Seus Olhos escrita por Beatriz de Moraes Soares


Capítulo 8
A politica de não se apaixonar


Notas iniciais do capítulo

Bom, só postei esse capítulo antes pois minha querida leitora/amiga/companheira de curso Keren Melo me pediu para postar rapidamente esse capítulo e como eu sou uma ótima amiga, eu o fiz!

Espero que gostem e comentem! Beijos!

PS. Para quem quiser fazer o download de Eric cantando "Valerie" aqui está:
https://skydrive.live.com/?v=FirstRunView#cid=CDE083FD18872440&id=CDE083FD18872440%21105



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/392734/chapter/8

– Bem original, Dawson – digo timidamente. Eu havia pedido para meus alunos me esperarem na sala e Eric fez o mesmo com os seus, então fomos para o corredor conversar – só que aquela música, apesar de ter meu nome, não tem nada a ver comigo.

– Que mal agradecida! – diz ofendido.

– Perdão – digo sorrindo e tenho certeza que corei naquele momento – obrigada, Eric – brinco fazendo uma reverência como as mulheres do século XVIII.

– Por nada – diz ele, fingindo tirar um chapéu invisível – E então? O que achou?

– Além de uma forma de você chamar atenção e me deixar sem graça na frente de todos... – faço uma pausa – Foi muito belo!

Ele abre um sorriso encantador.

– E qual a sua resposta?

– Sim – digo sem hesitar, diferente do que eu normalmente faria, que seria no mínimo fingir-me de desentendida.

– Sério? – ele parece surpreso, realmente surpreso.

– Por que parece tão difícil de acreditar que eu quero sair com você?

– Não sei – ele diz, sorrindo – parece meio surreal.

– Deixe de bobeiras – digo, dando um tapinha em seu ombro – agora me deixe ir, porque meus alunos estão me esperando.

– Tudo bem – ele diz e então sigo para minha sala. Quando abro a porta para entrar, ele completa – sábado, ás sete.

– Onde? – pergunto.

– Surpresa.

– Odeio surpresas – rebato.

– Então você vai odiar essa – ele ri, entra para sua sala e eu entro para a minha.

No final do dia, vou flutuando para a casa, feliz da vida. Eu finalmente consigo digerir o que aconteceu. Eric não estava me evitando, com certeza deveria estar ensaiando com as crianças para fazer aquela linda apresentação para simplesmente me pedir para sair com ele.

Assim que encontro Charlie, a primeira coisa que digo é:

– Eric me chamou para sair!

– E ele seria...? – Charlie pergunta confusa e depois de um tempo pensativa, diz – Ah, aquele que você estava aos beijos no carro aquele dia?

– Nós não estávamos aos beijos no carro. – digo e depois completo – Pelo menos não graças a você, sua estraga prazeres!

– Ah meu Deus, Valerie, sua tarada! – grita ela e faço um sinal para que fale mais baixo, pois talvez papai e mamãe estivessem por perto e ouvissem.

– O melhor de tudo não foi nem ele ter me chamado, claro, foi importante. Mas, o pedido, Charlie, foi incrível! Você não tem noção do que ele fez...

Explico detalhe por detalhe a Charlie e ela fica encantada com o pedido de Eric, assim como eu fiquei. Passamos a noite inteira conversando sobre homens. Que engraçado, nunca havia feito isso com Charlie. Não desse jeito – com Meredith tive esses momentos, estávamos no colegial, vários meninos lindos e tudo mais, claro que garotos não eram meu foco, nada era comparado a minha verdadeira paixão naquela época, o balé – mas de qualquer forma, não era como agora. Agora eu tinha Eric em minha vida e era algo totalmente diferente e único.

– Valerie, respira! Ou você vai ter um treco– grita Charlie, já irritada com meu sofrimento antecipado – você vai a um encontro e não pra forca!

– Droga, eu deveria ter recusado! – digo, me lamentando.

– Não deveria, não! – ela diz – Val, pare com isso. Vá se divertir e deixe-me terminar sua maquiagem, estou ficando irritada!

