Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 46
É difícil aceitar


Notas iniciais do capítulo

Problemas pela frente.



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A voz de Analu vinha de muito longe. Nicolas mal conseguia ouvi-la. Tentava prestar ao máximo de atenção no que ela tinha para dizer, mas sua mente estava tumultuada. Ele estava muito preocupado com Melina e o seu namoro com Henrique. De repente, ele e sua melhor amiga tornaram-se desconhecidos.

— Nicolas! Está me escutando? – Analu bateu os cotovelos sobre a escrivaninha no quarto de Nicolas, chamando a atenção dele.

— Desculpe, Analu. Eu me distraí por um momento. – ele forçou um sorriso. O tipo de sorriso que fazia Analu se derreter. — Vou descer e pegar um copo com água. Você quer?

— Não. Obrigada. – ela também sorriu, passando a mão na franja lisa que caia sobre sua testa. — Vai lá. E não demore.

Nicolas desceu as escadas correndo. Na sala, deu um rápido aceno para seu pai e Juliana que conversavam animadamente de frente para a tevê ligada. Juliana praticamente já estava morando ali.

Nicolas encheu seu copo com água do filtro. Enquanto dava longos goles, ele olhava através da janela da cozinha. O céu estava escuro e havia poucas estrelas no céu.

Seu celular tocou no bolso traseiro do jeans preto. No mesmo momento Nicolas desejou que fosse Melina. Ao olhar no identificador de chamadas teve certeza de que era ela. Suspirou aliviado.

— Nick, queria te fazer um convite. – ela pausou, e ele esperou que ela prosseguisse. — Que tal se saíssemos eu, Henrique, você e Analu qualquer dia desses?

— Isso está me parecendo um encontro entre... Casais. Mas eu e Analu não somos um casal.

— Talvez não ainda! – ela sorria. — Mas não é esse o proposito desse encontro e sim para voltarmos a ficar perto um do outro. Quem sabe até você e Henrique possam ser mais amigos.

Seria possível?

Nicolas pensou melhor a respeito e por Melina resolveu aceitar a proposta. Até que seria uma boa ideia. Mesmo achando pouco provável que algum dia ele e Henrique se tornariam amigos.

~*~

Melina estava deitada sobre a cama de Henrique, encolhida de baixo das cobertas enquanto uma garoa fina caia do lado de fora das grandes janelas do quarto. 

— Me sinto o cara mais sortudo do mundo em te ter como minha namorada. – Henrique correu até sua cama e jogou-se ao lado de Melina, cobrindo-se também com a coberta.

Os rostos dos dois estavam frente a frente, separados apenas por alguns poucos centímetros de distancia. Eles se entreolhavam, apaixonados. Sem que fosse preciso dizer absolutamente nada. O silêncio bastava. A chuva que caia lá fora era como música.

Henrique teve uma ideia.

— Ei, para onde vai? – ela perguntou ao vê-lo se afastar. — Henrique, o que vai fazer?

— Espere ai. Já volto. É rapidinho – ele correu, saindo do quarto, deixando Melina curiosa em saber o porquê de tanto mistério.

Cinco minutos depois ele voltou com uma caneca de chocolate quente em uma das mãos e um violão em outra.

— Isso é seu?

Ele assentiu, confirmando.

— Ah é. Você toca. Eu me lembro!

Henrique sentou ao lado dela novamente, entregando-lhe o chocolate quente e posicionando o violão no colo.

— Afinal, como é que você soube de tanta coisa ao meu respeito sendo que eu nunca nem cheguei a me dirigir uma se quer palavra a você no passado?

— Eu tenho meus contatos.

Eles riram.

— Vai, toca. Eu quero muito te ouvir! – Melina ajeitou-se sobre a cama ao lado do namorado. Olhava para ele, admirada. Esperava.

— Tá, eu vou tentar. – ele sorriu, tímido. — Faz um tempão que eu não toco. Mas por você, eu posso tentar outra vez.

Os primeiros acordes foram sutis. Melina ficou a observar o movimento de suas mãos. Henrique parecia muito concentrado no que estava fazendo e encantadoramente mais bonito.

Henrique tocava Longe de você da banda Charlie Brown Jr.

Cantando ele não era de todo mal, mas tocando ele poderia superar qualquer profissional.

Melina o aplaudiu, radiante.

