Seus Olhos escrita por Beatriz de Moraes Soares


Capítulo 12
Um tempo para nós dois


Notas iniciais do capítulo

Betagem do capítulo por: Fernanda Arraes



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O sinal do intervalo soa e todas as crianças saem correndo pela sala porta fora e eu fico ali sozinha. Sinto-me completamente abandona naquela sala vazia, era meu primeiro dia de aula desde minha última crise, em que fiquei uma semana afastada do Centro Comunitário San Frances e me sentia completamente deslocada, principalmente pelo fato do meu namorado Eric Dawson estar na sala ao lado e ele estar ciente de que nos últimos meses eu estava mentindo para ele.

Olhei para o relógio na parede e vi que já tinham se passado cinco minutos e nada de Eric. Levantei-me da cadeira, caminhei pelo corredor até o pátio do prédio, vi as crianças correndo de um lado para o outro brincando, enquanto outras iam até a Sra. Corey e pegavam seus lanches. Quando de repente vejo Penny Lane cruzar o pátio chorando vou rapidamente em sua direção para saber o que acontece. Ela se senta nos bancos encontrados na parede do pátio com a cabeça baixa, quando estou quase próxima o bastante de Penny, alguém se aproxima dela, se ajoelha a sua frente e diz:

– O que houve, baixinha? – era ele.

Com passos lentos me aproximo dos dois, Eric percebe minha presença e se vira para me olhar e eu estremeço. Aqueles olhos. Ah meu Deus, aqueles olhos! Que falta eu sentia deles. A última vez que os vi foi em nossa discussão, quando ele descobriu que eu tinha E.M. e desde então ele não me procurou, telefonou ou nada. E eu sabia o porquê, ele com certeza deveria estar ainda digerindo tudo e isso só me deixava mais aflita:

– Penny, o que houve querida? – ouso perguntar e então Eric se vira novamente para Penny e ela levanta a cabeça.

– É Desmond, ele disse que tem um segredo e não quer me contar! – disse emburrada – ele não é mais meu amigo!

– Ah, é isso? – pergunta Eric e ela concorda – não precisa ficar chateada, querida. Olha, às vezes pessoas que amamos nos escondem coisas – ele se vira novamente dessa vez olhando para mim – mas nem por isso devemos deixá-las, talvez haja motivos que a levaram nos esconder algo – percebi que ele já não estava mais respondendo a Penny e sim a mim, e que possivelmente com aquelas palavras ele estava me perdoando.

Penny abaixou a cabeça novamente entristecida, então deixou seu olhar fugir do meu e se levantou para sentar ao lado de Penny:

– Que tal você ir brincar, Pen? – Eric sugere e Penny Lane nega com a cabeça – ou então você pode ficar comigo e a Srta. Novack e nós cantaremos juntos a sua música, quê tal? – Penny Lane levanta os olhos assustada e nega rapidamente com a cabeça – Penny lane is in my ears and in my eyes.... – canta Eric e então Penny Lane sai correndo para o meio do pátio e nós dois começamos a rir, ele se levanta e olha pra mim – Ela odeia que eu cante essa música para ela!

– É uma música tão linda, não a entendo!

– Ah, deve encher o saco, sabe? – diz ele – ela deve ouvir direto.

Concordo e não digo nada. Ficamos em silêncio, nos encarando, quando decido que é hora de eu tomar uma atitude:

– Eric, precisamos conversar.

Ele assente e então me conduz para sua sala, quando entramos ele fecha a porta e eu solto um suspiro pesado, encosto-me a umas das cadeiras e Eric fica frente a frente comigo:

– Eric, eu quero pedir desculpas – ele abre a boca para dizer algo, mas eu o interrompo – eu fui egoísta. Egoísta por não ter-lhe contado nada e mais egoísta ainda por não ter lhe dado uma explicação depois que você me presenciou... Bom, daquela maneira. E-eu gosto tanto de você que mil coisas se passavam em minha cabeça caso você descobrisse, que me deixaria...

– Valerie... – sussurra ele e pega minhas mãos nas suas e começa a fazer pequenos círculos com os polegares na palma delas.

– Que – continuo – você não poderia ter tudo o que você teria com outra garota qualquer e que... – lagrimas começam a descer de meus olhos e ele se aproxima me envolvendo em seus braços – Eu gosto muito de você, Eric. Mais do que você pode imaginar e isso chega a doer – ele sussurrava para eu ficar calma e parecia que estava funcionando – e eu acho que nós deveríamos dar um tempo.

