderno. A capa era preta e no meio estava escrito ALLY em branco. Queria muito abrir, mas sabia que não tinha o direito, coloquei dentro da caixa novamente. Peguei a caixa apenas um pouco pesada e coloquei alguns brinquedos que estavam em cima da cama.

Antes de ir fui até o violão e passei a mão lembrando de quando eu e ela cantamos juntos. Posso dizer que aquela tarde foi a melhor que tive com alguém que realmente me importo, fazia tanto tempo que eu não cantava, mas quando ela me pediu não consegui negar. Apenas aquele pequeno momento despertou tantas coisas em mim. Soltei o violão e fui em direção à porta, sorri tristemente, mas fiz uma promessa de voltar, só que da próxima vez com Ally.