Confiança escrita por Camila J Pereira


Capítulo 23
Golfe


Notas iniciais do capítulo

Bella e Jake tiveram um momento. Mas Bella sabe que seu coração já esta comprometido por outro.



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Edward

- Nossa Bella, fiquei muito agradecido por ter mudado os seus horários para poder estar comigo hoje.  – Bella tinha acabado de entrar no carro e olhou para mim.

-Devo te acompanhar nestes eventos, faz parte do nosso acordo. - Ela afirmou com um sorriso frio. Naturalmente ela estava me odiando.

- Liguei para você ontem... - Hesitei tentando uma conversa leve para melhorar o humor dela.

- Eu sei, ouvi o recado na secretária. - Bella comentou com estudada indiferença. Seria bastante difícil.

Geralmente Bella mostrava os seus sentimentos sem hesitação. Se estava feliz a alegria lhe saltava aos olhos e a raiva era igualmente evidente. Eu sempre apreciei a franqueza dela, mas nesse momento eu sentia dificuldade em ler suas reais emoções.

- Queria muito me desculpar. - Expliquei enquanto comecei a dirigir.

- Tudo bem.

- Acho que o estresse esta me fazendo agir dessa maneira. Não soube agradecer devidamente. Bella, foi perfeita aquela noite.

- Edward, fique tranquilo com relação a isso. Não estou nenhum pouco preocupada. - Ela garantiu com o mesmo sorriso enigmático.

- Mas é que você me ajudou tanto, e foi maravilhosa. Não teria conseguido sem sua ajuda.

- Teria sim Edward e você poderia ter cancelado. - Ela me lembrou em tom cortante.

- Sim, sei que poderia ter feito isso. Mas veja, as coisas que preparou foi o diferencial e ninguém teria gostado tanto do bufê como gostou do que você preparou. - Ela permaneceu em silêncio e o sorriso desapareceu de seu rosto.

- Claro que sim, Edward. - Ela garantiu com expressão indecifrável.

- Você não queria falar comigo mesmo ou saiu ontem à noite? - Perguntei tentando ser o mais natural, mas não consegui. Estava curioso para saber o que ela tinha feito ontem, talvez uma intuição. Em seus olhos percebi que passou um lampejo e isso me preocupou ainda mais.

- Sai. - Ela disse indiferente.

- Pra onde? Com quem? - Eu parecia um namorado ciumento e me arrependi logo depois que pronunciei as perguntas. Ela parou de repente e me encarou.

- Por que quer saber?

- Curiosidade. - Menti, eu queria saber mesmo o que ela andou fazendo ontem. Estava mesmo ficando maluco. Ela pareceu considerar.

- Sai com a Ângela, fomos dançar. - Ela continuou a andar e eu a segui.

- Sozinhas? - Eu pigarrei.

- Sim. Mas encontramos o Jacob lá. - Ela disse sem nem olhar para mim e automaticamente a segurei pelo braço.

- O que?! Você marcou com ele? - Minha voz saiu mais alto do que eu quis e eu tentei me recompor.

- Não Edward. Nos encontramos sem querer.

- Vocês voltaram? - Meu desespero era notável.

- Ainda não.

- Ainda não?

- Claro. Você sabe sobre os meus planos. - Ela estava sendo fria demais.

- Dormimos juntos. - Lembrei a ela.

- Ora! Vai me dizer que significou mais do que isso pra você? - Ela disse sarcástica. Eu não consegui dizer nada e ela se soltou de me mim.

Chegamos ao club e nos encontramos com Williams e a sua esposa. Logo começamos a jogar. Em dado momento examinei o campo e mirei a bola, dando uma tacada.

- Nada mal. - Dave elogiou quando a bola descreveu um arco no ar e caiu no gramado verdejante.

- Obrigado. - Fui até o carrinho trocar o taco e passei por Bella e Sarah que conversavam animadas.

Bella estava maravilhosa, os cabelos castanhos presos, os olhos avelã brilhantes. Ela não tinha me perdoado, por mais que afirmasse o contrário. Também tinha esquecido rápido demais a nossa noite juntos. Coisa que eu não conseguia nenhum momento. Provavelmente ela só tinha se entregado à mim por carência.

