Seus Olhos escrita por Beatriz de Moraes Soares


Capítulo 15
Apartamento 465


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada leitoras lindas!

Feliz ano novo! Cá estamos em 2014, um ano novinho em folha! Desejo tudo de bom a vocês e claro, para nossa bela estória. Como as meninas do Whats devem saber - não tive tempo de avisar nas notas, mas no meu perfil estava avisado - a estória entrou em recesso por conta das festas de final de ano e logo em seguida tive uns probleminhas, mas aos poucos vou levando :3

Espero que gostem desse cap, tanto quanto eu curti escrever!

Betagem do capítulo por: Fernanda Bueno (lembrando os velhos tempos, né Fer Diva?)



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Ninguém nota quando eu e Conrad sentamos no palco, todos estão prestando atenção no emocionante discurso da Sra. Pieruzzi. Quando ela termina, tento chamar a atenção para mim, bato no microfone algumas vezes até que todos convidados me olhem, procuro Eric, mas não o acho. Entro em desespero pensando que ele já deve ter ido embora, mas por fim o vejo, ali, escondido entre o garçom e a mesa de frutos do mar, ele me encara, confuso e é minha deixa para falar:

– Aqui estou – digo um pouco sem graça, os olhares são curiosos e me deixam mais nervosa ainda, eu não consigo lembrar de todo meu discurso, que improviso em algo bem básico – bom, eu sempre quis o melhor para você e se Peter é o melhor para você, eu desejo que vocês sejam imensamente felizes! Eu te desejo tudo de bom! Aos noivos! – todos brindam e eu volto a falar – Agora eu queria cantar uma música.

Perdi Eric de vista, mas o encontro novamente e dessa vez ele sorri, não consigo conter um sorriso e sorrio para ele. Olho para Conrad e ele assente, começando a tocar a melodia, ela é lenta e bem tranquila, bem diferente da original do New Order:

Toda vez que eu penso em você, eu sinto passar por mim um raio de tristeza. Não é um problema meu, mas um problema que achei. Vivendo uma vida que eu não posso deixar para trás. Não faz sentindo em me dizer: A sabedoria de um tolo não vai te libertar. Mas é assim que as coisas são, e é o que ninguém sabe. E a cada dia minha confusão cresce.

Todos parecem envolvidos pela melodia de Conrad e de alguma forma, pela minha voz também. Mas, eu não consigo prestar muita atenção, pois eu apenas consigo olhar para Eric a espera de alguma reação, mas ele só sabe sorrir:

– Eu me sinto bem, eu me sinto bem. Estou me sentindo como nunca estive. Sempre fico assim, não sei o que dizer. Toda vez que eu vejo você caindo, eu fico de joelhos e rezo. Esperando pelo momento final, que você diga às palavras que eu não consigo dizer – Conrad me ajuda no backing vocal e de repente uma lágrima escorre de meus olhos no refrão e fica difícil continuar, mas eu continuo– Toda vez que eu vejo você caindo, eu fico de joelhos e rezo. Esperando pelo momento final, que você diga às palavras que eu não consigo dizer.

Todos se levantam para bater palmas para Conrad e eu, agradeço e saio correndo do palco, mas de repente do último degrau eu tropeço no meu próprio pé e em câmera lenta vou caindo, mas no último segundo alguém me segura, ou melhor, ele me segura:

– Eric – sussurro.

Ele me levanta e fica me segurando pela cintura, o encaro, me perdendo em seus olhos me perguntando como era possível um par de olhos me causarem tais sensações. Mas, não era só os olhos, era ele, todo ele, cada sorriso, cada palavra, qualquer coisa que ele dizia ou fazia, era perfeita. Eu seria uma tola em dizer que ele era perfeito, ele não era perfeito, mas era perfeito para mim.

Eu queria beijá-lo, queria sentir seus lábios naquele instante, na frente de todos, eu senti aquela vozinha covarde em minha mente dizendo para eu não fazer, mas pela primeira vez em anos, eu a ignorei e fiz o que deveria ser feito, segurei Eric pelo colarinho e o beijei.