Deixo assim, Charlie terminar minha maquiagem. Ela ajuda-me a escolher um vestido preto, com uns sapatos Jimmy Choo azul marinho e claro, meia-calça cor de pele. Charlie me empresta um suéter de cashmere grafite que pertence a ela, muito lindo por sinal.

Ela me acompanha até a sala de estar enquanto espero dar o horário para que Eric que me busque. Acabamos nos deparando com papai e mamãe, ele fuma um charuto enquanto lê um jornal. Já mamãe, está pregada ao telefone, com certeza está conversando com uma de suas amigas peruas e sem graça.

Papai me observa entrar e pergunta:

– Vai sair, querida?

– Sim – digo.

– Valerie vai ter um encontro! – anuncia Charlie e no mesmo instante sinto um rubor em minhas bochechas.

Papai larga seu jornal e apaga seu charuto no mesmo instante, já mamãe se vira em um movimento brusco e faz um O com a boca:

– Rosemarie, tenho que desligar. Tchau, querida – então ela coloca o telefone na base e se vira para nós – O quê?

– Você tem um encontro, Val? – pergunta papai.

– Não é bem um encontro, somos só amigos.

– Ela tá apaixonada por ele – grita Charlie e minha vontade é dar um soco em sua boca.

– E quem seria ele? – pergunta mamãe, séria.

Charlie abre a boca, mas antes que ela possa falar algo, a fuzilo com os olhos.

– Quem é ele, Valerie? – insiste mamãe.

– O primo de Pete, Eric Dawson – digo por fim.

– O americano que você estava conversando na festa de Charlotte?

– Sim.

– E o que ele faz? – pergunta mamãe.

Estou prestes a falar algo completamente desagradável para mamãe, quando Doroti adentra a sala e diz que Eric está me esperando. Levanto-me pronta para sair daquele ninho de cobras, mas então papai me interrompe:

– Espere, Valerie – ele faz uma pausa e então olha para Doroti, prosseguindo – Doroti, diga ao rapaz para que entre.

– O quê? – grito e então Doroti para – Não, Doroti. Nem pense nisso!

– Por que não, Valerie? – diz minha mãe, com as sobrancelhas arqueadas.

– Porque não!

– Eu gostaria muito de conhecê-lo, Valerie – diz papai – por que não o chama para jantar conosco algum dia?

– Tá papai, eu faço o que você quiser – digo – só me deixe ir agora, tudo bem?

– Tudo bem – ele diz – só me diga aonde você irá com ele. Precisamos ao menos saber, querida.

– Não sei, ele disse que é surpresa.

– E você vai mesmo assim? – diz mamãe.

– Por que não iria?

– Ele pode muito bem ser um louco psicopata. Talvez ele te leve a uma casa de meretrizes, ou talvez a um matagal e te disseque como um sapo na aula de biologia. Não sei.

– Mamãe com todo respeito, mas cale su... – começo a dizer, mas papai me interrompe.

– Vá lá, querida! – ele pigarreia e então pego minha bolsa.

– Boa sorte, Val – diz Charlie, animadamente.

Encontro Eric do lado de fora, ele usa um blazer escuro e por baixo uma camisa branca, com um jeans escuro e também um sapato bege. Não consigo conter um sorriso ao vê-lo. Ele me conduz ao seu carro e seguimos, pergunto aonde ele irá me levar, mas ele continua a me dizer que é uma surpresa.

Eric segue o trajeto. Aproximamo-nos do centro de Londres e acho que ele talvez vá me levar a um restaurante, mas ele passa longe e por fim, para seu carro em frente a um Pub:

– Bom, não conheço muitos lugares em Londres, estou aqui há apenas três meses e bom, achei que seria legal – ele diz timidamente faz uma pausa – Bom, o pessoal do trabalho sempre me chama para vir aqui...

– E você vem?

Acabo o interrompendo, curiosa em saber se Eric vem aqui com os amigos.

– Apenas uma vez – ele diz – é bem legal, espero que você goste. E hoje a banda do pessoal da gravadora vai tocar.

– E você irá tocar também? – pergunto.