- Droga, essa poderia ter sido melhor. - Dave praguejou. - Então, o que você acha que precisamos fazer para aumentar as vendas da filial sudeste? Sarah! - Dave interrompeu antes que eu pudesse responder. - Venha, você está atrasando o jogo.

- Ah, desculpe. - Sarah disse apanhando um taco.

Enxuguei as mãos na atoalha presa à sacola e procurei a melhor resposta à pergunta de Dave. Embora não estivéssemos no escritório, aquele jogo não passava de uma reunião de negócios.

Eu observei Bella e relembrei o pedido de desculpas e a sombra que eu vira em seu olhar. A tristeza dela e o modo com que se esquivava ao meu toque me preocupava. Reconheci que tinha sido realmente um idiota aquela manhã. Era como se eu reagisse a crescente e perturbadora intimidade entre nós dois por instinto e me lembrasse quem era ela apenas para eu não me envolver. Ainda tinha o problema “Jacob”, aparentemente ela queria voltar com ele e isso era mais uma razão para eu parar de pensar nela. Forcei-me a voltar a atenção ao jogo e me aproximei do meu chefe que observava a jogada da esposa.

- Essa foi boa querida, mas precisa pôr mais força na tacada.

- Acho que estou melhorando. - Ela concluiu com um sorriso.

- As vendas da filial não estão boas. - Respondi sem preâmbulos. Porque não podemos garantir a produção naquela área. Nós temos problemas com os prazos de entrega. O pessoal não está trabalhando em equipe.

- Eles estão pondo a culpa no pessoal de produção?

- Não. Cheguei a essa conclusão analisando os fatos. Eles precisam trabalhar em conjunto.

- Você sabe que sou responsável pelas duas equipes nessa área?

- Sim senhor, eu sei. - Afirmei com firmeza.

Ao meu lado Dave ficou em silêncio. Nós dois observávamos Bella fazer a jogada com o taco que Sarah escolheu para ela. Ao ver o sorriso alegre em seu rosto, a camisa colorida contrastando com o verde da grama, eu tive que reconhecer a sua coragem. Ela nunca jogara golfe e estava dando o máximo de si.

Ali estava ela, atendendo a um pedido meu sem se queixar e representando bem o seu papel, conquistando pontos com ele. Bella deu um impulso com o taco, atingiu a bola e conseguiu atirá-la a uma distância sofrível.

- Consegui! - Ela se alegrou.

Sorri diante da manifestação de vitória em resposta ao que tinha sido um atacada lamentável, ciente de que precisava recuperar aquela alegria para mim depressa. Tinha que conseguir o seu perdão. Todos gostavam de ver seu trabalho reconhecido, eu sabia disso, mas quando se tratava de Bella, fazia de tudo para evitar a atração que sentia por ela.

- É isso aí Isabella, você está aprendendo. - Dave riu condescendente. - Mais um pouco e você vai conseguir atingir a grama.

- Já estou fazendo isso. - Ela retrucou, fazendo-lhe uma careta. - Você vai ver, mais umas tacadas e vou poder jogar como profissional.

- É disso que gosto em você, menina. A sua confiança. Não joga nada, mas não perde a pose.

O som da risada divertida de Bella me enviou uma onda de atração pelo corpo. Ao me dirigir ao carrinho, refleti que não era uma boa ideia me deixar envolver pela fervilhante energia dela., tampouco desejar tomá-la ardentemente em meus braços outra vez. Mas, embora Bella não fosse como a desleal Rosalie, os demais traços da família me preocupava.

Mesmo assim, estava disposto a superar a barreira que ela ergueu após a briga, pois queria a velha e despreocupada Bella de volta.

Bella

Meia hora depois da minha tacada horrível, estava com Sarah no carrinho enquanto os homens se preparavam para mais uma jogada.

Ao meu lado Sarah suspirou.

Ao olhar para ela, percebi outra vez uma leve tristeza no fundo de seus olhos.

- Você está bem? - Indaguei incapaz de ignorar  o desânimo da minha companheira.

- Ah, desculpe se não sou boa companhia.

- Não é nada disso, você está triste. O que aconteceu?

