Confiança escrita por Camila J Pereira


Capítulo 36
Bebedeira


Notas iniciais do capítulo

Veremos neste capítulo como foi o final da noite do Edward depois de ver Jacob sair do prédio em que Bella mora.



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Edward

Quil, o barman, havia preparado uma dose diferente para mim, pelos meus cálculos um pouco imprecisos, era a terceira. Ao sentir o líquido descer pela minha garganta, imaginei que na verdade estava engolindo fogo. Cerrei os olhos, foi inevitável fazer uma careta.

- E então? - Perguntou rindo enquanto pousava o copo no balcão e tentava aliviar minha expressão.

- Essa é mais forte. - Afirmei.

- É sim, para homens fortes. - Ele deu um soco de brincadeira no meu ombro.

Quil foi atender os outros clientes enquanto esperava a próxima que ele iria me oferecer. Como eu havia concluído, ele era descendente indígena, não visitava a sua terra há muito tempo, mas gostaria de ir ver a sua família, a sua gente como ele mesmo dissera. Parecia ser um cara legal, simpatizei com ele de primeira. Parecia muito feliz com a vida simples que tem. Isso me fez pensar um pouco na correria que era a minha.

Olhei ao redor e vi muitas pessoas que ainda conversavam animadas. Em uma mesa um pouco distante de onde eu estava, vi um grupo de garotas rindo de algum comentário feito. Havia uma garota do grupo que tinha cabelos lindos, peguei-me observando as ondas castanhas de seus cabelos longos, pareciam com os... Com os cabelos de Bella.

Ao processar esse pensamento desviei o olhar para o balcão e coloquei as mãos sobre a sua superfície. Iria me lembrar de Bella ao admirar outra mulher? Ou pior, iria só admirar aquilo que fazia me lembrar dela? Isso era saudade e doía.

Era por ela que estava aqui, para esquecer tudo o que aconteceu. Tentar apagar da minha mente o momento em que vi o Black sair do prédio em que ela mora. Se pudesse passar uma borracha no fato de que tive a minha chance de ter um pouco de alegria em minha vida e desperdicei. Poderia pegar o gostar dela e transformá-lo em amor. Eu poderia ter feito com que ela me amasse assim como eu tenho certeza de que a amo.

Fui forçado a voltar á realidade quando Quil parou em minha frente despejando uma bebida em meu copo vazio que estava entre as minhas mãos. Ele ficou me olhando intrigado enquanto eu bebia.

- Qual o problema? - Eu o encarei de volta.

- Está decidido a se embebedar?

- Teria algum problema se eu quisesse? – Fui um pouco grosso, meu estado de espírito não estava dos melhores.

- Na verdade não, quanto mais você beber, melhor para nós, a não ser que procure encrenca. - Ele disse a última palavra me observando com olhos estreitos, mas um sorriso cético no rosto.

- Não procuro encrenca. - Falei apático.

- Não tem cara mesmo de que procura. Falando sério, não tem cara de quem se embebedaria.

- Não tenho? - Perguntei zombeteiro. - De onde tirou essa certeza? Do meu terno? Ou da minha cara de imbecil? – Engoli o resto do líquido de uma vez irritado.

- Wow! Eu não quis ofender. Não tem cara de imbecil. Parece um cara responsável. - Ele se debruçou, colocando os dois cotovelos no balcão.

- Rá! Eu quero muito beber, beber até não saber quem eu sou. - Falei querendo contradizê-lo, no momento eu não queria ser “o responsável”. Queria deixar que aquela loucura que estava eminente transbordar. Queria não ser o Edward que todos os dias vestia terno. Queria ter Bella.

- Porque quer se embebedar? - Ele riu da minha declaração. - Para esquecer? Todos nós temos algo que queremos esquecer. - Quil pareceu muito sério nesse momento. Provavelmente ele também queria esquecer-se de algo.

- Meu dia foi péssimo! - Coloquei as mãos no rosto e esfreguei tentando me manter calmo. - Quero outra bebida.

- Mais um wisky?

- Sim. - Pedi com a voz fraca. Ele se afastou para pegar a garrafa e me serviu de mais uma dose.

- Fui promovido. - Falei sem pensar. Na verdade eu só queria falar, mas nada. Quil me olhou levantando uma sobrancelha. - Era algo que eu esperava e vinha trabalhando por muito tempo.

- Isso não parece ser algo que se queira esquecer. - Ele pareceu querer entender, eu sorri sem humor.

- Não o que consegui, mas a forma como consegui. Tornei-me obsessivo e coloquei esse cargo a cima de princípios que antes eram valiosos para mim. Fiquei cego a ponto de... De não ver que estava bem em frente à razão da minha existência. E agora eu tenho o cargo, mas não tenho...

- A mulher amada. - Ele completou, entendendo o que tinha acontecido.

- Isso. - Confirmei.

- Bom... Seus problemas tem solução. É só você ir atrás dela e rastejar. - Ele disse com um sorriso infantil.

- Ah como eu gostaria... Fui atrás dela hoje. - Abaixei os olhos sem coragem de encarar ninguém.

- Ela não te perdoou? - Quil quis saber.

