Confiança escrita por Camila J Pereira


Capítulo 27
Desconforto


Notas iniciais do capítulo

Louca para ler os comentários deste capítulo. :-D



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Edward

Aqueles momentos com Bella teria sido um sonho? Agora digitando a última linha do relatório de vendas parecia que o piquenique no meio da tarde e os momentos de amor que passamos em seguida não passaram de uma imaginação fértil. Sorri lembrando-me dos beijos doces que Bella me dera no dia anterior, enviei via e-mail ao meu grupo o relatório finalizado.

Olhei para a xícara ao meu lado, ele parecia nada atraente sob a luz fluorescente. Fazia uma hora que esfriara e ainda eram sete e meia da manhã. Recostei-me na cadeira e esfreguei o rosto com as mãos. Duas horas seguidas de trabalho e quase consegui compensar a tarde dedicada à paixão. Involuntariamente senti meus lábios se apertaram numa linha fina. Fora uma tarde de loucura. Ainda não consegui acreditar que fui capaz de sair de uma reunião e passar três horas na aconchegante casa de Bella. Retornei ao escritório e encontrei as anotações sobre a reunião em minha mesa. As horas perdidas me deixaram ansioso para recuperar o tempo perdido.

Cheguei cedo à empresa deserta, onde os únicos ruídos audíveis eram o zumbido dos computadores e do ar-condicionado. Não me sentia bem por ter fugido de minhas responsabilidades após tantos anos seguindo uma rígida ética de trabalho. Mesmo assim, não pude evitar um sorriso. O piquenique, momentos roubados no tempo, tinha sido maravilhoso. Sim, eu vim muito cedo ao escritório, mas a lembrança de Bella em meus braços compensava tudo. O riso suave, o brilho nos olhos dela quando me olhava.

Sentia-me forte e poderoso quando estava com ela. Ela iluminava a minha vida, aquecia meus dias. Longe dela, me via querendo mais. Sorri ao relembrar os momentos de bom humor que partilhamos após o ato de amor. Bella era uma mulher maravilhosa, sensual, divertida... Interrompi meus pensamentos de repente. O que estava acontecendo comigo? Aqui estou eu, devaneando sobre Bella mulher, desejando ouvir sua voz tranquilizadora, pensando nela como se tivéssemos um futuro juntos!

Ela era irmã de Rosalie, que me abandonou por meu irmão. E eu sabia que Bella também estava bastante envolvida com Jacob. Elas duas eram incapazes de viver uma vida normal, racional e decente. Respirei fundo e percebi que a perspectiva de ser abandonado por Bella despertava em mim emoções completamente novas. Senti-me um idiota quando Rosalie me deixou, mas Bella significava muito mais.

Livrando-me dos pensamentos inquietantes examinei a pilha de papéis em cima da mesa. Que tolice... Estava aqui para trabalhar. Forcei-me a me concentrar e comecei a organizar os dados a minha frente. Meia hora depois, uma batida forte na porta me fez erguer a cabeça. Ali estava Dave Williams com um sorriso inamistoso nos lábios.

- Bom dia. - Cumprimentei-o ciente dos problemas que enfrentaria.

- Então você veio... - Dave respondeu irônico.

- Sim, estou aqui. - Confirmei sem contar que fiquei no escritório até às oito horas da noite e que cheguei às cinco e meia da manhã. Desculpas de nada adiantariam.

- Imaginei que depois de fugir da reunião de planejamento, você encontraria outra maneira de se divertir hoje de manhã. Como escolher jogos de porcelana com a sua noiva. - Jogos de porcelana? Do que ele estava falando?

- Não senhor. - Repliquei com respeito para encobrir a crescente irritação. - O relatório de vendas esta aqui.

- Sabe Cullen, cautela nunca é demais. - Dave advertiu, entrando e fechando a porta. - Não preciso dizer que a promoção vai ser decidida logo. Você precisa definir as suas prioridades.

- Elas estão bem claras. - Afirmei em tom severo. Perderia a promoção por causa de uma tarde?

- Bem, sempre acreditei nisso, mas essa promoção é um grande salto, um nível totalmente diferente.

- Sei disso. - Nós também não havíamos perdido uma reunião para jogar golfe na semana passada?

- Um nível totalmente diferente. - Dave repetiu. - Você sabe que negócios e política têm muita coisa em comum. Para ter sucesso, é preciso ter uma vida sossegada com uma mulher que entenda o que a profissão exige.

- Sim? - Uma sensação desagradável me invadiu. Aquela era a segunda referencia a Bella que ele fazia.

- Bella é uma moça atraente e eu posso entender o seu interesse por ela. - O riso de Dave tinha um toque de lascívia. - Ora, quem não se interessaria por uma mulher com aquele corpo? - Eu lutei contra a vontade de expulsar o meu chefe da minha sala. Incapaz de responder com calma, preferi ficar em silêncio e ouvir o que Dave pretendia. - Eu entendo o seu interesse, mas parece que ela não compreende o que nós exigimos de nossas mulheres.

Eu esperei quieto, intrigado pelo rumo da conversa. Estaria Dave sugerindo que Bella era a culpada por eu ter faltado à reunião? E que ela servia para ser levada para a cama, mas não para ser minha esposa?