- Nada, na verdade. - Sarah tornou evasiva. - Gostei da nossa sessão de fotos no outro dia.

- Que bom. Eu queria que você ficasse à vontade.

- E eu fiquei. - Sarah olhou para longe e suspirou outra vez. - Acho que invejo você por correr atrás de seus sonhos.

- Não é fácil.

- Não. Cuidar do próprio negócio dá muito trabalho. - Sarah concordou. - Mas pelo menos você tem uma razão para se levantar de manhã.

Surpresa com o tom depressivo da minha amiga, fiquei sem saber o que dizer.

- Mas...a sua vida é maravilhosa...

- Sei disso. Talvez eu devesse levar a vida como Dave faz. Sei que ele tenta me ajudar, mas às vezes sinto como estivesse vivendo a vida dele e não a minha.

Eu tentei encontrar palavras de consolo para ela. Sabia o quanto era frustrante não ter objetivo pelo qual lutar, mas não imaginei que Sarah fosse infeliz.

- Eu não deveria me queixar. Tenho uma bela casa, um bom carro e um marido que me ama. Algumas mulheres dariam tudo para estar no meu lugar.

- Mas você quer mais...

- Sim.

Nós ficamos em silêncio quando eles se aproximaram rindo de algum comentário que Edward fizera. O sol fazia os cabelos dele brilharem e lhe dava uma aparência sensual e confiante. Como ele podia pensar que um simples pedido de desculpas iria apagar a grosseria com que ele me tratara? Nada mudara se ele ainda me considerava uma pessoa irresponsável e inconsequente.

Enquanto eles chegavam mais perto, as palavras de Sarah ficaram dançando na minha mente, gerando uma série de impressões e emoções contraditórias.

- É sua vez querida. - Dave avisou. Edward se aproximou do carrinho e parou ao meu lado.

- Você está se divertindo? - Ele quis saber me observando.

- Sim, claro. - Murmurei irônica. - Não sei se vale a pena perder tanto tempo correndo atrás de uma bolinha, mas está tudo bem.

- Sei disso e agradeço por ter vindo. - Ele falou em voz baixa. - Principalmente depois de ter agido como um idiota.

- Você acha mesmo? - Indaguei sarcástica.

- Sim. - Tornou ele parecendo sincero. Mais adiante no gramado, Sarah dava mais uma tacada.

- Sua vez. - Edward avisou e estendeu a mão para me ajudar a descer. Aceitei a ajuda, ciente do calor e da força daquele toque e da onda de desejo que me invadiu.

Esse dilema já me ocupava a mente repetidas vezes. Não era uma pessoa cautelosa, mas me recusava a ser um brinquedo sexual nas mãos de Edward. Sempre que fizéssemos amor, eu perderia um pedaço de meu coração para um homem que cujo o objetivo era nunca precisar de ninguém, um homem que nunca poderia amar a irmã de Rosalie. Caminhei até o gramado e ajeitei a bola distraída. Após duas tentativas eu consegui colocá-la no buraco.

- Bem, ela é determinada. - Dave brincou. - Nem todo mundo nasceu para jogar golfe.

- Isso não é importante. - Edward replicou seco.

Ignorando-os eu olhei para onde Sarah se encontrava e constatei o quanto era fácil imaginar que a vida de uma pessoa era perfeita. Na verdade, não a invejava por estar casada com alguém como o Dave, um tanto egoísta e insensível. Não sabia o quanto ela queria de um relacionamento, mas não podia censurá-la por apreciar a companhia de um homem mais velho e confiante.

Ao saltar para dentro do carro com os demais jogadores, eu ponderei com ironia que Sarah estava certa. Muitas mulheres dariam tudo para ter a vida que ela levava. O único problema era que ela não estava feliz. Edward levou o carrinho para uma colina e parou perto do próximo buraco. Esperei no carro até Edward e Dave se afastarem alguns metros.

- O que você quer da vida Sarah? Qual é o seu sonho?

- Não se preocupe comigo. Não fico sempre assim. Geralmente me sinto feliz. - Sarah garantiu fingindo alegria.

- Não. Me conte sobre os seus sonhos. - Sarah ficou em silêncio. Eu estava determinada a não deixar o assunto esmorecer, aguardei a resposta dela.