– Não irei me arriscar hoje:

Eric me conduz para dentro do Pub e pede uma mesa para nós perto do palco. Vislumbro o lugar, observando cada detalhe, realmente era um lugar muito legal, aconchegante até. Mando uma mensagem para papai dizendo onde estou e cinco segundo depois meu celular dispara em várias ligações, com os IDs do telefone de casa, do celular de mamãe, papai e Charlie. Acabo desligando meu celular, irritada com toda aquela loucura.

O garçom chega e Eric pede um coquetel de frutas sem álcool para ele e pergunta o que quero, digo que o mesmo. Conversamos por um tempo, até que a banda sobe ao palco e pergunto a Eric o que eles tocam:

– Eles fazem covers de clássicos do rock.

– Tem alguma dos Beatles? – pergunto brincalhona.

– Pedi que eles tocassem uma especialmente para você – ele diz sorrindo e segura minha mão.

Uma mulher alta, com dreadlocks ruivos, usando um colete de couro, uma saia vermelha e umas botas pretas, sobe ao palco e se apresenta como Hanna. Ela diz o nome dos integrantes da banda e deseja uma boa noite aos espectadores, percebo que ao final ela olha para Eric e dá uma piscadela para ele. Eu sinto um incômodo gigantesco, mas a banda começa a tocar. A primeira música é um cover de Like a Rolling Stone, de Bob Dylan.

A mulher canta muito bem, sua voz tem uma rouquidão que dá muita emoção à música e sem contar a banda incrível, fiquei apaixonada pelo baixo. Depois de Bob Dylan, fomos levados aos anos noventa com Pearl Jam, ao som de Alive. Eric pergunta se estou gostando e digo que mais que isso, estou amando. E realmente estou, o ambiente, a música e claro, Eric. Ele comenta que a música que ele mais gosta do Pearl Jam não é Alive e eu pergunto qual, ele me diz que adora Jeremy, digo que Jeremy realmente é muito legal, mas nada se compara a Last Kiss.

Depois de nossa pequena discussão, a banda troca de música para God save the Queen do Sex Pistols. Depois de uma playlist bem mista, contando com The Runaways, Guns N’ Roses, Nirvana, Queen, Elvis Presley, Janis Joplin, Jimi Hendrix e David Bowie, eu só me perguntava onde estariam meus amados garotos de Liverpool que Eric havia dito? Hanna anuncia que o show deles estava acabando:

– Bom pessoal, nossa noite por aqui acabou, mas a de vocês está apenas começando! Nossa última música é um pedido especial do nosso querido colega americano Eric Dawson para sua namorada! – tenho quase certeza que virei um pimentão quando ela disse “Sua namorada” – Querida, ele só quer segurar a sua mão!

Então ela pisca para mim e a banda começa a tocar.

– Oh yeah, I’ll tell you something. I think you’ll understand, When I say that something. I want to hold your hand. I want to hold your hand. I want to hold your hand.

Mal consigo me virar e tirar meu olhar do palco para encarar Eric.

– Oh please, say to me. You’ll let me your man. And please, say to me. You’ll let me hold your hand. Now let me hold your hand. I want to hold your hand. And when I touch you I feel happy inside. It’s such a feeling that my love. I can’t hide, I can’t hide, I can’t hide!

Quando finalmente Hanna termina, olho para Eric, que me observa atentamente:

– E ai? – pergunta.

– Adorei. É uma das minhas preferidas!

A banda sai do palco e Eric diz para irmos cumprimentá-los. Ele me apresenta a banda e quando chegamos para falar com Hanna, ela é bem mais alta que eu e de perto parece tão mais bonita. A primeira coisa que ela diz assim que Eric me apresenta é:

– Você é a garota especial de Eric?

Olho para ele e vejo que ele está corado, então diz que vai conversar com o um tal de Steven do áudio e me deixa sozinho com Hanna. Ela está ajudando os outros rapazes a guardar seus instrumentos e fica sem dizer uma palavra. Fico meio desconcertada, penso em voltar para mesa, mas Hanna finalmente diz algo:

– Você deve ser realmente especial.

– Por quê? – digo, curiosa.

