No outro dia, Marcelo veio me procurar na minha sala. Veio perguntar se o convite ainda estava de pé. Eu lhe disse que sim. Então ele se despediu de mim e voltou para a sala dele.

 Quando ele saiu, Débora veio ao meu encontro.

  - De onde você conhece o Marcelo?

  - Daqui da escola mesmo, por quê?

  - Não sabia que se conheciam...

  - Você o conhece?

 - E como. Ele estudava comigo na minha antiga escola. Está ficando com ele?

  - Não!- disse incomodada com a pergunta- somos amigos..

 - Ah sim... - ela pareceu dizer desconfiada- ele deve gostar muito de você...

  - Como assim?? – engoli seco.

  - Quando ele chegou à porta, ficou te procurando. E quando ele veio falar com você, deu pra ver que ele olhou nos seus olhos, e alisou seu cabelo. Ou você acha que ninguém iria reparar?

  - Ele é carinhoso assim mesmo... Você que está imaginando coisas.

   - Não é não... Ele nunca foi assim comigo...

   - Nada a ver o que você está falando!! Somos só amigos.

   - Então tá. Se é isso que você acha... Mas se bem conheço ele, ou ele gosta mesmo de você, ou então só tá querendo conseguir alguma coisa. - nesse momento meu corpo esfriou e ela foi se sentar, pois o professor havia chegado.

   Comecei a pensar... Será mesmo que ela tem razão? Será que ele poderia estar fazendo tudo isso só pra conseguir ficar comigo? Ou será que ele esta gostando mesmo de mim? Céus!! Quantos pensamentos. Não sei o que se passa com ele. Nesse momento vi que estava perdida em pensamentos sobre o Marcelo. Conclui que estava sim gostando dele. Não poderia mais negar. Só pensava nele, arrepiava quando ele me dava aquele simples beijo na bochecha. Meu Deus, como pude ser tola de deixar isso acontecer???De repente meus pensamentos foram interrompidos pela terrível voz do professor Carlos, que estava praticamente gritando meu nome.

 - Bruna!! Acorda!! Você tá aqui pra estudar, não pra ficar viajando.
            - Desculpe professor. Só estava pensando.

 - Mas aqui não é pra pensar não, é pra estudar. Abra logo seu caderno e copie.

 Imediatamente abri meu caderno e comecei a copiar. Mas logo já estava errando muitas palavras, por nem prestar atenção no que copiava.

            [...]

 Era sábado, estava um dia tão lindo, tempo fresco. Quando estava quase dando duas horas da tarde, comecei a me arrumar para o encontro com Marcelo. Meu estilo era um pouco de rockeira. Coloquei um short jeans meio rasgado, uma blusa branca sem manga, e por cima dela, um corpete preto que eu amava. Para completar, um all star preto de cano médio que eu mesma personalizei. Vamos dizer que eu tenho uma pequena vocação para estilista. Prendi meu cabelo estilo “rabo de cavalo” e então sai.

Ao chegar na praça, o encontro sentado em um banco lendo um livro. Ao me aproximar, ele percebe minha presença e me olha de cima a baixo, o que me deixou muito constrangida.

 - Uau!

 - Para de me olhar, estou ficando sem graça.

 - Mas não dá... Você está muito linda... Não sabia que tinha um lado rockeira. Quando saímos você usava um vestido branco. Achei que fosse uma daquelas delicadas. – eu ri

 - Meu lado rockeira sempre fala mais alto, mas aquele dia, ele estava calado-  sorri para ele

- Mas está linda de qualquer jeito- senti que estava ficando vermelha e ele percebeu.

 - Está envergonhada?

 - Eu...eu...não!

 - Ahh bobona, só to falando a verdade. Quer tomar sorvete?

  - Quem sabe depois. Que livro está lendo?

 - Estou lendo A Cabana. Arranjei um tempinho. Sempre ouvia as pessoas falarem dele e eu nunca conseguia encontrar. Mas descobri que minha irmã tinha. Então peguei emprestado.

 - Ah que bom. Você vai gostar muito. É muito bom. E você nunca me disse que tinha irmã.

