Orihime não conseguia dormir, devido a tanta felicidade, olhava para o teto que era iluminado pelas luzes coloridas da cidade lá fora e, não suportando mais aquele silêncio, começou a falar tudo o que estava guardado em seu coração...

   _Quando a reconstrução acabou você tinha exatamente a mesma aparência de antes, com chifre e aquelas manchas verdes que corriam de seus olhos como lágrimas, um semblante tão triste... No gigai você já estava com a aparência de um humano, mas ao acordar os traços de arrancar começaram a voltar e fiquei muito preocupada, mas passou com o medicamento do Urahara-san. Talvez você não esteja nem ouvindo, mas eu queria poder apagar toda a tristeza de seu olhar, pois mesmo agora sem as linhas verdes de seus olhos, você ainda não parece feliz... Mas prometo me esforçar pra que isso mude, vou tentar lhe mostrar uma vida que, talvez você nunca tenha tido a oportunidade de conhecer... Boa noite Ulqui-kun...

   Ele havia ouvido tudo, e aquelas palavras começaram a acender uma luz que dissipava as trevas de seu interior. E assim os dois puderam dormir.

   O dia amanheceu em Karakura, quando Ulquiorra acordou, Orihime já tinha saído para a escola, mas tinha deixado o café da manhã preparado, e um bilhetinho com uma saudação e um mapa de como ele chegaria até a loja de Urahara. Com a temperatura baixa do inverno, e uma fria brisa que trazia os mais diferentes aromas, tudo parecia estranho e com certeza, tudo era novo para Ulquiorra. Seria essa a sensação de liberdade da qual sempre ouvia falar, e pela qual, tantos lutavam e até mesmo morriam? Uma nova vida sem guerras e líderes desesperados por poder estaria a sua frente? E um único pensamento não lhe saía da cabeça: Porque aquela garota se preocupou tanto em lhe dar esse presente? De qualquer forma, valia a pena tentar, afinal, o que ele tinha a perder?

    Com um mapa na mão, ele se dirigiu à loja de Urahara, onde passaria seus dias aprendendo sobre essa raça estranha chamada humanidade.

   Já de cara foi bem recebido, ofereceram-lhe chá e o ambiente era bem animado, com as correrias de Jinta e Ururu, Urahara também sempre estava de bom humor, sem contar no quanto ele parecia ser atrapalhado...  _Ele nem parece ser um shinigami. –Pensava Ulquiorra. Mas com seu jeito caladão, ele prestava muita atenção em cada palavra...

   _Suas habilidades serão muito afetadas por estar em um gigai, mas ainda poderá usufruir de algumas técnicas como:

1-Sua memória fotográfica: Vai te ajudar a aprender tudo com muito mais velocidade;

2-Força: Poderá realizar trabalhos que poucos humanos poderiam, só tome cuidado para não atrair atenção, e por último:

3- Velocidade: Não é como o sonido que você possuía antes, mas há situações em que isso poderá ser bem útil. Mas, eu repito: Lembre-se sempre de tentar não chamar a atenção alheia.

   Naquele dia começou também a aprender sobre matérias escolares e uma infinidade de coisas como o comportamento humano, a forma de se relacionar com os diferentes tipos de pessoas, a política que era usada entre os habitantes daquele país, enfim, ele parecia realmente ter nascido de novo..

   Depois de terminada a aula, ele já se dirigia a porta, quando ouviu a voz de Orihime no aposento ao lado, mas Urahara ainda tinha algo a falar:

   _Eu notei a falta de sinal das minhas câmeras, lá do apartamento da Inoue, mas, porque os medidores de reiatsu não foram tirados também?

   Ele não tinha mencionado nada a Orihime, mas quando Urahara deixou o vaso de flores, câmeras e sensores de reiatsu se espalharam por todo o apartamento dela, o que demonstrava que na verdade ele seria um objeto de estudo de Urahara, mas não se importava, pois sabia que tudo aquilo era também para manter a segurança da garota. Ele se interessava cada dia mais em entender o porquê daquelas pessoas estarem sempre protegendo umas as outras.

   _Não gosto de ser observado, mas quanto aos medidores... Considere como um voto de confiança... E também... Gostei das flores... –Dizia ele quando foi interrompido por Orihime, que havia chegado para buscá-lo...

   _Vamos embora que eu tenho algo muito legal pra te dizer Ulqui-kun! ...

   Depois de se despedir e já do lado de fora ela foi olhando e olhando para ele com um sorriso totalmente fora do normal, mas ele não expressava nenhuma reação, então ela deu uns pulinhos para que pudesse ficar de frente com ele e continuou a conversa que havia iniciado ainda na sala:

   _Adivinhe quem me convidou para sair? ...