— Eu te amo tanto! Eu sempre quis alguém como você. – ela o abraçou forte, podendo sentir seu perfume no colarinho da camiseta.

— Melina – ele sussurrou, depois de beija-la. — Passa alguns dias aqui comigo? Só enquanto estamos de férias. Dorme aqui? Quando você se vai eu me sinto tão sozinho...

O brilho nos olhos acastanhados de Henrique era caridoso, ele parecia um cachorrinho de rua. Do tipo pidão.

— Tá. Eu fico. Para o seu bem – ela sorria, alegre. — Toca de novo pra mim? Por favor!

— Quantas você quiser. – ele retribuía cada sorriso. — Mas antes, você disse que iria me fazer um convite. Fiquei curioso. Me diga o que é?

— Ah, eu quase me esqueci – Melina ajeitou os cabelos, os jogando por cima do ombro esquerdo. — Queria marcar um dia de sairmos eu, você, Nicolas e uma amiga.

— Nicolas? Mas porque isso agora Melina? – Henrique deixou o violão de lado. — Sabe que eu nunca fui com a cara dele.

— Esse é o problema, Rike.

Rike. Era a primeira vez que ela o chamava assim. Ele gostou como a palavra saiu naturalmente dando-lhe uma boa sensação de conforto e intimidade.

—  Nicolas é o meu melhor amigo! Nada melhor do que o meu namorado se dar bem com o meu amigo. Será que é tão difícil assim pra você entender? Eu só queria que vocês fossem amigos, se conhecessem melhor. Mas se não é o que você quer...

— Ei, você não vai chorar não é? – ele lhe tocou o rosto, com o polegar acarinhou a maçã do rosto dela. — Se é o que você quer. Eu posso fazer esse sacrifício. Por você. Marque esse tal encontro e vamos todos juntos. Prometo tentar. Combinado?

— Combinado! – ela o puxou para mais um abraço. No pé do seu ouvido Melina sussurrou: — Você é o melhor namorado do mundo!

~*~

Apesar do tempo frio, nada conteria as expectativas de Melina para aquele encontro entre amigos. Combinaram de se encontrar em uma pequena lanchonete no centro da cidade. Onde muitas vezes ela esteve tanto com Henrique quanto com Nicolas.

Henrique e Melina passaram por entre as mesas de mãos dadas atraindo a atenção de todos em volta. Formavam sim um lindo casal de jovens adolescentes apaixonados. Melina não se arrependia nenhum por um segundo por ter dado a vida uma segunda chance de reencontrar um amor. Henrique também se sentia realizado, finalmente.

Analu e Nicolas já esperavam pelo casal em uma mesa quadrada para quatro nos fundos da lanchonete. Os dois estavam sentados frente a frente conversando enquanto olhavam para o cardápio. Ao ver Melina se aproximar para cumprimenta-lo, Nicolas ergueu os olhos para ela, admirado tamanha sua beleza em todas as ocasiões. E não resistiu ao impulso de abraça-la forte. Há um bom tempo não se viam. Melina só tinha tempo para o namorado, dormia na casa dele todas as noites e passavam o tempo todo juntos.

Melina sentou-se ao lado de Analu, cumprimentou-a também com um beijo rápido no rosto. Henrique também foi muito simpático e depois de cumprimenta-los, sentou-se de frente para Melina ao lado de Nicolas.

— Bom – Analu quebrou o silêncio, ajustando delicadamente seus óculos no rosto fino de traços joviais. — de inicio eu pensei em pedir batatas-fritas. O que vocês acham?

Era evidente, tanto para Analu quanto para Henrique que Melina e Nicolas eram praticamente um só em dois corpos. Eles tinham um entrosamento único, trocavam olhares de cumplicidade, riam sempre da piada um do outro, falavam-se praticamente todo o tempo e as vezes falavam frases enigmáticas que só ambos entendiam.

Analu mal poderia conter o ciúme. No inicio, ela acreditou que aquele encontro faria bem para Nicolas cair na real e perceber de uma vez por todas o quanto Melina estava feliz ao lado de outro. Mas nada parecia afeta-lo. E ele continuava a dizer convicto que não amava Melina como uma companheira e sim apenas como amiga. O que para Analu era bem difícil de acreditar, já que estava estampado nos olhos dele o contrário.