Foi um beijo rápido, porém cheio repleto de emoções e intensidade. Assim que nos separamos olhei em volta e vi que todos nos observavam, todos mesmo. Meredith que estava sentada na cadeira à frente me lançava um olhar de orgulho, como se pela primeira vez eu tivesse feito algo que ela concordava plenamente. Eu estava começando a ficar corada e percebendo isso, Meredith berrou:

– Vou jogar o buquê!

Todos voltaram à atenção para Meri, principalmente as mulheres, por fim me viro para Eric, ele não para de me observar e estou voltando a ficar corada quando digo a ele:

– Para de me olhar assim! – dou um tapinha em seu peito.

– Assim como? – pergunta provavelmente se fingindo de desentendido.

– Não sei, assim!

– Com um olhar de um homem apaixonado? – ele dá um pequeno beijo em meus lábios.

Olho para Conrad, que ainda está do nosso lado, não consigo desvendar sua expressão, ele parece muito sério, nunca o vi assim. Percebendo o olhar de Conrad, Eric diz a ele:

– Está tudo bem, cara. Vou leva-la para tomar um ar – Conrad não muda sua expressão.

– Tudo bem, Con – digo tentando acalmá-lo.

Conrad suspira pesadamente e assente de má vontade, Eric me pega em seu colo e vai me conduzindo para longe de todos:

– O que está fazendo? – pergunto enquanto ele me carrega em seu colo.

– Você não teve uma daquelas crises?

– Não, apenas fui muito distraída – digo rindo.

– Tanto faz – diz dando de ombros – vou carrega-la do mesmo jeito.

Eric me deita no banquinho branco em frente ao chafariz no jardim da frente da mansão dos Pieruzzi. Ele coloca minha cabeça em seu colo, Eric começa a acariciar meu cabelo e de meus lábios brotam um sorriso que eu não ouso nem ao menos esconder:

– Como eu pude ficar tanto tempo longe de você? – digo por fim, após vários segundos em silêncio.

– Senti sua falta – ele diz.

Sorrio e sussurro de volta:

– Eu também senti a sua.

– Vamos sair daqui? – pergunta.

Penso em minha mãe que enlouquecerá se não me encontrar, penso em Meredith que amanhã partirá para Dublin e penso em mais milhares de coisas, mas elas parecem não ser nada comparado a sair dali com Eric. Assinto e Eric me conduz a seu carro, atravessamos Londres até chegar ao prédio de seu apartamento, subimos até o décimo primeiro andar, onde o apartamento 465, o de Eric, ficava, assim que ele abre a porta eu me pego observando cada detalhe, eu nunca havia entrado no apartamento de Eric, o máximo que tinha chegado era na recepção do prédio. É um apartamento grande, mas há tanta coisa que ele parece minúsculo, pelo menos é o que aparenta só de olhar para a sala de estar, imagine em outros cômodos? Há livros, CDs, vinis, instrumentos musicais espalhados e no centro da sala há um imenso aquário com diversos peixes:

– Você tem um aquário?

– Me faz lembrar minha casa.

Viro-me para olhá-lo e não consigo mais pensar em nada a não ser em beijá-lo e é isso que eu faço, o puxo e beijo-o. Há algo totalmente extraordinário ali, há paixão, há saudades, há amor... Eric que pôs suas mãos em meu rosto começa a deslizá-la por meu corpo, passando por meu ombro, braços, cintura e por fim toca minhas coxas, levemente ele vai subindo o tecido de meu vestido.

Começo a tirar seu smoking, enquanto Eric vai me guiando para dentro do apartamento, deixando o rastro de nossas roupas no caminho. Estamos em seu quarto, não consigo observá-lo direito, pois minha atenção está voltada para algo bem melhor, de repente sinto a cama de Eric atrás de mim e me deito de costas e Eric sobe em cima de mim. Ele começa a distribuir inúmeros beijos em meu corpo e é a melhor sensação que senti até aquele momento, mas é quando meu passado volta para me assombrar:

– O que houve? – pergunta Eric preocupado.