- Eu não cheguei nem a falar com ela. - Admiti. – Imagine... – Eu ri nervoso. -... Que eu vi o ex dela saindo do prédio em que ela mora.

- Acha que eles voltaram?

- Tenho certeza. - Ao falar isso eu senti os meus olhos marejando. Pisquei para evitar que elas caíssem.

Depois de alguns goles já me sentia mais relaxado, até um pouco mais feliz. Conversamos muito enquanto ele trabalhava atendendo outros clientes. Não sei bem do que falávamos, acho que um pouco sobre tudo.

Meu celular tocou e eu vi com um pouco de dificuldade que era Alice, preferi não atender. Senti que o celular parou alguns instantes, mas voltou a vibrar. Novamente eu não dei importância. Pareci que tudo a minha volta girava.

Lembro que Quil de vez enquando dizia que eu deveria parar de beber, mas eu queria mais e mais. Sentia que a minha voz estava arrastada, assim como os meus movimentos estavam lentos o corpo pesado.

Meu celular tocou pela terceira vez, eu deveria atender para tranquilizar a minha irmã, mas eu não tinha vontade nem coragem de falar com ela. Alice perceberia que eu não estava bem, perceberia que tinha bebido um pouco além da conta, ela ficaria ainda mais preocupada. No quarto toque eu respirei fundo e sentindo o meu corpo vacilante atendi o celular.

Era Jasper tentando saber onde eu estava. Tentava falar, mas me sentia cada vez mais lento e realmente não sabia que bar era aquele e em que rua ficava. Meu amigo com toda a sua paciência tentava me fazer falar, mas eu só ria e ria da situação. Quil parou em minha frente observando a conversa.

- Me passa o celular Edward, eu falo. - Quil pediu em minha frente. Dei-lhe o celular e desabei minha cabeça no balcão, estava difícil me manter ereto.

Não consegui prestar atenção nas palavras do Quil ao telefone, estava zonzo. Queria deitar um pouco, mas o banco era totalmente desconfortável. Consegui apenas ouvir quando ele falou “Ficarei de olho nele.” Até parece!

Nunca ninguém precisou ficar de olho em mim. Normalmente quem precisava desses cuidados era o traidor do meu irmão. Esse pensamento me deixou com um gosto amargo na boca. Eu nunca mais poderia confiar nele. Emmet me traiu, preferiu agir pelas costas. Isso eu não poderia perdoar. Depois de tudo o que eu fiz, toda a luta apenas pensando no bem estar dele e de Alice, ele me aprontou essa canalhice. Gostaria muito de esquecer que Emmet era meu irmão, esquecer que ele existe. Mas simplesmente não consigo...

Jasper

Nesses anos todos em que era amigo do Edward, nunca tinha presenciado uma bebedeira dele. Ele era muito responsável e centrado desde muito jovem ainda. Eu diria que Edward era um homem de meia idade no corpo de um homem jovem e que envelhecia mais a cada dia. Então, saber que ele estava bêbado em um bar me fez ficar preocupado.

Ele estava sofrendo e não sabia como lidar com esse sentimento. Foi pensando nisso que entrei no taxi e pedi para o motorista me deixar no endereço indicado pelo barman. Com as ruas desertas, logo chegamos ao bar e pude ver o volvo estacionado. Paguei o taxista e entrei no bar que já estava quase que completamente vazio. Vi Edward sentado no balcão de costas para mim.

- Edward. - Disse ao me aproximar dele. Ele me olhou com uma cara meio grogue e levantou do banco se desequilibrando.

- Ei, ei, ei. Firme amigão. - Sustentei o seu peso em mim.

- Jazzz! Agora vai ficar legal, vamosss beber um pouco. - Ele me convidou alegre, a sua voz estava arrastada e o cheiro do álcool que emanava dele estava forte demais.

- Sim, vamos beber, mas em casa. - Eu falei tentando não contrariá-lo. Sabia bem que bêbados contrariados empacavam.

- Tudo bem. - Ele riu. - Quero messmo deitar um pouco. Aqui só tem essses bancos. - Ele falou fazendo gestos longos para os bancos do bar. - Quil! - Ele chamou e um cara alto parecendo um índio veio em nossa direção. - Quil este é o Jasper, Jasper este é o Quil. - Edward nos apresentou e apertamos nossas mãos em um cumprimento amigável.

- Obrigada por falar onde ele estava. - Agradeci.

- Não por isso. Ele parece ser uma boa pessoa, só quis ajudar. - Ele disse isso com um sorriso de criança no rosto.

- Meuss doiss amigoss. - Edward falou com uma mão em minha nuca e a outra na de Quil. É.... O meu amigo estava mesmo doidão.

Paguei a conta dele e com a ajuda de Quil o levei até o seu volvo, nos despedimos prometendo voltar qualquer dia em uma situação melhor e dirigi até o apartamento dele. Quando cruzei a porta aberta por Alice, vi o olhar assustado do meu amor ao ver o irmão completamente bêbado.

Levei Edward até o quarto dele e o deitei na cama, ele não tinha condições de mais nada. Seus olhos estavam fechados e ele falava coisas desconexas. Alice tirou os sapatos dele e o paletó para que ele ficasse mais confortável. Quando saímos do quarto ele já estava em sono profundo.


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