Por outro lado, Henrique, antes mesmo de chegarem até ali, ele imaginou que aquele encontro não resultaria em boas coisas. Acabaria perdendo a cabeça com Nicolas e magoando Melina por seu ciúme bobo, mas acabou se surpreendendo consigo mesmo. Nicolas não era de todo mal, pelo contrário, se ele fazia Melina sorrir, é porque é uma boa pessoa para ela e não tinha porque ele ficar inseguro, se Melina mesmo garante que eles são apenas amigos, quase irmãos.

Melina não podia esconder o quanto estava feliz, mesmo percebendo o desconforto de Analu. O mais importante é que ela, o namorado e o melhor amigo estavam indo bem. Felizes e entrosados. Riam, brincavam e se divertiam com o mínimo. Aquele final de tarde não poderia ser melhor. Por um momento, ela lembrou dela e de Thomaz e o quanto se lamenta por não poder ter tido a oportunidade de fazer com que ele também se desse bem com Nicolas, seu amigo.

Quem sabe até tudo poderia ter sido diferente e ter resultado em algo melhor. Melina não quer cometer os mesmo erros do passado e busca não cometer os mesmo erros com medo de perder Henrique assim como perdeu Thomaz.

— Ah não! Olha só quem está ali Thomaz – Rebeca estava agarrada ao braço dele. Estravam no estabelecimento razoavelmente cheio. Rebeca tentou recuar ao ver de longe Melina em uma das mesas.

Mas na verdade, a imagem que ela quis passar foi de tudo estava acontecendo por acaso. Quando na verdade, ela soube através de Marcela que Melina iria à lanchonete no centro com uns amigos. Como Marcela soube? Simples: Melina foi buscar uma peça de roupa no apartamento, há um tempo não aparecia em casa. Marcela a rodeou até conseguir arrancar o mínimo de informação possível.

— Vamos até lá! – Thomaz tinha passadas firmas por entre as mesas, com os olhos penetrados em Melina. A essa altura ele já havia soltado o braço de Rebeca, bruscamente. E ela tentava ao máximo ir atrás dele, ansiosa para o que aconteceria a seguir.

Assim que Thomaz parou próxima a mesa do grupo de amigos, todos se calaram e voltaram suas atenções para ele. Em especial, Melina pareceu muito confusa com o que via em sua frente.

— Thom? O que faz aqui?

— Eu quem te pergunto! – ele foi ignorante. Thomaz bateu as mãos espalmadas sobre a mesa, atraindo os olhares curiosos de todos os outros clientes nas tantas mesas. — Veja só Melina, como você é rapidinha – um sorriso sarcástico brincou nos lábios de Thom. — Quer dizer que o que tivemos juntos não significou nada pra você? – ele não esperou pela resposta. — Parece que não. Olhe só pra você... Está tão mudada. Nem parece a adorável e sensível garota por quem me apaixonei. Tanto que já está com outro. O que significa isso?

Thomaz fuzilava os dedos entrelaçados de Melina e Henrique sobre a mesa. O que para ele, que há um bom tempo esteve desligado do mundo de Melina por ela mesmo ter dito que não mais o amava, só poderia dizer que eles estavam... Juntos. Feito um casal de namorados.

— Thom – Melina pensou rápido. Precisava agir. — Por favor, vamos sair daqui. Estão todos nos olhando! Vamos conversar?

O tom de voz de Melina era quase desesperador. Ela temia que Thomaz pudesse fazer alguma coisa que a ferisse ou a qualquer um dos seus amigos. Em seus olhos, ela conseguia enxergar frieza. Sentia calafrios só de olhar para ele. Não parecia o mesmo Thomaz.

— Vamos! – ele berrou. — Você ainda não me respondeu! O que significa isso Melina? Você e esse cara... Estão juntos? É pra valer? Então pouco tempo, você já arrumou outro?

— Sim, nos estamos juntos! – Henrique não poderia ficar de fora daquele bate-boca. Precisava agir. Levantou-se e elevou o tom de voz para que Thomaz pudesse olhar para ele. — Qual é o seu problema cara? Não vê que estamos felizes? Porque não sai daqui?

Thomaz respirou fundo. Rebeca ria por dentro e Melina fechou os olhos pressentindo o pior.

— Não se mete! Eu nem perguntei nada pra você. A conversa é entre mim e Melina. A sua opinião pra mim pouco importa.