– Nada – tento ignorar, mas não consigo.

– Val não minta para mim – ele diz sério – está acontecendo.

– Sim – digo pronta para chorar.

– Calma, acalme-se, Val – ele diz se aproximando de mim e indo me abraçar – onde está seu remédio?

– Por que agora? por que justo agora? – começo a chorar desenfreadamente quando um espasmo me pega no quadril, Eric parece nervoso, quando volta correndo para a sala possivelmente indo atrás do meu remédio.

Começo a me amaldiçoar novamente, a culpa, e o arrependimento vem junto, Eric volta com a minha bolsa em suas mãos, percebo que ambos estamos nus e me sinto envergonhada, uso minhas últimas forças para puxar o lençol e me cobrir antes de Eric chegar a meu lado.

Ele remexe em minha bolsa, aparentemente nervoso, quero acalmá-lo não posso fazer muito, ele acha a cartela de Rivotril, ele destaca um comprimido e o coloca embaixo de minha língua e estranho ele saber onde o remédio tem de ser colocado:

– Andei pesquisando – ele se explica como se tivesse lido meus pensamentos, ele sorri nervoso e eu faço o mesmo.

Começo a sentir o efeito do remédio e me acomodo em sua cama, Eric deita ao meu lado, me abraçando, me acalmando com seu calor, por fim antes que eu pegue no sono eu consigo sua voz dizer para mim:

– Boa noite, meu amor.

~x~

Abro meus olhos cansados, passo os dedos à procura do calor de Eric do outro lado da cama, mas não encontro nada além de lençóis frios. Dou um salto e observo se não estou em meu quarto e se isso não passou apenas de um sonho, mas não, eu estou mesmo no quarto de Eric e realmente ontem quando estávamos prestes a fazer amor, eu tive uma crise. Percebo que estou nua e me sinto um pouco desconfortável, procuro meu vestido e o acho jogado perto da porta, o observo por um instante e penso como agonizante vai ser usar aquela peça apertada logo de manhã, vou até o guarda roupa de Eric e vejo uma camisa de moletom da GAP e visto-a, ela fica como um vestido, ficando pouco acima do meu joelho.

Vou até a cozinha e encontro a mesa posta e um café da manhã quase pronto, exceto pelo fato do café ainda estar sendo coado na cafeteira, mas nenhum sinal de Eric. É quando olho para a porta do banheiro, que está aberta, caminho em passos silenciosos até o mesmo quando me deparo com Eric na banheira, ele está relaxado, com os olhos fechados e a cabeça apoiada na borda da banheira, parece pensativo e alheio a tudo. Ele se mexe, fazendo um barulho com a água e dou um passo para trás, mas quando percebo que ele não abre os olhos, fico por ali mesmo. Algo estranho acontece comigo, sinto algo crescer dentro de mim que eu nunca senti antes, é quando me deparo comigo tirando a blusa de moletom de Eric e a jogando no chão do banheiro, quando ela se choca com o chão, Eric abre os olhos e parece surpreso a me ver ali.

Caminho lentamente em direção à banheira, vou entrando, colocando uma perna e depois outra, me sento de frente para Eric:

– Não há problema, né? Eu tomar banho com você? – pergunto, Eric ainda muito surpreso nega com a cabeça – onde está o sabonete?

Eric aponta para o sabonete que está no suporte acima de mim, me levanto e vejo que seus olhos observam com atenção meu corpo nu. Volto a me sentar assim que pego o sabonete e começo a alisá-lo em meu corpo, provocando Eric. Depois de um tempo me viro de costas para ele, sinto seu membro rígido roçar em me minhas costas e sinto minha intimidade se umedecer automaticamente, entrego o sabonete a Eric e digo:

– Passa em minhas costas?

– Droga, Valerie – ele joga o sabonete longe e me segura pela cintura, me girando para que eu possa beijá-lo, solto uma gargalhada maliciosa e ele me agarra com mais força.

Por fim, naquela banheira mesmo é que nos amamos pela primeira vez.