- O vestido que ela usou no jantar, aquele decote... - Dave sacudiu a cabeça. - É difícil para algumas pessoas entenderem como se sobe na vida.

Eu cerrei os dentes num esforço para conter a resposta que ameaçava escapar-me dos lábios. Então agora, Bella não atendia aos padrões de Dave de classe e sofisticação? Justamente ele, um idiota de inteligência medíocre?

- E o golfe! - Dave riu com vontade. - Ela precisa da ajuda de uma dúzia de profissionais.

- É verdade, ela não sabe jogar golfe. - Concordei devagar. O meu chefe riu novamente, um som rude que não expressava divertimento.

- Não tenho certeza de que ela sirva para você, filho. Olhe, ela até incentivou a Sarah a ir para a faculdade de Ciências Sociais.

- Sarah quer ser assistente social?

- É uma idiotice. Sarah está ansiosa para voltar à faculdade. - Dave comentou com um ar de desprezo. - Bobagem. Ela tem tudo de que precisa.

Então a mulher de Dave queria ter uma vida própria e ele sentia-se ameaçado de perder sua posição de cabeça da família?

- Temos uma vida boa. Eu dou tudo a Sarah, mas quando ela viu Bella trabalhando no estúdio... Lutando por seus sonhos, como Sarah diz... Bem, isso pôs algumas ideias tolas na cabeça dela. E essa garota boba diz para Sarah que o serviço social é uma ocupação nobre.

Sim, agora eu entendia. Eu observei meu chefe sentado do outro lado da mesa e percebi o medo em seu olhar. Era patético ver aquele homem bem-sucedido sentir-se ameaçado diante da ideia da mulher buscar conquistas próprias. Que ironia... Com a atitude que lhe era peculiar, Bella conseguira atingir Dave em seu ponto mais vulnerável.

- Mas não é nada grave. - Dave acrescentou erguendo-se. - Fui bem claro. Nada de faculdade. A verdade é que Bella não se encaixa. Não tem o perfil. - Eu me amaldiçoei pela sensação de desânimo que me invadiu.

- Não sei se o seu noivado o está ajudando. - Dave encerrou em tom agressivo.

Eu fitei o vão da porta vazio, preocupado. Apesar de não gostar de Dave o apoio era vital para a minha promoção. Eu me levantei e fechei a porta sentindo a mão trêmula. Tudo com que sempre sonhei estava tão próximo... Sabia que a minha posição não estaria garantida, mas o salário generoso e os benefícios me deixariam numa situação confortável o bastante para procurar outro emprego com tranquilidade. Se eu conseguisse a promoção, teria uma proteção contra as dificuldades que eventualmente poderiam surgir no futuro.

Sentei-me a mesa, pensativo. Bella não conseguia manter a boca fechada. Ela dera conselhos a Sarah que deixaram o velho zangado. Mas eu não iria desistir, ainda não fui derrotado. Afastando a irritação que me invadiu quando me lembrei das palavras de Dave, pensei em minhas posições. Fui ingênuo ao confiar em Bella. Ela se intrometera no casamento do chefe! O que estaria pensando? Mas não podia perder a cabeça. Dominei a sensação de raiva e me convenci a não perder minhas metas de vista. Não agora que eu estava tão perto.

Eu me esforcei a relaxar e o pensamento de que consultores não tinham que passar por isso passou rapidamente pela minha cabeça. Não precisava agradar ao chefe o tempo todo. Eu tinha que lhe dar com aspectos políticos, mas não existia essa ameaça diária, esse constante abrir mão de meus valores. Mas consultores também viviam momentos difíceis. O dinheiro, os benefícios, a aposentadoria precoce, tudo isso se encontrava ali, junto de homens como Dave.

Pouco a pouco, senti a minha irritação se aplacar e recolhi-me ao casulo que eu aprendi a construir para compensar a frustração. Sempre soube o que acontecia no mundo empresarial e fiz as minhas escolhas. E meus planos caminhavam muito bem. Até Bella abrir a boca e arriscar a minha carreira. Sei que ela não teve a intenção de me prejudicar, mas seu coração generoso e sua lealdade a impediam de lidar com esse tipo de poder que dominava a minha carreira. Como eu pude ser tão ingênuo a ponto de acreditar que ela poderia me ajudar?

Tentei esquecer os comentários de Dave e passei a analisar Bella com imparcialidade. Sentimentos à parte, eu era forçado a reconhecer que Dave tinha razão quando dizia que ela não combinava com meu mundo. Foi à intensa atração que sentia por ela que me levou a confiar nela. Peguei o telefone e digitei o número dela. Não iria simplesmente dispensá-la, pois Dave não tinha esse poder. Verdade que tinha de dançar conforme a música em algumas ocasiões, mas essa não seria uma delas. Não ainda. Colocar Bella na linha sem livra-me dela seria difícil, mas eu tinha de enquadrá-la no esquema se eu não quisesse parecer um sujeito fraco e sem opinião.

- Estúdio Swan. - A voz de Bella soou do outro lado da linha após o terceiro toque.