– Desde que Eric chegou à gravadora eu venho tentando, meio que, sair com ele – ela diz – E ele não me dá bola. Na verdade não dá bola para ninguém. Sempre focado demais no trabalho, dá a ideia de que não tempo para nada e para ninguém. E então, ele simplesmente chega dizendo que vai trazer uma garota para cá. Eu quase morri! – ela diz e arregalo os olhos assustada – Brincadeirinha, boneca! Eu não estou apaixonada pelo seu homem, só o acho um gatinho! Então cuida dele!

Ela pega os materiais que guardou e sai andando.

– E então, gostou da Hanna? – uma voz sussurra atrás de mim, dou um pulo e vejo Eric – calma, sou eu! – ele ri.

– Desculpe.

– Tudo bem, vamos para nossa mesa! Vão servir nosso jantar! – ele diz, me puxando.

Não era bem um jantar. Comemos peixe empanado e batatas, tomamos Pepsi-Cola, por que assim como eu, Eric também odeia Coca-Cola, perguntei se ele era realmente americano e se limitou apenas a sorrir. Conversamos, rimos e brincamos por horas e quando me dei conta, já era meia-noite. Eric, decepcionado, diz que vai me levar, paga a conta e seguimos de volta à minha casa. Ele estaciona seu carro e ficamos parados, quietos, como se esperássemos algum movimento do outro.

Olho com o canto dos olhos para Eric e simplesmente do nada, seus lábios já estão pressionando os meus. Algo urgente, desesperado, como se aquilo fosse esperado por séculos. Abro minha boca e sua língua a invade, enquanto sua mão desliza por minhas costas, fazendo círculos suaves. Nossas línguas travam uma batalha e eu cravo minha mão em seus cabelos, o puxando para mais perto.

É tudo muito rápido e eu não consigo nem ao menos ordenar tudo em minha mente.

– Acho melhor respirarmos um pouco! – ele sussurra, sem se separar por um segundo de mim.

– Não estou nem um pouco afim!

E então o puxo para mais perto e continuo o beijando, até que vejo que realmente preciso de um pouco de ar, assim vou parando com pequenos beijos e por fim nos separamos. Eric está com os lábios inchados e tenho certeza que os meus também estão. Solto um risinho e Eric acaba rindo também.

Não sei o que dizer, mas isso já parece comum quando estou com Eric, fico muda, rio a toa... Será que eu estou realmente me apaixonando? Não apaixonando igual à época do colegial onde eu conhecia um garoto bonito, o beijava e dizia que estava apaixonada. Não. Com Eric era diferente, totalmente diferente. Era especial, muito especial e eu sentia a cada segundo a necessidade de tornar esse sentimento algo que eu pudesse finalmente usufruir.

– Bom, acho melhor eu entrar – digo.

– Agora? – ele diz, fazendo biquinho e então se aproxima, dá um pequeno beijo em meus lábios – estava ficando tão bom.

– Também acho, mas meus pais devem estar chamando a guarda nacional – ele arregala seus olhos – Não duvide de meus pais, eles são loucos – digo sorrindo.

– Não duvido – ele passa seus dedos pela minha bochecha em um toque suave – com uma filha linda dessas, até eu chamaria a guarda nacional.

Sorrio um pouco sem graça. Dou um último beijo em Eric, quase tão demorado quanto o primeiro e por fim, entro em casa e fico aliviada por não encontrar meus pais me esperando, com certeza papai deve ter driblado o espírito escandaloso de mamãe.

Deito em minha cama e parece que o sono não quer chegar. A única coisa que posso fazer é relembrar aquela noite várias e várias vezes em minha mente. Eu finalmente senti o gosto de Eric e foi maravilhoso, assim como cada momento que eu vivia ao seu lado. Além do mais, quando eu estava perto dele, eu esquecia totalmente da minha politica de não se apaixonar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nota/Beta: Esperem só um minuto, preciso reaprender a respirar...
Ui!
Gente! Só eu fiquei sem fôlego lendo esse beijo do Eric e da Val? Minha nossa! Finalmente não teve a chata da Charlie pra atrapalhar o momento. Acho que se ela tivesse aparecido ali novamente, eu teria infartado.
Depois de tudo isso, estou sem força para escrever uma nota decente. Espero que chova comentários! Õ/

Música que Hanna canta: http://www.youtube.com/watch?v=ipADNlW7yBM