Ele congela e se afasta de mim:

– O que?

– É isso mesmo, Eric – confirmo – Você deve estar muito confuso, deve estar digerindo tudo...

– Valerie não...

– Sim, Eric – o interrompo – Você não deve escolher agora...

– Escolher, espere um instante...

– Eric! Me deixe terminar! – digo – Você precisa entender tudo que está acontecendo, para depois escolher se quer mesmo ficar comigo. É uma grande decisão, não pense por impulso, ficar com uma garota como eu não será nada fácil, você viu com seus próprios olhos o que acontece comigo, então esse tempo será mais do que necessário.

– Como assim? Escolher ficar com você? Valerie, eu não tenho escolha – ele diz quase como se eu tivesse o ofendido – eu estou apaixonado por você! Se esse sentimento não fosse reciproco, tudo bem, mas você também gosta de mim. – ele faz uma breve pausa – Você está certa, estou ainda digerindo tudo isso, mas nada disso importa, eu quero ficar com você!

Aquelas palavras me deixaram muda. Ele queria ficar comigo, ele realmente queria ficar comigo! Mas, parecia que isso não bastava, eu ainda sentia aquele vazio de sempre. O que estava acontecendo? E eu entendi.

– Acho que além de você, eu preciso desse tempo, Eric – explico – eu nunca me envolvi com ninguém depois que descobri que tinha a E.M. e eu realmente não sei como lidar. Por favor, me entenda?

Eric respirou fundo.

– Tudo bem, Val – ele se aproxima de mim, segura minha cabeça em suas mãos e dá um beijo no alto de minha cabeça – eu espero o tempo que quiser!

Sorrio para ele e depois me afasto, saindo de sua sala e indo de volta a minha. Olho ao relógio e ainda falta um tempo para o intervalo de meus alunos terminar, o tempo parece não querer passar, oh céus! Pego meu celular e dou uma checada em meus e-mails, na qual fazia tempo que não via, quando vejo que há um de Meri datado há cinco dias:

Para: Valerie Novack
De: Meredith Pieruzzi
Assunto: Diva is back!
Anexo: ninhodeamor.jpg

Querida Val,

Estarei de volta dentro de uma semana para concluir os preparativos do casamento. Infelizmente Peter não poderá vir, já que não conseguiu outro afastamento de seu trabalho, então irei sozinha. Estarei contando com sua ajuda, amiga.

Abraços.

Meredith Pieruzzi (Futura Sra. Harrison)

Ah meu Deus! Meredith está a caminho. Fico completamente desesperada, já que fui pega de surpresa, mas em seguida recebi uma onda de alivio, er Meredith por perto seria bem mais fácil encarar esse tempo longe de Eric, além de me distrair com os preparativos de seu casamento, eu estaria perto de minha amiga e nada se comparava a isso.

Depois de dar todas minhas aulas, eu arrumava minha sala tranquilamente, quando Amelie dá três batidinhas na porta:

– Assim que terminar, pode passar em minha sala, Valerie?

– Claro, Amelie – sorrio para ela e assim ela se retira.

Antes de ir ver o que Amelie desejava, decido ligar para Meredith e estar a par de sua volta a Inglaterra. Meri é claro, fica irritadíssima por eu não tê-la respondido, digo a ela que estava passando por uma fase difícil e ela queria saber o porquê, claro que não digo, não quero enche-la com meus problemas, por fim desconverso e volto ao assunto principal: Seu casamento. Ficamos um tempo conversando, até que m lembrei de que tinha de conversar com Amelie. Meredith disse que chegaria amanhã pela manhã e estaria hospedada na casa de seus pais, disse a ela que só poderia vê-la à tarde, devido ao meu trabalho aqui no San Frances.

Despedimo-nos e desligo o celular.

Organizo meus materiais no armário ao fundo da sala e depois vou até o interruptor, desligo as luzes e tranco a sala. Sigo até a sala de Amelie, que fica logo atrás da recepção onde Carrie fica. Quando chego, Carrie já não está mais lá, mas as luzes da sala de Amelie estão acesas, bato três vezes e Amelie pede para que eu entre, abro vagarosamente, vejo a atrás de sua mesa, observando atentamente seu computador. Mesmo com os olhos pregados na tela do computador, ela faz um gesto para que eu me sente na cadeira à frente de sua mesa, eu o faço e então espero ela terminar, seja lá o que estiver fazendo.

