Seus Olhos escrita por Beatriz de Moraes Soares


Capítulo 10
A família Novack


Notas iniciais do capítulo

Hello my dears! Como estão?

Sim, estou sendo uma péssima autora e demorando a postar, mas me perdoem. Primeiro tive problemas de inspiração, depois a culpa foi do ENEM e mais tarde houve essa manutenção do Nyah! que durou séculos, mas cá estou eu, postando mais um novo capítulo. Espero que comentem e me ajudem com a inspiração! ;) beijos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/392734/chapter/10

De uma forma bem estranha, as coisas pareciam estar começando a ficarem boas para mim, boas até demais. O mundo parecia conspirar a meu favor e cética como sou, já começava a desconfiar que um desastre estivesse prestes a acontecer. O dia estava tão bonito naquela bela manhã de Julho, uma segunda-feira calma e tranquila. Enquanto eu tomava banho, cantarolava a melodia de And I love her passando o sabonete hidrante em meu corpo.

– Valerie, posso pegar aquele seus sapatos Jimmy Choo azul... – ouço a voz de Charlie entrar vindo de meu quarto enquanto ainda estou na banheira, ela faz uma pausa e depois continua – Espere aí, você está cantando Valerie?

Ela diz entrando no banheiro, ou melhor, invadindo o banheiro, e posso sentir uma leve ironia em sua voz.

– Os sapatos estão no meu closet, Charlotte. Não no meu banheiro! – digo irritada.

Ela rapidamente dá meia volta diz:

– O que um americano com “boa pinta” não faz!

Não suporto e solto um risinho bobo. Eu estava ficando muito boba com tudo, mas Charlie tem razão. Tudo isso é culpa do meu namorado americano, Eric Dawson. Eu estava verdadeiramente apaixonada, isso era impossível negar. Mesmo que quisesse, eu não poderia mais fugir dos meus sentimentos, já estava envolvida demais. Eric foi me cercando aos poucos, me envolvendo com seu jeito silenciosamente e de repente eu já não poderia mais fugir, me esconder. Eu desejava Eric mais do que já desejei qualquer um.

Faço uma pequena contagem em minha cabeça e de repente me dou conta que já faz três meses que eu e Eric estamos juntos. Não faço muita ideia de quando exatamente começamos a namorar, se foi quando saímos juntos pela primeira vez, ou quando nos beijamos. Não houve um pedido oficial nem nada, até por que não estamos no colegial, mas o que o importa é que estamos juntos e há três meses.

Tudo seria perfeito se eu não escondesse de Eric que sofro de Esclerose Múltipla. Nesses meses, minhas crises têm diminuído, acontecendo em intervalos longos e de pouca duração e intensidade. Elas têm ocorrido normalmente no período noturno, quando estou prestes a dormir e normalmente tomo meu Rivotril e então ele faz efeito e acabo dormindo normalmente a mesma quantidade que durmo durante uma noite.

Curiosa com isso, perguntei a Dra. Christina Schwartz e ela disse que deveria ser por conta de eu estar com um nível baixo de estresse e pediu uma série de exames neurológicos para mim. Enquanto os exames não saem, eu prefiro deixar tudo como está; Eric sendo meu namorado perfeito e eu sendo uma doente anônima.

Por enquanto.

Em seus contatos comigo, Meri sempre questiona se eu já havia aberto o jogo com Eric e eu sempre digo que eu o estou preparando para jogar uma bomba que acabaria com seu relacionamento comigo. Ela, como uma boa e fiel amiga, diz que é bobagem minha, que eu deveria contar tudo a ele e ele decidiria o que aconteceria ou não conosco, mas eu prefiro pensar em curtir as coisas, antes que ele me largue e decida viver uma vida normal.

Estamos todos à mesa tomando o café da manhã, quando papai me surpreende com uma questão que venho evitando a um belo tempo:

– E então querida, quando vamos conhecer oficialmente seu namorado?

– Er... – quase engasgo com meu chá, então solto um pigarreio para tentar descê-lo goela abaixo – perdão, o que disse papai?

– Quando vamos conhecer... Como é mesmo o nome dele?

– Eric, papai. O nome dele é Eric – Charlie se intromete na conversa e lhe lanço um olhar mortal e se eu tivesse algum tipo de poder sobrenatural, tenho certeza que ela morreria naquele instante.