- Acho que queria ser assistente social. - Ela falou finalmente.

- O quê? - Fiquei surpresa, pois nunca imaginaria que uma mulher linda e rica como Sarah quisesse prestar serviço social.

- Eu sei...Dave tem razão. Nada de dinheiro ou respeito, lidar com a ralé. Por que alguém iria querer ser assistente social?

- Sarah, você é a próxima. - A voz de Dave se fez ouvir alegre.

- Estou indo. - Ela respondeu saindo do carrinho apressada.

Eu sai do carrinho devagar, a mente fervilhando de possibilidades. Detestava ver pessoas infelizes e acho que Sarah devia lutar para superar os obstáculos. Se ela queria ser assistente social, por que não pôr a ideia em prática? Escolhi um taco da sacola a esmo e aguardei a minha vez.

- Ótima tacada. - Edward elogiou momentos depois.

- Você esta melhorando. - Dave completou. - A jogada foi muito boa. Basta se concentrar. - Não respondi de imediato.

- Você vai aceitar as minhas desculpas, ou vai continuar aborrecida? O mau humor não é a melhor de suas qualidades. Olhei para ele indignada. Ele tinha sido um idiota e agora me censurava por estar zangada?

- Eu reconheci meu erro. Me perdoe. - Ele quase ordenou.

“Se ao menos ele soubesse o por que de estar me pedindo desculpas”, pensei cada vez mais irritada.

- Bella. - Ele me chamou quando eu não respondi.

- Sinto muito, estou muito ocupada com o meu mau humor. - Tornei ríspida.

- Vamos continuar Edward. - Dave gritou.

Me virei e voltei para o carrinho seguida de perto por ele. Sarah parecia estar esperando para continuarmos a conversa. Eu afastei meus pensamentos da desagradável situação com Edward e dei atenção a ela.

- A carreira no serviço social é muito bonita. Por que não a segue?

- Bem, eu teria que entrar numa faculdade.

- E qual é o problema?

- Não daria acerto. Pode parecer que eu não faço outra coisa senão frequentar lojas e cabeleireiros, mas há muitos compromissos sociais importantes para a carreira de Dave. E tenho a casa para administrar, as exposições de que Eden participa....

- É uma questão de opção. - Disparei. - O cachorro não precisa competir e você pode contratar uma governanta e ainda sobra tempo para a faculdade.

- Dave não iria gostar. - Ela constatou desanimada, após um breve momento de entusiasmo.

- Por que não? Se isso a faz feliz...

- Seria diferente se eu quisesse estudar decoração ou arte.

- Por que?

- Homens de negócios entendem essas profissões. Mas...serviço social? Dave ficaria constrangido.

- Isso é ridículo. Minha mãe me criou sozinha e muitas vezes passava por dificuldades financeiras. Nós recorremos ao serviço social uma ou duas vezes. Só posso elogiar as assistentes sociais. - Sarah me fitou com uma expressão desolada.

- Você não pode deixar Dave dizer o que fazer. Se você não seguir seus sonhos, será a única culpada.

- Eu não o estou culpando.

- Então por que não vai estudar?

- Acho...acho que vou.

Depois que Sarah atingiu o buraco, me dirigi para onde se encontrava a minha bola. Uma tacada forte me fez ultrapassar o buraco.

- Devagar. - Edward me ensinou em tom zombeteiro.

Eu errei mais uma vez e em seguida consegui meu intento.

- Parabéns. - Edward me cumprimentou.

Sem avisou ele me tomou em seus braços e pousou seus lábios sobre os meus. Em segundos eu me vi beijada quase cruelmente por uma boca ardente e exigente. Ciente da presença de Dave e Sarah, eu sabia que toda a farsa seria descoberta se me rebelasse contra o beijo. E Edward também, certamente.

Quieta e rígida diante do ataque inesperado, eu senti o sangue fervilhar nas veias. E quando achei que poderia me conter diante da fúria daquele beijo, o mesmo se tornou suave. Edward roçava os seus lábios com delicadeza nos meus e dissipou minha resistência. Rendi-me aos seus braços e meu corpo colou-se ao dele.

- Ei pombinhos! Temos mais três buracos para jogar. - Dave gritou.


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