Por fim, ela termina e me olha-me:

– Bom, Valerie – ela solta um suspiro pesado – você tem sido um professora excepcional para nós do San Frances, todos te amam e principalmente seus alunos, mas... – ela faz uma longa pausa e de repente meu coração dispara, “mas”? Por que esse “mas” de, Amelie? – olhe, Valerie. Saiba que não há nenhum preconceito de minha parte por tomar essa decisão e... Infelizmente eu terei de dispensar.

Dispensar? Como assim? Amelie está... Está me mandando embora?

– Amelie... – sussurro com a respiração irregular.

– Valerie, por favor, me entenda? Com suas crises constantes, você fica durante muito tempo afastada e seus alunos ficam sem aulas e sabe o quanto nós da equipe do San Frances prezamos o bem estar de nossas crianças.

Respiro fundo para evitar as lágrimas, mas é impossível, não consigo controla-las. Eu realmente havia perdido o San Frances? Eu não lecionaria mais? Eu... Eu... Com se respira?

– Valerie, você está bem? – pergunta Amelie visivelmente preocupada

– Eu-eu... – digo me levantando da cadeira – eu preciso ir.

– Quer que eu te acompanhe? Eu posso chamar um táxi.

– N-não, Amelie. Eu... Eu... Preciso ficar sozinha.

– Valerie tem certeza que você está bem.

Assinto com a cabeça e saio me arrastando porta a fora, quando piso na calçada da rua do San Frances, vou ziguezagueando nela, minha cabeça começa a latejar, quando dou por mim, estou no chão com parte do corpo na calçada e o rosto no asfalto, fechando os olhos.

Abro os olhos e vejo que ainda estou na calçada, agora sentada encostada na parede, há várias pessoas ao meu redor, um senhor ajoelhado ao meu lado pergunta como estou, outra senhora a minha frente com o que parece ser uma roupa de uma lanchonete aqui da rua, ela me entrega um copo d’agua, bebo e tento me levantar, mas sou impedida por um espasmo.

Caio no chão, olhares em cima de mim. Eu estava exasperada, cansada de tudo. Eu não poderia fazer nada, é claro, mas eu também não poderia me render, eu sempre ficava a mercê da E.M e isso tinha que cessar. É quando um estalar em minha mente faz com que eu consiga realmente ver o que eu preciso. Sofro outro espasmo e ao invés de chorar, ou até mesmo trincar os dentes de raiva, eu luto.

~x~

Estou em minha cama no quarto de hospital, já faz dois dias que estou aqui e a Dra. Schartz ainda não me deu alta e cá estou eu estou pensando na vida, pensando demas, pego meu exemplar de A Princesa Prometida e começo a folheá-lo, não há muito entretenimento em meu quarto, tem a TV, meu iPod, mas ler é bem melhor do que qualquer um desses. Quando estou quase cochilando exatamente na parte que Westley conta à Buttercup como seu tornou o pirata Roberts, alguém bate na porta do quarto, dou um sobressalto e digo para a pessoa entrar:

– Olha quem está aqui!

Aquela voz e aquela brincadeira sonora só poderiam pertencer a:

– Meredith! – digo surpresa, enquanto ela se aproxima.

– Se a montanha não vem a Maomé, Maomé vem à montanha e te traz alegria! –diz Meri e solto um risinho, nos abraços por um longo tempo e quando ela finalmente se afasta quase enrosca na mangueira do soro que está em mim, ela por fim se senta na cadeira ao meu lado.

– Oh! Eu esqueci completamente que eu havia marcado com você!

– Valerie, deixe de bobeira! Você iria sair dessa cama trajada com essa sua camisola hospitalar linda e iria até meu encontro, fazendo pequenas paradas para ter uma crise? Poupe-me.

– Engraçado – digo com ironia.

– Mas, não é porque você está nessa cama que vai livrar-se de suas responsabilidades como madrinha – e então ela pega sua bolsa, abre e joga inúmeros papeis em cima de minha cama.

– O que são esses papeis?

– Os convidados que já confirmaram presença – ela faz uma pausa – precisamos separar os lugares de cada um.

– Está certo, deixe-me ver – pego os papeis e vou dando uma olhada em cada um – pode pegar minha bolsa, Meri?

Ela pega e me entrega a bolsa, saco meu tablet para anotar tudo:

– O que? – diz surpresa – Valerie Novack se rendeu a tecnologia?

– Eu tenho um iPhone, eu já me rendi a muito tempo – ela arqueia a sobrancelha desconfiada – Tá, é culpa de Eric.

– Eric?