– É mesmo, Valerie, quando iremos conhecer aquele rapaz americano? – diz mamãe com desdém.

– Ah, papai. Eric é um homem muito ocupado...

– Deixe de mentiras Valerie. Você sai praticamente todo fim de semana com ele por aí. Se ele fosse um homem tão ocupado como você diz, não teria tempo de sair com você - diz mamãe ríspida.

– Qual o problema de nós conhecermos o rapaz, Valerie?

– Deve ser por que ele é um pé-rapado que não tem onde cair morto e claro, ela está com vergonha de apresentáa-lo a nós. Se fosse Conrad Fitzgerald, com certeza...

– Cale a boca, mãe! – digo irritada, levantando da cadeira e batendo na mesa. Furiosa, a encaro por um longo tempo e acabo percebendo os olhares assustados de Charlie e papai – Cala a boca! – repito mais uma vez – Não admito que você fale assim dele!

– Valerie Annabele Novack, isso é jeito de falar com sua mãe? – responde ela.

– Valerie, que modos são esses? – papai diz, dessa vez.

– Pai, você entende agora porquê não quero trazer Eric aqui em casa? Por isso e por muito mais.

– Bridget, não é nada gentil falar essas coisas sobre o rapaz – diz ele, olhando para mamãe que tem a expressão totalmente ofendida e depois se vira para mim – Valerie, você não deve falar essas coisas para sua mãe.

– Tudo bem, desculpe. Eu só me irritei com o que ela disse.

Papai lançou um olhar para mamãe e parece que apenas com um olhar os dois tiveram uma longa conversa. Então, finalmente fala:

– Me perdoe, querida. Eu fui um pouco rude, sinto muito.

– Tudo bem – digo e então é a vez de papai lançar um olhar. E eu já sabia exatamente o que ele queria.

Deixo meu guardanapo na mesa e vou até o lugar de mamãe. Ela observa enquanto eu me aproximo e então abro os braços e por fim ela me abraça. Fazia tempo que eu não fazia isso, abraçá-la daquela forma. Eu havia esquecido como era aconchegante estar em seus braços, aqueles braços que sempre me seguravam quando eu estava prestes a cair.

– Pronto! – grita Charlie e eu me afasto do abraço de mamãe e olho para Charlie, assim como todos – Família feliz! Agora vamos? Não posso me atrasar.

– Se atrasar para que, Charlotte, se você já não estuda mais? – pergunto.

– Eu vou me encontrar com a Moira, ela é a irmã da Justine do colégio. Ela fez faculdade de Moda e vai me dar uns conselhos de como funciona e tudo mais. – Charlie havia concluído seus estudos em Julho e segundo ela, decidiu conceder a si mesmo um ano de “férias” até finalmente entrar na faculdade. Durante esse espaço de tempo, Charlie procura inúmeras informações de como funciona a faculdade que decidiu cursar – Aliás, pode me dar uma carona, papai, até o centro?

– Claro – diz papai – e então Valerie, vamos marcar um jantar com seu namorado?

– Que tal esse domingo? – diz mamãe animada, ou fingindo muito bem estar animada.

– Para mim está ótimo – concorda papai.

– Para mim também, não tenho nada a fazer – diz Charlie e então todos esperam minha resposta.

– Está bem, está bem. – digo e todos sorriem – vou ver com Eric se ele pode vir.

Quando chego ao San Frances, vou direto a minha sala, onde ele me espera com nosso café da manhã sentado em minha mesa e uma pose toda e completamente sexy. Seus olhos sorriem para mim e então meu coração sorri para ele batendo freneticamente, deixando meu corpo em êxtase, como toda vez em que nos olhamos.

Ele abre seus braços para mim e eu me jogo neles, sentindo seu aroma de espuma de barbear e perfume masculino. Seus lábios brincam no meu pescoço fazendo cócegas, enquanto seus braços envolvem minha cintura. Finalmente seus lábios vão subindo e encontram os meus, tão desesperados, como se não nos víssemos à séculos e assim ficamos por um bom tempo, até que aos poucos fomos nos afastando e por fim selei nossos lábios. Ficamos ali, encarando um ao outro, com a ponta dos narizes se tocando e um sorriso bobo nos lábios, quando eu me lembrei da conversa que tive com minha família mais cedo:

– Eric, sabe o que acontece... – sussurro timidamente – Sei que talvez você não queira e eu vou entender perfeitamente se não quiser, mas é que meus pais... Bom...