- Bella?

- Ed! Bom dia. Você dormiu bem?

- Dormi. - Eu respondi brusco. - Mas tenho um trabalho para terminar aqui e não vou fazer o jantar. - Tinha combinado com ela de jantar em meu apartamento e eu faria o jantar.

- Ah. - Ela murmurou triste. - Você lembra o que conversamos sobre trabalhar demais e...

- Escute. - Eu interrompi. - Você falou com Sarah Williams recentemente?

- Não. - Bella negou apreensiva com tom áspero da minha voz.

- Pois então não fale.

- Como?

- Não fale com ela até que eu possa esclarecer algumas coisas para você. - Ordenei.

- Esclarecer o quê? - Ela indagou perplexa.

- Segundo Dave, você encorajou Sarah a voltar a estudar.

- Certo. E daí? O que isso tem a ver com qualquer outra coisa?

- Veja bem Bella, eu sei que você não conhece o mundo dos negócios e que não quis prejudicar ninguém...

- Eu só disse que as assistentes sociais são pessoas trabalhadoras e honestas!

- Eu sei. - Repliquei o tom sarcástico ainda mais evidente. - Mas ela já tem um emprego, como esposa de Dave Williams. Um cargo muito bem remunerado e que exige período integral.

- Você só pode estar brincando! - Ela exclamou incrédula. - Está querendo dizer que aquele marido dela não vai...

- Tente se lembrar - Eu a interrompi mais uma vez. - que o marido dela é o homem que pode conseguir promoção.

- E o que isso tem a ver com a questão?

- Tudo. Sei que você não entende, mas há regras no mundo empresarial que devem ser seguidas. Uma delas é não se intrometer na vida pessoal da mulher do chefe, muito menos encorajá-la a fazer algo que o aterroriza.

- Meu Deus! - Bella exclamou com voz trêmula. - Ele está ameaçando você por causa de uma coisa que eu disse para a mulher dele?

- Não exatamente. Mas o significado ficou muito claro.

- Sinto muito, Ed. - Sua voz estava embargada. - Nunca me ocorreu que esse tipo de coisa pudesse prejudicá-lo.

- Eu sei. - Eu a confortei, mas não consegui não ser frio e distante. - Não se preocupe. Estou cuidando de tudo, mas prefiro que você não fale com Sarah por enquanto.

- Está bem.

- Eu telefono quando precisar de você outra vez.

- Certo. Até logo. - Ela desligou e eu senti que ela estava desolada.

Bella

- O que houve? - A cabeça de Ângela surgiu no vão da porta. - Problemas com o noivo?

- Estou apaixonada por ele.

- Ah... E isso é ruim? - Ângela indagou após um momento.

- Sim. Nem sei se ele se importa comigo. Ele está muito confuso. Acha que dinheiro e sucesso sãos as coisas mais importantes do mundo.

O meu pensamento voltou para o estúdio onde estivera trabalhando feliz, recordando a idílica tarde que passei com ele.

- Bem, isso quer dizer que você nunca será prioridade na vida dele.

- É mais do que isso. No fundo Ed é um homem sincero e honesto. Esse emprego vai acabar com ele. Para conseguir a promoção ele está participando de esquemas que contrariam seus princípios.

- Por quê?

- Porque ele acha que precisa. Os pais morreram quando era criança e ele passou por muitas dificuldades. Está determinado a conseguir segurança financeira, custe o que custar.

- Ele esta trocando a integridade pelo sucesso. - Ângela deduziu.

- Isso mesmo, e diz que isso é tudo de que precisa.

- Ele precisa de você. - Ela afirmou.

Eu maneei a cabeça.

- Não precisa de ninguém. Ele trabalha o tempo todo. Veja bem... Ele é o homem mais atraente que já conheci...

- E é mesmo. - Ela confirmou.

- E precisa de uma mulher que finja ser sua noiva dele. - Conclui com tristeza.

- Mas no meio disso tudo você se apaixonou.

- Sim.

- Talvez depois de receber a promoção... - A minha amiga conjecturou otimista.

- Não. Nosso caso não tem futuro. Não tenho nada a ver com o ambiente empresarial e a única coisa que ele almeja é segurança.

- Então é melhor acabar com isso. E quanto antes melhor.

- Sei disso, mas não posso. - Devolvi lutando contra as lágrimas.

- Escute amiga, você precisa se proteger.

- Não posso deixá-lo ainda. Ele perdeu o rumo e está afundando depressa. Sei que ele não vai me ouvir, mas não posso deixá-lo. Pelo menos por enquanto.

- E quando isso vai acontecer?

- Não sei. Talvez quando ele conseguir a promoção e chegar aonde quer.

- Parece arriscado.

- Eu sei, mas prometi ficar até o fim. - Ângela me olhou consternada, mas não disse nada.

- Uma coisa eu aprendi com Edward: cumprir promessas pode trazer recompensas inesperadas, mesmo que seja apenas satisfação. Tenho de fazer isso. Ficar até ele estar bem...

Enxuguei uma lágrima que teimou em cair pelo rosto e Ângela me abraçou para me consolar.


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