  - Na verdade tenho mais quatro irmãos.

 A partir daí, acabamos nos conhecendo muito mais. Começamos a contar nossos micos da infância, e de todos os planos para o futuro.

   - Quer fazer faculdade aqui mesmo?     

   - Bom esse é o plano. Não quero sair de perto da minha mãe.

 - Mas Bruna, um dia ou outro você vai ter que sair. Isso é inevitável.

  - Eu sei, mas não acho que esse seja o momento certo. Ela ainda precisa de mim.

  - Ah sim. Como não tenho esse problema, vou estudar em outra cidade. Aqui não se tem muitas oportunidades.

   - Entendo...

   - Podemos tomar sorvete agora? Estou com a garganta seca.

   - Ah, tudo bem. Você decide.

 Seguimos para a sorveteria. Ao chegar lá, encontrei Gustavo.          

     - Oi Bruna!

   - Oi, tudo bem?- o abracei e dei um beijo em seu rosto. - refrescando?

    - Sim, tá um calor!! E a propósito, você está muito bonita. – nesse momento me senti muito envergonhada. Olhei para Marcelo e ele olhou para mim com um olhar tipo “viu? eu não estava mentindo”.

      - Ah, obrigada. - dei um sorriso meio bobo.

     - Veio com seu namorado?- olhei para Marcelo e fiquei sem graça.

      - Não! É só meu amigo. Marcelo, esse é o Gustavo um amigo lá da escola.

     Eles se cumprimentaram e então eu e Marcelo seguimos até o caixa para comprar o sorvete. Gustavo olhou para trás e acenou para que fizéssemos companhia a ele na mesa. Sentamos a mesa e conversamos. Nem vimos o tempo passar...

      - Nossa como o tempo voa- disse Gustavo olhando o relógio. - eu preciso ir gente.

       - Tá cedo!

     - Não está não. - ele sorriu. Levantou-se, apertou a mão do Marcelo e me deu um abraço e um beijo no rosto. - Beijos, te vejo na escola. - eu retribui o beijo no rosto e então ele se foi.

       - Vamos embora também? Disse Marcelo já se levantando.

       - Já? A não...

       - Podemos voltar pra praça...

        - Tudo bem. Vamos.

     Ao sair da sorveteria, fomos andando até a praça. De repente, senti sua mão tentando chegar a minha. Durante alguns segundos fiquei trêmula, mas então meu celular começou a tocar. Era minha mãe, querendo saber que horas eu voltaria. Disse a ela que não demoraria muito e desliguei.

    Ao chegarmos à praça, ele fez gesto para que eu me sentasse ao seu lado.

    - Acho que nunca tive um dia tão legal como esse Bruna...

   - Eu também não... Foi tão bom né? Pena que passou muito rápido.

     - Pois é...

    Ficamos ali, conversando por um bom tempo ainda. Durante um tempo, ele ficou deitado em meu colo, e nós ríamos de casos que contávamos e de piadas. Parecíamos nos conhecer a anos e anos. Nunca havia tido um momento tão agradável e descontraído. Parecia que os problemas haviam desaparecido. Sempre que eu chegava da escola, encontrava brigas em casa. E os finais de semana então! Uma guerra!!!

     De repente, ele viu que eu estava distante, e então se levantou do meu colo, procurando me trazer de volta dos meus pensamentos.

      - Bruna?

      - Oi? Que foi?

      - Você estava longe...

      - Ah... Só pensando...

      - É algo sério?

      - Não... Bobeira... Deixa pra lá...

  - Você estava tão linda pensando... - me senti muito constrangida

      - Para com isso Marcelo...

    - Mas é verdade... - ele se aproximou de mim e começou a alisar meu rosto. Suas mãos deslizando pelo meu rosto me fizeram sentir arrepios e ao mesmo tempo uma sensação de prazer. Como era bom aquele momento.

    Ele continuou acariciando meu rosto e eu olhei por alguns instantes em seus olhos castanhos- claro. Acabei me rendendo a sensação e fechei os olhos. Não queria que aquilo terminasse. Ao abrir os olhos, ele estava bem mais perto de mim. Podia sentir sua respiração.