Thomaz e Henrique trocaram olhares furiosos. Todo o ambiente e as pessoas que estavam presentes ali ficaram calados, curiosas, observando e escutando a discussão do grupo de jovens.

— Melina? – Thomaz diminuiu a distancia entre eles. Pegou sua mão e levou até próximo de seu rosto. — Por favor, olhe pra mim. – e ela obedeceu, olhou para ele. — Você não está com medo de mim, está?

Ela estava gélida, imóvel e sem reação ou qualquer tipo de resposta.

— Olhe pra mim Melina – ele insistiu, docemente. — Eu amo você! Perdoe-me. Eu não posso suportar viver longe de você. Eu bem que tentei. Mas te ver com outro não é fácil. Eu preciso de você! Não suportaria imaginar que qualquer outro irá ferir seu coração...

— Eu jamais faria isso com ela! – Henrique rompeu. — Melina é muito mais significativa pra mim do que já foi pra você. Eu nunca vou magoa-la. Por nada nesse mundo!

Melina olhou para Henrique com suplicia como se pedisse para ele ficar calado por um momento até que ela resolvesse aquela situação sozinha. Henrique pareceu compreender o recado e esperou, mesmo ainda tendo um pé atrás.

— Thom, a minha concepção de amor é muito diferente da sua. Eu sinto muito. O tempo voa e quando vê, já foi.

Thomaz pensou naquilo por um momento. Mas irritou-se. Não permitiria que Melina o deixasse por escanteio. Até quando ela iria duvidar do amor que ele sentia por ela? Era explicito.

— Não chega perto dela! – Henrique se meteu entre os dois ao perceber qual seria o próximo passo de Thomaz. Não deixaria que ele se aproveitasse daquela situação. Afinal, Melina agora o pertencia. Ele prometera que cuidaria dela e estaria sempre por perto.

Nicolas ao perceber que os ânimos estavam aflorados, levantou-se atento caso a situação piorasse. Analu estava muito assustada com aquilo tudo. Como Melina poderia se sentir bem tendo três garotos lutando como selvagens por ela? O mundo parecia injusto, pelo avesso.

— Vamos embora daqui. – Melina agarrou a mão de Henrique o puxou, na defensiva de arrasta-lo dali antes que fosse tarde demais.

Henrique relutou. Estava tão furioso quando Thomaz. E seria capaz de meter a mão no rosto do adversário se ele tentasse outra vez se intrometer entre ele e Melina.

Thomaz foi muito mais rápido. Mal pensou e acertou em cheio o rosto de Henrique. O impacto foi tão forte que Henrique tombou para trás e por pouco não caiu no chão. Mas Nicolas o segurou, impedindo o pior.

Rebeca festejava por dentro, mal conseguia conter tamanha sua alegria. Analu levantou-se assustada com a reação do ex-namorado de Melina. Melina, por sua vez, soltou um gritinho quando viu tudo acontecer e tapou a boca em formato de “O” com as mãos.

Thomaz bufava como um touro furioso. Não se arrependera nem por um instante o que acabara de fazer com o novo namoradinho de Melina. Mesmo percebendo o quanto a assustara. O tal de Henrique merecia muito mais por estar segurando seu mundo inteiro nas mãos: Melina. Ela era a única razão por toda aquela confusão.

— Você nunca amará Melina o tanto quanto eu amo! Eu nunca irei feri-la, maltrata-la, ou magoa-la. Melina sempre terá um lugar especial no meu coração onde ninguém é capaz de chegar. Muito menos você: um babaca incompetente que não soube cuidar do que possuía. – Henrique respirou fundo, antes de completar o que tinha a dizer. A dor no rosto latejava. — Agora, você perdeu. Finalmente ela é minha. Nos amamos e vamos ficar juntos. Queira você ou não.

— Maldito! – Thomaz gritou alto. — Eu vou acabar com você!

Thomaz tentou partir mais uma vez pra cima de Henrique. E se fosse preciso, Henrique apanharia de novo. Tudo pela proteção de Melina. Não a perderia facilmente. Mas não aconteceu, pois Nicolas impediu que a situação piorasse. E a agitação chamou a atenção dos donos da lanchonete, que apartaram a briga e colocaram Thomaz, com os ânimos mais exaustados, para fora. Junto de Rebeca.

— Vamos embora daqui. – Melina comunicou.


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Notas finais do capítulo

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