~x~

Pela primeira vez em toda minha vida eu me sentia completa, eu sentia que nada faltava, tudo parecia estar em seu devido lugar. Depois do “banho”, Eric e eu vamos para seu quarto, ele me entrega uma toalha e enquanto ele se veste, eu me seco distraidamente observando seu quarto com mais atenção pela primeira vez. Assim como sua sala, seu quarto é cheio de referencias musicais, em uma espécie de home office no canto do cômodo, há vários papeis e cadernos, quando por fim visto novamente o moletom de Eric, vou em direção a ela e vou distraidamente olhando, são várias partituras, com certeza Eric deve ajudar também no processo criativo da gravadora, quando me deparo o que parece ser a letra de uma música intitulada: Unbroken. Leio os pequenos refrões e sinto uma certa identificação com a letra, parece loucura, mas decido perguntar a Eric:

– O que é isso? – digo mostrando-lhe a folha com a letra.

– Valerie... Isso não... – ele tenta pegar a folha de mim, mas eu me esquivo – isso não é para você ver – ele tenta pegar de novo – por favor! – ele está um tanto corado.

– Canta para mim?

– Não está acabada – ele tenta pegar novamente, sem sucesso.

O encaro impaciente e ele suspira pesadamente.

– Está certo.

Sento-me animada na cadeira do home office de Eric, ele pega seu violão e se senta na ponta da cama, pigarreia levemente e começa a tocar a melodia e em seguida começa a cantar:

Abra seus olhos e lute
Faça com que as coisas parecerem boas, mesmo que não estejam
Conte as estrelas para passar o tempo
Até que eu possa te ver novamente e tudo esteja bem

Ele faz uma pequena pausa e o olho incentivando e ele continua:


Você parece de porcelana, mas é inquebrável.
E quando eu olho para você s
ou o homem que eu sinto que posso ser
Não há luz, nem trevas, somente eu e você

Ele para, me olha ansioso pela minha opinião:

– Perfeita! – digo me jogando em seus braços, ele deixa seu violão de lado e me segura com força – só que eu acho que precisa ser terminada.

– E com certeza agora vai.

– Quando você escreveu?

– Logo depois que demos um tempo, eu estava doente sem você.

Eu o beijo e digo para tomarmos café, pois estou morrendo de fome. Ele preocupado pergunta dos meus remédios, digo que uma vez ou outra eu ficar sem tomar não vai matar, ele diz que vai ligar pra farmácia, mas digo que não, meus remédios são muito caros, ele insiste e digo que logo estarei indo para casa:

– Mas, eu não quero que você vá. Fique comigo – ele pede – fique comigo para sempre.

Eu o abraço o quanto eu posso, era tudo que eu queria: ficar com Eric para sempre. Eric diz que está realmente falando sério, então eu deixo um segundo de pensar com o coração e uso a cabeça. Não daria muito certo, pelo menos não agora. Eu vivo da mesada que meus pais me dão, uma bela mesada, sem falar que eles pagam meu tratamento médico e os remédios, Eric trabalha na gravadora, deve ganhar bem, mas não o suficiente para me bancar, não por conta da minha vida, com Eric eu deixaria todo luxo, mas sim por causa da minha doença, que exige demais. Eric fica decepcionado, mas parece entender o que eu digo. E diz que fará de tudo para melhorar de vida e me ter com ele.

Enquanto estou lavando a louça do nosso café e Eric está arrumando seu quarto, a campainha do apartamento toca, pergunto a Eric se ele está esperando alguém, ele diz que não e então vou atender. Quando abro a porta me surpreendo com Peter, Meredith e papai na porta:

– Graças a Deus, Valerie! – meu pai suspira aliviado e em seguida olha para minha roupa, que na verdade é apenas o moletom de Eric.

– Eu não disse que ela estava aqui? – disse Meredith e tudo que eu quero é sair correndo dali.

– O que houve?

– Estamos procurando você a madrugada toda, sua mãe está surtando, ela realmente não está bem.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Recomendações?

Música que Val canta: https://www.youtube.com/watch?v=y8i9Kh5QxsM&hd=1