– Valerie? – pergunta ele, confuso.

– Eles querem que você jante conosco no domingo, para você conhecê-los e tudo mais... É bobagem eu sei...

– Não, Val. Eu adoraria ir. Achei até que você não queria me apresentar aos seus pais! – diz e por fim me beija, um beijo rápido, pois ouvimos um barulho vindo da porta e rapidamente nos separamos.

Olhamos para a porta e vemos a pequena Penny Lane, a garota com os olhos espertos. Ela parece que não queria ser percebida, pois assim que a encaramos, ela abaixa os olhos e vai até seu lugar no fundo da sala. Olho ao relógio e já está quase na hora de minha aula começar, me afasto de Eric e vou até Penny Lane que tem o olhar triste e decido perguntar o que se passa com ela:

– Penny Lane, está tudo bem?

Eric se aproxima também e se senta em uma carteira ao lado de Penny Lane, que continua calada:

– Penny não ouviu o que a professora Novack disse, está tudo bem querida? – diz Eric.

– O que houve Penny Lane? – pergunto novamente.

– É que... – ela diz timidamente – a professora Novack me prometeu levar a livraria e...

Ah, meu Deus! Eu não acredito que me esqueci de levá-la a livraria. Pobre Penny, eu sou tão boba, como pude esquecer? Olho para Eric e acabo entendo o porquê acabei esquecendo a pobre Penny Lane.

– Me desculpe, Penny – digo a ela – eu esqueci completamente.

– Que tal se fossem na sexta-feira, eu, a professora Novack e você Penny, à livraria à tarde?

– Mas você não tem trabalho na gravadora à tarde, Eric?

– Eu posso tirar uma folga, Val – e então ele se vira para Penny Lane e diz – o que você acha Penny?

– Eu adoraria! – ela levanta o rosto e seus olhos brilham de felicidade e segundos depois se apagam e ela abaixa a cabeça novamente – mas minha tia...

– Não tem problema, Penny Lane. Eu mesmo ligo para sua tia e peço permissão a ela.

–Obrigada, Senhorita Novack.

Penny Lane diz, se levanta, pousa um beijo em minha bochecha e logo em seguida na de Eric, que sorri assim como eu, como um bobo. Depois Eric diz que tem que ir, pois sua aula já vai começar. Aos poucos meus alunos vão entrando e eu começo a minha aula.

A semana se arrastou e quando dei por mim, já era sexta-feira. Terminei meu expediente e logo em seguida fui à casa de Penny Lane, a minha aluna de olhos espertos. Sua casa ficava localizada em uma área bem humilde de Londres. Assim como o bairro, sua casa também era bem simples. Chamei apenas uma vez e rapidamente a tia de Penny apareceu, logo atrás dela a tímida Penny Lane Bloomwood.

Penny e eu seguimos para o shopping de encontro a Eric, que nos esperava. Entramos na livraria e lá estava ele sentado em um dos pufes lendo um exemplar de O apanhador no campo de centeio:

– Ler esse livro é quase uma ofensa para uma fã de Beatles – digo assim que me aproximo dele. Ele levanta os olhos e sorri para mim.

– Eu estava apenas folheando... – ele deixa o livro de lado, se levanta me segurando pela cintura e então distribui beijos em meu pescoço.

– Eric! – o repreendo e com os olhos aponto para Penny Lane atrás de mim.

– Qual o problema? – sussurra ele para mim e então gira o corpo e fica de frente para Penny. Por fim, abaixa e fica do mesmo tamanho que ela – Penny, você sabe o que eu e a Srta. Novack somos? – Penny Lane faz que sim e então Eric se levanta, olha para mim sugestivo e eu dou um tapa em seu ombro.

