Decidimos que ficar parados em uma rodoviária olhando para a cara uns dos outros não adiantaria muita coisa quando nossa amiga está em perigo.

Mesmo com as minhas reclamações, fui obrigado a me sentar com Rachel. Mais ou menos em três horas de viagem ela desistiu do orgulho e veio falar comigo que estava mais interessado na paisagem da janela:

-Olha Nico, me desculpa por gritar com você hoje cedo...

-Está tudo bem, fui muito infantil em gritar com você também.

-Ela vai ficar bem. Diferente de mim que só sei ficar escondida atrás de um banco, Thalia é forte e sabe se virar.

-Você não é nada do que eu disse tá legal? O que você poderia fazer?

Ela baixou os olhos para as mãos e tocou uma espécie de tatuagem que começava perto do pulso e subia até o meio da mão mais ou menos.

-O que é isso? -Perguntei pegando sua mão.

-Assim que acordei do sonho com Apolo percebi isso. No começo era um pequeno sol atravessado com uma flecha. Mas na medita que o tempo passa, ela cresce e a dor aumenta...

-Posso? -Perguntei e levantei a manga de sua camiseta assim que ela assentiu. -Me parece um marcador de tempo, uma espécie de ampulheta.

-Mas o que ela estaria marcando? -Me perguntou olhando nos meus olhos. Os dela verdes como o espírito de Delfos.

-O que eu não sei, mas com certeza deve ser o tempo que você tem para recuperar o arco. Está vendo? -Virei o braço dela e apontei para uma marca em seu ante braço. -Se a tatuagem crescer até aqui, seu prazo acaba.

Ela estremeceu. A noite caia e eu me sentia mais relaxado, como se acontecesse alguma coisa, eu poderia me esconder nas sombras. Mas Rachel não parecia confortável com a noite, era um sinal que mais um dia do seu pequeno prazo estava se passando.

-Nico? -Ela me chamou uma hora depois. -Está dormindo?

-Não, o que foi? -Respondi fitando a escuridão da noite.

-Não diga nada aos outros está bem? Não quero ser mais um motivo de chateação...

-Ei, ei, você nunca foi um motivo de chateação. Se não fosse por você nem estaríamos nessa missão. -Peguei seu rosto entre as mãos.

- E também não estaríamos correndo para salvar a vida de Thalia.

Me esqueci completamente de Thalia. Como eu pude? Estava tão perdido em Rachel que me esqueci que estava nessa missão não para salvar um arco idiota, aceitei por Thalia. Aceitei por ela estar junto, no intuito de protege-la e agora que ela estava realmente em perigo eu me esquecera dela.

Soltei o rosto de Rachel quase de imediato, eu não poderia estar com uma garota quando uma outra que eu estou apaixonado está correndo risco de vida. Posso? Não, mas é claro que não.

Eu estava confuso, pedi para que Percy se sentasse comigo um pouco. Ele estava abraçado a Annabeth que revirava o laptop de Dédalo em busca de informações sobre mecanismos arquitetônicos. Demorei um pouco para convencê-lo a largá-la,mas por fim aceitou.

-O que você quer projeto de cadáver? -Ele perguntou com a voz embargada por causa do sono quando se sentou no assento ao meu lado.

-Nunca pensei que fosse te pedir um conselho, muito menos amoroso, mas o que eu devo fazer? -Perguntei depois que contei o dilema que estava passando.

-Cara, parece que Afrodite finalmente de pegou hein? -Ele riu. -Não sei, pensava que Rachel gostasse de mim...

-Cara, você sabe que a fila anda né? E que coisa você também, sabia que nem todas as garotas bonitas do acampamento tem que ser suas? Annabeth já não é muita coisa não? -Caçoei dele.

-Ei! Olha o respeito moleque! A Annie é minha e de mais ninguém, e eu não olho pra mais nenhuma garota! -Ele emburrou.

-Tava brincando peixinho. Mas o que eu faço? Eu estou apaixonado por Thalia que além de filha de Zeus é uma caçadora. E Rachel me deixa balançado, que mesmo mortal não posso namorar por ser o oráculo! -Disse sussurando.

-Cara, vou te dar um conselho que a própria Afrodite te daria: Siga o seu coração! -Ele sorriu.

-Ah que ótimo, mas me desculpe, eu não sei o que tum tum significa... Mané.

-Então pediu conselho para o cara errado. Olha me de licença que a minha namorada está me esperando.

-Pelo menos você tem uma! -Desarrumei seus cabelos enquanto ele se levantava.

Rachel voltou para o meu lado e não disse nada por um bom tempo, deixando um silêncio constrangedor reinar entre nós. Eu queria puxar papo, mas temia o rumo que a conversa tomaria. Então ela quebrou-o e disse:

-E então, o que conversou com Percy?

-Nada de mais, só contei a ele uns movimentos de defesa com a espada que eu estava pensando... -Menti descaradamente.

-Sei... Bem acho melhor você descansar um pouco, seus olhos estão fundos e vermelhos. -Ela sorriu enquanto acariciava meus cabelos.

-Ótima ideia. -Sorri.

Estava tão confuso com tudo isso que nem percebi o quanto estava cansado. Então dormi com as carinhosas mãos de Rachel brincando entre meus cabelos...