– Ele me convenceu a usar o tablet – digo sorrindo tendo um pequeno devaneio lembrando daquele momento com ele, mas então rapidamente volta a realidade antes que Meri comece a perguntar de Eric e eu não quero compartilhar a ela sobre minha situação com Eric, rapidamente volto ao assunto dos lugares e faço com que ela esqueça de Eric – acho que os Wate junto dos Lockwood ficariam bem, pois ambos são famílias pequenas e em uma mesa caberiam.

– Mas o Thomas e a Julia já namoraram e brigaram há alguns anos – comenta Meri.

– Verdade, havia me esquecido disso! – digo.

– Então os Lockwood ficariam em um canto junto com Amanda e Dylan, Lucy e Ian – sugere.

– Mas, ambos são casais jovens e acho que não combinaria muito com uma família tradicional como os Lockwood.

– Oh céus, como é difícil casar! – suspira Meri pesadamente e dou uma gargalhada.

Estamos a quase duas horas separando os lugares dos convidados, quando me surpreendo com um nome: Conrad Antoine Fitzgerald.

– O que? – quase grito.

– O que foi, Valerie? – pergunta.

– Conrad.

– O que tem ele?

– Ele confirmou.

– Sério? – ela pega o papel da minha – Oh meu Deus, eu não havia olhado todos!

– Quantos anos eu o não vejo? Uns quatro, cinco anos?

– Tenho saudades do Conrad.

– Conrad Fitzgerald? Filho de Ernest Fitzgerald? – diz mamãe entrando no quarto no exato momento em que Meredith termina a frase.

– Sim, ele mesmo sra. Novack.

– Magali me disse que ele acabou de voltar à cidade.

– Voltou à cidade? E não nos falou nada? Como assim? – diz Meredith.

– Creio que ainda não teve oportunidade, Meredith – explica mamãe – já que ele chegou ontem à noite.

Meredith ficou sem graça.

– Mas, ele deveria ter nos avisado – replico.

– Vocês terão a oportunidade de ver, Conrad. Convidamos seus pais e ele para um jantar nesse sábado em casa – explica mamãe – e você e seus pais estão convidados, Meredith – Meri assente – e seu namorado também, Valerie – ela força um sorriso, mas sei que o convite não te agrada, mamãe não ia com a cara de Eric e isso me deixava imensamente triste – Ah, eu e seu pai conversamos a pouco com a Dra. Schwartz e ela te dará alta amanhã pela manhã.

– Está bem – disse acenando em afirmativa.

Uma enfermeira entra no quarto, papai está logo atrás:

– Senhoras, o horário de visitas acabou – diz sorrindo amavelmente.

– Está bem – mamãe sorri, Meri vem até mim e me dá um abraço, logo em seguida pega os papeis distribuídos por minha cama e guarda em sua bolsa, em seguida minha mãe vem e me deseja boa noite, papai faz o mesmo e por fim, fecham a porta.

Coloco o tablet de volta em minha bolsa e pegou meu livro A princesa prometida, voltando ao belo conto de fadas de Westley e Buttercup e esquecendo de minha vida, ao menos por uma noite.

~x~

Eu estava nervosa. Realmente muito nervosa pela visita de Conrad nessa noite, fazia muito tempo que eu não o via e não sabia como seria nosso reencontro, pois nosso ultimo encontro fora um tanto infeliz: eu em uma cama, entupida de remédios, um caco e Conrad completamente amedrontado, o que resultou em sua fuga para a América para estudar, e eu presa para sempre com uma doença. Eu nunca havia parado um minuto sequer para refletir sobre toda aquela situação, na verdade eu sempre procurei evitar, mas era isso que eu sempre fazia: evitar, evitar, evitar... Eu evitava tudo, nunca enfrentei meus problemas de frente e isso pareceu sempre funcionar muito bem, mas não funcionava na verdade, apenas adiava as coisas, como com Eric e agora, com Conrad.

Conrad e eu nos conhecemos desde sempre, estudados na pré-escola juntos, nos conhecemos muito antes de eu conhecer a própria Meredith. Brincamos, rimos, crescemos e fizemos tudo juntos e como resultado disso, confundimos nossa amizade com algo mais e foi na noite do nosso baile de formatura que tudo começou, mas foi numa noite como outra qualquer que tudo aconteceu.


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Notas finais do capítulo

Quer saber quem é Conrad? O que aconteceu nessa tal noite especial? E o que Conrad fez? Leia a One-short "Conrad & Valerie" e entenda melhor tudo: http://fanfiction.com.br/historia/446830/Conrad_Valerie/