Levamos Penny à sessão de livros infantis. Ela observa a todos os títulos, mas não parece gostar realmente de nada e então de repente ela se locomove até a sessão de livros infanto-juvenis e ao invés de ir a parte de livros atuais, ela vai até os clássicos. Passa os dedos pequenos por títulos como O mágico de Oz, O médico e o monstro, O pequeno príncipe, O alquimista e até uma coletânea dos Irmãos Grimm. Por fim, suas mãozinhas se arrastaram e pegaram, finalmente, um o clássico de Lewis Carrol; Alice no País das Maravilhas.

Seus olhos espertos me fitaram e sua cabeça assentiu dizendo que era aquele livro o qual ela queria. Levei Penny Lane até o caixa e saquei o American Express de papai, mas no momento em que fui entregar à moça, Eric foi mais rápido e entregou seu cartão. O encarei confusa e ele apenas sorriu.

Após passar o cartão, a moça que mantinha a cabeça baixa, finalmente nos olhou. Ela passou os olhos por Eric, por mim e, por fim, em Penny Lane, dizendo:

– Linda família, Senhor Dawson.

Fico corada e rapidamente pego a sacola e com a outra mão pego o braço de Penny Lane, saindo da livraria, enquanto Eric pega seu cartão e vem logo atrás de mim. Levamos Penny para tomar um sorvete e lá mesmo ela começou a ler seu livro, completamente entusiasmada. Eric por fim me pergunta por que eu fiquei nervosa quando a moça do caixa da livraria disse que nós éramos uma família e eu disse que era apenas por que eu nunca havia pensado nessa possibilidade e ele pareceu muito triste com a resposta.

Mas, de certa forma, era verdade. Não que eu nunca tivesse pensado na possibilidade de construir uma família, era apenas por que eu evitava pensar nisso. Iludir-me com tais pensamentos só acabariam mais comigo.

E pensar nisso novamente agora parece doer mais, por causa dele. Ver Eric ali, se divertindo com Penny, e saber que eu jamais poderei dar isso a ele. Eu nunca havia perguntado a nenhum dos meus médicos se eu poderia ter filhos, mas era visível que eu jamais poderia. Sacudo a cabeça evitando meus pensamentos e tento curtir o momento com Penny e Eric.

Hoje é domingo. E é o dia em que Eric vai vir jantar em casa com minha família. Se eu estou nervosa? Bom, numa escala de 1 a 10, talvez mil, ou mil e quinhentos. Mas, eu não posso recuar, ou talvez eu possa, mas não deva. Eric já havia dito que achava que eu não queria que ele conhecesse meus pais, se eu fizesse isso, com certeza o magoaria e eu não queria magoá-lo.

Doroti e Mercedes trabalhavam duro sobre supervisão de mamãe na cozinha. Papai procurava em sua adega seus melhores vinhos e uísque para servir. Já Charlie, me ajudava a me preparar enquanto eu surtava tentando encontrar uma roupa que me agradasse. Após muita relutância, vesti um vestido azul acinzentado, a cor dos olhos de Eric.

Quando estava tudo preparado, todos ficaram na sala principal sentados no sofá esperando Eric chegar. Na verdade, todos menos eu, que ficava andando de um lado para o outro bastante apreensiva.

Finalmente a campainha toca e Mercedes se apressa para atender, quando ela abre a porta e ele surge lindo e maravilhoso, não consigo conter um sorriso. Ele segura um buquê de flores e aquela imagem me deixa maravilhada. Papai se levanta e vai rapidamente cumprimentar Eric, me aproximo dos dois enquanto eles dão um aperto de mão:

– Você deve ser Eric – diz papai.

– É um prazer conhecê-lo, Senhor Novack – diz Eric.

– Prazer é todo meu, rapaz.

Mamãe se levanta do sofá e vai até Eric, que lhe entrega o buquê de flores:

– Trouxe para a senhora Novack.

Mamãe pega e no mesmo instante espirra.

– Sou alérgica a pólen – diz com desdém e então ela olha para Mercedes, que rapidamente pega o buquê – coloque em um vaso com água e bem longe de mim, Mercedes, por favor! – ela se volta a Eric – então você é o americano amigo da minha filha?

– Namorado – a corrijo, já me irritando com sua indiferença com Eric.

– Eu mesmo, senhora.

Ela o observa de cima para baixo e então Charlie vem até nós:

– Ol, Eric! Não fomos apresentados devidamente quando nos encontramos. Sou Charlie, a irmã de Valerie.

