Já estávamos na metade do caminho e o carro continuava mergulhado em um silencio, até mesmo desconfiava que Mel tivesse dormido. Pelo caminho que Penny tomava pude perceber que era um restaurante caro, um dos únicos lugares que eu conhecia. A rua de Miami ainda estava um pouco movimentada entretanto todos os carros estavam lentos, sem preocupações, bem diferente das ruas de New York. Por isso estava me acostumando bem com a minha nova vida.

Olhei para Penny que dirigia mais rápido que outros carros. Ela estava novamente com uma aparência de doente, pálida e inclinada para frente como se sentisse dor. Logo ia perguntar se ela estava bem, mas esta percebeu que eu a encarava e falou:

- Eu pedi para que jantássemos juntas para que pudesse me desculpar com você – Ela disse com dificuldade e eu a olhei surpresa, ela continuava a olhar a estrada – Eu sei que você não me considera um mãe desde que seu pai morreu – Continuou fazendo um grande esforço para falar da lembrança – Você tem razão não tenho me preocupado com você e com Melissa o quanto devia. Como você disse eu tenho sido fraca – Falou arrependida e pude perceber que ela falava verdade.

- Penny você esta bem? – Perguntei verdadeiramente preocupada quando ela teve um acesso de tosse. Ela me olhou com dor e ofegou acho que também pela dor. Entretanto, eu não sabia a causa da dor, pensei que ela não tinha bebido tanto hoje, por isso não sabia o que pensar.

- Filha... – Ela sussurrou parecendo pedir ajuda e meus olhos se encheram de lagrimas por medo e pela fala dela, pois a muito tempo esta não me chamava assim. Mas no mesmo momento, antes que pudesse responder, ouvimos uma buzina de algum carro e percebemos que estávamos passando em um cruzamento.

Outro carro vinha na direção contraria em alta velocidade, por pouco Penny, com muito esforço conseguiu desviar. Entretanto, antes mesmo que pudéssemos nos recuperar Penny ofegou novamente, e percebi que ela se esforçava para não gritar, e retirou suas duas mãos do volante as colocando na barriga. No outro segundo o carro perdeu o controle indo para outra direção. Tudo parecia um filme em câmera lenta. Eu estava assustada, com medo, queria chorar, mas me preocupei mais ainda mais quando ouvi um soluço vindo do banco de trás. Virei-me rapidamente e encontrei os olhinhos cheios de lagrimas e assustados de Mel. Acalmei-me um pouco quando percebi que ela continuava presa na cadeirinha de carro.

Tudo isso aconteceu em poucos segundos, e eu não consegui pensar em mais nada quando o carro foi jogado para frente. A única coisa que meu cérebro processou era que tínhamos batido em algo, talvez outro carro, um poste, ou mesmo uma arvore, mas não consegui definir nada. Pois, minha visão estava embaçada, minha cabeça parecia querer explodir, eu sentia uma grande dor nas costas, na verdade dor em todo o meu corpo. Virei lentamente minha cabeça para Penny mesmo sem conseguir ver muita coisa. Entretanto, consegui ouvir sua voz bem distante de mim:

- Me desculpe por ser fraca – Sua voz rouca e fraca disse ao meu lado. Tentei focar meus olhos nela e quando consegui ver algo apenas observei seus olhos se fecharem lentamente.

- Mãe... – Choraminguei e lagrimas começaram a descer quando ela não respondeu. O aperto em peito aumentou quando não ouvi nenhum barulho vindo do banco de trás.

Eu apenas queria fazer a mesma coisa, ficar em silencio, não sentir dor, mas quanto mais segundo se passavam mais a dor aumentava. Fechei meus olhos esperando que a dor passasse, mas minhas lagrimas continuaram rolando. Os barulhos a minha volta aumentaram fazendo com que minha dor de cabeça aumentasse. Eu já não suportava mais a dor, queria gritar, mas não conseguia, quando finalmente os barulhos foram sumindo a minha volta e fui caindo na inconsciência.

POV Trish

Começava a escurecer quando Dez e eu decidimos caminhar pela cidade. Deixamos o carro perto da praia e fomos andando sem rumo. Caminhávamos pela calçada conversando algo sem importância quando ouvi uma sirene. Olhei confusa para Dez, porque não havia muitos acidentes em Miami.

- Oh, um desfile – Dez falou alegre do jeito desligado dele.

- Não Dez, acho que é um acidente – Falei revirando os olhos. – Vamos, não deve ser muito longe – Falei puxando-o pela rua enquanto ele me olhava confuso.

Andamos apenas por umas três quadras, quando vimos muitas pessoas juntas. Fiquei com medo que pudesse ser mesmo um acidente e quem estaria envolvido.  Corremos para lá e andei no meio das pessoas. Quando finalmente conseguimos passar pela multidão, vi uma cena horrível. Havia um carro esmagado contra uma arvore que ficava na calçada. O carro tinha subido um pouco na calçada e a parte da frente estava muito ruim. Havia uma ambulância perto e vario socorristas corriam para tirar alguém do carro. Não havia mais carros envolvidos, mas mesmo assim meus olhos se encheram de lagrimas.

Senti muito medo, por isso caminhei para mais perto, um socorrista me viu, mas estava muito ocupado tentando tirar algumas partes do carro. Senti que Dez estava me seguindo, e quando cheguei perto o suficiente para ver quem estava no carro fiquei em choque. Ela estava cheia de sangue, com as roupas rasgadas, e com o rosto um pouco diferente, mas mesmo assim reconheci Ally. Havia uma mulher no banco do motorista já sendo retirada, havia vários socorristas em volta dela. E pude perceber uma criança em uma maca bem grande já sendo colocada na ambulância. Outras também chegavam para ajudar.

- Ally... – Sussurrei já começando a chorar. Mesmo eu tendo a conhecido há pouco tempo, ela já era mais minha amiga do que pessoas que eu conhecia há anos.  Dez me abraçou e me puxou por trás para que outras pessoas tirassem Ally do carro, já que ela estava muito presa. – Ligue para Austin – Pedi tentando ficar calma. Olhei para Dez que também tinha uma expressão assustada. Ele assentiu e pegou o telefone, indo um pouco longe de mim, me deixando chorando.