– Olá, Charlie. É um prazer conhecê-la novamente – sorri ele.

Estou tão nervosa, que assim que vejo Doroti se aproximando, não a deixo nem falar e eu mesma anuncio que o jantar está pronto. Vamos até a sala de jantar, sento-me ao lado de Eric e seguro em sua mão. Dessa forma, sinto-me confiante naquele momento e parece que nada pode nos abalar. O jantar é silencioso, apreciamos os pratos que Mercedes e Doroti nos prepararam, que está realmente delicioso.

Após o jantar, fomos para sala de estar. Enquanto mamãe, Charlie e eu apreciávamos o vinho tinto que papai mais adora Concha y Toro, Eric e papai tomavam seu uísque Jack Daniel’s e conversavam descontraidamente. Tudo parecia maravilhoso, até que minha mãe decidiu abrir a boca:

– E então Eric? – pigarreia mamãe – o que você faz?

– Sou diretor acústico de uma gravadora.

– Mas não é um ramo saturado? – replica ela – Eles não podem simplesmente gravar em casa com seu laptop e ficar a mesma coisa?

– Bridget! – repreende meu pai.

– O quê?

– Os álbuns que eu gosto tem vida, coração e alma. Como o eco da guitarra de Scott Moore em Mystery Train, você não vai conseguir isso no seu computador. Precisa de uma gravação ao vivo, tem um som melhor, você vai ter músicos de verdade, vibrando num espaço, tocando juntos! – ele faz uma pausa – E eu acho, respondendo sua pergunta, que o ramo pode estar morrendo e você pode estar gravando coisas de alta qualidade em casa. Mas, fala sério, é impossível colocar um estúdio no seu laptop!

Todos ficam em silêncio.

– Uau! – exclama Charlie, por fim.

– Entendo e quanto você ganha com isso?

– Mãe!

– O bastante – Eric se limita a dizer.

– O bastante não é muito – ela continua – deixe-me te perguntar Eric, quais são suas intenções com a minha filha?

– As melhores, senhora.

– E isso inclui casar-se?

Eric fica vermelho e me encara, ruborizo e desvio de seu olhar implorando a Deus para que minha mãe calasse a boca. Eric constrangido fica olhando em volta do cômodo depois de alguns segundos seu olhar acaba parando em uma direção. O rubor some de sua face e vejo que ele observa o piano de calda que havia ali apenas como decoração de nossa sala.

Ele se levanta e vai em direção ao piano, passa a mão esquerda sobre ele calmamente e então olha em direção a nós, parecendo agora mais confortável:

– Belo piano.

– Você toca? – pergunta papai à Eric.

– Um pouco – diz Eric, com modéstia.

– Ele é maravilhoso, papai! Ele toca praticamente tudo! – digo. Eric me lança um olhar temeroso por tê-lo entregado e eu dou uma piscadela a ele.

– Então toque para nós, Eric – diz papai.

– Tudo bem – diz Eric, dando os ombros.

Ele se sentou em frente ao piano, deslizou os dedos pelas teclas e começou a tocar lentamente uma melodia, que após alguns segundos rapidamente a identifico, é Let it be. Posso ouvir no fundo do meu consciente a voz de Paul McCartney cantar as belas palavras ditas nessa música:


Quando me encontro em momentos difíceis.
Mamãe Mary vem para mim.
Falando palavras de sabedoria, deixe estar.


E nas minhas horas de escuridão.
Ela está em pé bem na minha frente.
Falando palavras de sabedoria, deixe estar.

Deixe estar, deixe estar.
Deixe estar, deixar estar.
Sussurrando palavras de sabedoria, deixe estar...

E quando todas as pessoas magoadas.
Morando no mundo concordarem.
Haverá uma resposta, deixe estar.

Deixe estar, deixe estar.
Deixe estar, deixe estar.
Haverá uma resposta, deixe estar.
Deixe estar, deixe estar.
Deixe estar, deixe estar.

Let it be só ficava atrás de Here Comes the Sun entre minhas preferidas e Eric sabia disso. Fechei os olhos me deleitando com a melodia e como na letra, achei que deveria finalmente deixar estar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueça de comentar ;)